Capítulo 5 - Revisado
** Primeira revisão 02/05/2021. Contém 3.164 palavras **
Na segunda-feira havia escutado o som do carro sendo estacionado na garage, era por volta das 08:00 horas... Não havia me preocupado em ir para a escola. Estava tentando descansar minha alma.
Eu dormi ... E dormi ... Dormi, até que acordei com o barulho do meu celular tocando. Era Lis. Atendi com a voz embriagada de sono.
- Alô.
- Anne! Acorda! Abre a porta, estou aqui. - Não entendi o que ela estava falando.
- Ham?!
- Faz quase dez minutos que estou chamando você! Estou no portão da sua casa. Abre logo, tem uns meninos do outro lado me encarando.
- Espera.
Desci as escadas ainda com Lis no telefone, era 13:00 e Lis provavelmente vinha da escola. Ela segurava o celular frouxo na orelha e senti a tensão sumir do seus músculos quando me viu. Atrás dela sentados na sacada de suas casa estava Alex, um cara meio gordinho com um corte engraçado e seu primo ( que eu nunca tentei descobrir o nome) provavelmente eles eram dois anos mais velhos que nós.
Deixei que Lis entrasse e ela começou a falar.
- Desculpa vir sem avisar é que achei que talvez pudéssemos começar o trabalho de verdade.
- Tudo bem, só irei tomar um banho.
Começamos esboçar nossas ideias para o trabalho, mas não as colocamos em prática. Era um trabalho em grupo e não em dupla. Decidimos que iriamos convocar os outros integrantes do grupo de forma que eles ajudassem.
Lis não tocou no assunto da festa o que foi ótimo mesmo que eu estivesse com uma curiosidade palpável para saber o que aconteceu depois que sai. Será que Andy se arrependeu? Ou talvez ela tenha voltado para o quarto com Davi ... Expulsei tais pensamentos, decidi focar no trabalho. A única vez em que Lis chegou perto de falar da festa foi do garoto que conheceu. Obviamente estava gostando dele. Percebi que Lis era o tipo de garota que se apegava rápido.
- Ele veio falar comigo hoje no intervalo. Ele é do terceiro ano e treina futebol ... - Ela continuou falando do menino e no final eu apenas disse.
- Ele parece ser legal.
E continuamos o trabalho.
Meu pai levou Lis para casa e eu fui dormi cedo, era estranho essa minha vontade de apenas querer dormi, parecia que meu sono tinha triplicado. Estranhamente eu dormi 12 horas direto e as 06:00horas fui acordada para ir a escola e adivinha? Ainda sentia muito sono!
Na escola dei de cara com a Andy ainda no portão da escola, dei "oi" a minha falta de sorte e continuei caminhando, ignorando-a.
Nas primeiras aulas eu e Lis combinamos de nos reunir na minha casa depois da aula, comunicamos a Tamara, porém Richard não foi a escola, de novo. Acabei não dando importância para isso.
Quando fomos liberados da escola Lis e eu ficamos tão impressionadas com o dia que decidimos ir a um parque próximo da minha casa. Tamara disse que não ia poder ir, mas se a gente quisesse ela faria cartazes para o trabalho, concordei.
Pegamos um ônibus até em casa, trocamos de roupa pois o sol estava ardente demais. Coloquei um macacão roxo e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, Lis também estava de shorts e uma regata branca. Pegamos todos os materiais necessários e seguimos adiante.
O parque era enorme e agradável. Na sua entrada ficava uma pista de skate e os banheiros com vários desenhos na suas paredes. Desenhos engraçados. Caímos na gargalhada quando vimos um desenho do nosso ex presidente "Lula" de bermuda como se tivesse indo a praia, todo bombado e de óculos escuro e cabelo espetado.
Continuamos seguindo passando por uma pequena "academia" ao ar livre, depois alguns casais que ficavam em bancos mais afastados e encontramos o lugar ideal.
Era a onde a grama estava melhor aparada e arvores longas faziam sombra e pra completar a nossa frente tinha um lindo lago com alguns patos, os barulhos que eles faziam eram estranhamente tranquilizantes.
Sentamos e começamos a distribuir o material que iriamos usar e especular ideias.
- Que tal mais conhecimentos aos alunos? Digamos assim ... Das coisas do mundo, temos sociologia, mas o professor não nos ensina o que o mundo é lá fora. - Lis disse. Pensei um pouco e então propus.
- Eu diria que precisamos de mais interação, sabe? Entre alunos e corpo docente. Temos um grêmio, mas dificilmente vemos alguma ação efetiva. Precisamos de mais voz. – Disse.
- E como fazer isso? Se nem mesmo o grêmio da certo.
