Capitulo 23
- A onde você vai? - Richard se levantou rapidamente junto comigo.
- Resolver minha vida. - Caminhei determinada até a porta. Abri-a e a vi fechar no instante seguinte.
- Como assim? - Richard mantinha a porta fechada e me encarava, estava entre a porta e ele.
- Você não faz nada! Luke esta destruindo toda a minha vida! Tudo que amo! Eu não sei lidar com essa dor.
Ele ficou alguns momentos me olhando, calmamente. Eu sentia a agonia no peito, a vontade de gritar mas me mantive. Por fim, ele disse:
- E vai fazer isso de pijama?
Olhei para as minhas roupas. Realmente não estava adequada para sair e nem ao menos me lembrei disso.
Ele esboçou meio que um sorriso diante da minha reação e liberou a passagem para que eu subisse ate meu quarto e assim me trocasse.
Quando retornei, um tanto mais calma conversamos sobre o assunto.
Richard me explicou que ele já vinha pensando sobre o que fazer e que a melhor alternativa era antes de tudo cuidar do meu pai.
- Ele deve ir ao medico e depois que tivermos a certeza que ele esta estabilizado podemos continuar com o assunto relacionado ao Luke.
Concordei, afinal meu pai era prioridade.
- Ótimo, amanha o efeito dos calmantes com certeza terá deixado seu organismo, você leva ele no medico e depois vamos procurar pelo Demônio.
Prendi a respiração diante daquilo. Sim, procurar o Demônio.
- E como iremos acha-lo? - Perguntei, cautelosa.
- Não faço a minima ideia. - Ele deu de ombros.
Passei o restante da tarde e da noite lendo e relendo os papeis que achei da minha mãe. Richard assistiu um pouco de TV comigo e depois saiu alegando que iria tomar um ar.
Meu pai acordou antes das 22:00 com fome, fiz um macarrão e ele comeu.
Conversamos sobre ele ir no medico e incrivelmente ele concordou, creio que ele soubesse pelo menos um pouco que lhe havia algo de errado.
Logo cedo minha vó veio e nos levou até ao medico.
- Quer que eu entre com você? - Perguntei já sabendo a resposta.
- Por favor.
Demorou alguns minutos até que o medico que havia cuidado do meu pai veio nos atender.
- Desculpe pelo atraso, como que esta seu braço e sua perna Sr Pedro?
- Ótimo, estão se recuperando muito bem.
- Então o que lhe trás aqui?
Meu pai me encarou meio ansioso, mas me mantive não sabia o que tinha que falar.
- Acho que eu possa ter ficado com alguma seqüela na cabeça ... Vem acontecendo algo estranho, impulsos estranhos como se eu perdesse o controle.
O medico me encarou meio assustado e eu somente abaixei a cabeça.
- Entendo, no raio x que fizemos não apresententou nada mas talvez seja melhor uma tomografia, para isso vou precisar lhe encaminhar para o neurologista, algum problema com isso?
- Nenhum.
- Ótimo, por sorte a Doutora Laura esta atendendo, vou tentar encaixar horário hoje mesmo.
Ele começou a digitar varias coisas e após 5 minutos estávamos novamente no corredor agora segurando uma via para o neurologista.
Nao tardou até que fossemos chamados ao consultório.
Depois da Doutora Laura ler os relatórios feito pelo Doutor Marcelo, e analisar a situação do meu pai, fazendo testes básicos neurológicos, ela chegou a uma decisão.
- Aparentemente não tem nada de errado com seus movimentos e reflexos, Sr Pedro, talvez o que possamos ter é um desvio que esta impossibilitando algumas decisões passageiras, mas com certeza não deve ser algo grave se não as seqüelas teriam sido bem piores já que com cabeça não se brinca.
Obviamente iremos fazer a tomografia e creio que daqui dois dias os resultados já estarão disponíveis e até o fim dessa semana você pode retornar para que as devidas atitudes sejam tomadas. Por enquanto irei receitar um calmante novamente porem bem mais fraco do que aqueles que o senhor estava tomando, esse somente é para manter o seu processo lento e evitar qualquer turbulência.
Aceitamos os medicamentos pois já eram bem vindos na vida atual de meu pai. Ele fez a tomografia, um processo rápido e enquanto eu esperava do lado de fora encontrei Richard, que obviamente me seguia.
