Capítulo 24
O guarda roupa era pequeno demais para nós dois. Rich teve que manter seus braços em torno do meu corpo e aquele contato me fazia estremecer. Nunca tínhamos ficado tao perto como agora.
Ele cheirava a algo doce e aquilo me surpreendeu pois dificilmente via algum homem com um cheiro doce. Nao imaginava Rich usando algum perfume então talvez fosse realmente seu cheiro.
Ele respirava com cautela pois todas as vezes que inspirava nosso corpo se tocava ainda mais. Ficamos em silencio e escutamos os passos que adentraram o cômodo.
Luke não estava sozinho.
- O que pretende fazer agora? - A voz lírica se instalou no cômodo.
- O que você me sugeria? - Luke perguntou. Ele caminhava pelo quarto.
- Que voltemos para casa.
- Ah minha doce irmã, sabe que sempre é um prazer passar minha eternidade com vos, mas necessito terminar esse trabalho.
- Sinto sua falta. - Nesse momento percebi que a pessoa em si era Demi, um demônio que Luke considerava sua irmã.
- Fique aqui comigo, ajude-me a destruir a jovenzinha e ai podemos nos esbaldar no submundo. O que acha?
- Ah Luke, os seres humanos são tao sem graça! - Escutamos o barulho da cama.
- Realmente, mas ao mesmo tempo são burros, fazem qualquer coisa e isso se torna divertido. É só lhes entregarem um copo de alcool e pronto você tem marionetes prontas para serem usadas.
- Eu gostei daquela moreninha. A onde ela se encontra? A de traços orientais e cabelos pretos como a noite.
Estremeci a pensar em Andy nas mão de Demi. Richard me apertou contra seu peito e a batida do seu coração me acalmou. Sentia a respiração dele no meu cabelo e estranhamente seus dedos finos percorreram meus cabelos fazendo com que meu coração acelerasse. Nao sabia o que era aquilo, talvez a estranheza de ter tanta intimidade com ele.
- Ah! Amiga de Anne, ela é realmente interessante. Já senti seu gosto. Me lembra ... Morango. Combina com você, posso traze-la para ti.
Nesse momento tive o impulso de sair daquele lugar e xinga-lo, Rich me segurou mais forte e levantou minha cabeça para que eu o olhasse. Algo no brilho que transparecia dos seus olhos escuros indicava que ele sabia o que eu estava pensando e que aquilo era errado.
Simplesmente não consegui desviar o olhar, fiquei ali encarando-o e a energia que nos conectava poderia ser apalpada de tão forte que estava. Luke continuava falando algo mas eu não escutava e sabia que Richard sustentava meu olhar por conta disso, para que eu não ouvisse as barbaridades e continuasse conectada somente a ele.
O calor dos nossos corpos começava a me sufocar ali dentro e um pensamento agoniante passou pela minha cabeça, será que teríamos que ficar ali pelo resto da noite?
- Você sabe quem eu quero. - Escutei a voz de Demi, ela estava próxima ao guarda roupa e dava para ouvi-la claramente.
- Ela não pode ser sua Demi, amor. Ela é minha missão.
- Ela ainda tem meses viva! Deixa que eu aproveite.
O músculos de Richard se contraiu de baixo da sua blusa. No inicio eu não entediada muito bem o que ela falava até que meu nome surgiu na conversa.
- Anne é uma mortal, você não cansa de se apaixonar por mortais?
Estremeci. Houve um pequeno silêncio.
- Você sabe do que posso ser capaz. É só ela querer.
- Você nem mesmo a conhece e acha que pode fazer ela querer ser transformada em um Six só para que vocês fiquem juntas? Está blefando minha irmã.
- Ela pode não querer. Mas eu posso possui-la.
Um choque passou pelo meu corpo fazendo com que estremecesse contra Rich. Ele me abraçou mais e voltou a levantar minha cabeça. Colocou sua testa de encontro a minha e sua respiração aqueceu meu rosto. Estávamos tao próximos e eu sabia que ele somente estava fazendo aquilo para me acalmar, para que eu não estragasse tudo, mas o contato parecia tao intimo.