- Não sei, que tal se a gente fizesse projetos que unisse a comunidade a escola? Como cursos para terceira idade ou algo como Pais e Filhos? - Lis começou a rir
- Não Anne! Somos adolescentes, isso não daria certo.
- É exatamente por causa disso que o índice de criminalidade aumentou. O fato da ausência da família na educação dos filhos.
- Tudo bem, mas não estamos fazendo um trabalho para o desenvolvimento da sociedade e sim da nossa escola.
- Pois é mais é da escola que começamos ... - Lis me interrompeu.
- Não, Anne se concentra!
- Vocês deveriam era focar no fato de que constantemente somos obrigados a fazermos coisas que não queremos e parecer que estamos em uma prisão – Não foi nenhuma de nós que dizemos.
Era uma voz de homem.
E eu a conhecia.
Encostado em uma árvore próxima nos encarando de modo deliberado, vestindo jeans escuro e uma blusa lisa preta que combinava perfeitamente com o seu cabelo em tom carvão estava o menino que me salvou anteriormente. Senti Lis estremecer do meu lado, acho que ela ficava assim perto de meninos. Pega de surpresa fiquei alguns segundos sem conseguir pronunciar nada, até que finalmente me recompus.
- Acho que mudar o tom da cor da escola seria uma boa ... O fato dela ser cinzenta e parecer uma prisão.
- Já é um começo - Ele disse e continuou nos observando, os braços estavam colocados atrás das costas e se apoiava comente com os pés na árvore.
- Quem é você? - Foi Lis que disse.
- Ah claro, prazer ... - Ele encarou a gente mais demoradamente antes de acabar dizendo - Richard.
Olhos arregalados, bocas aberta em uma expressão de "AAAAAAH" e um leve sorriso de canto da parte dele.
- Achei que só faziam essas caras de patéticas na escola - Ele deu de ombros - De qualquer modo já dei minha contribuição, até mais. - Ele se virou e começou a se locomover.
- A onde você vai? - Eu finalmente disse. Ele se virou e me encarou, eu tentei continuar o encarando mais depois de dez segundos não consegui sustentar o olhar e finalmente ele disse.
- Encontrar minha namorada. - E foi embora.
Ele caminhava de uma maneira leve
Com as mãos no bolso e ombro abaixado.
E seus pés davam os passos de maneira ordenada.
Ouvi Lis suspirar do meu lado e dizer " ah, ele tem namorada" e abaixar a cabeça tristemente.
Estranho não ter nenhuma aliança de compromisso no dedo.
Tudo bem nem todos os namoros atuais são composto daqueles detalhes. Na verdade eu diria que poucos namoros atuais duram o tempo necessário para que as pessoas ao menos pensem nesses detalhes.
Porem Richard tinha falado de forma tão coerente do seu namoro que pelo o que dava a entender é que a pouco tempo eles poderiam esta noivos.
Mas qual era a diferença? Ele parecia um megero, antipático e estupido.
- Uau, ele não é estranho ... Ele é lindo! E a gente achando que ele tinha a cara deformada. - Lis riu.
- Eu achei ele normal. - Ela me olhou estranhamente. – OK. Ele é bonito, mas a beleza é escondida pelo seus modos rudes.
- Ele só é mais um bad boy como nos cinemas, a diferença é que ele tem um ponto que nos ajuda muito no trabalho.
Era preciso concordar. Atualmente os adolescentes estavam cada vez mais se isolando, e muitas vezes esse comportamento dava inicio na escola.
- Tudo bem, devemos deixar a escola mais aconchegante ... Mas o que adianta ela demonstrar algo do lado de fora sendo que vai continuar sendo a mesma coisa no lado de dentro? - Argumentei.
- Hum .... Que tal formar grupos? Tipo grupo de leitura ... De desenho ... Debates ... Essas coisas?
- Bem que a gente poderia pintar do lado de dentro. Fazer um mural de alunos ... Dando vida a tudo. Unir as diferenças, essas coisas.
- Concordo, vamos dividir em duas partes, eu fico responsável pelos grupos sociais e você pela aparência da escola. Que tal?
- Pode ser. - Concordei. - Tem comida ai?
- Não, mas eu tenho dinheiro. Vamos ao mercado.
- Ótimo
Seguimos ao mercado e compramos vários doces, voltamos pra minha casa a onde comemos e o crítico assunto veio a tona.
- Anne ... Eu sei que é meio sem jeito eu perguntar isso ... - Já sabia o que ela iria falar - Mas o que aconteceu na festa ... - Soltei o ar de forma teatral - Desculpa ... Eu ...
- Olha Lis, tudo bem ... Não precisava se sentir relutante referente a esse assunto.
- Então por que ficou tão chateada com Andy?
- Eu só achei que ela estava se comportando de forma liberal demais.
