Capítulo 25
Estava deitada escutando a respiração das meninas enquanto olhava para a televisão da sala.
Em algum momento teria achado aquilo assustador. Tudo escuro e silencioso e ficar encarando uma televisão como se esperasse que saísse algo de lá ... Mas naquele momento não sabia mais se eu teria medo de algo.
A não ser, da morte.
Sempre pensei que as pessoas não tinham medo da morte em si, mas sim da forma que iriam morrer. Naquele momento não me importava como iria morrer, me importava no que iria deixar para trás. O que eu iria encontrar futuramente. Como que as pessoas ficariam quando me visse sendo enterrada? Qual seria o meu último pensamento antes de morrer? Eu falaria algo? Lembraria de algo? Viveria mais uma vez?
Odiava a madrugada por conta disso, geralmente quando as pessoas ficam mal no silêncio da noite é por que estão lembrando de algo, mas as lembranças não machuca, elas criam um sentimento artificial de angustia mas não fere sua alma. Não faz você chorar por que esta realmente triste, mas sim por que sente falta daquilo. Essas são as lembranças, o guardar da saudade.
Eu fico mal por que pensava demais. E naquele momento eu pensava na morte e isso estava me sufocando por que a morte sempre será algo incerto, você se vai e as pessoas sofrem por isso, mas e depois? Ninguém nunca voltou para contar como era o "depois".
Lembrei de minha mãe, o dia em que a vi no esconderijo de Luke ... Será que poderia entrar em contato com ela?
A dor miserável que eu sentia no peito era tao horrível quanto a certeza de que iria morrer.
Toquei o dedo nos meus lábios. Lembrei do exato momento que nossos lábios se tocaram e então Richard já estava distante de novo, foi um toque tao leve ... Foi mais como o roçar dos nossos lábios, aquilo poderia ter sido considerado um beijo? Bom, não importava por que na hora eu senti toda aquela energia, toda aquela emoção atravessar meu corpo mesmo que tenha sido por dois segundos.
Fechei os olhos e me deixei levar de volta aquele momento, imaginei como teria sido se Andy não tivesse atrapalhado ...
Dormi, sonhando com nós dois.
O sonho foi como uma retrospectiva de todos os momentos que já tinha passado com Richard, até que todos esses momentos acabaram e eu estava sozinha.
É estranho quando você sabe que esta sonhando e deseja que seu sonho tenha algo, que seu sonho seja bom por que aquele é seu mundinho, de certa forma você pode mandar naquilo e ainda sim sua cabeça não te escuta e você continua caminhando sozinha.
Desejei que eu voltasse para a fantasia, que me esbaldasse no pensamento de que de alguma forma eu amava e era amada de volta. Mas continuei andando sozinha.
Parei de caminhar. Eu sabia exatamente o que procurava, não fazia sentido eu continuar com aquilo.
Eu senti a conexão se formando, primeiro fraca como se a pessoa tivesse negando e então um pensamento comum ligou nós dois e lá estava ele.
As mãos no bolso do jeans, a mesma camisa cinza ... Os cabelos já secos sem pentear caído nos olhos, ele me olhou uma única vez e depois virou-se e começou a caminhar se afastando de mim.
- Richard, pare! - Pedi, e ele parou.
Eu poderia comandar aquele momento, sabia disso. Não era como se tivesse acontecendo de fato era somente nossas mentes trabalhando juntas. Eu parei na sua frente.
- Não fuja de mim. - Pedi, me concentrando no seu olhar. Não sabia o que eramos, não sabia o que sentia mas tudo já estava tão confuso. Sabia somente que toda aquela emoção que eu sentia quando Davi me abraçava eu estava sentindo sempre que Richard se aproximava, sempre que eu pensava nele, e quando estivemos tao perto a ponto de quase nos beijarmos eu senti tudo aquilo só que 100 vezes mais, foi como se por segundos eu não sentisse mais medo de morrer, que morrer não importava mais. Eu poderia morrer sentindo aquilo.
Eu comecei a pensar nisso enquanto a gente se encarava naquele silencio e naquela cenário horrível que criei na minha mente. Me sentia uma farsa por ter assumido amor eterno por um menino e agora estava ali sentindo algo completamente diferente e mais maravilhoso por outra pessoa. Mas não podia ignorar, não queria ignorar. Estava prestes a morrer e eu só queria poder viver algo verdadeiro seja com quem for.
Não é impossível amar mais do que uma vez e eu sabia disso, sabia que não conseguia sentir a mesma coisa por Davi por que ele simplesmente não era mais o Davi. Tinha o mesmo corpo e rosto mas eu não havia me apaixonado por sua aparência então de nada aquilo importava, ele somente trazia a imagem das boas lembranças que a gente já tivera juntos. Eu estava entregando a vida pelo nosso amor, e aquilo já era suficiente.
Agora esta ali, encarando Richard mesmo que fosse algo da minha mente me fez perceber que eu queria lutar uma nova batalha a qual eu pudesse sair vencedora, Davi e eu eramos uma histórias que já havia sido escrita muito antes de eu perceber que perderia. Não tinhamos mais um novo paragrafo, era somente aquilo.
E naquele exato momento percebi que poderia ter falado tudo aquilo para ele, mas não, ficamos nos encarando por tempo suficiente para eu perceber que realmente ele fazia meu coração acelerar.