- Você sabe contra quem terá que lutar pela garota. Vamos, ainda temos uma noite toda pela frente eles já devem ter terminado.
Escutamos a porta se fechando e aguardamos até a casa ficar completamente silenciosa novamente.
Richard murmurou próximo a minha boca.
- Esta tudo bem, pode sair agora.
E eu sai, meio relutante mas sai.
Fiquei um tempo de costas para ele, agora teríamos que voltar a ser o que eramos.
Tentei não falar, enche-lo de perguntas. Estava tao confusa! Alem de tudo que estava passando agora parecia que tinha um demônio querendo me possuir.
Já era perto da meia noite quando cheguei em casa. Rich parecia cansado mas ainda sim não ficou. Vi ele sendo engolindo pela escuridão enquanto acelerava rua adentro.
Senti um vazio tao grande. Ele era o único que eu podia conversar e ainda sim não tinha como por que ele não era bem um amigo.
As vezes estava tao próximo e na maioria se mantinha tao distante. Eu sabia que não valia nada para ele, era apenas mais uma vida, mas ele precisava de mim e talvez era por isso que mesmo que raramente se mantinha próximo.
No dia seguinte liguei para Andy, pedi desculpas e convidei as duas para passar o final de semana comigo. Andy disse que precisava passar na casa de Jaque antes e pediu que eu a esperasse na casa de Lis, concordei.
Logo após liguei para Lis dizendo que iria até lá. E então fui me arrumar.
Sai depois do almoço. Fiz todo o caminho e já estava próxima a casa da mesma quando vi alguem conhecido.
Ele estava com uma calça jeans e tênis, uma blusa que dizia algo como " Não confie em vadias", o cabelo estava mais curto. Estava vindo na minha direção, não fez menção de falar comigo e então eu disse.
- Ei Davi. - Ele já estava a dois passos de mim e então se virou.
Me olhou com pouco estusiasmo.
- E ai.
E voltou a andar. Corri até ele. Parei em sua frente e comecei a pedir desculpas pelo ocorrido.
- Relaxa, seu namorado já me contou tudo.
- Meu o que?! - Perguntei alarmada.
- O moreno alto. Ele me procurou disse que vocês teriam reatado um namoro. Porra garota, por que você não me disse que estava enrolada? Agora saia da minha frente.
Ele me empurrou para o lado e continuou andando.
- Eu não tenho um namorado! - Falei, lembrando de como eu e Rich havíamos ficado próximo na noite passada. Lembrei de como nossos corpos mesmo que sem querer se encaixava perfeitamente. Ele era muito mais alto só que seu peito se tornava um refúgio. Senti vontade de abraça-lo sem motivo, somente para sentir a proteção que ele passava.
Davi agora me encarava com curiosidade.
- Bom ele acha que é. Quando você resolver sua vida talvez a gente se cruze.
E saiu, encerrando o assunto.
Nao sei o que eu sentia em relação a Davi. Um repúdio, talvez. Uma vontade louca de soca-lo por ele ter sumido, ter evaporado e virado aquele ser humano horrível.
Acho que sentia falta do passado. Nao sei se conseguiria conviver com ele daquela forma. Ele não me trazia mais carinho, ansiedade, vontade. Ele só me trazia dor, literalmente. E nas poucas ocasiões em que eu sentia algo bom era por que me lembrava de como ele era e o desejava daquela forma novamente.
Voltei a caminhar. Agora sentia uma pontada aguda no peito. Nao sei se eu continuava lutando por nós ou se era somente por mim, somente para salvar minha vida.
Liv me abraçou e começou a falar sem parar. Falou sobre a escola, sobre seu relacionamento, perguntou como eu estava e então me abraçou novamente.
Andy chegou já era 16:00 horas, fomos direto para casa.
A casa estava silenciosa. Deixei as meninas na sala enquanto subia para ver se meu pai dormia.
Ele se encontrava em um sono profundo. Segui em direção ao meu quarto para pegar cobertas, travesseiros essas coisas.
