Capitulo 7
Enterrei meu pés no cimento forçando uma parada brusca, soltando logo em seguida meu pulso do aperto de Richard.
Ele se virou surpreso, os cabelos caindo sobre seus olhos e suas mãos ficando em sua cintura.
- Como você ... - Comecei a argumentar mas parei quando vi sua expressão de tédio.
- Olha, eu irei explicar tudo se caso a gente sobreviver. - Continuou me encarando indiferente com tudo aquilo. Me senti assustada, em circunstâncias inferiores, estava com medo. - Vamos Anne. Pelo amor de Deus.
Com uma breve relutância voltamos a correr, agora mais rápido.
A trajetória que estávamos seguindo era completamente misteriosa para mim. Não sabia nem mesmo se estávamos próximos a algum local que eu conhecia. Isso me assustou ainda mais. Estava confiando em um desconhecido que poderia ser um lunático maluco e estava completamente perdida.
Entramos em uma rua paralela a uma avenida. A mesma era composta por somente casas. Todas sobrados.
Richard diminuiu o ritmo da corrida o que me fez quase agradecer em voz alta. Não era acostumada a tais exercícios.
Logo a diante havia uma construção diferente dos sobrados comuns. Longas escadas levava a uma faixada seguindo a linha de um castelo, porem mil vezes menor. Era uma igreja.
Richard estava nos levando a solos sagrados. Minha consciência começou insistir em uma resposta - Porque estamos aqui? - Não tive a coragem de perguntar, temia de qual seria resposta.
Alguma coisa dentro de mim, que obviamente não estava ali antes começou a tomar rédeas. Antes uma grande parte de mim - A maioria - estava destinada a passar por tudo aquilo por que sabia que sonhos são bons enquanto duram e a realidade não seria encurtada pela minha pequena aventura na minha consciência. Tinha receio do que poderia encontrar pelas ruas indiferentes do meu sonho, mas estava ansiosa por não ter que encarar a verdadeira dor. Apenas pensava nisso. Mas aquela parte que havia se levantando dentro de mim estava entorpecida. Fazendo com que eu me equilibrasse entre o certo - e o que parecia mais convincente - a aquele que era a resposta de fato ... Como se nada daquilo fosse uma infantilidade surgida por mim, algo para me culpar entre as morte e percas.
Subimos as escadas e passamos diante da porta principal.
Não era tao grande quando parecia por fora. Havia duas fileiras de bancos de madeira com os suportes para as bíblias. Três grandes janelas na extremidade das paredes e o interior era de um amarelo pastoso. O altar era luminoso e solitário. A igreja toda estava solitária.
Olhei ansiosa para Richard, esperando as tantas ansiosas explicações, porem ele parecia inflexivel diante de sua quase promessa. Mas ele sabia que eu aguardava a minha resposta.
- Antes que tudo isso me cause uma terrível dor de cabeça, você precisa fazer algo. - Estreitei os olhos, e por breves estantes me vi no escuro ... Os olhos dele fez com que eu me perdesse, mas logo ele voltou a falar. - Anne, você precisa rezar.
Olhei pra ele estupefata. Não rezava. Pelo menos não pelo mesmo que os fieis que vinham a igreja rezava. Tive vontade de rir, mas pareceu indelicado diante de Richard. Afinal ele poderia ser um fiel, como testemunha de Jeová ... E não era da minha natureza duvidar e não argumentar sobre a fé de ninguém.
- Isso deve ser uma piada. - Falei, indignada.
Havia corrido por quase uma hora, permiti que um estranho me guiasse, tinha deixado que o medo me tomasse e até pensado e suposto coisas idiotas e agora estava em uma igreja sabe se lá onde, quando minha mãe havia acabado de morrer ... Tudo era tolice demais.
Mas meu corpo foi atingido por um tremor quando as palavras se instalaram novamente na minha mente, a voz seca e calculada de Richard ... Você pode morrer.
Olhei novamente atentamente pra ele. Tudo bem, tinha algo de muita estranho naquilo, na verdade desde a primeira vez que eu tinha de certa forma ... Entrado naquele sonho, tudo tinha sido estranho. O próprio fato já era estranho.
- O que eu tenho que ... Rezar? - Desviei os olhos um tanto envergonhada. Minha fé era fraca para tal coisa.
