Teoya-sa
Araã, o deserto dos ladrões.
O rapaz dormia debruçado na mesa de trabalho, sentado numa cadeira flutuante. Seu rosto estava colado numa placa de alimentação de circuitos já completamente coberta pela babugem que escorria pela boca aberta. Raios de sol dardejavam para o interior do quarto através de pequenas falhas nas grossas cortinas.
O minúsculo robô programado para despertá-lo escalou a mesa com dificuldade. Desviou-se das peças espalhadas na bancada e dos exóticos livros de Engenharia Espacial e Mecânica Robótica que decoravam o centro do caos que aquela mesa havia se tornado. Aproximou-se do rosto do rapaz e soou o alarme.
"Levanta vagabundo!" Soava aumentando o volume gradativamente. Teoya-sa levantou-se abruptamente girando a cabeça tentando se encontrar.
— O quê? Onde estou? — Ele abriu os braços tentando se segurar em algo para não cair, mas acabou tropeçando em seus tênis que estavam largados pelo chão e caiu de costas no chão coberto por um tapete verde-musgo emitindo um som oco e em seguida uma tosse engasgada.
Ele fez sua habitual careta de dor e girou o corpo para o lado, apoiou-se nos braços e se levantou devagar. Enquanto olhava no espelho e contemplava o novo tom de pele adquirido, um verde escurecido por conta do sol forte ao qual havia ficado exposto nos últimos meses, pensava a respeito do dia cheio que teria pela frente. Colocou seus três pares de brincos em suas orelhas pontiagudas e passou o infalível e imprescindível gel nos cabelos tingidos de preto. É isso aí cara, você vai se dar bem hoje, pensava enquanto idolatrava os músculos adquiridos por conta dos exercícios constantes. Seus olhos amarelos estavam um tom mais escuro, mas isso devia-se ao sono que ainda sentia. Seus dentes amarelados era herança do pai, o que ele detestava, então aplicou neles uma espuma branqueadora para tingi-los de branco por alguns dias. Vestiu um uniforme branco ladeado por duas faixas azuis e saiu do quarto rumando para a cozinha.
O rapaz encontrou a mesa posta com frutas secas, alguma massa frita, torceu para que fosse aquela receita antiga da mãe e uma jarra de suco de Patra com sua coloração amarelo neon. Puxou a cadeira de metal e sentou-se agarrando um copo e enchendo-o rapidamente.
A mulher branca de cabelos castanhos, olhos esverdeados, passou pela porta sem se curvar, o que não acontecia com o garoto, trajava um vestido florido de fundo azul escuro, um lenço vermelho ao redor da cabeça e trazia uma bandeja de tubérculos. Monique Eirini, sua mãe. Teoya-sa sabia de sua origem mestiça, conhecia toda a história por traz de sua concepção e de certa forma se envergonhava disso. Ainda mais quando o fato se tornava conhecido e por conta de piadas de mau gosto ele precisava arrebentar alguns narizes.
— Levantou cedo, querido. Tem algo importante para fazer? — perguntou ela colocando a bandeja sobre a mesa, mas sem desviar o olhar do rapaz.
— São só coisas, mãe.
— E esse uniforme de gangster? Já não te pedi para largar isso? É perigoso Teoya-sa.
— Eu sei mãe, eu sei. Você faz questão de dizer isso todos os dias — disse o rapaz enchendo a boca com aquela massa frita. Adoro essa receita.
— É porque eu quero o seu bem. Por que você não se dedica às ciências e aceita o convite da Esquadra Galáctica? O que você acha que te espera no futuro, neste planetinha esquecido por todos?
— Talvez eu não queira que nada esteja me esperando no futuro. Tchau e até mais tarde — disse levantando rápido e saiu sem olhar para trás.
Ele passou pela porta da cozinha e chegando ao pátio arenoso, olhou para cima e contemplou o céu rosa límpido como era de costume. Subiu as escadas feitas de tocos de madeira fincadas nas paredes de terracota, até chegar ao nível do solo. Colocou as mãos na parte de trás dos quadris e se esticou tentando amenizar as dores de uma noite dormida em posição inadequada. Observou a luz piscante da caixa de mensagens fincada perto da entrada e leu as três; todas idênticas.
Caro senhor Teoya-sa Eirini, nós da Coalizão Rohanî temos o prazer de convidá-lo a se juntar às nossas tropas da Esquadra Galáctica, onde um futuro majestoso o aguarda.
Como de costume ele deletou as duas primeiras. Caminhou a passos lentos deixando na areia vermelha suas pegadas rasas e arrastadas, que seriam cobertas pelo vento constante em breve. Olhou para baixo e viu através da fina cortina branca que cobria a porta da cozinha, sua mãe retirando a mesa. Pegou no bolso o controle remoto da garagem e acionou-o. Imediatamente após o "bip" uma área quadrada à sua frente começou se mover sob a areia, levantando-se fazendo com que uma cascata de rubros grãos deslizasse em dois filetes ladeando um vão escuro. A comporta se abriu e ele desceu pela rampa metálica até chegar à sua Flyer-Davidson. Era antiga, mas voava maravilhosamente bem.