- Ah Anne, sei que não a conheço muito, mas conheço o mundo, uma amizade igual a de você de anos não aconteceria brigas assim por motivos fúteis.
Era verdade, eu e Andy éramos amigas desde o começo da nossas vidas escolares. Nunca havíamos brigado de verdade, e era tosco brigar em um sonho. Deveria falar com ela, e iria.
Procurei Andy no outro dia na escola logo na entrada, porém não a encontrei. Sentei-me no meu lugar de costume na sala de aula. O sinal tocou marcando o inicio da primeira aula e então toda a sala congelou.
Richard entrou com passos firmes e a mão no bolso de seu moletom, seria só mais uma ocasião comum, mas ele não tinha o capuz escondendo o rosto. Os cabelos estavam sobre os olhos e o olhar impenetrável.
Passou por mim sem nem ao menos notar minha presença, escutei o soltar longo de ar vindo de Lis. Dei de ombros, preferia Davi.
Se fosse qualquer menino e não "Richard" todas as meninas mais rodadas da escola teria sem duvida dado em cima dele, não esperaria nem um segundo se quer, porém Richard mostrava um ar de rispidez e superioridade que fazia as pessoas se manterem afastadas.
Lembrei do que Lis havia falado.
"Ele não é estranho, ele é lindo."
Pois pra mim ele continuava sendo estranho.
Tudo bem era normal grupos incertos de adolescentes querer transmitir uma certa superioridade, mas em todos os casos poucos conseguiam, tirando os populares, claro.
Mas até mesmo os populares eram temidos e não respeitados, ao contrário disso a impressão que dava era que Richard impunha respeito em todos ali.
Toda hora que olhava para os lados via alguma menina babando por ele, ai eu me voltava o olhar pra ele e via que estava escrevendo algo em seu caderno sem nem ao menos perceber os olhares que recebia. Tinha pena das meninas rejeitadas, por sorte Lis só teve uma "atração física" por ele. Por que quando perguntei sobre Rodrigo os olhos dela brilharam de tal maneira que quase fechei os meus para poupa-los daquele brilho.
- Ah, vou falar com ele no intervalo - Ela sorriu e olhou para o celular a fim de ver as horas. - Meu deus ainda falta vinte minutos! Essa hora que não passa ... - Choramingou.
Ela continuou falando, porém parei de prestar atenção quando percebi pela visão periférica que Richard estava olhando para mim e pelo o que parecia era com algum interesse. Tentei o maximo não encarar ele de volta.
Na hora do intervalo vi Andy conversando com Jaque perto dos bebedouros. Fui até ela com uma certa relutância. Não queria ir, tinha perdido a coragem, porém quando vi que estava segurando "vela" para Lis e o Rodrigo me dispensei até a onde ela estava.
Jaque deu-me um olhar de raiva enquanto pedia para conversar com Andy.
- Tudo bem Anne, podemos conversar.
Fomos ate um canto mais isolado e eu brinquei com os meus dedos antes de começar.
- Olha Andy, eu sei que fui rude naquele dia na festa, mas ... Eu não estava bem. - Encarei ela e inventei a maior desculpa que consegui. - O fato é que me senti mal por ver você e Lis me deixando para se diverti. Me senti rejeitada. E depois quando vi que estava me afastando de você me senti mal e fiquei desolada e ver que você não me pedia mais minha opinião antes de dormi com alguém ...
- Eu não fiz nada com ele.
- É, eu sei. Só que na hora pareceu que vocês tinham feito. Eu sei que fui um tanto hostil e sinto muitíssimo por isso.
- Tudo bem Anne, eu também peço desculpas, não devia de maneira alguma ter largado você, mas estava tão alegre que nem me preocupei com esses detalhes. Sem dizer que eu bebi e ainda fiz a pobre Lis passar mal ...
- Pelo menos valeu a pena para ela.
Olhamos para o banco a onde Lis e Rodrigo conversava, ele estava segurando a mão dela e os olhos dela tinha aquele mesmo brilho só que ainda mais intenso
Rimos e me senti fortalecida. De alguma forma Andy era quem colocava o humor na minha vida e eu me lembrei o quanto senti sua falta depois da morte do meu pai.
E então um outro assunto veio a tona.
- De qualquer maneira aquele Davi é um idiota. - Parei de rir e a encarei - É sério! No dia da festa ele chegou em mim e eu já estava bem bêbada. Ai ele me beijou e me levou para um quarto, acho que já era quase duas horas da manha. Ele me deitou na cama e juro que o achei bem gato e poderia ter continuado com aquilo por que estava literalmente muito bêbada. Até que ele me ofereceu algo, um pacotinho sabe? E eu já sabia o que era e neguei. Não ia usar drogas. Ele continuou oferecendo e eu recusando até que me irritei e o clima todo se dissolveu. Comecei a ficar sonolenta e dormi. Eu vi ele se levantando e saindo do quarto para ir beber agua, lembrei de tudo, dele me oferecendo droga. Ai comecei a me arrumar de forma rápida e o quarto cheirava muito a cigarro. Um cheiro tremendo. Era horrível. Ai eu sai e você sabe o que aconteceu depois.
