04. Renovação
Minha mão tremia ao tocar a campainha, eu ainda temia ser mandada embora quando a porta foi aberta. Eu tinha de tentar para saber o que aconteceria.
— Alba?
A surpresa de Talita foi genuína. Eu perguntei se poderíamos conversar, e ela me convidou para entrar. Ela estava sozinha em casa, Duda estava na escola.
— Sinto muito, irmã. — disse assim que Talita fechou a porta. Ela me fitou, surpresa. — Eu sei que não fui a melhor irmã do mundo desde a morte da mãe, que não tentei me reaproximar, mas a verdade é que estava com medo. Não queria tentar, não até ter certeza de que já estava mais estável.
Mordi um pouco o lábio. Talita respirava de forma entrecortada.
— Também não fui a melhor tia, mas nunca deixei de amar a Duda, nem por um único segundo. Eu tive meus motivos, e mesmo que eles não justifiquem minhas ações, espero que possa entendê-los e me perdoar em algum momento. — meu olhos estavam marejados — Eu não quero deixar de ter você e a Duda na minha vida, Lita.
Um soluço vindo de Talita cortou o silêncio. Ela me aninhou em seu aperto, tão familiar e tão novo. Como havia sentido falta de seu carinho.
— Eu quem fui tola, Alba. Papai me contava como você estava seguindo, um passo de cada vez, e eu fiquei orgulhosa em silêncio. Me agarrei à briga que tivemos porque eu não tive a coragem de encarar como fiquei arrependida de ter te afastado.
Eu a apertei mais, querendo eternizar aquela sensação.
— Em algum momento, comecei a acreditar que você estava melhor sem mim por perto.
Pisquei com a confissão e segurei Talita pelos ombros. Estávamos as duas acreditando que a outra estava melhor com a distância e sofremos em silêncio, desejando a reaproximação. Comecei a rir e, quando tive fôlego para explicar a graça, terminamos as duas aos risos embargados.
Talita me puxou para o sofá e pediu para que contasse com minhas palavras o que vinha se passando em minha vida. Relatei sobre meus alunos, sobre Miguel e Murilo, sobre como tocar no restaurante era uma aventura a cada noite. Ela me contou que Duda estava lendo melhor que qualquer criança em sua turma e como a loja que gerenciava estava expandindo os negócios.
Foi como se o tempo não tivesse passado, mas a leveza em meu peito me lembrava do alívio que recaía sobre as feridas.
— E há mais alguma novidade? Ainda não visitei papai essa semana para que me contasse algo.
— Seus dois fofoqueiros! — brinquei, dando um tapinha no ombro dela — Mas tem algo. Eu vou participar de um concurso para tentar contrato com uma gravadora.
— O que será no Parque Municipal? — os olhos de Talita brilhavam — É amanhã, não?
— Sim, eu planejava te convidar há dias, mas só criei coragem de fato hoje. O que me diz? Você e Duda iriam me assistir?
— Eu não perderia minha irmã sendo anunciada vencedora por nada! — fui puxada para mais um abraço empolgado — Inclusive, eu quem irei levá-la. Que horas eu devo passar na sua casa?
Dito e feito. Talita havia me buscado para o concurso, com Duda de companhia. Meu coração parecia não caber no peito. Qualquer que fosse aquele resultado, eu já me sentia uma vencedora.
— Vamos, tia! — Duda me puxava pela mão, eu carregava meu violão nas costas e Talita tentava administrar a empolgação da filha — Eles já vão começar a chamar!
Ela tinha razão, os organizadores estavam alinhando os competidores. O parque havia sido preparado com um palco, equipamentos de som e acomodações para uma plateia.
— Ali está o papai. — Talita apontou e eu vi Baltazar acenando empolgado — Vamos nos sentar com ele, filha.
Antes que Talita puxasse Duda, eu a abracei apertado.
— A tia te ama. Dedico a apresentação a você, viu? — beijei sua bochecha e ela soltou um risinho.
— Vai inflar o ego dela assim. — minha irmã brincou, mas me fitou determinada — Faça o nome dos Bernardi lá em cima. Quebre uma perna! — e me empurrou em direção a fila.
Eles estavam chamando em ordem alfabética e eu era a terceira. Percorri a plateia com os olhos, mas só quando subi ao palco fui capaz de ver Murilo e Miguel. O pequeno acenava.
— Boa sorte. — Murilo disse mexendo os lábios. Sorri em resposta, ajeitando o violão nos ombros e a altura do microfone.
— Boa tarde. Eu sou Alba, e a música que preparei representa um lembrete para mim mesma de sempre continuar seguindo em frente. De não ter medo de tentar. — meu olhar cruzou com o de meu pai e sorrimos — Espero que gostem.
Posicionei os dedos. O primeiro acorde ecoou, ressoando por todo o meu ser, reverberando por toda minha alma reconstruída. Renovando minhas esperanças e meus caminhos.
Aquele era meu acorde de renovação. Renovação do meu sonho.
Espero que se orgulhe, mamãe, pensei, um segundo antes de soltar a voz.
— Like a small boat on the ocean...
822 palavras
262 + 1437 + 1360 + 1117 + 822 = 4998 palavras
E este foi o conto! O que acharam?
A ideia de escrever um conto sobre uma "cantora frustrada" (muitas aspas) já existia há um tempo, era uma daquelas premissas que simplesmente surgem e que eu não imaginava que fosse usar tão cedo, até que o concurso apareceu e Alba ganhou sua história.
Eu sinto que podia ter feito melhor, talvez aproveitando um pouco melhor o limite de palavras, mas estou satisfeita com o resultado final e é essa versão que apresento para o concurso. Afinal, se eu não tentasse, não saberia o que poderia acontecer, não é mesmo? 😜
Sinto que ainda vou voltar algumas vezes nessa história para me relembrar de algumas reflexões que coloquei aqui, as quais espero que tenham tocado vocês de alguma forma. Agradeço imensamente por lerem essa história! Espero que tenham gostado!
Até breve com mais histórias! ❤️
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