Acelerando à sua máxima velocidade e forçando o motor tanto quanto podia ele partiu deserto adentro. As partículas de areia chocavam-se contra seu visor emitindo pequenos estalos, o que fazia Teoya-sa sorrir e desejar ainda mais velocidade. Atrás de si uma nuvem de poeira levantava conforme a aeromoto se deslocava. Quanto maior fosse o rastro de areia, mais o satisfazia. Dirigindo perigosamente entre pedregulhos, valetas enormes e desfiladeiros escuros ele ia de encontro ao seu grupo de novos amigos.
Alguns minutos após partir de casa, ele chegou à caverna conhecida pelo grupo como "Lar." Ele desceu da moto e a colocou encostada perto das outras. Olhou para a máquina roxa, mais veloz entre todas do grupo e sorriu enquanto uma imagem se formava em sua mente. Latasha. Caminhou pelo grotesco corredor enfestado de mosquitos, retirou o capacete e as luvas para cumprimentar a galera. Após as ações sociais costumeiras ele se sentou no chão rochoso, colocou o capacete entre as pernas e as luvas em cima dele. Uma garota ao seu lado lhe passou o odre de bebida e assim que ele recebeu, levou prontamente à boca. Tomou um longo trago sentindo o álcool queimar sua garganta, ele fez careta e tossiu duas vezes antes de passar para outra pessoa.
— Qual é a boa? — indagou ele aos demais.
A garota de pele morena ao seu lado era Latasha Idunn, uma arruaceira procurada em Lifan ll, fugitiva há mais de três anos. Ela olhou-o de soslaio e sorriu discretamente.
— Aguardando Wgfaz, como sempre — disse ela encarando-o com os vítreos olhos castanhos e passando a mão sobre os cabelos pintados de vermelho raspados nas laterais e trançados na nuca.
Ele comprimiu os lábios e balançou a cabeça. Olhou para ela contemplando sua beleza incomum, corpo atlético coberto por um sensual traje azul e branco confeccionado em couro de passagões, seus olhos demoraram-se sobre ela, até que ele para não parecer um maníaco fascinado nela resolveu perguntar qualquer coisa que lhe viesse à cabeça.
— Você estava no episódio dos Soldados de Kafein? – Burro, burro! Tanta coisa para perguntar e você vai perguntar justamente aquilo que já sabe a resposta. Idiota, babaca... Podia ter perguntado se ela já resolveu o problema de interferência positrônica no aparelho que está construindo, ela diria não e você ofereceria ajuda, mas não, vai perguntar sobre uma confusão hedionda da qual todo mundo sabe os detalhes. Imbecil, pensava Teoya-sa em seus milésimos de segundos de autoflagelação.
— Estava sim. Foi bem difícil escapar, confesso — respondeu ela de maneira simpática e doce.
— Puxa, é mesmo? Por quê? – Cara, para enquanto é tempo.
— Ah! Tinha uns dez soldados, mas você sabe como é; cada um deles tem mais armas que um exército comum. Eles estavam no centro dando uma batida. Procuravam um tal Silon, um fugitivo da prisão de segurança máxima. Aí eu dei a besteira de passar perto da patrulha. O sinalizador deles disparou igual alarme de incêndio. Eles entenderam no ato e já viraram pra cima de mim. Eu corri desesperadamente atropelando todo mundo à minha frente, derrubando coisas pelo caminho e passando por dentro dos estabelecimentos, tudo na tentativa de despistar eles. Mas vou te dizer, os caras são bons. Eu passei pela banca do Shiran e pedi uma arma. Ele só tinha uma pistola magnética, era tudo ou nada, tinha que servir. — A garota relatava o ocorrido com certa satisfação no rosto. Seus olhos brilhavam mais que o normal, e os gestos exagerados indicavam que ela realmente adorava falar sobre aquilo. — Eu corri até o beco das panelas e saltei num bueiro. Eles nem me viram e passaram direto. Eu saí atrás deles e assoviei; saca? Eles sacaram as armas e apontaram para mim, mas não deu nem tempo, fui mais rápida. Disparei neles e em menos de um quarto de segundo, tudo o que era metal estava voando na direção deles. Ficaram presos, compactados lá durante horas. E eu saí na boa gargalhando e recebendo os aplausos da galera.
— Magnífico! Queria ter estado lá para ver.
Nesse momento eles ouviram sons de passos vindo da entrada da caverna. Era Wgfaz, caminhando com seus sapatos chatos e moles. Seu caminhar desengonçado balançando a barriga para os lados era no mínimo motivo de piada interna, mas ninguém ousaria rir na presença da soberana figura do tráfico interplanetário.
— Ainda mais que bem que não já cheguei — disse o diminuto ser de aproximadamente um metro e meio de altura, pesando algo em torno de cento e vinte quilos.— Os negócios estão suando a popa e meu tempo tem pra ser gasto muita grana — prosseguiu ele coçando sua pele marrom e cheia de dobras, e alinhando os poucos cabelos amarelos que ladeavam a cabeça pontuda.
— Saludo! — disseram todos em uníssono.