Expliquei a ele os acontecimentos, por fim ele disse.
- Sei a onde Luke se encontra. Mas só podemos nos aproximar na sexta.
- Porque?
- Ele vem dando festas, coisa de submundo. Mas creio que sexta sera o dia dele socializar, e possivelmente o local estará vazio.
- Entendo - Repondi em um tom de repúdio.
Ficamos em silêncio por algum tempo ate que por fim ele saiu e retornei para ver meu pai.
- A Doutara disse que os resultados estarão prontos na sexta.
Concordei levemente.
- Sexta a vovó pode nos trazer aqui novamente.
Com os remédios meu pai voltou a dormir a maior parte do tempo.
Era quarta feira e me encontrava sentada no sofá com o notebook no colo, foi somente nesse momento que me lembrei de Davi.
Tínhamos um " encontro" e eu não havia aparecido e nem mesmo ligado para me desculpar! Tinha ocorrido tanta coisa que nem o meu celular eu sabia a onde se encontrava.
Encontrei-o debaixo da cama sem bateria. Liguei-o rapidamente e encontrei sete chamadas perdidas de Andy, onze da Lis e somente uma do Davi. Havia centenas de mensagens das garotas também.
Primeiro tentei ligar para ele, tentei três vezes e não houve resultados. Desisti.
Liguei para Lis.
- Meu Deus! Estava quase indo na sua casa! O que houve?!
- Meu pai estava passando por tratamento e eu perdi meu celular debaixo da cama.
- Belíssima explicação! Andy e eu estávamos pensando em ir ai nesse final de semana já que você não aparece mais na escola.
- U-hum, não posso dar certeza, sabe as coisas estão meio complicadas.
- Exatamente por isso que você precisa de nós.
Elas tinham razão. Eu necessitava de apoio mas não sabia se Queria envolve-las nisso tudo.
- Vou confirmar e mando mensagem, ok?
- Tudo bem, lembre-se nos te amamos.
Estremeci com a pequena revelação, temia que Luke fizesse algo contra elas.
- Amo vocês.
Encerramos a chamada.
Peguei o celular e disquei o numero de Davi. Nao sabia exatamente como seria sensação de ouvir sua voz nas ondas eletromagnéticas do celular mesmo que já tivesse passado por aquilo. Agora tudo estava diferente.
Nao houve respostas. Tentei mais uma vez e nada. Mandei lhe uma mensagem me desculpando por não ter comparecido ao nosso encontro. Me sentia péssima, havia perdido minha oportunidade por causa de Luke, mas obviamente não esperava que fosse fácil.
Na manha de sexta fomos até o laboratório pegar o resultado dos exames. Logo após seguimos ao consultório a onde Doutora Laura nos atendeu.
Ela parecia radiante. Provavelmente por que o final de semana estava chegando mas logo seu semblante mudou quando ela viu o resultado o exame.
- O que houve? - Perguntei alarmada.
- Sr Pedro, você tem duas veias interligadas. Provavelmente não é seqüela do acidente é algo que já estava presente em você mas por conta do forte estresse que passou essa veia foi impulsionada. As duas veias quando recebe os impulsos muito fortes ela se batem e faz com que você tenha algo parecido com uma convulsão, porem, acordado. O senhor perde o controle e pode fazer coisas que não faria se tivesse com a sua razão intacta. Talvez seja por conta disso que você venha sofrendo alterações.
Meu pai se manteve calado porem seus dedos tremia debaixo da mesa.
- Tem alguma solução? - Perguntei com um certo receio.
- Bom podemos lhe indicar alguns medicamentos anti convulsivos. Mas se tiver determinado podemos cauterizar essa veia com uma pequena cirurgia.
- Ele pode voltar a ter outros desses ... Ataques? - Eu fazia tantas perguntas que me sentia como a mãe de meu pai.
- Possivelmente se não tiver sendo medicados. Mas foi como eu disse, só ocorrerá se ele passar por fortes estresses caso contrario as duas veias não terão adrenalinas suficiente para provocar novos ataques.
A medica então receitou os remédios. Enquanto ela digitava no computador eu olhava meu pai. Ele parecia triste. Eu também estava por ele, sabia que ele não havia nascido com aquilo e que provavelmente toda aquela dor era causada por minha conta. Amaldiçoei Luke no meu pensamento. Ele pagaria pelo o que estava fazendo.
