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20 (sarah)

Fico encarando o relógio antigo na parede, tentando descobrir se ainda funciona ou se o tempo realmente está passando tão devagar assim. Depois de levarmos uma bronca do diretor onde as palavras "arruaceiras", "desonra" e "suspensão" foram utilizadas, Daisy e eu fomos obrigadas a esperar por nossos pais aqui, juntas, do lado de fora.

Não conseguimos nem olhar para a cara uma da outra, mas com o canto dos olhos, consigo ver que ela parece nervosa. Não para de balançar a perna esquerda, e em determinado ponto, começou a roer as unhas e nunca mais parou. Isso me dá certa agonia, mas não abro a boca para comentar coisa alguma. Também consigo ver as marcas dos arranhões que deixei e seu braço esquerdo, com pequenas gotículas de sangue. Quase me sinto mal por isso, mas percebo que meu estado não é muito melhor do que o dela. Vejo meu reflexo na porta de vidro e percebo que estou completamente desgrenhada dos puxões de cabelo, e tenho certeza de que amanhã estarei cheia de hematomas nos braços pela troca de socos que tivemos durante a briga.

Me sinto ridícula por isso. Quer dizer, era mesmo uma questão de tempo até que alguma de nós surtasse de vez. Mas não esperava que o nosso surto fosse resultar nisso tudo. É embaraçoso.

— Dá para para com isso? Você está me enlouquecendo! — Finalmente digo, chegando ao meu limite quando Daisy começa a balançar a perna mais ruidosamente, interrompendo meus pensamentos.

Daisy suspira, mas acata à minha reclamação, o que já é um avanço.

— Me desculpe, majestade. — Resmunga.

Reviro os olhos, mas decido não dar corda à discussão novamente.

— Olha, Sarah, eu... sinto muito. — Ela diz após alguns segundos, sendo a primeira a dar o braço a torcer, o que é admirável. Gostaria de ter mais facilidade em fazer esse tipo de coisa, mas não é muito do meu feitio.

Dou de ombros, ainda sem conseguir encará-la.

— Tanto faz. — Digo, indiferente, como se o que aconteceu não me afetasse tanto assim, mas afetou. É óbvio que afetou, afinal, olhe só para nós. Duas desgrenhadas esperando pelos pais na sala do diretor, emburradas feito duas crianças. Não sei nem por que insisto em fingir que não foi nada demais, mas as palavras de desdém escorregam da minha boca antes mesmo que eu pense em uma resposta alternativa e mais sincera.

Agora que a adrenalina passou, já estou começando a sentir os pontos afetados do meu corpo ficarem doloridos. O lado bom é que vou poder me recuperar durante o período de suspensão. Isto é, se a minha mãe me deixar em paz. Não acho que ela vai querer contribuir muito para o meu bem-estar nesses próximos dias.

Tornamos a ficar em silêncio por um tempo.

— Eu só... só estou com medo, Sarah. — Admite. — E isso tem me apavorado e me deixado irritada e impaciente, eu só... queria que as coisas voltassem a ser como antes. Mas não vão voltar. Não há como. E isso também não tem sido fácil de aceitar.

Fecho os olhos e esfrego as têmporas. A exaustão mental está começando a me atingir.

— Você não é a única se sentindo assim, Daisy. — Rebato.

— Eu sei. Mas fico muito mais frustrada quando penso que as coisas não precisavam ser assim. Você sabe que eu nunca concordei com as decisões que foram tomadas. Nunca achei que deveríamos ter enterrado o corpo, e nunca achei que deveríamos tentar manter esse segredo absurdo que, não apenas vai nos consumir com o tempo, como também não nos levará a nada. Nós seremos pegas. E a coisa toda vai ser muito mais dramática e terrível do que seria se nós...

Balanço a cabeça.

— Vai ser dramático e terrível de qualquer jeito. — Interrompo. — Além disso, agora é tarde demais para voltarmos atrás. Já fizemos muito do que não devíamos. — Rebato.

— Eu sei. E é por isso que eu queria ter feito a coisa certa no momento do acidente! — Exclama, frustrada.

Finalmente viro o rosto para ela, séria.

— A coisa certa não ia tornar as coisas mais fáceis ou simples, Daisy. Estaríamos igualmente encrencadas. Caso não se lembre, já estávamos fugindo da polícia naquela noite. Provavelmente, nem estaríamos aqui agora.