— É. É. Isso daqui pode ser — disse abrindo bem pouco os lábios grossos que pendiam na face como uma carranca mal humorada e piscando os olhos diminutos e próximos, que com o fino nariz lhe conferia um aspecto ratazânico. Ele sacudiu as mãos gordas e adornadas por vários anéis dourados, como se enxotasse algo que estivesse grudado nelas e em seguida sentou-se em seu canto marcado; uma caixa de metal forrada com uma toalha verde. — Eu não possuo um destrabalho para vocês. — Balançou os pulsos como sempre fazia, e as pulseiras feitas de diferentes preciosidades tilintaram. Ajeitou os suspensórios vermelhos sobre a camisa amarela e atados às calças azuis bem gastas. Enfiou a mão no bolso da calça e tirou um pequeno disco de cristal dentro de uma armação metálica em forma de X.
— O que seria isso? — perguntou Latasha unindo as palmas das mãos sob o queixo.
— Isso é uma matéria de bastante pouco valor e muito pouco comum — sua voz rouca ecoou pelo Lar. —Tenho um pagante saltitando de desesperança para confrontar a entrega de isso.
— Qual o conteúdo do disco? — perguntou Teoya-as enquanto esticava as pernas.
— Você é muito perturbão. Quer falar os segredos do artefato? O que está despensando? O que tem nessa massa acefálica ali hã? Você não preocupa sabedoria, não. Só entrega o disco no pagante.
Teoya-sa ouvia essas palavras com frequência, mas nunca conseguia se conter. Seus lábios estavam apertados e sua face esquentando, ele estava prestes a explodir em risos quando olhou para o lado e percebeu que Latasha estava na mesma situação. Então ele se concentrou e começou a pensar em sua Flyer-Davidson, logo a vontade de gargalhar passou. Mas não podia encarar o chefão, senão o inevitável aconteceria.
— Sim senhor, entendido — disse ele estendendo a mão para receber o disco.
Wgfaz sorriu de forma macabra, ele era um Wyrfg, uma raça antiga praticamente extinta, e exatamente por isso, eles eram cuidadosos, meticulosos, ardilosos e escorregadios. Retirou do bolso mais quatro discos e disse:
— No casamento de algum capturar o desfalso.
— Entendido senhor. Levaremos os quatro discos por rotas diferentes e todos serão entregues ao seu cliente. Tem preferência de quem fará essa missão meu senhor? — inqueriu Latasha em tom sério e em postura militar, enquanto que com o canto dos olhos observava todos os membros presentes.
— De sarro eu tenho. Você, você, você e aquilo — disse ele apontando Latasha, Teoya-sa, Con e Ell, que era o ser mais bizarro do grupo, nem sequer tinha um nome próprio, pois, não sabia se comunicar verbalmente, no fim era a melhor tropa que ele tinha.
A quadrilha partiu em suas motos flutuantes, cada um levando um disco. Nem mesmo eles sabiam qual era o original e qual era cópia, pois, todos os objetos eram exatamente iguais, como se tivessem sido produzidos em série. O que não poderia ser verdade, porque ele só teria valor comercial no submundo se fosse único.
Teoya-sa seguiu com os outros até os limitrofes da cidade, onde havia poucos postos de vigilância e a maioria dos guardiões eram infiltrados, depois disso, seguiram para a entrada leste, que era a menos movimentada e daí cada um tomou conta de si. Ele entrou pelo grande portão de bronze, que media quase seis metros de altura e quatro de largura, decorado com gravuras em alto relevo representando veículos e espaçonaves antigas, dirigiu calmamente pelas ruas de tijolos amarelos, que contrastava muito com o céu rosado, manteve-se atento a qualquer interceptador, policial de Kafein ou ladrões oportunistas; afinal Araã não era um planeta para os fracos. Ali só sobrevivia os mais fortes, os mais espertos e os mais ousados. Para se vagar pela superfície de Araã tinha que ter coragem ou desconhecer a sanidade. As cidades eram os lugares mais perigosos, pois, era onde o povo se aglomerava, todo tipo de gente podia ser encontrada nos bares, casas de apostas, pubs e lojas de tráfico do planeta.
Teoya-sa diminui a rotação do motor e passou a planar vagarosamente pelas ruas, concentrado em tudo o que se movia ao seu redor. O ponto comunicador que usava no ouvido direito apitou indicando que uma conversa seria iniciada. Tudo o que ele ouviu fora as palavras "Alameda escorpião beco nove". Ele olhou para os lados desesperadamente, pois, a mensagem tinha de ter vindo antes de entrarem na cidade, ali era um território muito perigoso onde todas as tecnologias de comunicação poderiam ser hackeadas. Seus olhos correram pelo horizonte fitando cada rosto, cada negociante atrás de um balcão, cada pessoa misturada à multidão, mas nada de diferente foi percebido; mas isso não o tranquilizou, produziu um efeito contrário, de desconfiança total.
O rapaz continuou seguindo devagar para não levantar suspeitas. Mas algo no radar lhe chamou a atenção; três objetos se aproximavam rapidamente. Ele olhou para trás e viu as motos dos Magarefes movendo-se em alta velocidade. Sem perder mais tempo acelerou e saiu em disparada pela avenida amarela, desviando-se dos transeuntes, barracas e cargas encostadas nas paredes, mas que ocupavam um pedaço das ruas. A perseguição foi percebida por outros interceptadores, que imediatamente se colocaram atrás do rapaz.
As motos zuniam pelas ruas chamando atenção de todos. As pessoas buscavam abrigo quando aqueles inconsequentes se aproximavam. O rapaz fazia uma curva perigosa atrás da outra, até que num beco seus cálculos falharam e ele bateu contra um grande caixote de madeira, esfacelando-o e espalhando seu conteúdo pela rua. A moto rodopiou e arremessou o jovem rebelde a vários metros de distância.