- Peça perdão. E volte atrás de suas palavras. - Ele respondeu sem muita explicação.
- Que palavras? - O medo deu lugar a confusao.
- Diga que você não quer desistir.
- Desistir do que? - Estava começando a achar tudo aquilo monótono.
- Apenas o faça, verdadeiramente.
Soltei pesadamente o ar, Fechei os olhos como já tinha visto outros fazendo, Ergui minha cabeça para o céu e escutei o riso contido de Richard.
Encarei ele com raiva. Então tudo aquilo era realmente uma piada. Idiota estupido. Tive vontade de soca-lo, e quando viu meu rosto embriagado pela fúria, seu rosto se fechou em uma mascara estreita.
- Você estava fazendo de modo errado. Superficial demais. - Estava serio novamente, mas eu havia cansado daquele joguinho estupido.
- Você está gozando da minha cara? Que tipo de piada é essa?
Ele deu de ombros e com o olhar fixo no altar, disse.
- Já disse que não faço piadas nem mesmo no hallowen. Para uma mundana você é bem inflexível diante disso.
- Não tenho religião. - Segui seu olhar até o altar. A iluminação parecia esta apontada para o lugar destinado ao fiel que dava a palavra nos cultos.
- Você tem que querer ser ouvida. Não pode pensar nisso como uma tolice bizzara, se não eles não vão reconsiderar.
- Eles quem? - Perguntei desconfiada. Seus ombros inclinou um pouco diante da pergunta. Ele começou a caminha até ficar de frente ao altar. Relutante, o segui.
- Se ajoelhe. - Franzi a testa, indignada. Voltei a pensar que estava gozando com a minha cara mas quando o mesmo me encarou percebi que estava sério, não havia tom de divertimento, apenas um olhar quase a suplica ...
Me ajoelhei, meio desajeitada. Olhei novamente pra ele procurando auxílio, mas ele nada disse. Ficou em silencio olhando fixamente para um ponto na parede.
Fechei os olhos e quando a tranquilidade repousou sobre mim desacelerando meus pensamentos estava diante de um quarto completamente branco. Tão branco que não dava pra saber qual era seu tamanho, parecia minusculo aos olhos mas quando mais eu caminhava percebia que ele não tinha fim.
Acho que isso é a paz, pensei. Não tinha certeza, mas me sentia em completa sincronia.
- Eu ... - Murmurei as palavras e o eco se propagou no vácuo. Me virei muitas vezes para ter certeza que estava sozinha e tentei não refletir no quanto aquilo parecia idiotice. - Volto atrás da minha palavra. Não irei desistir. Seja lá o que isso signifique ... Então, peço-lhe desculpas.
Nada aconteceu, ate o ar vibrar e eu sentir o toque firme nos meus ombros, minhas pálpebras estava relutantes para se abrir, como se eu tivesse acabado de pegar no sono.
- Tudo bem, foi melhor do que nada. - Levantei a cabeça e Richard me olhava com uma certa duvida, mas por fim ele retirou a mão do meu ombro e caminhou para longe.
Me levantei rapidamente, sentindo uma certa humilhação pelo ato e uma dor nos joelhos, quando escutei o som do estalo pelo mesmo, parecia enferrujados.
Richard estava próximo as pesadas portas da igreja, quando me aproximei me senti estupefata, as nuvens tinham tomado conta do céu, escondendo o fraco sol da manha, o céu estava em um tom azul mesclado com branco. Richard ao meu lado percebeu minha expressão ao ver o céu, me comunicou.
- É começo de tarde. - Virei o rosto pra encara-lo.
- Deve ser dez horas da manha. - Disse, rispidamente.
- É quase uma da tarde. - O tom dele era neutro. Olhei pra ele como se ele tivesse enlouquecido. - Passou-se três horas desde que você começou a rezar.
Meu queixo caiu, impossível, tinha certeza que não havia se passado nem cinco minutos.
- Eu ... Não pode ser. - Murmurei, ele me olhou com divertimento.
- É comum quando você realmente entra em contato com Deus. - Havia um brilho significativo em seu olhar.