Fiquei pasma, encarando e ouvindo a história.
Não ...
Não ...
Não ...
Aquele de forma alguma poderia ser o meu Davi.
Odiávamos tudo aquilo, de beber e fumar. Ele odiava.
O pai dele tinha adquirido um câncer no pulmão por conta dos cigarros e ele somente uma vez tinha tragado um cigarro, quando tinha nove anos e disse que quase morreu sufocado com toda aquela fumaça.
Quando a gente encontrava algum aluno da escola fumando murmurávamos de forma única um "idiotas" e depois a gente ria da tolice daquelas pessoas, e agora ele era uma daquelas pessoas.
Tentei me acalmar "Calma Anne é só um sonho. É você criando cena na sua cabeça, é você se alto detonando. Ignore".
Tentei retornar ao assunto.
- É, um completo babaca.
- Sim ... Masssssssss - Ela se animou - Tem um garoto novo na escola. Cabelos negros, corpo desenvolvido e um ar sério, super gato!
- Sério? Não vi ninguém assim.
- Encontrei ele na entrada hoje, ia até falar com ele, porém não consegui e ele estava caminhando tão ... Distraidamente. - Ela passou os olhos pelo pátio - E droga, a onde será que ele se meteu? Achei que o encontraria aqui no intervalo. Jaque disse que vai ver se consegue informações sobre ele, essas coisas.
- Ah claro.
- Gente, acho que estou apaixonada!
-Você sempre está apaixonada - Sorri. - Vai com calma, nem tudo é aparência ... Você sabe.
- Claro! Mas tenho certeza que ele é perfeito.
No fim de tarde daquele mesmo dia Andy me ligou, eu estava em uma das minhas " sonecas" ultimamente me sentia com muito sono.
- Oiiiiiiiiiiiiiiii - Ela falou exatamente assim.
- Oi Andy.
- Adivinha o que eu descobri!!
- Diga
- Lembra o garoto gato perfeito? - Fiz um "ham" para que ela prosseguisse. - Então, ele é do segundo ano, realmente achei que ele seria do terceiro por conta da sua altura e tudo mais. Eeeeeeeeeee, pelo o que parece ele é do segundo B - Silêncio - Pera, essa não é a sua sala?
Sim. Era a minha sala.
Sem duvidas ela estava falando de Richard
Droga, Droga, Droga
- Uhum
- COMO ASSIM VOCÊ NAO ME FALOU QUE TINHA UM SUPER GATO NA SUA SALA?
- Você não me perguntou e ele não parece tudo isso pra mim.
- Meu deus! Você bateu com a cabeça ? O menino é só tudo. Bonito; Estiloso; Inteligente ...
- Como sabe que ele é inteligente ?
- Ele parece inteligente. O fato é que, eu preciso conhecer ele.
- Ah ... Não sei Andy ... Ele é estranho.
- Sim. - Breve silencio - Estranhamente lindo! Por favorzinho ....
- O que quer que eu faça?
- Descubra o nome dele!
- Richard - Um som de surpresa vindo da parte dela.
- Como sabe?
- É que meio que ... Estamos no mesmo grupo de sociologia ...
- VOCÊ ESTA FAZENDO UM TRABALHO COM ELE E NEM ME CONTA! - Tom de acusação.
- Você não perguntou - Tom de deboche.
- Engraçadinha, mas tenta conseguir algo, por favor.
- Ok, irei tentar.
- Obrigada Anne! Eu estava pensando ..
- Ah Andy - Cortei a frase dela de forma desrespeitosa. - Eu tô morrendo de sono, podemos conversar sobre isso amanhã?
- Ah, esta bom, dorminhoca. Vou encher o saco de Lis. Beijo.
- Ótimo, beijos.
Voltei a dormi.
{...} Aqueles mesmos olhos verdes estavam me encarando e eu afundei ainda mais neles. Pareciam grandes esmeraldas e eu estranhamente queria toca-los, pois sentia que poderia ser levada a outro mundo através daqueles olhos.
Nossas testas se grudaram e mesmo que me esforçasse não conseguia enxergar mais do que seus olhos.
Senti sua mão em minha cintura e imaginei ele me beijando, suavemente.
Porém o que ele fez foi pressionar seus lábios quentes na minha orelha e sussurrar.
"Isso não é um sonho" {...}
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