Capítulo 10
Richard fez menção de responde-lo, mas as palavras morreram em sua boca.
E então, sem dizer nada ele caminhou firmemente de forma que quando passou por Luke seus ombros colidiram e ele saiu da escola. Em seguida com um meio sorriso Luke o seguiu.
- Meu Deus mas que cena foi essa? - Andy estava perplexa, e eu com a minha melhor cara de surpresa.
- Eles são irmãos? ô familia abençoada. - Jaque havia se aproximado de nos - Mas diga Anne, você pareceu bem envolvida com aquele Richard.
- Apenas tenho bons modos, Jaque. - Voltando a mim mesma e assumindo minha melhor cara de desinformada, me distanciei de Jaque.
Algo rápido e estantaneo passou pela minha cabeça e senti novamente o leve toque na minha bochecha, me senti levemente aquecida. Lembrei-me do sorriso frio e malicioso .... Luke
Meus pensamentos se misturaram e eu teria surtado se Lis não viesse me acudir.
- Poxa, o ruivo do cabelo é tão brilhoso. - Encarei ela um tanto confusa, por fim entendi o que ela dizia.
- O dele parece artificial Lis, o seu é lindo.
- O Rô diz a mesma coisa, ele adora meu cabelo.
- Imagino - Sorri, quase timidamente, me lembrando de um dialogo meu com Davi.
As vezes me dava um surto, e eu queria impacientemente mudar, queria "evoluir". Davi por sua vez achava muito engraçado isso.
Um dia estava tao incabulada com a minha aparência que decidi descolorir as pontas do meu cabelo, Davi me ajudou, manchando toda sua camiseta preta.
Resumindo, não deu certo. Meus fios de cabelo não suportou tremenda química, por seus fios serem fracos e então tive que corta-lo.
- Você desperdiçou todo aquele cabelo por vaidade, sabia que muitas pessoas com câncer gostaria de ter cabelo? - Davi mostrava seu tipico sorrisinho debochado mas amoroso, eu me sentia deprimida com o meu novo corte.
- Cala a boca.
- Pensa só! Agora descolore o resto e vira judeu.
- Shiu Davi.
- Se quiser eu ajudo você.
Parei bruscamente, Cruzei meus braços, encarei longamente ele antes de dar meia volta e começar a andar pela direção contraria.
- A onde você vai? - Escutei ele perguntar mas não respondi, continuei caminhando firmemente.
Ouvi passos e mais passos atrás de mim, e caminhei mais apressadamente, os passos aumentaram .... Eu aumentei os meus .... E começamos uma corrida empolgada, até que por fim ele me alcançou, me agarrou e disse do jeito mais meloso.
- Eu adoro seu cabelo, adoraria ele mesmo se você fosse careca.
Eu comecei a rir, e pensei " Seria trágico se você fosse careca", o fato é que uma das coisas que mais amava em Davi era seu cabelo. Macio e sedoso, adorava toca-lo.
O sinal soou dando inicio as primeiras aulas, caminhei distraidamente pelos corredores com Lis e Andy ao meu lado, no fundo do meu consciente sabia que a minoria das pessoas falavam sobre minha tragedia, mas a maioria apenas comentava sobre o cara novo de cabelo cor de fogo.
Eu estava exausta, e já me perguntava se conseguiria aguentar todos os seis horários.
Tinha apenas algumas certezas. 1) não veria mais o Richard naquele dia. 2) Consequentemente não saberia sobre Luke. 3) Estava exausta e profundamente deprimida, de um modo estranho. 4) Estava com medo.
E todas essas certezas me deixava enjoada.
Na aula de sociologia um pequeno filme passou na minha cabeça.
Estava diante de todos, e os mesmos carregavam um olhar vazio e desconcertante, me aproximava deles e cada vez que me aproximava mais ficava mais distante, um paradoxo.
Até que Davi apareceu, e eu tentei inutilmente toca-lo, mas uma grande parede invisível se pôs entre nos, e de repente ele estava rodeado de pessoas, e eu, sozinha.
Me senti curiosa, intensamente curiosa, pra saber como era a morte. Mas logo tal curiosidade mudou pra pesar, e então pensei que eu ainda não sabia como era a vida.
Um indício de choro subiu pela minha garganta e eu me agarrei a sensação solida e estremecida de que tudo estava bem.
Não, não estava tudo, pensei, mas poderia ficar.
- Anne, Anne?! - Encarei a visão distorcida de Lis em pé na minha frente - Intervalo, vamos?
- Ah, claro. - Levantei meio inconsciente e caminhei em direção da porta. Olhei para os meus pés e lembrei do bilhete escrito de forma grotesca,Não é um sonho, e realmente não é um sonho, mesmo as vezes eu achando tao surreal que a possibilidade daquilo ser real era praticamente inexistente.
Ele estava me avisando na época, e eu nem ao menos me liguei com isso.
Anjo ... Senti um formigamento estranho na mão, e tentei me controlar.
Estávamos descendo as escadas quando Andy veio ao nosso encontro.
- Eu odeio essas escadas. Você esta bem?
Percebi que a pergunta tinha sido feita diretamente para mim, apenas concordei de leve com a cabeça. - Desculpa Anne, mas não entendi também o por que de você ter ido falar com tanta intimidade com o Richard. E não me olhe com essa cara! Não estou com ciumes! - Lis deu um leve risinho.
- Pois não fique, eu só tinha ido agradecer, ele meio que me fez um favor no dia do enterro da minha ... - Suspirei - Bom vocês já sabem.
Com esse desfecho Andy não fez mais perguntas.