Teoya-sa rolou pelo chão tentando proteger o peito com os próprios braços. Parou de costas para o chão, sentiu o ombro dolorido e também um pouco zonzo. Tentou se levantar rapidamente, antes que os outros o alcançassem, mas cambaleou e apoiou-se numa parede próxima. A gangue dos Magarefes o alcançou repentinamente, acompanhada por mais alguns interceptadores independentes, que adoravam saquear entregadores solitários.
Ele retirou o capacete e largou-o no chão sorrindo para os ladrões à sua frente. O líder dos Magarefes desceu da moto sacando um bastão de energia brilhando em azul; rapaz alto e forte, pele azul e cabelos brancos compridos. Os outros da gangue desceram das motos segurando correntes e outros objetos que funcionassem como arma branca. Inexplicavelmente os independentes resolveram não entrar na briga e partiram dali deixando somente os quatro arruaceiros.
O líder da gangue avançou contra o mestiço desferindo um golpe em suas pernas. Teoya-sa não conseguiu esquivar-se e quando o bastão de energia acertou a parte de trás de seu joelho, fez com que sua perna dobrasse e o corpo curvasse para trás. Antes que terminasse o movimento, o agressor rapidamente o golpeou na barriga fazendo com que a força do golpe somado ao peso do corpo levasse Teoya-sa ao chão tossindo e rangendo os dentes, tamanha era a dor que sentira.
Os outros dois integrantes da gangue se aproximaram e um deles desferiu um chute nas costelas do rapaz caído. Ele urrou e cuspiu um misto de bílis e sangue. O outro girou a corrente no ar e com toda a força que continha em seus músculos acoitou o rapaz com seu chicote feito de elos de metal. O garoto cerrou os dentes para evitar gritar e demonstrar fraqueza. Virou-se de lado apoiando os braços no chão tentando se levantar, mas o líder da gangue o chutou no rosto derrubando-o novamente.
— Passa a carga pra cá! — gritou o líder dos Magarefes.
Teoya-sa olhou para aquele rosto azulado queimado no sol, barba por fazer, cicatrizes de facadas, olhos vazios, verdes como esmeraldas e brilhantes como vidro, sorriu, para desconcerto e frustração do gangster agressor.
— Você sabe que isso não vai acontecer, né? — provocou o rapaz, enquanto movia vagarosamente a mão direita para trás do corpo.
— Quer morrer Teoya-sa? Sabe que eu posso te matar e pegar seja lá o que for que esteja carregando. Sabe, não sabe? — gritou o rapaz irado enquanto sacudia os braços histericamente, tentando se provar para todos ali.
Os seus subordinados cercaram o rapaz ainda no chão. O líder ergueu o braço segurando firmemente o bastão de energia e desferiu um poderoso golpe vertical contra o garoto. Mas no último instante Teoya-sa rolou para o lado e jogou no rosto do gangster um punhado de areia que havia coletado pouco antes. O bastão atingiu o chão e vibrou fortemente espalhando faíscas para o alto, tamanha foi a força do golpe. Teoya-sa ainda no chão chutou ao mesmo tempo ambas as canelas do gangster, o que fez com que ele caísse de peito no chão, largando o bastão no processo.
Confusos com o que acabara de acontecer os outros dois não atacaram, ao invés disso, foram socorrer o líder. O rapaz aproveitou esse precioso tempo, levantou-se cambaleando, correu, pisou na parede para pegar impulso e lançou-se para cima dos dois agressores numa fabulosa demonstração de golpes de luta livre. Os três rolaram pelo chão enquanto o líder levantava-se sorrindo e girando seu bastão de energia.
Em menos de um segundo os quatro estavam de pé formando um círculo. O líder investiu contra o rapaz novamente, mas desta vez ele desviou do golpe com o bastão e desferiu um soco no estomago do agressor, girou o corpo pela lateral do mesmo e chutou-lhe as nádegas, empurrando-o contra outro gangster. Ambos caíram desajeitadamente no chão sobre os restos quebrados do caixote de madeira que Teoya-sa havia atropelado. Sem perder tempo o rapaz saltou de lado aplicando um golpe marcial com ambas as pernas girando no ar em arco de cima para baixo. O golpe acertou o rosto do outro homem e o levou ao chão. O rapaz correu e apoderou-se da moto do líder dos Magarefes e saiu do local em disparada.
Teoya-sa passou por ruelas muito estreitas esbarrando as laterais da moto nas paredes e derrubando cargas encostadas pelos becos. Passando por baixo de um arco de concreto, que servia como travessia de uma rua para outra, isso um pouco acima da via de acesso onde estava, e viu que havia outros gangsteres. Inevitavelmente aquela moto foi reconhecida por outros do grupo e com um piloto que não era o dono. Eles saltaram da rua de cima com suas motos e puseram-se a perseguí-lo. Aquilo não parecia ter fim, a gangue era muito influente na cidade, tinha muitos membros e ele não conseguiria despistar a todos. Dirigiu a moto por uma escada e subiu para uma das ruas principais. Girou-a em cento e oitenta graus e acelerou o máximo que pode, tomando como destino o centro da cidade, onde seria mais difícil alcançá-lo.
