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2 (liz)

— Daisy, pode andar logo com isso? — Sarah grita impaciente de dentro carro, enquanto Daisy caminha de um lado para o outro com o celular nas mãos, fazendo a videochamada mais longa da história com o pai e a madrasta grávida. — Ela fala com o pai todos os dias, por que tem que demorar tanto hoje? — Resmunga Sarah, encostando-se bruscamente em seu banco.

— Bom, ela não viajou para a casa do pai durante as férias esse ano, então acho que isso faz sentido... — Cassie argumenta do banco de trás, tentando encaixar os brincos nos furos certos da orelha sem a ajuda de um espelho, o que é impressionante considerando a quantidade de furos que tem em sua orelha.

Sarah revira os olhos, como se não achasse a justificativa válida. Começo a suspeitar de que parte de seu mau humor venha do fato de que Daisy e o pai ainda se mantêm próximos, mesmo após a separação de seus pais, enquanto Sarah não tem notícias do pai há meses, ou até anos, apesar de seus pais não serem exatamente divorciados.

Ela suspira alto e liga o carro. Consigo ver sua paciência se esgotando com rapidez.

— Daisy, você tem dez segundos para entrar na droga do carro antes que eu te deixe para trás. — Sarah abaixa novamente o vidro e fala como se fosse o último alerta.

Não sabemos ao certo se ela está falando realmente sério, mas porque sabe que existe uma possibilidade de que esteja, Daisy arregala os olhos e se despede do pai às pressas, saltando para dentro do carro, preferindo não abusar do bom senso de Sarah quando sua paciência está curta.

— Finalmente! — Sarah exclama, em tom dramático, começando a dirigir imediatamente, mas Daisy não parece se abalar com sua irritação. Com um sorriso estampado em seu rosto, ela se inclina entre o vão dos bancos da frente e deposita um beijo na bochecha de Sarah, como quem diz que sente muito. Isso a faz revirar os olhos, mas dessa vez, sorrindo.

— Que comece a festa! — Daisy exclama por fim, nos trazendo uma animação contagiante.

Cassie coloca sua playlist de festa e Sarah dirige com toda a sua falta de habilidade pela estrada escura, cheia de curvas e cercada por árvores em ambos os lados, nos levando até a casa de Dylan. Se não soubéssemos para onde estamos indo, provavelmente nunca chegaríamos lá. As árvores ao redor parecem dificultar ainda mais o campo de visão, mas Sarah não parece estar reclamando, então prefiro acreditar que ela tem tudo sob controle.

Abaixo o vidro e deixo a sensação de liberdade me tomar por completo. O vento fresco bagunça meu cabelo, mas não me importo. Sinto estar voando livremente pelo céu, longe de tudo o que me preocupa, e não me obrigo a voltar para a Terra até nos aproximarmos da casa de Dylan, que é monstruosamente grande, feita de madeira e vidro, com duas ou mais entradas e um enorme jardim, onde os carros estão estacionados em fileiras mal-organizadas.

Apesar de já termos estado aqui antes, admiramos mais uma vez a magnitude da casa, repleta de luzes piscantes. É uma casa digna de se impressionar mais de uma vez. Fica em uma área privilegiada de Redgrove, um pouco mais afastada do centro, onde os jardins são enormes e arborizados, e todas as casas parecem ter sido retiradas das melhores revistas de arquitetura, todas grandes e refinadas, ocupando um enorme espaço que jamais poderiam ocupar se fossem próximas do centro da cidade.

— Minha nossa... — Cassie murmura, admirada, mostrando que não fui a única a esquecer de como a casa era enorme. — Sua casa não deveria estar aqui? — Ela fala à Sarah, numa tentativa de provocá-la.

Sarah faz uma careta.

— Até parece. Minha casa não é tão grande quanto as casas daqui. — Responde, como quem realmente acredita no que está dizendo.

Cassie arqueia as sobrancelhas, mas não diz nada.

— Além do mais, — Sarah continua. — conseguem imaginar como deve ser um inferno ser vizinha de Dylan?

Somos obrigadas a concordar. Dylan não carrega o título de maior festeiro sem uma razão, por isso, morar próximo de sua casa não deve ser algo fácil. Olho ao redor e noto que a maioria das luzes das casas estão apagadas, o que me faz pensar que os vizinhos talvez sejam do tipo pessoas-bem-sucedidas-que-dormem-cedo, e portanto, devem simplesmente odiar as festas que Dylan constantemente dá.

Sarah estaciona o carro de forma tão precária quanto os outros, e caminhamos lado a lado em direção a entrada, quase nos espremendo umas nas outras, embora haja espaço o suficiente ao redor para andarmos livremente. A música aumenta conforme nos aproximamos, de modo que mal consigo ouvir o que Cassie está dizendo, mesmo estando bem do meu lado.

Dylan está parado na porta, bloqueando a entrada com uma mesa completamente lotada de pequenos copinhos cheios de vodka. Ele ri histericamente de algo que disseram do lado de dentro da casa, e é impossível não notar que ele está completamente bêbado, porque seu hálito cheira a álcool e ele fala de maneira arrastada. Talvez tenha virado mais shots do que distribuiu, a essa altura.

— Ei! Que bom que vieram! — Exclama quando nos vê, alto o suficiente para garantir que será ouvido. — Sejam bem-vindas à festa dos formandos. Mas antes... — ele aponta para um cartaz escrito à mão com uma letra praticamente ilegível anunciando que a entrada só é permitida após um shot de vodca.

Sem hesitar por um segundo, Sarah pega um copinho na mesa e vira em um piscar de olhos. Dylan arqueia as sobrancelhas, parecendo impressionado com seu rápido movimento e com a ausência de expressões em seu rosto, como se tivesse acabado de virar um copo de água.

