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Capitulo 5

A primeira coisa que vi foi a perna engessada, logo em seguida o braço também seguia a mesma moda que a perna. E o rosto tinha aqueles famosos cortes artificiais.

Escutei a porta se abrir atrás de mim, e o medico falar.

- Desculpe-me, iria avisa-la que provavelmente ele estaria dormindo por conta dos fortes analgésicos para dor.

Olhei para ele abismada.

- Por que meu pai esta aqui? - Ele estreitou os olhos e então com um tom profissional disse.

- Ele não corre risco de vida, por isso ele pode ficar no quarto.

- Mas ... E minha mãe? - Estava tentando acompanhar os fatos.

O medico abaixou o olhar, nessa hora percebi que seu nome era Marcelo, Dr Marcelo.

- Sua mãe quebrou algumas costelas. E órgãos vitais foram atingidos. Ela aguentou firmemente o processo da primeira cirurgia, porem os resultados só pioraram, e ela não aguentou.

Percebi o quanto era difícil pra ele dar aquela notícia. Provavelmente era a primeira vez desde que se formara medico que ele dava a noticia da morte de algum paciente.

- Sinto muito pela sua perca.

Só quando ele saiu do quarto percebi o que tinha acontecido.

Primeiro a ideia de que minha mae tinha morrido não foi assustadora. Algo dentro de mim tentou me confortar " Ah esta tudo bem, você nem gostava tanto assim dela" , depois pequenas memorias veio até mim e eu comecei a me desesperar. Nunca mais a veria, nunca mais escutaria sua voz, não a veria, não iria mais discutir com ela, de repente tudo pareceu confuso e distante.

A um dia atrás estava com aquele famoso remorso que sempre o guardei por ela, agora não sabia como agir.

Fiquei encarando o rosto sereno de meu pai, lembrando o que eu havia sentido na hora que soube sua morte.

Dor? Desespero ? ... Não, medo. Pela primeira vez eu tive medo de nunca mais ve-lo novamente, foi como na vez do parque, porem era aquele medo baseado em certezas, certeza que ele havia me deixado.

Comparando as circunstâncias agora eu sentia ... HM, complicado, havia uma certa dificuldade de assimilar tudo.

Já havia pensado algumas vezes como seria diferente se minha mae tivesse morrido no lugar do meu pai, na época a ideia parecia até boa ...

Meu pai resmungou de leve, o que atraiu minha atenção, mas não chegou a acorda.

De repente tudo parecia estúpido. Não havia perdido minha mãe, pelo menos não de verdade. Ela estava viva naquele momento, e eu aqui pressa no sonho.

~~

Vovó chegou duas horas depois, ela havia prendido os longos cabelos brancos em um coque e vestia um conjunto de blusa e saia florida.

Ela me abraçou fortemente fez com que eu sentisse o perfume das dezenas de flores que ela tanto adorava.

Na exata hora não sabia se ela já sabia da noticia da morte de sua filha, mas depois que ela me encarou atentamente e uma única lagrima solitária escorreu por seu rosto, foi a confirmação, ela já sabia.

Eu lembrava a minha mãe, nossa fisionomia era a mesma ate mesmo o formato dos olhos, só mudava a cor. E vovó sabia disso. Senti pena por ela, o que nos reconforta na hora da perca são as lembranças, e eu sabia que ela não tinha nenhuma lembrança boa dela junto de sua filha pra reconforta-la.

E ai eu percebi ... Eu também não tinha.

Me senti no escuro ... Não naquele tipo de escuro agradável, mas outro tipo de escuro ... Aquele que você se desespera achando que esta cego e nunca mais poderá enxergar a luz.

Lá estava eu, do lado da minha vó, em um silencio absurdo, em um ambiente claro de mais, sem quaisquer emoção simplificada. Vivendo o outro lado da história, aquele que eu perdia minha mãe. Estava sentindo as duas dores, e elas estavam competindo dentro de mim, tudo parecia surreal.

Uma enfermeira parou em nossa frente, com os olhos gélidos e os cabelos bem puxados para trás, esperou alguns segundos até ter nossa atenção e então disse.

- Esta passando os efeitos dos analgésicos do Sr Pedro, talvez seja melhor ter alguem ao seu lado quando acorda.

E então ela saiu, minha vó sorriu pra mim e disse.

- É melhor você ir, vou resolver as papeladas.

- OK

Me levantei e voltei para o quarto, estava mais frio do que mais cedo, a noite estava chegando, Fechei as janelas e me sentei ao lado da cama me distraindo com as gotas de soro que caia no tubinho que levava para as veias.