Os gangsteres o seguiam implacavelmente. Mas a perseguição estava ficando cada vez mais complicada, eles começaram a disparar em Teoya-sa com pistolas de baixa energia. Não era letal, mas a dor era incrivelmente agonizante. O mestiço desviava-se com muita habilidade, mas sabia que sua sorte acabaria logo e ele poderia receber um tiro tão rápido quanto imaginava ser possível, e se isso acontecesse ele estaria mesmo perdido.
O rapaz girava a moto usando a perna como apoio, para evitar diminuir a velocidade, no entanto, isso exigia muita força e estava começando a machucar seu tornozelo. Os perseguidores estavam em seu encalço atirando e gritando. Ele dirigiu então rumando para a praça central; o território comum. Talvez os perseguidores não fossem tão corajosos quanto aparentavam. Invadir o território comum e iniciar uma briga ou ações caóticas era passível de punição aplicada diretamente pelos grandões do crime. Ele estava a pouco menos de quinhentos metros da praça e já avistava alguns membros das maiores facções criminosas do planeta rondando pela praça. Então Teoya-sa teve uma ideia, um vislumbre de salvação, a ação mais perigosa que ele poderia executar, mas decidiu arriscar no tudo ou nada.
Aproveitando-se das ruas estreitas e usando isso como vantagem, ele fincou o pé no chão e girou a moto sem desacelerar. Quando o veículo ficou completamente de frente para os perseguidores, ele largou o guidão saltando do assento e deixou a moto partir sozinha para cima da trupe que o perseguia. O impacto seguido da explosão foi ouvido de longe e alertou todos os gangsteres presentes na redondeza. De longe pode ser avistada uma enorme bola de fogo subindo dos becos e rumando para o céu como um grande cogumelo laranja rajado de preto e vermelho.
Muitos correram para tentar entender o que estava acontecendo e encontraram Teoya-sa caído, e meio quilometro a frente um aglomerado de motos sob chamas tremulantes.
— O que aconteceu garoto? — questionou-lhe Sagaxi, um dos líderes da facção mais violenta da cidade.
— Apenas um acerto de contas — respondeu astuciosamente Teoya-sa com o belo sorriso tingido de branco enquanto se punha de pé.
Sagaxi apertou o ombro do garoto num sinal de aprovação e sorriu para ele enquanto o ajudava a se levantar.
— Você está legal? Precisa de ataduras? — perguntou o chefão do crime.
— Tô legal. Só que perdi a moto. Mas faz parte — disse sorrindo como forma de disfarce.
— É isso aí, faz parte. Você é dos meus, vou lembrar de você. Vai lá garoto, a gente cuida do resto aqui.
O rapaz agradeceu e saiu mancando. Cada passo era uma fisgada no tendão da perna direita. A dor era forte o suficiente para lhe arrancar caretas. Mas ele se manteve firme e continuou caminhando até alcançar o maldito endereço.
Ele entrou pela Alameda Escorpião, uma rua escura com diversos varais presos de um prédio a outro, e nesses varais ficavam pendurados todo tipo de coisa: roupas para secar, itens velhos abandonados, potes de ração para aves, câmeras de vigilância, armas, sensores e até membros decepados como forma de aviso ou demarcação de território; ele seguiu atento até o beco nove, uma viela estreita, úmida e fedorenta. Antes de entrar no beco deu uma última olhada ao redor para se certificar de que não fora seguido. Entrou caminhando devagar e apoiando-se nas paredes cobertas de limo verde e pegajoso. Chegou até o final do escuro e úmido beco e encontrou sua equipe com suas motos e o cliente sentado numa lata de lixo tombada. O cara era com certeza um estrangeiro. Usava terno cinza, limpo e engomado, sua face brilhava como resultado das loções que usava, e no pulso esquerdo tinha um relógio-passe, provavelmente era uma figura política. Teoya-sa se aproximou sorrindo e disse:
— Olá! Já cheguei, então podemos começar a festa. — Retirou do bolso o pequeno objeto e lançou-o para o cliente que muito habilmente o pegou no ar.
— Missão cumprida pessoal. Aqui está o pagamento — disse o homem abrindo uma maleta metálica exibindo seu interior repleto de Grimas roxas não muito maiores que uma falange cihanea.
Os olhos treinados de Teoya-sa avaliaram rapidamente aquele monte de cristais disformes e semitransparentes, e constatou que não haveria como falsificar algo com tanta perfeição, aquilo era sem sombras de dúvidas obra da natureza. Fechou a maleta e meneou com a cabeça para o cliente.
O homem saiu do beco caminhando como um pinguim feliz, enquanto a gangue lacrava a mala e se aprontava para retornar à caverna. Latasha ofereceu carona ao rapaz que aceitou prontamente, pois, além de estar machucado e não poder controlar uma aeromoto, não poderia perder a oportunidade de viajar agarrado à moça. Em poucos minutos eles saíram da cidade e passaram a percorrer o grande deserto vermelho. Já passava do meio-dia quando entregaram a maleta para Wgfaz recebendo as palavras de agradecimento e parte das grimas como pagamento.