Quando chegamos em casa já era três horas da tarde. Richard viria me buscar as sete. Até lá eu deveria convencer meu pai de que dormiria na casa de alguem ou coisa do tipo, não sabia quanto tempo demoraria até encontrarmos algo no lugar onde Luke permanecia. Na verdade não sabia o que iria enfrentar. Estremeci só de pensar que talvez eu tivesse que ver aqueles demônios que me olhava com tanta malicia. Tentei me acalmar com o pensamento de que Richard estaria lá comigo.
As sete horas em ponto Richard entrou dentro da sala. Eu já o esperava. Ele trajava seu jeans habitual e uma blusa cinza com a gola V. Eu também estava de jeans, uma regata preta e a jaqueta por cima, estava frio lá fora mas Richard parecia não sentir.
Quando saímos de casa encarei uma moto vermelha nos esperando, não sabia qual era o modelo não me interessava por essas coisas.
- Cadê o capacete? - Richard esboçou um sorriso.
- Você não precisa disso para se sentir segura perto de mim.
Revirei os olhos e subi em cima da moto. A velocidade que Rich percorria as ruas fazia com que estremecesse mesmo com a minha jaqueta.
Paramos diante do mesmo portão que parecia um galpão.
Richard se espreitou, rodeando o lugar até decidir que não havia ninguém ali. Então ele retirou uma chave do bolso do jeans e abriu o cadeado.
- Como você conseguiu isso?
- Eu moldei a chave de acordo com o cadeado. Olhe, fique ai dentro irei colocar a moto em um lugar distante para que não suspeitem - Ele viu que eu excitava, então disse - Tudo bem, não tem ninguém ai, Luke provavelmente esta em alguma balada seduzindo algum humano.
Decidi confiar em Rich. Fiquei ali dentro na escuridão esperando que ele voltasse e em menos de cinco minutos ele já estava ali.
Subimos as escadas imersos na escuridão. Sentia o apoio das mãos de Rich nas minhas costas.
Quando entramos constatamos que realmente não havia ninguém ali. Acendemos as luzes.
Estava tudo uma bagunça. Garrafas de bebidas, cinzeiros, roupas e um cheiro insuportável de cigarro e suor se estendia no ambiente. Parecia um bordel sem classe e sem suas dançarinas ou seja lá o nome que dava aquelas mulheres. Os quartos estavam completamente bagunçados e até se encontrava camisinha nos mesmos. Seguimos direto ao quarto de Luke e não nos surpreendemos quando encontramos o mesmo intacto completamente limpo e arrumado.
Começamos a procurar alguma pista com cautela. No fundo eu sabia que Luke nada esconderia naquele muquivo. Provavelmente teria um outro esconderijo que não tínhamos percebidos mas a esperança me manteve ali, revirando tudo que encontrava.
Escutamos vozes.
Mulheres. Homens. E no meio daquelas vozes se destacou uma.
- Damas sintam-se em casa para fazer tudo que se é proibidos. - A risada amarga de Luke encheu o ambiente que antes estivera em silêncio. As luzes se mantinham apagadas e eu olhei para Richard procurando alguma opção de salvarmos nossa pele e nosso plano.
Eu sentia a presença de Luke se aproximando. Richard encarava a porta pronto para lutar mas dava para ver sua insegurança.
Fechei os olhos e esperei pelo o pior.
Esperei que ele me fizesse sofrer mais do que já tinha feito.
Esperei que ele me revelasse algo que me magoaria e que me fizesse desistir de tudo.
Esperei que ele tirasse Davi de vez da minha vida.
Esperei que ele jogasse na minha cara que havia matado minha mãe.
Esperei, esperei e esperei e no meio da espera eu sentia minha vida indo embora, sentia meu coração batendo apressado como se fosse a ultima vez que ele pudesse ser livre.
Lembrei de uma frase que havia visto " não existe felicidade sem dor " e naquela época eu apenas sorrirá e pensara " isso não se aplica a mim " pois era feliz e não sabia o que era sofrimento e agora lá estava eu provando todo o sofrimento que uma pessoa poderia sonhar a ter.
Quando já estava pronta para desabar senti a mao de Rich na minha e seu puxão. A porta se abriu enquanto a porta do guarda roupa se fechava deixando-nos tomados pela escuridão lá dentro.
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