— Estamos aqui, mas a que custo? Pelo menos não estaríamos nessa situação, nos afundando cada vez mais em mentiras! Vocês são tão corajosas para ir atrás de pistas, mas não têm a coragem de assumir a responsabilidade pelo que fizemos. Não são capazes de dizer a verdade, e ficam andando em círculos, cavando o próprio buraco.

Solto um riso debochado.

— É sério, senhorita coragem? Então por que não vai até a polícia e conta a verdade para todos de uma vez? Vamos lá, Daisy, não seja conivente. — Provoco.

— Porque não estou sozinha nisso, Sarah! Você nos uniu nessa situação maluca e sufocante, e agora nenhuma de nós pode tomar decisões independentes. Estamos presas nesse pesadelo por sua causa!

Sinto a mesma irritação de antes começar a tomar conta de mim.

— Dá para parar com isso? Foi um acidente! Eu sei que eu estava no volante, tá legal? Mas não foi de propósito! Você estava lá também, já devia saber disso.

Daisy revira os olhos.

— Você não entende, não é? Isso não é só sobre quem estava no volante, Sarah. É sobre as atitudes que tomamos depois disso. Você sempre foi nossa líder. Sempre esteve no comando, e nós sempre confiamos em você para nos liderar. Devia ter pensado nas consequências e no que seria melhor para nós.

— Acha mesmo que eu não estava tentando fazer o que era melhor para nós? Eu estava tentando nos proteger!

Nos proteger ou se proteger? — Indaga.

Abro a boca para responder rapidamente, mas me detenho. É a primeira vez que me deparo com esse questionamento, e ele até que faz sentido.

— Acho que os dois. — Admito.

— Bom, meus parabéns, Sarah. Não conseguiu fazer nenhum dos dois, afinal.

Suspiro, irritada.

— O que você quer de mim, Daisy? O que quer que eu diga a essa altura? Eu não tenho como mudar as coisas, está bem? Eu sinto muito! Eu também sou uma pessoa, tá legal? Eu também sinto medo, e eu fiquei desesperada. Eu só queria manter a gente fora da prisão a qualquer custo, porque eu não suportaria ser a culpada por acabar com o futuro de todas vocês como acabei com o futuro de Dylan! Achei que daquele jeito, ao menos teríamos alguma chance de escapar. Mas eu estava errada. Eu só piorei as coisas. E sim, agora eu sei que deveríamos ter feito outras escolhas naquela noite, mas eu fiquei apavorada. E agora é tarde demais para voltar atrás, e sim, a culpa é minha e eu odiei ouvir você dizer isso porque, quer saber? Eu acho isso também, mas ouvir isso de outra pessoa é realmente terrível. Acha que eu não penso nisso o tempo todo? Sim, eu cometi um erro, está bem? Um erro muito grande e estúpido e irreparável, e eu sinto muito, mas no final das contas, eu também estava tentando protegê-las, tá legal? Está satisfeita? — Desabafo de uma só vez, sentindo meu sangue pulsar com força em minhas veias. A sensação é estranha.

Ela suspira, balançando a cabeça. É claro que isso não é o suficiente. É impossível se sentir satisfeita em meio a todo esse caos. Um pedido de desculpas não vai mudar isso.

— Eu vou embora. — Ela diz, de repente.

Franzo o cenho, porque não é a resposta que eu esperava.

— Acho que a gente tem que esperar os nossos pais para... — começo a dizer, mas ela já está balançando a cabeça, indicando que não é isso o que ela está dizendo.

— Vou embora de Redgrove. — Ela revela, por fim. — Vou morar com o meu pai.

Minha boca se abre involuntariamente, mas nenhuma palavra sai. Fico alguns segundos processando a informação.

— Está falando sério? — Pergunto, na esperança de que isso seja algum tipo de brincadeira para aliviar o clima entre nós.

Daisy se encolhe em seu assento, mas balança a cabeça afirmativamente.

Os pensamentos em minha cabeça ficam altos e desorganizados, e me sinto incapaz de expressar qualquer tipo de sentimento, porque estou sentindo todos eles ao mesmo tempo.

— Q-quando você vai? — A rola para fora da minha boca sozinha, como se minhas palavras tivessem vida própria.

— Em duas semanas.