Teoya-sa pegou emprestada uma aeromoto velha e dirigiu para sua casa. Atravessou o desfiladeiro escuro, os pedregulhos e o deserto numa velocidade que não lhe era habitual. A moto era praticamente uma carcaça, quase não levantava poeira enquanto voava, emitia estalos altos e frequentes, parecia que explodiria a qualquer instante. Ele se aproximava de sua casa quando avistou de longe um veículo estacionado. Não era um veículo comum, era uma máquina voadora individual de alta velocidade. Somente um policial de Kafein situado no planeta teria um daqueles, ou alguém que ele queria muito ver, mas não naquele dia, não na situação em que ele se encontrava. Pois, esse encontro seria ainda pior que os que tivera nos últimos meses. Ele desacelerou a moto e a desligou mantendo uma distância segura da casa. Aproximou-se a pé devagar e cauteloso. Assim que chegou à borda da casa, perto da escada e espiou para baixo viu o invasor agarrando sua mãe pela garganta.
Ele não usou as escadas para descer até o pátio. Saltou mais de quatro metros e caiu rolando no chão arenoso. Levantou-se e avançou em direção ao grandalhão urrando, acabando assim com o elemento surpresa.
O invasor era um dos alienígenas galácticos, com a mão direita envolvia e apertava a garganta da mulher que estava com os olhos arregalados e língua para fora da boca. Aquele alienígena não era só um invasor, ou um agressor de mulheres, era alguém que Teoya-sa precisava matar.
O brutamonte largou a mulher e com um rápido movimento desferiu um soco na boca do rapaz, que caiu sentado no chão, perdendo totalmente a noção de estabilidade por alguns segundos. O grandalhão dentro da leve armadura de combate aproximou-se do rapaz e com uma voz horrenda que mais lembrava um porco grunhindo, sobretudo, com aquelas longas presas amareladas saltando para fora da boca, e disse:
— Uip Áim Ktrw !? (Lembra de mim filho? Traduzido do Danus)
— Para de falar essas merdas pra mim! — gritou o rapaz levantando-se rapidamente e encarando o alienígena de pele verde e cabelos vermelhos; exatamente como ele, se não tivesse tingido os seus.
O brutamonte sorriu abrindo os braços e arregalando os olhos de um tom amarelo escuro. O garoto astuciosamente chutou areia no rosto dele e aproveitando o momento de distração saltou para cima do oponente agarrando-o pelo pescoço. O adversário girou o corpo com muita força fazendo com que o rapaz se desprendesse dele e rolasse pelo chão.
O invasor fechou os olhos tentando amenizar a irritação, mas era praticamente inútil. Depois que aquela areia fina entrava nos olhos, só saia com um bom banho, e quanto mais ele apertava os olhos, mais irritava. O rapaz levantou-se, correu e saltou atingindo o agressor de sua mãe, bem no peito com os dois pés ao mesmo tempo. O golpe foi forte o suficiente para derrubar aquele monte de músculos, e enquanto ele caía o garoto pode ver que ele segurava um colar dourado na mão esquerda.
Parecia que ele não pretendia tomar uma surra de um pirralho, então sacou a arma de energia acomodada no coldre de ombro e disparou para todos os lados.
Teoya-sa se desviou dos tiros com muito cuidado esperando que a arma descarregasse. O momento que esperava chegou em breve, por sorte, a arma não estava com sua carga máxima. O rapaz avançou correndo e chutou o rosto do grandalhão. O golpe não surtiu o efeito que desejava, apenas rachou um lábio e derramou um filete de sangue roxo. O agressor usando de sua experiência em batalhas agarrou o braço do garoto e com uma projeção forçada arrastou-o para o chão. A pressão exercida sobre o braço fraco do mestiço era muito grande, ele sentiu seus ossos trincando e se afastando, se a pressão continuasse seu braço seria arrancado.
Ele urrou de dor e percebeu o sorriso no rosto daquele monstro assassino. O grandalhão abaixou a cabeça até próximo do rosto do garoto intencionado a dizer algo, mas sem esperar qualquer ação, Teoya-sa num bote certeiro mordeu-lhe a orelha até arrancar um pedaço. Instintivamente o oponente soltou-o para tentar estancar o sangramento. Grande erro. O rapaz projetou seu corpo num rolamento curto, esticando a mão esquerda surrupiou a arma do coldre de coxa e antes de terminar o rolamento mirou o pé no ventre do maldito alienígena. Seu golpe foi forte o suficiente para fazer com que o agressor recuasse três passos. Em posse da arma e a uma distância que não poderia ser alcançado com um simples estender de braço, ele disparou.
O primeiro tiro acertou a barriga do alvo, que estremece e urrou de dor. O segundo acertou a perna direita fazendo com que o grandão tombasse para frente. Antes de o corpo atingir o solo o garoto atirou mais uma vez, agora acertando o topo da cabeça do invasor. Finalmente o maldito chocou-se contra o chão com uma pancada oca. Teoya-sa respirou fundo e correu até sua mãe.
Ela estava caída no chão, braços abertos em ângulos distintos, olhos vidrados e inertes, boca aberta com a língua para fora. Estava morta. Naquele momento o rapaz sentiu seu coração rachar, sua garganta inchar e seus pulmões pararam de puxar o ar, estava sufocando. Seus olhos começam lacrimejar e seus músculos tremerem. Ele despencou de joelhos e rebentou num pranto incontrolável.
