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01. (Des)Afogando

Eu 'to na lanterna dos afogados, 'to te esperando...

Minha voz deslizou pelas mesas do restaurante, harmonizando as conversas, como um abraço oferecido aos corações que procuram por um. Dedilhei pelas cordas do violão para finalizar a música, um sorriso surgindo.

Meu transe ao tocar acabou e pisquei de volta à realidade. As pessoas bateram palmas quando perceberam o silêncio, a melodia tendo as deixado tão subitamente que foi como notar que um velho amigo não estava mais por perto.

— Obrigada por hoje, pessoal. — disse ao microfone, tirando mechas rosas de cabelo do rosto, acenando — Uma ótima noite a todos.

Por fim, desliguei o microfone e guardei o violão. Sentia as pontas dos dedos formigando, ainda não distante do êxtase de cantar. Não era tão grandioso como um show, mas eu adorava apresentar ao vivo assim, tornar mais agradável a confraternização das pessoas.

Nessas horas eu ainda tinha certeza que a música me mantinha de pé.

— Alba, não esquece da sua marmita! — ouvi o cozinheiro enquanto passava por trás do pequeno palco, ajeitando a mochila do violão nas costas.

— Obrigada, César!

Já era rotina eu ser a voz da noite no Requintes do Forno e eles sempre preparavam um agrado para mim. Porém, dessa vez, Bruno, um dos atendentes, não apenas me entregou a comida quando fui ao balcão. Ele indicou um rapaz a alguns metros de nós.

— Alba, aquele cara queria falar contigo, pediu pra avisar.

Franzi o cenho ao enroscar meus dedos na sacola que Bruno estendeu e agradeci, desejando bom resto de noite. Aproximei-me do moço, ele tinha pele morena, cabelos marrons cheios e ondulados, olhos escuros fixados na tela do celular.

— Com licença, você gostaria de falar comigo?

Meu comentário pareceu ter furado a bolha de concentração, pois ele se virou bloqueando o aparelho e sorrindo, salientando uma covinha em sua bochecha esquerda.

— Oi, sou Murilo, prazer. — ele estendeu a mão e eu a apartei, apresentando-me — E sim, gostaria de falar com você. Ouvi que está dando aulas particulares de teclado, é verdade?

A partir do momento que ele citou "aulas", uma empolgação específica se alastrou por mim e eu assenti. Aquilo poderia significar mais um aluno!

— Isso! De violão e canto também. Eu ensino a todas as idades. Você teria interesse?

— Ótimo ouvir isso, estou em busca de um professor para meu filho. — o olhar de Murilo ficou mais suave, seu tom acompanhando — Ele tem sete e está muito empolgado com a perspectiva de começar a tocar.

— Vou adorar ensiná-lo! — meu sorriso não despregava das bochechas, nem quando fitei minha bolsa para puxar meu cartão profissional — Aqui está meu número e email. Só entrar em contato para marcamos um horário.

Murilo segurou o cartão com um brilho nos olhos, tão empolgado quanto eu, por alguma razão. Ele desbloqueou o celular e adicionou o número inscrito no cartão antes de guardar os dois no bolso.

— Vou checar os melhores dias e falo com você. Muito obrigado, Alba.

Com uma troca de sorrisos, despedi-me de Murilo e me joguei nas ruas da cidade, sentindo um brilho renovado até mesmo nas estrelas. Uma leveza acompanhava meus passos e, quando me percebi na última rua até o ponto de ônibus, chequei o horário: dez e quinze.

Decidi virar à direita ao invés de seguir reto. Ele certamente deve estar acordado, pensei. E não consigo controlar minha empolgação até amanhã.

— Papai! — chamei, entrando com minha chave reserva. Se não fosse por minha altura, seria confundida com uma criança que tirou nota boa na prova e mal podia esperar para contar. —  Tenho uma novidade!

Meus passos estavam altos demais, a sacola sacudindo em minha mão. Se tivesse sido mais discreta, teria ouvido o som abafado de vozes e me preparado para a outra única visita à casa de meu pai em uma hora como aquela.

Porém, ao alcançar o batente da sala, já era tarde para dar meia volta. Meu olhar se cruzou com o de Talita, e todo o calor da minha empolgação foi apagado ao ver os lábios dela se retorcendo.

— Eu não sabia que ela viria visitar, pai. — Talita disse, indicando-me com a cabeça.