- Mas ... - Estava surpresa demais pra expressar qualquer coisa, peguei o celular no bolso da calça e vi as horas, realmente faltava pouco para as uma da tarde. Voltei a encara-lo com surpresa. - Você ficou esse tempo em pé me esperando?
- Ham? - Agora ele que me enviou o olhar de surpresa. - Ah não, fiquei sentado. - Poderia insulta-lo por sua falta de modos, mas ele pareceu sincero e desinteressado no assunto.
- Agora precisamos ir. - Deu alguns passos antes que eu o chamasse.
- Você me deve explicações. - Continuei parada na entrada da igreja, ele se virou e abaixou a cabeça em um gesto mostrando cansaço.
- Eu já disse que irei explicar, mas antes precisamos ir. - Assumiu um tom de autoridade, mas já estava cansada com tudo aquilo.
- Não, não precisamos. Você me tirou do enterro da minha mãe! Me trouxe não sei a onde e me fez rezar! Estou a horas longe da minha familia que precisa do meu consolo tanto como eu preciso dos deles. Não tem vergonha? Invadiu meu momento intimo e agora quer que eu fique correndo por ai como uma aventurista idiota! Imagino que você não tenha nada a explicar e só queira um motivo pra passar algum tempo comigo. - A ultima frase saiu sem querer, me arrependi por te-la dito.
Richard ficou alguns segundos apoiando seu peso em só uma das pernas, passou a mão pelo cabelo o ajeitando disfarçadamente antes de tomar folego e falar.
- Não perderia meu tempo com você se não fosse preciso, Anne. - Seu tom era calmo demais. - Porém, é preciso. Mas não posso simplesmente jogar todo o peso dessa responsabilidade sem Você esta pronta. Seria um homicídio.
- Minha mãe acabou de morrer, acha que não estou pronta pra tudo? - Ele concordou brevemente.
- Sim, e você já presenciou a morte de seu pai mas mesmo assim não conseguiu aguentar a morte de seu namorado. - Fiquei engasgada com as palavras, senti um tremor passar por mim.
- Como você ... - Deixei as palavras se perderem em meus lábios.
- Sei? - Os olhos dele se fixaram em mim. - Eu sei de tudo. Me senti sem proteção alguma ele percebeu meu olhar de espanto e de repente pareceu cansado novamente. Quando voltou a falar a voz estava mais mansa.
- Você aterrizou aqui completamente perdida, sempre nesse ... Processo as pessoas se perdem, tentam inutilmente esconder a verdade e com isso perde tempo precioso mas em todos os casos isso simplesmente dura no maximo duas semanas, mas você ... - Ele perdeu a firmeza na voz e deu mais um passo até ficar diante de mim.
" Passou muito tempo, é a primeza vez que estava fazendo isso e não que eu me importasse, mas tinha um dever. Tenho, na verdade.
Inacreditavelmente Você esta disposta a acreditar que isso é um sonho. Que a morte da sua mãe não passe de algo da sua cabeça e que o seu pai e Davi estarem vivendo seja mera imaginação, mas não é.
Eu posso ler seus pensamentos Anne, pare de tentar complicar as coisas se fazendo não acreditar. - Arregalei levemente os olhos e dei alguns passos me afastando dele, pressionei meus pensamentos para que saíssem e minha mente ficasse vazia.
Não adianta você fazer isso, sempre estará pensando em algo. - Suspirou e retornou a explicação. - Volte na sua ultima lembrança no hospital, no dia em que os aparelhos sustentando o fino fio da vida de Davi anunciaram sua morte. "
Fiz o que me pediu, a lembrança demorou mas quando a mesma veio foi extremamente dolorosa, meu coração bateu como se fosse um martelo ritimado e intenso no peito. Estava novamente no quarto branco cheio de aparelhagem, a cama e Davi. Não estava vivendo aquilo mas presenciando, via meu "eu" segurando a mao de Davi e um olhar de angustia, estava tão pálida quanto Davi, meu olhar não tinha um rumo certo.
Quando o aparelho deu o alarme foi ameaçador, mas Davi continuou pacifico na cama hospitalar.
Quando comecei a falar minha voz estava tao fraca e baixa que foi difícil identificar as palavras.
- Davi, sinto muito. Não irei me separar de você, nem mesmo que a maior barreira seja erguida diante do nosso amor. Eu te amo. - As palavras fizeram meu peito doer fortemente - Você me mostrou como viver novamente, e eu juro que queria fazer o mesmo por você. Juro que queria que vivesse. Juro que queria morrer no seu lugar, por que você sempre amou a vida, e eu trocaria a minha pra ter de novo o que eu sempre amei.
Foi sufocante, lembrar da pequena queimação quando a lagrima saiu, estava pronta pra entrar em brandos quando algo aconteceu ainda na cena.
Um forte brilho que me cegou por estantes e quando minha visão voltou a se ajustar estava novamente no pequeno quarto do hospital, a maior parte do espaço ocupado pelos aparelhos e a cama, e deitada tranquilamente em cima dela estava eu, com se tivesse dormindo intensamente. Sondas disposta em meu nariz como uma ameaça.
Ao meu lado estava meu pai sentado em uma poltrona, sua postura era de puro cansaço, estava... Dormindo.
Meus joelhos cederam e quando retornei a abrir os olhos estava novamente na igreja e a mão de Richard estava estendida em forma de ajuda para que eu me levantasse. Recuei fragilizada.
- O que foi isso ... - Minha voz sumiu.
- Você teve uma súbita visão da realidade Anne. - Ele disse, voltando a sua compostura e recuando a mão. - Depois que você fez aquele juramento o presente mudou.
- Eu ... Não entendo. - Estava olhando pro chão, ainda ajoelhada. Meus olhos encheram de lagrimas mas as contive.
- Vai ser difícil de você entender se não aceitar. Você fez o juramento, diz que queria esta no lugar dele e agora você esta.
- E por que eu ... Não morri? - Não estava prestando muita atenção no que falava, mas sabia que essa pergunta era importante.
- Por que tem muita coisa por trás de uma simples troca de vivência. - Quando ele percebeu que eu não iria falar nada, prosseguiu com a voz firme. - Eu gostaria de dizer que foi pela sua coragem e pelo seu real sentimento e por isso recebeu uma segunda chance, mas não é bem isso.
Tentei prestar atenção, sentindo o suor escorrer pelas minhas costas e meu cabelo grudar em minha nuca.
- E o que você ... É? Algum tipo de guardião? - Perguntei em um fio de voz, ele sorriu meio torto.
- Atualmente não sou nada ... Mas já fui. - Deixou um mistérios pairar sobre nos.
Retornei a olhar pra ele esperando que respondesse de fato a pergunta.
- Já fui um dos servos do trono, Anne. Mas o divino decidiu me dar uma lição pela minha incompetência. Estou a algumas dezenas de anos na terra ...
não consegui escutar o final da história, me senti flutuando até me perder nos meus pensamentos.
Não havia um certa sensação climática, era como se estivessem uma luta entre o ar quente e o ar frio ambos se entrelaçando, me deixando banhada de suor e ao mesmo tempo soprando meus cabelos.
Percebi com um susto que meus pés não tocavam o chão e ao em vez disso eu me sentia como uma pluma, flutuando. Não sabia exatamente no que, pois uma neblina cinzenta escondia meu campo de visão me deixando ainda mais perdida.
Houve vozes, todas ao mesmo tempo, todas se misturando. Falavam muitas coisas mas nos meus ouvidos não chegava nenhuma palavra concreta.
" Ele não fez isso" um voz distinta disse e logo em seguida outra frase cortada chegou até mim " Estragou tudo ..." e depois só palavras " Punição" 'Tolo" "Ajuda" e por último " Anjo enviado" as vozes cessaram.
- Anne! Anne! - Percebi antes mesmo de abrir os olhos que estava deitada no piso frio de madeira da igreja, também antes mesmo de abrir os olhos sabia que era Richard quem estava me chamando com a voz ansiosa.
Quando abri de leve os olhos só pra ter a certeza de que era ele tive um ataque de surpresa que quase fez com que meu coração batesse tao forte e simplesmente seus mecanismo parasse pelo grande esforço.
Era a mesma aparência, mesmo perfil, porem no lugar dos olhos escuros como uma noite solitária havia vividos olhos verdes tao intenso quanto qualquer coisa que já tinha visto. Nesse momento tive um veslumbre do que ele era.
- Anjo ... - As palavras tomaram rumo pelos meus lábios.
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