Ouviu uma risada nojenta e pigarreada. Seus olhos moveram-se para o canto e ele viu o maldito assassino levantando-se com um sorriso enorme estampado na face. O monstro abriu a boca e disse em alto e bom-tom:
— Filho...
Teoya-sa o interrompeu-o com um grito ensurdecedor.
— VOCÊ ... — Atirou no ombro do grandão, que recuou dois passos cambaleando. — NÃO É... — Atirou no peito, arrancando o sorriso da cara do brutamonte, que acelerou seus tropeções. — MEU ... — Acertou de novo no peito do grande ser verde, que começou cuspir sangue roxo, e perdeu o equilíbrio tirando um pé do chão para iniciar sua definitiva queda. — PAAAAAAIIII!!!! — Pela terceira vez consecutiva acertou o peito do assassino de sua mãe.
O invasor caiu inerte no chão. O rapaz respirou fundo enquanto sua mão tremia como um copo sobre a mesa durante um terremoto. Ele correu na direção do corpo e atirou mais dez vezes antes da arma descarregar. Quando ela desligou, o rapaz a usou-a como soqueira e amassou o crânio do alienígena de tanto bater nele, sem perceber a quantidade de sangue roxo que espirrava sobre si. Ajoelhou-se ao lado do corpo e chorou.
— Você não é meu pai. Desgraçado! Você não é....
Não se sabe de onde vieram, mas surgiram na beirada da escada dois soldados com uniforme dos captores de Kafein. Observando a cena, julgaram estar diante de um assassino que acabara de matar uma senhora indefesa e um alienígena da raça a qual eles estavam em guerra e que havia roubado um veículo oficial. Em partes isso era bom; um alienígena a menos na galáxia, mas por outro lado, poderia intensificar a guerra. Então eles se aproximaram do garoto em estado de choque e o prenderam, levando-o para a base temporária, instalada nos limites da cidade central.
Horas depois, o garoto estava sentado no chão de pedra escura, encostado na parede fria e mofada, e abraçado com os joelhos. Observava o corredor vazio e escuro, mas sabia que havia pessoas ali, guardas principalmente. Ele queria entender o que havia acontecido, buscava na memória, mas só vinham fragmentos, apenas alguns flashes que aos poucos foram se moldando em sua mente até que ele pudesse construir uma sequencia lógica sobre os eventos ocorridos.
Ele pensava o tempo todo em sua mãe. Aquele maldito alienígena era seu pai, e viera depois de tantos anos só para matar a mulher que um dia ele violentou e engravidou. Pensamentos sombrios rondavam sua mente, ele aceitava o fato de ter matado seu pai, afinal ele nem o considerava como homem, mas sim como um monstro. Toda sua vida foi conturbada pelo fato de sua mãe ter sido violentada por um alienígena de outra galáxia e ter gerado uma prole. Teoya-sa não chorava mais, apenas se lamentava pelo fato de ter perdido sua mãe, mas depois que fora detido, provavelmente seria levado para o planeta prisão e de lá não sairia tão cedo, teria muito tempo para se lamentar.
Ele ouviu passos no corredor de uma pessoa pisando macio. Não era um policial, era alguém importante com certeza. O vulto parou em frente sua pequena cela temporária e ali permaneceu estático. O rapaz se recusava a olhar e descobrir quem era; apenas fitava o chão.
— Teoya-sa Eirini... Como está? — A voz era grossa e firme, um homem de meia idade com certeza a julgar pelo timbre.
O rapaz levantou a cabeça devagar e seus olhos enxergam ali na sua frente um homem de uniforme verde. Um oficial graduado da Esquadra Galáctica e a julgar pelas divisas, seria um sargento ou algo assim, não era bom com hierarquias.
— Não enche! — respondeu o rapaz e voltou a fitar o chão.
— Não é justo que seja preso por tentar defender sua mãe, é? — perguntou o homem colocando as mãos nos bolsos das calças.
O garoto olhou para ele e contemplou aquele semblante implacável, rígido e frio. Os olhos do homem eram escuros e vazios, sua voz não demonstrava emoção alguma, no entanto, ele falava de justiça, talvez por ser exatamente neutro. O rapaz se levantou e aproximou-se da grade, agarrou o uniforme do homem, puxando para perto de si e disse:
— O que vocês sabem sobre justiça? Hã? Vocês ficam voando para lá a para cá em suas naves estelares, enquanto as pessoas aqui em baixo vivem suas vidas; a vida real. Vocês são cheios de discursos e bons exemplos, mas nunca fazem nada que valha a pena, nunca fazem. — Largou o homem e virou-se de costas.
—Eu entendo a sua raiva garoto. Mas você entende sua situação? Será acusado de duplo homicídio, incluindo a própria mãe. Será levado para a prisão de segurança máxima e depois disso sua vida acaba. — A voz do homem parecia acelerada, como se tivesse pressa em dizer tais palavras.
— E daí? Quem se importa? Não tenho mais nada mesmo — disse o rapaz virando-se novamente para o oficial.
— Nós nos importamos. Nós sabemos quem é você Teoya-sa. Um prodígio na mecânica robótica e engenharia espacial. Estuda por hobbie, mas venceu concursos interplanetários por sua capacidade. Como você mesmo disse garoto, não tem mais nada para você aqui. Por que entregar sua vida cheia de possibilidades para uma prisão, quando pode aceitar o convite e se desenvolver como pessoa, dar um sentido para tudo o que aconteceu. Ela ficaria orgulhosa, não?