Quando meu pai acordou o soro já estava acabando e fiquei aliviada por que não sabia o que iria fazer quando minha única distração acabasse. Ele tentou mexer a mão que não estava engessada e resmungou ao sentir a dor. Foi então que ele me viu.

- Anne, esta tudo bem? - Concordei com a cabeça - Meu Deus ... Não acredito que isso possa ter acontecido.

Ele passou um tempo processando tudo antes de perceber algo

- Cadê a Lilian ? - Me senti no lugar do medico que me deu a noticia, tentei fingir que meu pai era alguem completamente estranho e assim facilitaria na hora de eu dar a noticia ruim, porem as coisas pareciam ainda mais complicada, como se eu não soubesse lidar com todos aqueles sentimentos, então somente permaneci com os ombros curvados, os olhos encarando chão.

- Anne ... Anne! - Olhei pra ele assustada - Cadê sua mãe? - Senti o impulso das lagrimas e comecei a chorar, compulsivamente, de maneira descontrolada.

Não entendi o por que, não tinha chorado desse jeito quando meu pai morreu, nem mesmo quando Davi morreu. E agora lá estava eu demonstrando uma imensa fraqueza.

- Lilian ... Ela ... Lilian! - Meu pai soltou um ruido estranho e também começou a chorar, fungando entre uma pausa de choro e outra. A dor dele passou pra mim, e vice versa.

- Ela morreu. - Falar alto era como acreditar na realidade, e agora eu estava em conflito sem saber em qual realidade eu estava. Em alguns meses atras meu pai tinha morrido, agora minha mae tinha morrido. Dessa forma minha razão e meu consciente se atacaram e nada daquilo parecia certo.

Houve mais uma onda de choro. Tentei imaginar como meu pai se sentia, a dor física e a psicológica ... Juntas.

~~~

Logo depois quando retornei a ver minha vó, e meu pai já estava dormindo novamente por conta dos remédios foi que eh percebi que ela também deveria ter chorado. Todos ali tinha uma dor imensa, mas que não podiam ser medidas.

O velório seria na madruga, e o enterro as nove horas da manha, não me importei com esses detalhes, essas casualidades. Ainda doía muito a noticia.

Às 23:00 o corpo da minha mãe estava no caixão e na sala mal iluminada e silenciosa. Não sabia quais tinham sido os procedimentos pois minha vó arcará com tudo. Sinceramente não queria ir para aquele lugar, mas decidi respeitar a todos e comparecer. Depois que cheguei lá e me aproximei junto de minha vó e meu pai ao caixão e vimos os cabelos castanhos bem penteados e o rosto pálido tranquilo, percebi que não queria ir mais embora. Ficaria ali pra sempre, já que seria a ultima vez que veria ela novamente.

Houve choros, despedidas, conforto. Tudo aquilo. Mas cada vez que eu a encarava procurava a paz que nunca tinha encontrado em seu rosto ruborizado por raiva, e a encontrava. Ela parecia uma outra pessoa. Alguem que tinha ... Morrido até mesmo feliz.

Acreditei no que as outras pessoas falavam, parecia que ela tinha entrado em um sono tranquilo. Se não fosse pelos algodões todos diriam que ela somente estava dormindo.

Foi alucinante ver meu pai chorando, ver minha vó chorando, de repente a dor estava completamente presente e se manifestava cada vez mais. Ali era o lugar de encontro da dor.

Foi uma madrugada complicada, toda vez que o choro cessava, recomeçava rapidamente, não tinha uma pausa se quer.

No fim, a claridade inundou o lugar e as horas começaram a passar depressa e o desespero foi imenso, daqui a pouco definitivamente teria uma despedida de verdade.

Poucas pessoas ficaram todo o tempo, algumas saíram e retornaram na hora do enterro, somente eu, meu pai e minha vó não saímos do lado dela.

Quando fecharam o caixão foi ainda pior, seguramos a mao fria dela, fizemos orações, pedimos a Deus para que ele cuidasse bem de sua alma, tudo esse tipo de coisa.

O caixão foi fechado firmemente, impiedosamente e encaminhado para uma caminhonete a onde foi levado ao cemitério.

Beth havia chegado as 5:00 trazendo Andy e Lis com ela, as duas me confortaram, mas a verdade é que não escutava as suas palavras estava deprimida demais pra isso. Ficaram segurando minha mão, e sempre do meu lado.

Percebi o quando o céu estava simples e ainda sim, belo. Era uma manha passiva, como se todos estivessem em paz, e silencio. Em luto.

Caminhei com passos leves, causando pequeno barulho ma grama. Tentei o maximo não encarar nenhum tumulo. Foi em vão, primeiro passamos por uma de uma jovem  -Carmen Santos 1997/2013 depois foi uma senhora - Francisca Oliveira 1954/2012- ambas tinha seus retratos, ambas estavam sorridentes ...

Não foi surpresa quando chegamos no mesmo local a onde meu pai havia sido enterrado. Um buraco profundo já havia sido cavado - a cova- pensei. Ali seria o novo lar dela.

Pena que ela não possa trabalhar mais, isso com certeza a deixada triste. Refleti sobre isso, depois imaginei que talvez a onde ela fosse esta, teria um novo trabalho pra que ela ocupasse. Isso me reconfortou.

O caixão foi deixado no buraco e começou os discursos.

Alguns do trabalho dela falaram o quanto ela era uma profissional brilhante. Depois foi a vez de vovó elogiar ela como filha e pessoa, até mesmo Beth falou uma pouco, dizendo que "era um orgulho e honra ter sido amiga de uma ótima pessoa". Meu pai também disse alguns coisas, estava na cadeira de rodas. Com os olhos cheios de lagrimas disse que " não existe pessoa melhor no mundo do que você Lilian, e mesmo que não esteja entre nos continuarei a dizer, você é brilhante, eu te amo" .

Não sabia o que dizer na minha vez, todos esperavam que eu falasse algo, mas o que eu poderia dizer? Não tinha nada ...

- Enxergue a esperança ... - Disse e pareceu suficiente pra mim.

Todas as flores e os arranjos de despedida foram jogados em cima do caixão e coberto pela terra. Havia acabado. E através de tudo aquilo tentei inutilmente enxergar a esperança.