Assinto, em silêncio. Viro o rosto para a frente, incapaz de encará-la agora.

Uma parte de mim só quer gritar com ela, e dizer novamente o quão egoísta está sendo. Como ela pode ter coragem de nos deixar na mão sem sentir remorso algum? Como ela pode simplesmente ir embora, e deixar para trás todo o caos do qual ela também participou? Como ela tem coragem de deixar essa bomba explodir na nossa mão, quando, na verdade, ela deveria estar ajudando a segurá-la?

Parte de mim sente uma raiva avassaladora, do tipo que me faz desejar nunca a ter conhecido. Para ser justa, acho que ela pensa o mesmo sobre mim a essa altura.

Mordo o lábio inferior com força e encaro o teto, tentando conter minhas próprias palavras para não causar uma continuação da cena patética que causamos há alguns minutos, embora essa seja a minha vontade novamente.

— Eu sinto muito. — Ela diz, então, quando eu não respondo nada. — Não consigo mais viver os meus dias assim. Não consigo mais lidar com tudo isso, eu... eu não posso continuar vivendo assim! Estou ficando doente e a cada dia que passa eu perco mais cabelo. Se continuar carregando essa mentira pelo resto da minha vida, vou estar completamente careca aos vinte e cinco!

Dou de ombros.

— Você tem um rosto bonito, até que combinaria com você. — Observo. Ela sorri, mas não é esse o ponto da conversa.

Respiro fundo, tentando pensar com mais racionalidade e menos emoção. Tento me colocar em seu lugar, para variar. Talvez, se eu estivesse na posição de Daisy, convivendo com amigas que não param de tomar decisões perigosas com as quais eu não concordo, e, em oposição, ainda tivesse um pai sempre pronto para me receber, provavelmente não hesitaria em pular fora do barco, também.

Talvez essa notícia só seja tão irritante porque, no fundo, sinto inveja de Daisy por poder fazer isso. Por não ser a responsável por essa encrenca toda, por não sentir a responsabilidade de carregar esse peso nas costas e por ter para onde ir. Apesar de amar minhas amigas, desejar que todas fiquem bem e até estar pronta para me arriscar por elas, é frustrante perceber que Daisy pode escapar disso e eu não, e sentir essas coisas, mais uma vez, me faz sentir como a pior pessoa do mundo.

Suspiro, engolindo todas as coisas horríveis que pensei em dizer para ela, porque descobri que em seu lugar, provavelmente faria o mesmo, o que talvez faça de nós duas pessoas igualmente egoístas.

— Bom, nós... sentiremos sua falta. Eu vou sentir sua falta. — É o que digo, no final das contas.

Daisy ri como quem não acredita.

— Qual é.

Entendo sua desconfiança. Se tivesse levado uma surra de uma amiga e depois tivesse que escutá-la dizer que vai sentir a minha falta quando eu partir, provavelmente não acreditaria muito também. Mas realmente vou.

— É sério. — Reafirmo, rindo da atual ambiguidade de nosso relacionamento. — Daisy, nós não somos o que estamos vivendo agora. Isso tudo é um pesadelo, e... eu não sei quando ou como, ou ainda se isso vai acabar. Mas nós éramos algo antes disso tudo acontecer. Algo verdadeiro, genuíno e bom. E quando pensar em nós, aonde quer que estejamos daqui a alguns anos, e independentemente do que aconteça, eu... gostaria de me lembrar de quem éramos antes. E não disso aqui. Porque me parece injusto reduzir tudo o que vivemos de bom a esse único momento, não é?

Daisy curva os lábios para baixo, refletindo.

— É. Seria legal lembrar do melhor de nós. Mas achei que seria mais fácil dizer adeus se todas vocês me odiassem, mesmo, então, se você voltar a gostar de mim agora, vai ficar muito mais difícil partir.

Sorrio.

— Nós não te odiamos, Daisy. — Afirmo, e vejo um sutil sorriso se formar no canto de seus lábios. Parece aliviada. — Como poderíamos odiá-la?

No final das contas, não é dessa Daisy que quero me lembrar, assim como não quero que Daisy se lembre de mim da forma como estamos vivendo hoje. Mas vou sempre me lembrar da Daisy que era um pequeno raio de sol em dias chuvosos e sempre tinha uma palavra amiga quando estávamos chateadas. E essa Daisy, eu jamais seria capaz de odiar.

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