Teoya-sa olhou no fundo dos olhos do oficial, refletiu sobre o ocorrido e depois de alguns segundos disse:
— Você não sabe. Não sabe o que ela queria. Eu não estou interessado em servir à Coalizão. Acho que sua visita terminou. — Virou-se de costas pondo-se a caminhar em direção ao fundo da cela.
— Não iria nem mesmo para se vingar? — sussurrou o homem em tom bastante sugestivo.
Vingança. Ela sempre detestou vingança e acabou morrendo por um ato de vingança. Certamente aquele desgraçado veio vingar-se dela.
Pela cabeça de Teoya-sa passavam todas as lembranças sobre as histórias que sua mãe lhe contara dos tempos sombrios. Ela nunca escondeu dele sua origem e as condições que o fato ocorreu. O garoto lembrava-se de cada palavra, cada uma delas vinham se agrupando uma após a outra em sequência até completarem a história, mas as palavras tinham um som; a voz de sua mãe.
Antes de morarmos aqui nesse deserto, vivíamos em Dargkra. O planeta é maravilhoso, um verdadeiro paraíso. Possui grandes montanhas, florestas e as cidades são verdadeiras obras de arte, no entanto, até o paraíso está sujeito a alterações. Há muito tempo os alienígenas atacaram o planeta sem que conhecêssemos o motivo. Esses ataques eram frequentes e extremamente violentos. Eles matavam pessoas, sequestravam e destruíam nossas florestas, plantações e cidades. Com o passar dos anos, nosso planeta se tornou um inferno. As cidades coloridas se tornaram um amontoado de escombros, as florestas se tornaram campos queimados e as pessoas pareciam cada vez mais doentes e decrepitas. Certo dia eu estava com duas amigas indo buscar água numa poça perto de nosso esconderijo e fomos interceptadas por um grupo de alienígenas. Eles nos levaram para a nave e nos torturaram em busca de informações, mas nada tínhamos de importante. Eles iriam nos matar depois de saciarem seus desejos selvagens, isso só não aconteceu por conta de um Xirab mercenário que fazia a proteção do nosso grupo. Embora o perigo tivesse ido embora temporariamente, algo de ruim ficou comigo, uma lembrança e uma herança. Com o tempo comecei a pensar a respeito e contrariar a todos que me diziam para matá-lo. Eu sabia que estava grávida de um alienígena e que as condições haviam sido brutais, mas dentro de mim estava meu filho. Para não ceder às pressões, fugi para Araã, meu filho. E aqui vivemos nessa imensa pobreza e se escondendo dos conflitos que teimam em aparecer onde quer que estejamos. Tudo o que eu desejo é que essa guerra termine para que as pessoas possam viver em paz novamente.
O rapaz virou-se para o oficial encarando-o, comprimiu os lábios por alguns instantes, desviou o olhar, depois tornou a olhá-lo franzindo o cenho e disse:
— Você me convenceu.
— Sábia decisão garoto. A propósito, recuperei isso — disse estendendo a mão em forma de concha com o colar dourado alojado no centro.
— Obrigado! — agradeceu Teoya-sa pegando o colar e colocando em seu pescoço.
Usando de sua influência poderosa o oficial retirou o rapaz da cela e o conduziu para sua nave modular de transporte. Compacta, mas podia levar até seis passageiros sem nenhum problema. Eles sentaram-se em seus devidos lugares e a decolagem se iniciou logo. O homem olhou para o rapaz e estendeu-lhe a mão dizendo:
— Segundo-Tenente Nur Inyene, a propósito.
— Já sabe meu nome e todo o resto da minha história — respondeu o rapaz apertando a mão do tenente. Ah, é tenente então?!
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Olá pessoa lindas!
Esse é o segundo capítulo de Across the Universe. E aí quais são suas impressões sobre ele? Opiniões? Sugestões?
Espero que tenham gostado, por tem muito mais por vir.
Até o próximo!
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Olá pessoes! Repostando o capítulo corrigido.
Glossário
Patra = Fruta arredondada e amarela, com bastante polpa. Possui um caroço com espinhos afiados, que é facilmente removível da fruta. É o fruto de um tipo de cacto, típica de Araã, mas cultivada ao redor da galáxia em ambientes áridos e tórridos. É azeda, mas bastante nutritiva.
Passagões = São uns bichinhos fofos. Medem cerca de 1,20 mt do focinho à cauda. Pele escamosa, geralmente nas cores laranja, verde, preta, vermelha ou uma mistura delas. Possuem garras afiadas de 3 cm em todos os dedos. Possuem um par de asas parecida com morcegos, mas conseguem decolar do solo. Ao redor da cabeça possuem quatro olhos, o que lhes permitem visão em 360°. Língua bifurcada e pegajosa. Expele veneno na forma de cuspe ou injetado através da mordida. Mas só atacam se estiverem muito assustados. Cantam horrivelmente péssimo, tanto que a maioria das pessoas atiram para eles alimentos, a fim de que comam e parem de cantar e eles parecem gostar disso.
Grimas = São cristais raros com propriedades distintas dependendo da cor. Devido sua raridade é usada como "moeda". Na verdade como pagamento, já que o valor dos cristais variam de acordo com quem recebe.
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