~~~

- Vamos pra casa Anne. - Escutei a voz da minha vó atrás de mim, estava encarando a areia ainda "fofa". Pensei que provavelmente daqui alguns dias teria uma placa escrita -Lilian Soffy Collin 1980/2014- com uma foto sorridente dela, mas o único problema é que eu não lembrava de nenhuma foto sorridente dela.

- Irei ficar mais um pouco - Respondi, desconcentrada.

- Tudo bem, mais quinze minutos.

Escutei os passos se distanciar. Aquele lugar era imenso, e calmo, assustadoramente calmo.

Passou dois minutos antes de eu começar a falar.

- É incrível como é a segunda vez que estou aqui e ainda sim tudo parece estranho. No sonho eu estou encarando a sua morte ... E quando acordar irei ter que encarar a do papai e de Davi ... São duas ... Eu me pergunto por que a sua é a que esta doendo mais, mesmo não sendo verdade?

Olha só, aqui estou, sentada na terra provavelmente embaixo de alguem que já morreu que talvez esteja vagando pela minha cabeça ... Essas coisas acontecem? Tipo espirito vagando e tudo mais? Você esta vagando agora? Deve está me chamando de estupida ... Me xingar do modo carinhoso que somente você sabe fazer. A verdade é que eu nunca achei que choraria por ti, por que eu achei que o amor que sentia por você era diferente do que o que eu sentia pelos outros, que nunca me faria sofrer, obviamente me enganei. - Foi nessa hora que comecei a chorar descontroladamente novamente, tentei cessar as lagrimas com os meus braços mas não adiantou e só fui ficar mais encharcada.

- Que droga mãe! Por que você esta fazendo isso comigo? Em? Por que eu tô vivendo essa droga de sonho idiota!?! Por que eu TENHO QUE SOFRER TANTO COM TUDO ISSO? Que porcaria de destino é esse?! - Estava gritando diante daquelas almas que precisavam de descanso, mas não me importava. A dor era alucinante.

- Eu não quero mais isso ... Não quero ... Eu desisto de tudo, por favor ... Acabe com a dor. SE EXISTE UMA DROGA DE DEUS ME ESCUTA, NAO QUERO MAIS VIVER ISSO! ME FAÇA ACORDA! EU DESISTO.

Nessa hora uma mão fechou fortemente minha boca, entrelaçou minha cintura me fazendo levantar, senti a firmeza e as lagrimas cessaram.

- Fica quieta Anne, eles podem considerar seu pedido.

O ano esta quase acabando de novo e agora vim publicar o capitulo ;-; desculpa a demora! Tive que lutar com as emoções pra criar esse capítulo hehe. Espero que gostem :D ENXERGUE A ESPERANÇA NESSE NOVO ANO! UHUUL.

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