No intervalo senti a sensação estranha de que todos estavam falando de mim. Aquelas pessoas que tinham o minimo de intimidade comigo se aproximava e perguntava se estava tudo bem, e eu apenas sorria e dizia " sim, esta tudo bem" mas na verdade gostaria de poder gritar com toda a forca do meu pulmão "NÃO, NÃO ESTA TUDO BEM! MINHA MÃE MORREU, E EU POSSO MORRER, E ADIVINHA TÔ FAZENSO TUDO ISSO POR AMOR, INCRÍVEL NÉ?" mas sabia que não podia me descontrolar.
Quando voltei pra casa a mesma estava silenciosa, encontrei meu pai dormindo desajeitadamente na cama ocupando o lugar a onde minha também deveria esta.
Fui para o meu quarto e peguei o delicado diário de flores, me inclinei diante da mesa do computador e comecei a escrever.
Ainda tinha dezenas de perguntas sobre tudo aquilo, sera que se caso eu conseguisse passar por tudo aquilo, aquelas palavras que escrevia no meu diário, continuaria ali? Provavelmente não, nem mesmo Lis continuaria ali.
Eu precisava querer me salvar, eu tinha que querer me salvar.
Passava das oito horas quando eu peguei o telefone e fui até a cozinha discando o numero. Antes da atentende atender eu já tinha encontrado o cartão de credito e fazia o pedido.
Nada muito espetacular, uma pizza pequena de quatro queijos. Meu pai ainda estava dormindo e eu na verdade não estava com fome, não me interessava pela pizza mas sim quem iria trazer a mesma.
Esperei, e foi os trinta minutos mais compridos da minha vida, até que escutei o som horrível da buzina e meu coração acelerou.
Pensei. 1) Pode não ser ele o entregador. 2) Talvez ele nem queira nada com você. 3) Com certeza não é ele. 4) Desiste, não é ele e a pizza provavelmente vai esta muito oleosa, você não tem sorte.
Abri a porta já triste, desapontada, encarando a escuridão envolvedora da noite.
Não era ele.
Um garoto espinhento com um olhar travesso me entregou a pequena caixa da pizza, e sem disfarçar meu desapontamento entreguei o cartão pra ele.
Comi quase três pedaços da pizza e guardei um pro meu pai.
Dez horas da noite acordei ele para que tomasse um dos remédios.
- Eu dormi tanto. - Ele resmungou antes de colocar o comprimido na boca.
- Mas essa foi exatamente a recomendação do medico, pai. - Lhe entreguei o copo de agua.
- Virar um inútil, exatamente isso. Você já comeu? Pode pedir uma pizza se quiser ... - Sorri.
- Já o fiz - Ele também sorriu.
- Menininha esperta.
Beijei lhe a testa antes de sair do quarto. Passei pelo corredor imaginando se fosse minha mãe naquele quarto, com certeza não teria sido um boa noite tao amoroso.
- Acorda menina! - Abri os olhos encarando a escuridão, passei a mao pelo rosto me acostumando com a sensação de que estava sonhando quando vi uma figura alta se erguer na fraca iluminação do corredor diante da porta e quase cai da cama de susto. - Como é escandalosa.
- O que você esta fazendo aqui? Ou melhor como estrou aqui?
- Em falar nisso você poderia fechar a porta, achei que teria alguma dificuldade mas bem você esta com a cabeça tao boa que esqueceu de tranca-la. Sabia que existe ladrões?
- Igual existe anjos? - Fiz meu melhor tom de depoche me acostumando com a fraca dor de cabeça por ter disso acordada de modo brusco.
- Anjos são bonzinhos.
- Isso não se aplica a você.
Ele havia se aproximado da mesinha do computador e se sentou de forma silenciosa diante da mesma, pegou meu diário que eu havia deixado aberto em cima do teclado.
- Quem diria que você é tao menininha a ponto de ter um diário - Ele descartou o mesmo rapidamente, revirei os olhos esperando que ele explicasse o por que de esta ali.
Demorou alguns segundos antes que ele falasse.
- Conversei com Luke.
- Esperava que sim - Disse rispidamente.
Ele pareceu não perceber meu incômodo e prosseguiu.
- Houve mais um acordo, ele foi destinado a equilibrar as coisas.
- Ele vai ser minha sombra agora? - Perguntei contrariada.
- Não - Eles respirou fundo - Ele vai ser a minha.
Fez- se um minuto de silencio.
- Por que? - Perguntei.
- Chegaram em uma conclusão de que estou opinando demais. Não era pra eu ter lhe contado tanta coisa, estavam querendo submeter outro anjo pra dar continuidade a missão, mas de alguma forma acreditam em mim.
- E por que Luke?
- Por que já fomos próximos, fomos banidos quase juntos só que tomamos rumos diferentes. Talvez só estejam me testando com ele.
- É uma burocracia e tanta tudo isso.
- Bom, só vai piorar daqui pra frente. Então só espero que se saia bem.
- Achei que não se importava comigo. - Ele me encarou, eu o encarei e ele abriu a boca suavemente e respondeu de forma monódica.
- Não me importo com você, me importo comigo.
Percebi que eu havia segurado a respiração, soltei o ar lentamente sentindo como se o mesmo tivesse aquecido o quarto.
- Não entendo o que minha sobrevivencia tem alguma coisa relacionada com você.
- Não tem o por que do seu entendimento. Você apenas tem que saber que quer viver, e que vai conseguir viver.
Não tinha nada mais pra ser dito, então encarei a janela do quarto sabendo que quando me virasse novamente Richard já não estaria mais lá.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro