33 (liz)
Quando abro os olhos, não sei onde estou, e levo algum tempo para assimilar que meus olhos já estão abertos, porque tudo ao meu redor está completamente escuro, como se eu estivesse flutuando no mar durante a noite. Meu coração dispara, como se tentasse me alertar que estou correndo perigo, mas me sinto incapaz de me mover, paralisada pelo terror que toma conta de mim.
Estico a palma da mão, tateando lentamente o chão de concreto sobre o qual estou estirada, tentando descobrir onde posso estar, em vão. Quando ouço passos se aproximando, vindo de uma direção que não consigo identificar, sento-me e abraço os joelhos, assustada.
Uma enorme porta de metal é levantada à minha esquerda, e vejo a silhueta masculina adentrar o ambiente e finalmente acender a luz. Meus olhos machucam com o impacto, tentando adaptar-se à iluminação repentina que preenche o ambiente. Olho ao redor, confusa, tentando identificar onde estou, enfim.
O espaço está vazio, exceto por estantes de metal cobertas de poeira e plástico, mas também vazias de objetos. As paredes são cinzas, com marcas de pregos e parafusos, mas já não existe nada pendurado nelas, somente a tinta gasta pelo tempo, e, talvez, pelo uso.
Então me dou conta: estou no depósito de Noah — ou então, "Jake Romanov".
— Olha só, você acordou. Que bom. — Ele fala, então, virando-se para mim. Permaneço encolhida em meu lugar, olhando para ele com os olhos arregalados e coração acelerado pelo medo, sem coragem de perguntar tudo o que tenho vontade de perguntar nesse momento.
Ele se aproxima, parando diante de mim, olhando-me de cima.
— Não me olhe assim, Lizzie. Só fiz o que precisava fazer. — Diz, abaixando-se até ficar na minha altura, e afastando uma mecha de cabelo dos meus olhos, colocando-a atrás de minha orelha. O gesto dócil e familiar me causa arrepios, porque se parece com o Noah por quem me apaixonei, mas sei que não é ele quem está diante de mim. Seus olhos azuis e encantadores, antes cheio de brilho, agora parecem vazios. — Está com fome? Sede?
Sinto tanto desespero diante do seu toque, que nem mesmo consigo me mover. Apenas respiro ofegante, os olhos ainda arregalados com a imagem desse desconhecido familiar diante de mim.
— Não vai me responder? — Ele pergunta, diante do meu silêncio.
Apesar de sentir minha boca seca e amarga de tanta sede, a essa altura, talvez prefira morrer de sede do que aceitar um copo de água do garoto que, sem um pingo de remorso, me enforcou até meus sentidos desaparecerem.
— Você me apagou. — É só o que sai da minha boca enquanto sinto cada parte do meu corpo estremecer de medo.
Ele balança a cabeça negativamente.
— Não, eu apenas precisei arranjar uma forma de te trazer até aqui.
Franzo a sobrancelha, recuperando a memória cruel de lutar por ar enquanto minha visão escurecia nos braços do garoto que um dia, achei que me amava.
— Você me apagou, Noah! — Exclamo, horrorizada, enquanto ele tenta me convencer de que existe uma boa justificativa para o que ele fez.
— Pare de falar isso! — Ele grita, tornando a colocar-se de pé diante de mim. O gesto brusco me assusta tanto que caio para trás, apoiando-me sobre os meus cotovelos. — Eu fiz o que precisava fazer. Olhe ao seu redor, Liz. Você não queria respostas? Não queria saber o que eu escondia aqui? Veja por si mesma!
Mas não o faço. Continuo olhando para ele como uma criança assustada, que tem medo de que, se virar as costas, o monstro a ataque.
— Levante-se, Liz, e veja por si mesma! — Ele ordena agressivamente, quando permaneço imóvel.
Apavorada com a nova personalidade de Noah que se revela bem diante dos meus olhos, engulo em seco e apoio-me em minhas mãos, obedecendo-o hesitante. Não sei mais do que ele seria capaz a essa altura se não conseguir que as coisas aconteçam do seu jeito.
De pé, finalmente consigo olhar o ambiente por completo. Ao contrário dos espaços vazios que estavam diante de mim, agora, noto um canto onde uma caixa longa se encontra sobre o chão, e a luz do ambiente não parece se estender até esse espaço. Olho para cima e vejo que três das lâmpadas suspensas sobre esse canto parecem estar queimadas.
— O que é aquilo? — Pergunto, sem coragem de me aproximar. Algo me diz que não vou gostar do que vou encontrar ali se me deixar levar pela minha curiosidade.
— Por que não vai até lá e olha?
— E-eu não quero.
— Anda, Liz. Não temos o dia todo.
Sinto uma gota de suor escorrer pelas minhas costas, apesar do clima estar fresco. A tensão deixa os meus músculos enrijecidos, de modo que, conforme caminho lentamente em direção a enorme caixa, sinto cada parte do meu corpo queimar de dor.
Conforme me aproximo, noto pelo formato que a caixa em questão não parece ser uma caixa qualquer. Não é como se Noah estivesse usando uma identidade falsa para ter um depósito fora da cidade apenas para ter um grande baú cheio de memórias.
O que está diante de mim, concluo ao me aproximar suficientemente do objeto, não é apenas uma caixa, mas um caixão.
Fico parada diante dele, atônita.
— Abra. — Ordena Noah, atrás de mim.
— E-eu não quero. — Respondo, hesitante.
— Abra, Liz! — Insiste ele.
Balanço a cabeça e volto-me para ele, incapaz de fazê-lo. Irritado, Noah se aproxima e levanta a parte de cima do caixão, e o interior que se revela diante dos meus olhos me faz perder o fôlego.
— Não era o que estava imaginando? — Pergunta ele, enquanto dou largos passos para trás, recuando para longe daquela cena, esperando poder esquecê-la imediatamente, mas parece ser o tipo de coisa que fica guardado em sua mente para sempre.
A imagem diante de mim é a de Colin Wright, vestido com o uniforme do time de futebol, os olhos ainda abertos, mas completamente sem vida. Sua pele pálida revela que o sangue parou de circular em suas veias há um tempo considerável, e agora ele não passa de um cadáver inchado, parecendo estar quase prestes a explodir.
— Ah, meu Deus. Noah, o que você fez? — Indago, com dificuldade de articular minhas palavras. Me sinto zonza, prestes a desmaiar novamente.
— Eu te salvei, Liz. — É o que ele diz, tornando a fechar o caixão. O cheiro que se espalhou pelo ambiente não facilita para que eu me sinta melhor.
Balanço a cabeça. Isso não pode estar mesmo acontecendo. Nada disso pode ser real, é impossível que seja. Estou apenas presa em um terrível pesadelo — um pesadelo lúcido, e que parece muito real, mas não há como ser. Nada do que vivi nas últimas horas pode ser real. Não há como ser. O Noah que eu conheço jamais faria isso — nem comigo, nem com minhas amigas, nem com os pais de Dylan, nem com Dylan, e, por mais que o sentimento predominante por essa pessoa não seja exatamente bom, também nunca faria isso com Colin.
Caio sobre os meus joelhos novamente, incapaz de sustentar o peso do meu corpo de pé. Encolho-me, agarrando minhas próprias pernas contra o meu peito, deixando as lágrimas densas de desespero rolarem pelo meu rosto enquanto repito sem parar a mim mesma que isso só pode ser um pesadelo, isso não pode ser real.
— Ah, não se preocupe, querida. — Noah diz, vindo até mim no chão. — Vou garantir que ninguém descubra o que nós fizemos, e qualquer um que cruzar o nosso caminho será eliminado. Esse segredo vai ficar só entre nós. Estamos nessa juntos, para sempre. — Fala, levantando o meu queixo e forçando-me a olhar para ele.
Arqueio as sobrancelhas. "Nós"?
— Eu não fiz nada disso, Noah! Você está maluco? Não sou responsável pela morte de Colin! — Exclamo, com veemência.
Ele solta um riso que me causa arrepios da cabeça aos pés, inconformado com a minha reação.
— Qual é, Liz? Você não acha isso justo, não é? — Indaga.
Franzo o cenho, horrorizada.
— Do que está falando?
— Estou falando que tudo o que fiz, desde o começo, foi para te proteger! — Grita Noah, irritado com a minha incapacidade de compreender algo que lhe parece tão simples.
— O quê?
Ele suspira, tentando recuperar a calma antes de revelar a verdade, ou então, o que ele pensa ser, já que seu julgamento sobre os fatos parece mais distorcido do que nunca.
— Na noite da festa, eu estava atrás do Colin. Achou mesmo que eu deixaria barato o fato de que ele simplesmente achou que podia agir daquele modo com você? Até parece. — Diz. — Posso ser muitas coisas, Liz, mas não sou do tipo que simplesmente deixa esse tipo de coisa para lá. Me chame de antiquado, se quiser.
É a última coisa da qual gostaria de chamá-lo agora, penso.
— Tudo ia bem. Eu iria encontrá-lo, dar uma surra que o ensinaria como se portar decentemente com uma garota e o problema estaria resolvido. — Revela, e, para ser sincera, essa parte da história não parece tão absurda. O que parece absurdo, no entanto, é ouvi-lo discursar sobre decência a essa altura. Afinal, o que ele sabe sobre isso? — Mas aí a polícia chegou. — Ele fala, revirando os olhos. — Foi quando o meu plano começou a desandar. Com todos aqueles adolescentes bêbados e desesperados se metendo no meu caminho, acabei perdendo Colin de vista. Somente quando consegui chegar ao lado de fora é que consegui reencontrá-lo. Vi que ele havia entrado na floresta, e corri atrás dele, porque estava determinado a ensiná-lo uma uma lição.
Sinto meu coração pulsando acelerado contra o meu peito. Não acredito que finalmente estou prestes a ouvir toda a verdade sobre aquela noite depois de tantos dias sofrendo com o peso do que achávamos que tinha acontecido.
Noah prossegue:
— Eu corri atrás dele, mas a droga da floresta estava escura demais para que eu enxergasse algo além de três palmos diante dos meus olhos. Então, quando finalmente senti que o alcancei, nós brigamos. Para ser justo, mal foi uma briga, porque ele parecia bêbado demais para isso. Mas eu estava com tanta raiva, que não me importei com o que parecia justo na hora. Tudo o que eu conseguia ver em minha mente era a imagem dele te pressionando contra a porta, e eu fiquei completamente cego pela minha raiva. Foi quando o empurrei para fora da floresta e ele caiu sobre o asfalto da estrada. E, antes que eu pudesse sequer virar as costas, vocês o atropelaram com o carro. Só então percebi que aquele garoto não era Colin, e sim, Dylan. — Ele fala, mas não há nenhum tipo de pesar em sua voz. Ele não parece sentir muito, ou se sentir arrependido. Não parece se sentir nada, vazio de qualquer tipo de emoção ou sentimento, como um psicopata morto por dentro.
— E você não fez nada. — Falo, com os olhos cheios de lágrimas, ainda sentindo na pele a mesma sensação terrível de remorso, desespero e medo que sentimos naquela noite, quando vimos Dylan morto sobre o asfalto.
Noah solta um riso debochado.
— Eu nem precisei, não é? Você e suas amigas cuidaram disso antes que eu tivesse a chance de fazê-lo, o que nos coloca no mesmo time, Liz, quer você goste ou não. — Fala, juntando as mãos na frente do corpo e me encarando no fundo dos olhos, como se pudesse invadir a minha mente. — Você e eu somos iguais.
Nesse instante, sinto uma onda de revolta tomar conta de mim. De repente, não posso suportar a ideia de ser comparada a ele, o que é estranho, porque há algumas semanas, eu pensava que Noah era um garoto, gentil, inteligente, engraçado, compreensivo e protetor, e ser comparada a ele seria uma honra. Mas talvez aquele garoto nunca tenha existido, no fim das contas. Talvez, fosse apenas uma miragem, ou um reflexo das melhores qualidades que gostaria de ter mais acentuadas em mim mesma. Mas agora, aquele Noah parece ter sido apenas uma ideia idealizada pela minha própria cabeça, de alguém que nunca esteve ali de fato.
— Não estamos no mesmo time, Noah! E com certeza não somos iguais. Estamos sofrendo as consequências do que fizemos desde aquela noite, enquanto você apenas se sentou e pegou um balde de pipoca para nos assistir afundar! — Grito, colocando-me de pé, cheia de raiva.
Noah se levanta também, tornando a ficar mais alto do que eu, e dessa vez, me olha de cima com certa soberba, como se sentisse que tem algum poder sobre mim. Não gosto da sensação que isso me causa.
— Como pode dizer isso? Não viu o que acabei de fazer por você? Acabei de eliminar a única outra pessoa que sabia sobre aquela noite. Agora, você e suas amigas estão livres, graças a mim! — Vocifera ele.
Solto um riso de incredulidade. Me recuso a acreditar que ele realmente pense dessa forma. Me recuso a acreditar que ele realmente pense que nossos problemas estão resolvidos apenas porque ele matou mais uma pessoa e agora quer dividir essa conta, como se estivéssemos em um restaurante.
— Não estamos livres coisa nenhuma! O que acha que vai acontecer quando notarem que Colin também desapareceu? Acha que vão achar que isso tudo não passa de uma mera coincidência? Acha que não vão descobrir que Colin e Dylan eram amigos e que provavelmente ambos os casos estão ligados? Acha que vão simplesmente deixar de investigar essa história toda e desistir de encontrar os responsáveis por tudo isso? Como acha que vamos escapar disso? E além de tudo, como pode viver com isso com tanta facilidade? — Rebato, eufórica, sentindo o desespero se espalhar por cada parte do meu corpo. Nunca me senti tão tensa.
— Acho que está me subestimando, Liz. — Ele fala, cheio de si. — Colin não simplesmente "desapareceu". Ele deixou uma linda carta de despedida para os pais.
— O quê?
— Ah, você não sabia? Até onde eles sabem, Colin se matou. — Informa, com naturalidade. — Isso, é claro, depois de ter matado Dylan, que, por um acaso, está enterrado em seu quintal nesse exato momento. Ele não aguentou o peso da culpa. Quem pode culpá-lo, não é? — Fala, cheio de si, como se estivesse orgulhoso do que fez.
— A cova de Dylan. Você a abriu e retirou o corpo, por isso não queria que voltássemos lá na noite em que fomos à festa da universidade de Theo, você sabia que a encontraríamos aberta! — Exclamo, juntando as peças e sentindo uma enorme fúria ao pensar que esse tempo todo, Noah sabia exatamente onde o corpo de Dylan estava enquanto nós perdíamos nossa sanidade tentando pensar sobre o que fazer para encontrá-lo.
Ele assente.
— É. Eu pensei em tudo. Por isso, não se preocupe, querida. Eu vou te proteger, e, como pode ver, está em boas mãos. Garanto que vou dar um jeito de eliminar qualquer pessoa que se torne uma ameaça para nós. — Diz, envolvendo-me em seus braços como se estivéssemos tendo uma conversa comum sobre uma situação qualquer. Como se ele não tivesse me apagado para me trazer até aqui. Sinto um calafrio se espalhar pelo meu corpo enquanto sinto o calor de seu tórax contra o meu rosto, incapaz de esboçar qualquer tipo de reação, tamanho o choque que estou sentindo. Noah parece completamente fora de si. — Eu faria qualquer coisa por você, Liz. — Fala, o que não soa romântico dessa vez, e sim, macabro.
Levanto os olhos para ele, tentando assimilar o que tudo isso significa, e então me dou conta de que realmente não estou segura em sua presença. Na verdade, enquanto estiver a sós com ele, estarei correndo sério perigo. Noah não vai parar de matar, enquanto houver provas, enquanto houver buscas, e enquanto descobrirem mais e mais sobre esse caso. Vai fazer o que for preciso para manter todos esses segredos sujos e terríveis guardados, enquanto puder evitar que a verdade apareça.
Isso tem que parar o mais rápido possível, custe o que custar.
Começo a olhar ao redor discretamente, procurando uma forma de tentar dar o fora daqui, sem sucesso. Então, mantenho a calma e me empertigo em seu abraço e fecho os braços ao seu redor, retribuindo o gesto como se concordasse com a normalidade imposta por ele.
— É bom saber disso. Ao menos, me sinto segura. Quer dizer, acho que não existe muito a ser feito agora além de tentar seguir em frente, não é? Já que você cuidou de nossos problemas com Colin e arranjou uma solução para o nosso problema com Dylan, acho que agora podemos voltar a viver com normalidade. — Falo, com o rosto pressionado contra o seu peito, tentando soar honesta. Tentando soar agradecida, e não apavorada.
Ouço as batidas do coração de Noah acelerarem, e não sei o que significa. Ele acreditou em minhas palavras? Ou está prestes a entrar no modo de ataque?
— Eu sabia que você entenderia, eventualmente. — Ele diz, mantendo-me perto de si por mais algum tempo. — O que te fez mudar de ideia? — Pergunta, de repente. Sinto que estou sendo testada nesse momento. O que eu responder vai revelar para ele a verdade sobre como me sinto sobre tudo isso. Preciso ser convincente e cautelosa, o que não é uma tarefa fácil. Preciso dizer exatamente o que ele deseja ouvir. Sinto como se estivesse caminhando em um campo minado.
Afasto-me um pouco dele, somente o quanto ele permite, e levanto o rosto para observá-lo.
— Bom... acho que por um momento, perdi de vista o que realmente importa nessa história toda: estamos livres. Esse tempo todo estávamos correndo em círculos, perdendo noites de sono e choramingando porque estávamos com medo de que descobrissem o que fizemos. Mas a única pessoa que poderia nos prejudicar era Colin, e agora, você cuidou disso. Não temos mais que nos preocupar com ele, e nem com Dylan, não é?
Noah fica me observando durante alguns segundos, como se ponderasse com desconfiança se vai ou não acreditar em minhas palavras. Mas no fim, deve decidir que acredita, porque abre um sorriso.
— É, sim. Tudo o que me importa é que você está segura, Liz. — Fala, beijando minha testa. Engulo em seco discretamente, mas por fim, sorrio de volta, da forma mais convincente que consigo.
— Acha que pode buscar um pouco de água para mim antes de darmos o fora daqui? — Pergunto, tentando soar como uma namorada manhosa e não como alguém com intenções de fugir daqui.
Noah hesita por um instante antes de soltar os braços ao redor do meu corpo e me dar as costas, caminhando até a enorme e ruidosa porta de metal do depósito. Ele a levanta, abrindo passagem para si mesmo, e, em seguida, a fecha novamente, deixando apenas um pequeno vão na parte inferior, o que significa que não espera que eu saia daqui. Talvez fosse melhor se eu ficasse, mesmo. Poderia ir embora, e fingir que está tudo bem durante todo o caminho de volta. Mas acredito que estou andando na corda bamba ao lado de Noah. Tive sorte dele escolher acreditar em minhas palavras agora, mas isso não significa que estou completamente segura. Um passo em falso, e tudo vai por água baixo. Uma palavra errada, uma microexpressão, e Noah será capaz de identificar que, na verdade, assim que ele me deixar a sós, vou correr até a delegacia mais próxima e revelar tudo o que sei, mesmo que isso signifique acabar presa para o resto da minha vida.
Por isso, preciso dar o fora daqui, e preciso ser rápida. Olho ao meu redor, procurando por algo que possa me ser útil caso precise me defender caso seja necessário, mas não encontro nada. Aparentemente, a única coisa que posso fazer é dar o fora daqui e sumir do alcance dos olhos de Noah.
Caminho até a porta semi-aberta na parte de baixo, e me deito no chão, colocando parte da cabeça para fora para examinar o corredor bem-iluminado. Está vazio, e tudo é tão silencioso que sair daqui sem fazer alarde se mostra uma missão mais difícil do que eu havia antecipado.
Respiro fundo. Se eu não for agora, minha oportunidade irá escapar pelo vão dos meus dedos, portanto, é agora ou nunca.
Rolo para fora do depósito e rapidamente me coloco de pé, ignorando o efeito de visão turva que isso me causa por um breve momento. Ao meu redor, todas as portas são completamente iguais, estendendo-se por longos corredores, com depósitos que guardam tranqueiras ou mais segredos como esse, o que dá ao local um ar meio denso e pesado. Não faço a menor ideia de para qual lado Noah pode ter ido, o que dificulta minha decisão de por qual lado seguir, então sigo pela direita. Caminho a passos largos, como se estivesse confiante de para onde ir, mas não faço ideia de onde estou ou como sair daqui.
— Indo a algum lugar? — Sua voz ecoa atrás de mim. Paro de caminhar e me volto em direção a Noah.
Eu poderia mentir. Poderia tentar agir com a mesma falsa naturalidade de antes, e talvez, tudo ficasse bem. Mas talvez, seja tarde demais para isso também, porque o espanto em meu rosto parece revelar a verdade.
Suspiro, olhando ao redor e ponderando minhas opções. E então, de supetão, disparo a correr pelos corredores, afastando-me dele o mais rápido possível, na esperança de, eventualmente, encontrar a saída desse lugar tenebroso.
Corro como se minha vida dependesse disso, porque talvez, dependa. Vou até o fim do corredor e viro a direita, depois a esquerda. Para o meu azar, logo começo a me sentir tonta, presa em um labirinto e cercada por todas aquelas portas iguais que não me levam a lugar nenhum. A frustração começa a tomar conta de mim, mas tento manter o ritmo da corrida porque, até onde eu sei, Noah está vindo atrás de mim. Despistá-lo já seria bom o suficiente por enquanto, mas estou em desvantagem porque ele conhece cada um desses corredores melhor do que eu. Quer dizer, eu nem mesmo estava acordada quando ele me trouxe até aqui, o que não facilita para que eu encontre o caminho de volta.
De repente, é tarde de mais. Me vejo travada em uma encruzilhada, sem saber por onde seguir e, para piorar, fui eu quem perdi Noah de vista, o que me deixa ainda mais nervosa.
Enquanto tento desesperadamente descobrir por onde devo seguir, Noah surge do meio do nada, pressionando-me com força contra a parede, e só tenho tempo de soltar um grunhido antes de me ver presa em seus braços, temendo pela minha própria vida.
— Por quê não consegue enxergar que tudo o que eu fiz foi para te manter segura? — Ele reclama, como se eu estivesse sendo injusta com ele.
— Não! Não me venha com essa conversinha de que fez isso para me proteger! Eu nunca te pediria para fazer uma coisa tão estúpida e terrível apenas para me manter "segura". Você é um monstro!
Ele arqueia as sobrancelhas.
— Um monstro? É assim que me agradece por livrar você e suas amigas desse problema?
Reviro os olhos. Essa pessoa diante de mim não passa de um lunático.
— Você nos causou esse problema! Todos esses problemas existem por sua culpa! — Exclamo, indignada que ele realmente acredite que o que fez foi uma coisa boa. Talvez não exista nada mais exaustivo do que tentar convencer alguém que não enxerga o seu erro, de que ele está errado.
Noah inclina a cabeça para trás. Consigo ver um ódio silencioso surgindo em seus olhos.
— Sabe, Liz, estou começando a ficar preocupado com o fato de que você não parece estar enxergando a situação com muita clareza, o que pode ser um problema para mim. — Diz.
— Eu estou enxergando com mais clareza do que nunca. Você é um psicopata e merece pagar pelo que fez!
Talvez dizer essas coisas não seja a minha melhor opção para tentar garantir a minha segurança. Mas, ao que tudo indica, minhas opções chegaram ao fim já há algum tempo, e tudo o que posso fazer agora é ao menos dizer como realmente me sinto, e se eu morrer, não vou morrer com esse nó preso em minha garganta.
— É melhor ter cuidado, Liz. Posso ter feito tudo isso por você, mas se não está do meu lado, está contra mim. E não vou deixar isso acontecer. — Ameaça Noah.
Pela primeira vez, aceito que talvez seja esse o meu fim. Talvez estivesse destinada a isso esse tempo todo: uma morte em busca da verdade, um coração partido por alguém que achei que conhecia com a palma da minha mão, e a incapacidade de fazê-lo mudar de ideia.
Suspiro, repentinamente tomada por uma coragem que nunca havia conhecido até então.
— Eu prefiro morrer do que estar do seu lado. — Falo devagar, aproximando o meu rosto do dele.
Os olhos de Noah parecem escurecer como jamais vi antes, quase como se estivesse decepcionado por minha escolha.
— Bom, se essa é a sua escolha... sinto muito, Liz. — É o que ele diz antes de fechar os dedos ao redor do meu pescoço com força, impedindo-me de respirar. Noah desvia o olhar, incapaz de olhar nos olhos da garota que um dia disse que amava enquanto tira dela a vida. A pressão interna começa a me atingir, e começo a sentir que minha cabeça está prestes a explodir enquanto o sangue é impedido de circular para o resto do meu corpo, ao mesmo tempo em que meus pulmões queimam, clamando por ar. Meus pés já não conseguem tocar o chão, e começo a sentir o meu corpo pesado enquanto minha visão escurece lentamente.
Por fim, quando já não consigo ver mais nada, ouço um estrondo ao longe, abafado pelo sangue em meus ouvidos. A última coisa que sinto é o meu corpo desabar sobre o chão com força. Talvez seja assim que acaba para mim: com um estrondo, barulhos indistintos à distância, e, por fim, o silêncio total.
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