Capítulo 31
Meu peito doía. Sentia como se tivesse levado um soco na boca do estomago e minha garganta estava seca e quanto mais pensava nisso mais me sentia sufocada dentro daquele carro que parecia não ter janelas.
Não enxergava nada. Parte por que as janelas eram cobertas e parte porque as lágrimas não paravam de cair, sentia-me como se meus olhos estivessem cansados de fazer o que eles foram programados para fazer: enxergar.
Talvez meu corpo todo estivesse cansado... Ou fosse apenas meu psicológico. A verdade era que eu não aguentava mais. Tudo aquilo parecia um teatro com tantos atos que parecia não ter fim.
Gritar era desnecessário, pois não espantava a dor.
E a cena se repetia na minha cabeça, cada partícula no ar parecia que era Nazareth. Cada vez que respirava sentia como se tivesse sugando cada momento que ela viveria com sua família. Porque sempre aquela porcentagem do mal conseguia vencer da porcentagem do bem no mundo?
Pareceu uma eternidade o tempo que fiquei ali sozinha encarando o pino que fechava a porta. Escutei a porta se abrindo do outro lado e Richard se acomodando do meu lado. Não queria falar nada então desejei que ele não perguntasse e por sorte ele permaneceu em silêncio. Demorou alguns minutos até que ele tomasse a coragem de me puxar para próximo de si. Eu queria poder fechar os olhos e lembrar de uma música bonita que fizesse eu guardar esse momento, mas infelizmente não era um bom momento e toda vez que fechava os olhos lembrava que agora Nazareth estava desfeita no ar.
E minha cabeça detonava-me com perguntas e tudo parecia tão melodramático que até mesmo escutar os batimentos de Richard me assustava. Dormi e acordei tendo espasmos, Richard me apertou mais e mesmo que fosse uma sensação boa saber que ele estava ali ainda sim constantemente lembrava-me do que havia acontecido.
Durante toda a viagem Richard e Luke não trocaram nenhuma palavra respeitando meu momento de angustia. Demorou aproximadamente cinco horas até que finalmente o veículo parasse em uma vasto campo com um pequeno avião nos aguardando.
- Luke que conseguiu. - Richard me explicou e eu não fiz mais perguntas. Sabia que nosso próximo destino seria São Paulo e sentia que com isso um peso enorme sairia das minhas costas.
Demorou aproximadamente quatro horas para finalmente chegarmos em solo paulista. Já era noite. Durante a viagem no avião não consegui pregar os olhos, flash de imagens passavam pela minha cabeça e sentia-me atordoada como se pensar com clareza fosse difícil demais, tudo explodia na minha mente como luzes piscando bem próxima dos meus olhos.
Não sabia para onde Richard ia me levar até que a gente parasse em frente a um hotel e ele pegasse a chave do quarto. Meio com receio me perguntou se estava tudo bem se a gente ficasse no mesmo quarto e eu concordei quase que imediatamente, a última coisa que queria era ficar sozinha, de novo.
Mas não dormimos juntos, ele se acomodou na poltrona e ficou ali tentando compreender o que exatamente eu estava sentindo, tinha consciência de que todos aqueles sentimentos eram bastante difusos a ele, mas no meu estado atual não conseguiria explica-los de forma decisiva.
Estava deitada e tudo era silencioso até mesmo nossas respirações, só conseguia saber que ele estava ali porque minha pele se arrepiava quando estava com ela. Antes de uma forma curiosa hoje era tão afetuoso que só de pensar nele conseguia sentir toda aquela energia passar pelo meu corpo. Acima de tudo era possível sentir a tensão no ar antecipando a pergunta que estava prestes a fazer.
Durante todo o meu tempo longe eu não conseguia saber em que momento da vida eu estava ou como as pessoas que eu amava estavam... Absolutamente eu não sabia mais de nada então precisava suprir essa necessidade de informação.
Levantei da cama e mesmo no escuro conseguia ver claramente os olhos de Richard me fitando e esperando que eu dissesse as palavras, sabia que ele não pensava nas palavras certa para me responder e que provavelmente seria direto e eu precisava ser racional nesse momento, mas nem ao menos sabia se me importava tanto com a resposta, eu só estava adiando algo que iria acontecer uma hora ou outra.
- Quanto tempo ainda tenho? - Falar aquilo em voz alta era quase como gritar em uma biblioteca e todos ficassem te encarando como se fosse louca.
Richard me encarou por um longo tempo, passou a mão pelos cabelos e levantou. Ele era esbelto de uma maneira única que talvez passasse despercebido em uma rua cheia, mas uma vez que você o olhasse e prestasse atenção em todos os seus detalhes aquela imagem ficaria na sua mente para sempre.
Foi em direção a pequena sacada do quarto, era quase fim de noite e uma pequena brisa entrava no cômodo. Ele respirou longamente aquela brisa e então olhando para o céu respondeu.
- Algumas semanas.
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