Então lá estávamos nós nos beijando e eu já não sabia se eu tinha voltado para os meus sonhos ou se ele realmente estava ali. Não sabia quem havia tomado a iniciativa primeiro. Não sabia de mais nada.
Deixe-me aproveitar aquele momento, sentir nossas bocas se encaixando perfeitamente, os dedos dele percorrendo meu cabelo e depois tocando minha bochecha fazendo com que eu estremecesse com aquele contato que eu já conhecia tão bem. Aquilo parecia tão normal e ao mesmo tempo tão diferente, eu entendi que eramos exatamente isso, tão normais e diferente juntos.
Ele se afastou subitamente. Abri os olhos meio confusa e então ele encarava meu braço. Um fio de sangue descia pelo mesmo pingando no chão. Tentei perguntar o que estava acontecendo e então tudo sumiu e eu fui acordada por conta da dor.
Olhei para o meu braço a onde o sangue saia de um pequeno furo de agulha. Me levantei assustada mas fui empurrada novamente de encontro com as almofadas.
- Desculpa menininha. - Encarei-o, assustada. Ele sorriu.
Segurou o meu outro braço e então eu senti a pontada nada delicada. Ele injetou algo.
Antes que fizesse efeito escutei alguém falando " traga ela logo" e ai tudo pareceu parar.
- Acorda querida. - Abri os olhos com dificuldade. Encarava um teto azul com varias estrelinhas. Havia um abajur que deixava o lugar com um pouco de iluminação, tudo parecia perfeitamente arrumado. Os lençóis eram de seda azul-escuro e o cômodo cheirava a abacaxi.
Segui o som da voz e na porta estava Demi me olhando com atenção.
Tentei me levantar mas estava pressa na cama por algemas.
- Acho tão sexy. - Encarei-a confusa. - Algemas. - Ela sorriu. - E você também, obviamente.
Ela se aproximou e eu contrai o meu corpo o máximo que pude. Ela manteve o sorriso no rosto enquanto arrumava meu cabelo com um dedo comprido e de unha pintada de vermelho.
- O que você fez com o meu pai? - Perguntei, virando a cabeça para fugir do seu contato.
- Eu não fiz nada. Ele que fez. Não é como se eu tivesse obrigado a lhe drogar e te entregar a mim. Ele fez por livre e espontânea vontade.
- Não! Ele não fez! Ele me ama ...
- Ama? Não, ele tem medo de você. De alguma forma ele sente que você foi a culpada pela morte de sua mãe, e será que não é verdade?
Balancei a cabeça com uma negativa, estava no meu limite e lembrar daquilo já esgotava minhas forças, segurei a vontade de chorar e gritar. Ela continuou a falar e eu voltei meus pensamentos em Rich, sabia que ele viria me salvar.
- A onde estamos? - Perguntei, tentando arrumar pistas para pode comunicar a Richard.
- Oras, na minha casa. Irei pegar algo para você beber.
Ela caminhou até a porta até que me lembrei de algo.
- Espera! A onde esta Andy e Lis?
Ela voltou sorrindo.
- Confesso que a morena me atrai mas nada fiz com ela. Elas também tomaram uma dose do dopante. Com certeza já estão acordadas e procurando por você.
Ela se retirou.
Demi voltou instantes depois trazendo um copo com algo espumante.
- Não gosto de coca-cola.
Ela fez uma expressão de desgosto.
- O que quer então?
- Sair daqui. - Respondi irritada. Tinha ficado tentando fazer contato com Rich enquanto elas esteve fora por aqueles poucos minutos, mas sempre que pensava nele uma onda de desespero passava por mim. Aquilo havia me irritado.
-Pois não vai. Tenho planos para você. - Ela disse em um único tom calmo e se preparou para se retirar.
- Você não vai me possuir! - Gritei, sem me conter.
Ela se virou e me encarou. Parecia brava mas depois um ar divertido se instalou no lugar.
- Como você ... Ah claro, lembro de ter sentido um perfume doce quando entrei no quarto de Luke aquele dia. Pois ouça bem não pretendo possui-la por que isso torna as coisas bem ... Entediantes, pretendo fazer com que queira ser minha.
- A pergunta é, quando vai desistir? - Perguntei no meu tom irônico. - Ah! Por favor você não acha que me atrai né Demi? - Perguntei depois de ver sua expressão curiosa.
- Você não me conhece, Anne. Você deve ter vivido umas milhares de vezes para igualar seu período na terra com o meu. Acha mesmo que não sei fazer alguém se apaixonar por mim? Antes mesmo de eu me tornar um demônio eu já sabia conquistar, pergunte a seu anjo da guarda.
- O que Richard tem nessa historia? - Pronunciar o nome dele me abalou um pouco mas me mantive para que ela não percebesse nada e não usasse contra mim.
- Bom antes de receber esse nome mundano ele era Alarick. Vestia a manta dourada do trono e era responsável pelas almas. Era um anjo tao iluminado ... E apaixonante. - Ela fechou os olhos e então sorriu como se lembrasse de algo. - E então eu me tornei demônio e sempre esperei que ele me seguisse mas era muito fiel ao trono e então em um belo dia ele foi enxotado de lá. Isso não parece muito gentil não é mesmo?
Ela riu e o ultimo som que escutei foi dos sapatos dela ecoando pelo chão enquanto ela ia embora me deixando formar centenas de perguntas não respondidas.
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