Entrei, liguei a luz eu comecei arrumar tudo em uma pilha. Estava concentrada organizando tudo quando a porta do banheiro se abriu e um cheiro de shampoo invadiu o quarto.
Rich estava com uma toalha enrolada na cintura e com outra ele secava o cabelo. Fiquei paralisada por instantes.
- Rich! A onde você acha que esta? - Falei meio sobressaltada quando percebi que encara seu abdômen demais.
Richard não tinha o corpo bem formado. Na verdade ele parecia forte mas não terrivelmente forte. Sua pele não parecia ofensiva, na verdade ela parecia macia diante dos meus olhos, mas passava a mensagem de que se ele entrasse em uma briga, venceria.
Ele sorriu e deixou a toalha que secava o cabelo de lado.
- Você precisa sair daqui. Andy e Liv estão lá embaixo.
- HM. Por que elas estão aqui?
- Por que aqui é a minha casa - Respondi zangada, só então lembrei do que ele havia feito e uma gota de raiva surgiu. Não era raiva propriamente dele mas ele era o único que eu poderia usar para extravasar tal sentimento.
- Quero que você saia imediatamente da minha casa e não entre mais ao menos que seja com a minha autorização. Estou cansada de ser seu brinquedinho, Richard. - Ele me avaliou meio surpreso. Eu já caminhava com as cobertas em direção a porta quando a mesma se fechou e ele me prendeu novamente de encontro a ela. Derrubei as coberta com o susto e dei um passo para trás fazendo com que nossos corpos de encontrasse. Me virei e encarei-o.
Ele estava tao próximo que uma gota do seu cabelo caiu em meu nariz. Ele jogou as mexas para trás com as mãos rapidamente deixando seu rosto mais amostra.
- O que houve? - Ele perguntou calmamente.
- Você é um completo babaca. Mas babaca que um mortal.
Ele pareceu ofendido. E então eu continuei.
- O que você acha que eu sou? Diz que precisa que eu faça com que Davi se apaixone por mim mas sai dizendo que somos namorados? Que tipo de plano é esse?! As vezes você consegue ser pior do que Luke!
Ele bateu a mão de encontro com a porta fazendo com que eu me assutasse. Conseguia ver meu reflexo através do seus olhos e por momentos me perdi neles.
- Nunca mais diga isso! - Ele praticamente rosnou as palavras. Me contrai um pouco e ele suspirou, balançando a cabeça levemente. - Só achei que seria melhor se ele não ficasse no seu pé enquanto ... Bom você sabe.
Naquele momento ele pareceu tao vulnerável que eu poderia toca-lo.
- Por qual motivo você pensaria em mim de alguma forma?
- Eu ... Eu só ... - Ele se calou e abaixou o olhar.
- Richard? - Chamei-o com um sussurro. Ele ergueu a cabeça e nossos olhos se encontraram. A mesma eletricidade passou por nós e sem me conter toquei-o e ele estremeceu e soltou um pequeno gemido. A pele dele estava quente sobre meus dedos e eu sentia a pulsação acelerada dele.
Ele começou se aproximar e eu tinha noção do que estava por vim e desejava aquilo, era uma confusão de sentimentos que passava por mim.
Era Richard que estava ali na minha frente. O mesmo que não olhava na minha cara a um mês atrás. O mesmo que já me esbanjara. Era um anjo, alguem completamente diferente de mim.
Nossos lábios se tocaram, a respiração dele tocou meu rosto como um aconchego e então vozes ecoaram no corredor.
- Anne? - Ele se afastou. Olhou-me um pouco confuso e depois se escondeu no banheiro. Esperei alguns segundos antes de abrir a porta. - Querida achamos que você havia dormido ai mesmo.
Ela olhou a pilha de cobertas no chão e me olhou desconfiada.
- Eu achei ter visto um rato mas era só um papel que voou, a janela estava aberta. Cadê Lis?
- Ela esta fazendo panqueca. Vamos logo.
Ela pegou os cobertores e eu dei uma ultima olhada em direção ao banheiro sabia que ele iria embora em silêncio, sabia que ele estava tao confuso quanto eu e que provavelmente iria demorar para vê-lo novamente.
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