Creio que apenas não saí correndo pelo olhar doce que nosso pai dirigiu a mim, seu rosto derretendo em um sorriso. Apertei uma mão na outra para disfarçar o súbito tremor e disse com um sorriso sem graça:

— Não sabia que a casa de Baltazar Bernardi estava tão requisitada hoje. — apontei a porta  — Eu posso voltar outra hora.

— Não, filha, você deve ficar. — papai afirmou, indicando o lugar a seu lado no sofá antes de se voltar para sua outra visita — E você deveria chamar sua irmã pelo nome, filha.

Talita suspirou, resignada. Ela não discutiria com nosso pai, não quando a voz dele indicava sugestão e nunca uma bronca. Por isso ela apenas pegou a bolsa e se levantou, depositando um beijo na bochecha dele.

— Eu já vou, prometi à Duda que leria uma história para ela antes de dormir. E diferente de outras pessoas, cumpro minhas promessas a quem digo amar.

Eu estava enraizada no batente, incapaz de desviar o olhar do de Talita, que me encarou para enfatizar que aquelas palavras eram dirigidas a mim. Como se não soubesse. Como se o passado recente já não me queimasse mais do que eu era capaz de aguentar.

Minha irmã passou por mim sem dizer nada, desviando-se como se eu fosse um obstáculo desagradável. Apenas voltei a mim quando ouvi a porta se fechar, sentindo lágrimas escorrerem.

Uma mão afável se apoiou em minha bochecha, enxugando-a. Meu pai estava diante de mim, puxando-me para um abraço.

— Eu estou tentando. — soltei ao sentir a necessidade de preencher o silêncio — Realmente estou.

— Eu sei que está. — papai sussurrou, deslizando a mão pelo meu cabelo.

— Então por que sinto que estou afundando mais ao invés de estar chegando perto da superfície?

Um soluço rasgou minha garganta e agarrei-me àquele aperto.

— Ah, Alba...

Não sei por quanto tempo chorei, mas foi o suficiente para as memórias se soltaram de seus lugares seguros, e o último um ano e meio correr em flashes por minha mente.

Laura Bernardi havia falecido. Minha mãe. A mulher que me estruturara como pessoa, me fizera amar a música, não estaria mais por perto, e eu demorei um pouco para processar a informação.

Nos dois primeiros meses, eu dizia que estava bem. No terceiro, já não havia uma noite em que não fosse dormir chorando.

Eu não queria deixar transparecer tanto, papai e Talita já estavam abalados. Porém, lá pelo quarto mês depois da notícia, não conseguia focar nem mesmo nos ensaios das minhas músicas. Eu tinha um contrato com uma gravadora famosa, uma promessa de futuro que joguei pela janela, assim como fiz com meu relacionamento com o restante da família. 

Mesmo com a tensão de explicar à pequena Duda que a avó dela não iria estar lá mais quando fossem visitar, Talita sugeriu que eu passasse mais tempo com ela, um respiro na rotina para as duas. Eu sempre havia sido uma tia coruja, e minha sobrinha era a luz da família naquele momento, uma que não amparei. 

A deterioração continuou, eu não aparecia para buscar Duda como prometido. Na terceira ocorrência, minha irmã se cansou e brigamos feio. Talita se recusou a manter contato por muito mais tempo, e não podia culpá-la.

Afinal, dei tudo que tinha em troca de algumas noitadas na tentativa de me sentir viva outra vez.

Quando não neguei ajuda, dei ouvidos ao meu pai e me dediquei a entender meus sentimentos com auxílio de terapia, consegui me reerguer. Ainda tentava. Eu não gostaria que Talita passasse a mão em minha cabeça, mas também ficaria melhor sem farpas constantes.

Gostaria que ela pudesse me ver de fato. No entanto, teria eu parado verdadeiramente em algum momento para ver como ela estava esse tempo todo? 

Um suspiro pesado escapou por meus lábios, as reflexões difíceis de engolir. Meu pai puxou a sacola que me deram no restaurante, aliviando meus dedos de um peso que já havia esquecido.

— É do restaurante? — ele abriu um pouco a sacola e um cheiro gostoso circulou por nós — Ainda não jantei, por que não comemos juntos e você me conta a novidade? Você chegou toda animada.

Assenti um pouco mecanicamente, forçando-me a sair do desgaste das memórias.

— E você pode passar a noite aqui. Seu antigo quarto está sempre pronto para recebê-la.

Aquelas palavras me fizeram respirar novamente, tirando-me da água. Encarei os olhos verdes de Baltazar, os olhos que havia herdado, e sorri. 

— Ótima ideia.

1437 palavras

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