Capítulo 32
Ficamos em silêncio vendo o nascer do sol, naquele momento não tinha nada para se dizer e duvidava que um dia teria algo.
Os raios de sol entraram pela janela banhando todo o lugar. Isso era a parte incrível de São Paulo: ver o nascer do sol... Aquela beleza magnifica banhando todos nós e minutos depois vê-la indo embora sendo tomada de nós. Experimentávamos aquela mudança bipolar do clima todos os dias e agradecíamos por isso, pois só assim podíamos entender que as coisas mudam em segundos.
Passei as últimas horas estática com os pensamentos passeando por tudo, mas sem pressa de arrumar uma resposta para a pergunta de Richard porque sabia que era uma pergunta retórica, no fim quem precisava de uma resposta era eu mesma, precisava me confortar e encarar aquilo que já era pré-existente no meu destino. Devia isso a mim.
E foi que eu fiz, equilibrei-me entre surtar e respirar fundo e no fim quando Richard virou para me encarar parecendo um deus contra a luz solar não encontrava-me aos brandos, estava tranquila igual o sol naquela manha.
Richard caminhou até mim tocou meu braço e eu estremeci, ele me completava com uma energia única.
-Anne, podemos sair dessa, vamos sair dessa. - Me ajoelhei na cama e me curvei ao seu encontro, deixei que todos meus sentidos envolvesse Richard. Senti seu cheiro da maneira mais profunda que consegui, encarei cada pedaço de sua pele, cada detalhe onde a visão humana nos permitia.
Primeiro a pele que cobria seus braço... Se fechasse os olhos conseguia sentir cada pelo, pinta e quaisquer minúscula imperfeição que poderia ter sob a superfície. Continuei subindo e parando levemente entre a curva do pescoço para sentir suavemente o começo da sua barba a fazer, naquele momento ele parecia um ator de filme de bangbang, pensar sobre fez-me sorrir.
Sabia enquanto velejava pelo seu corpo que Richard olhava-me de forma curiosa e não me importava com isso, não importava o que seu olhar observador podia encontrar de imperfeições em mim.
Por fim minha mão terminou seu percurso em seus cabelos... Mesmo com todo tumulto dos últimos dias, seus fios permaneciam macios e sedosos.
- Richard, esta tudo bem... - Ele balançou a cabeça de um lado a outro e segurou minhas mãos firmemente.
- Precisamos fazer algo. - Ele sussurrou enquanto tocava suavemente meus dedos sob seus lábios.
- E eu irei. - Ele congelou na posição que estava, o ar quente tocando a ponta dos meus dedos. Então parou para me olhar - Irei passar essas semanas com você. - Sorri simplista.
Beije-o para mostrar que estava selando aquele acordo da forma mais verdadeira que eu podia. Sabia que era egoísta dizer que meus últimos dias iria passar com ele e não com a minha família e amigos, mas a questão era que naquele lugar Richard só tinha a mim e eu amava-o bastante para saber que minha alma o pertencia.
Estávamos caminhando pelas ruas turbulentas da cidade grande. Segurava vitoriosa um copo de milk shake que havia implorando muito antes da gente ter deixado o hotel. Richard havia feito a barba mesmo sob protesto, pois gostava daquele estilo selvagem. Era como viver uma outra vida, como se tudo que eu havia passado fizesse com que a pessoa que estivera dentro de mim se fosse e uma nova surgisse. Eu realmente sentia que as coisas que havia acontecido a uma semana atrás aconteceu com outra pessoa e não comigo.
Sentia falta do meu pai, sentia um aperto no coração pela minha mãe e muita saudades de todas as meninas, mas não pensei mais em Davi. Com o tempo ficou fácil entender o porquê. A questão é que não nos apaixonamos por aparência... Nos apaixonamos por atitudes, jeitos e momentos. Eu era completamente apaixonada por todos os momentos que havia passado com o Davi em outra vida e sabia que somos feitos desses momentos, estava perdidamente apaixonada pelos momentos que estava passando com o Richard e esse seria meu último pensamento antes de partir, pois foi nos momentos que tive com o Davi que pensei enquanto segurava a mão dele. A nossa vida sempre vai ser repleta de gente, teremos paixões e eventualmente encontraremos o amor e precisamos fazer com que valha a pena, agora sabendo disso e sentindo toda a paixão que meu corpo pode suportar tenho o conhecimento de quê estou fazendo valer a pena.
Olho para minha mão entrelaçada com a do Richard... Temos três dias. Novamente mãos entrelaçadas, mas agora não sinto aflição, terror, medo e nem tristeza, as coisas acontecem como tem que acontecer.
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- Tem certeza que não quer ir até lá? - Estou vendo algumas roupas, um amontoado de roupas. Richard esta segurando uma caneca com chá e olhando algumas fotos que tiramos nos últimos dias. Ele olha para elas com um pavor estranho como se aquilo fosse o seguir para sempre, mas no fundo sei que é saudável ter lembranças, só precisámos nos acostumar com elas.
- Não, eu não quero me despedir. Quero que por um momento as coisas pareçam normais sem ser programadas. Eu vou morrer e as pessoas morrem, não é? E são pegas de surpresa. Não quero dizer adeus.
Me encara espantado por um momento pois não tocamos nesse assunto. Nem sei como vai ser... Saber que uma hora vai acontecer deixa-me assustada e se continuar pensando a respeito acabarei surtando.
- Vou sair para tomar um ar. - Ele levanta coloca a xícara na mesa e caminha até a porta. De alguma forma bem suspeita estou sentindo uma energia estranha. De acordo com nossas contas tenho ainda mais um dia, porém parece que Richard caiu na realidade e toda vez que ele tem uma oportunidade de ficar longe de mim ele utiliza-a. Isso me chateou até que eu percebesse o quão difícil deve ser para ele ter que lidar com esse turbilhão de emoções. Queria que ele estivesse por perto quando acontecesse por que junto dele o medo não iria parecer tão grande.
E as vezes pego-me pensando como vai ser o futuro para ele... Ele vai experimentar novas sensações sem mim, novos desafios e por ser imortal em dado momento vai encontrar um novo amor... Esses pensamento me traem fazendo com que me sinta minúscula.
Eu escolho minha roupa e assisto um pouco de tv. Começo a recordar-me de alguns acontecimentos e depois de muita impaciência decido tomar um banho enquanto espero por Richard. O fato de ser fim de tarde e o silêncio do quarto de hotel faz com que comece a ficar aflita.
O tempo passa aceleradamente e começo a pegar no sono até que ouço as batidas na porta. Meu coração salta e levanto em um pulo... Quando abro a mesma me deparo com a figura de Luke.
- Mas o que diabos ... - Ele da um sorrisinho. Não cético como sempre, um sorriso quase humano.
- Esta chegando a hora senhorita. - Fico encarando-o sem entender ao certo o que isso quer dizer. Olho por cima do seu ombro esperando ver Richard, porém ele não esta ali.
- Cadê ele? - Fico encarando-o negar com a cabeça... Algo no meu estomago embrulha. Fico ali parada segurando a porta de forma que ele não possa entrar enquanto não me da nenhuma resposta.
- Ele foi chamado. Queria ficar com você, mas não pôde. Pediu que eu viesse.
Vejo os olhos. Mesmo ficando as últimas semanas com ele nada iria se comparar a ter ele aqui nesse momento. É como se uma pedra enorme estivesse caindo na minha direção e não tivesse ninguém que a pudesse segurar por mim. Esse seria o nosso momento, o momento que eu iria dizer que amava-o e que tudo e todas as promessas que eu queria fazer seriam seladas. Ele é a única pessoa que eu queria dizer adeus mesmo sabendo que independente a onde fosse ele sempre estaria comigo me lembrando da melhor parte de mim.
"As coisas terminam Anne, da mesma forma que elas começam."
- Eu preciso ver ele. - Digo, não para Luke que ainda esta parado na porta, mas sim para o universo.
- Você não vai fazer o que estou pensando ... - Fecho os olhos e me concentro. Penso em tudo, tudo que me liga com Richard. Sei que nossa ligação esta se fechando e provavelmente não irei conseguir me conectar a ele, mas eu tento e me perco nos pensamentos... Sinto ele vindo em um sinal meio fraco quase imperceptível... -Adeus Anne.
Escuto Luke dizendo de fundo, mas não me importo. Sinto o abraço familiar, o beijo na testa, não consigo ver ele, mas eu o sinto e meu coração acelera perdendo o ritmo logo em seguida até cessar por completo.
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