— Impressionante. — Ele sorri de lado.

Ela dá de ombros.

— Você se impressiona fácil demais.

Dylan solta um riso bobo.

— E quem não se impressionaria com você? — Responde, rápido demais, o que faz com que eu me espante. Minha expressão fica confusa enquanto meus olhos viajam do rosto de Dylan, de olhos preguiçosos e sorriso bobo, para o rosto de Sarah, inexpressivo, provavelmente por já estar acostumada com garotos dando em cima dela o tempo todo.

Sarah devolve o copinho vazio à mesa, aproximando seu rosto do dele de um jeito totalmente provocativo. Os olhos de Dylan descem rapidamente até os lábios de Sarah, e então voltam até seus olhos. Cassie e eu trocamos olhares discretos quando a distância entre os dois fica quase inexistente. Estreito os olhos, estranhando toda a situação.

— Não vai me deixar entrar? — Ela pergunta, por fim, e, sem tirar os olhos dela, Dylan desliza para o lado, liberando a entrada.

Sarah sorri e cruza a porta, esperando por nós apoiada no batente. Viramos os shots juntas, a fim de acompanhá-la para dentro da festa.

— O que foi aquilo lá fora? — Eu a questiono, assim que tenho a oportunidade.

Ela me olha como se não soubesse do que estou falando.

— Vocês dois estavam... — tenho dificuldade de encontrar o termo certo para o que havíamos acabado de presenciar — ...flertando de um jeito bizarro?

Seu rosto inteiro parece se contorcer com a ideia.

— Eca! Não! — Exclama. — Só estávamos brincando.

Não tenho certeza se acredito, mas ela não parece se importar o suficiente para tentar me convencer de coisa alguma.

— Vou até o jardim, você vai ficar bem? — Pergunta, aproximando-se do meu ouvido para que eu possa ouvi-la.

Assinto.

Sarah agarra o braço de Daisy e as duas desaparecem rapidamente em meio a todos aqueles jovens na sala mal iluminada, enquanto Cassie e eu ficamos paradas em um canto, admiradas com a quantidade de gente dentro da casa. O sofá da sala está cheio de casais se agarrando e jovens solitários fumando, e, apesar do ar abafado do lado de dentro, as pessoas dançam coladas umas nas outras, segurando copos de bebida, e falando coisas praticamente inaudíveis por conta da música alta.

Quando me dou conta de que estamos paradas há tempo demais, saio em busca de algo para bebermos. Mergulho na multidão e caminho pelo corredor quase intransitável, abrindo caminho entre as pessoas distribuindo cotoveladas. Não é o método mais gentil, mas funciona bem.

Na cozinha, uma garota está sentada no balcão, se agarrando com um cara que eu nunca vi na vida, mas não perco muito tempo prestando atenção neles, assim como as pessoas ao seu redor fazem. Vejo também Colin Wright, bebendo cerveja de um barril, de cabeça para baixo, com um anel ridiculamente grande preso em seus dedos e a camisa amarrada na cabeça, como se fosse uma bandana. Ele não parece tão atraente agora. Não entendo de onde tiram essa ideia de que beber álcool de cabeça para baixo é uma boa ideia. Assim que seus pés voltam ao chão, de alguma forma, seus olhos me encontram em meio a todas aquelas pessoas, e ele me lança um sorriso preguiçoso. Nunca tenho certeza do que seus sorrisos significam, e não gosto muito disso.

— Olha só o que você perdeu! — Ele exclama, de braços abertos, cheio de si.

Arqueio as sobrancelhas. Apesar de saber bem do que ele está falando, finjo que não sei. Mas sei que com certeza não perdi nada. Tento sorrir da forma mais esnobe que consigo, e dou-lhe as costas, como se nem tivesse notado sua presença ali.

Sem parar para prestar muita atenção no que estou fazendo, pego a garrafa mais próxima de mim e encho dois copos com uma bebida rosa de cheiro forte, e saio da cozinha o mais rápido possível.

Abrir passagem entre as pessoas enquanto carrego copos cheios de bebida em minhas mãos é uma tarefa ainda mais difícil. Apesar de ser o mais cuidadosa possível e me contorcer completamente para não esbarrar nas pessoas, elas não parecem ter o mesmo cuidado, e quando finalmente chego até Cassie, nossos copos antes cheios já estão pela metade, e grande parte do líquido foi parar na minha blusa.

Quando vê meu estado, ela ri.

— Acha que isso vai deixar uma mancha? — Pergunto, me lembrando de que a blusa que estou usando na verdade é de Sarah.

— Para o seu bem, acho melhor que não manche. Sarah te mataria. — Responde, rindo. Sarah tem apego emocional a cada peça de roupa que possui.

Ela vira o copo de uma vez, e faço o mesmo. Sinto o líquido descer queimando pela minha garganta, e faço uma careta logo em seguida. Cassie ri, zombando da minha falta de experiência com bebidas.

Em seguida, alguém coloca uma música que, para ser honesta, nunca ouvi antes, e Cassie logo se agita, agarrando meu braço e me puxando para o meio da aglomeração de pessoas no centro da sala escura, iluminada apenas por um bando de luzes piscantes. "Eu adoro essa música, vamos dançar!", ela exclama, de uma forma quase incompreensível. Nunca gostei de dançar, mas a sigo mesmo assim, sendo tragada pela multidão, onde todos dançam de forma desajeitada, bêbados, como se não houvesse amanhã.

Ainda segurando meu braço, ela começa a dançar tão estranhamente quanto os outros, me incentivando a fazer o mesmo. Olho em volta, envergonhada, até perceber que ninguém aqui se importa. Todos estão fora de si, preocupados demais em viver o momento para se importarem com o que os outros estão fazendo. Então fecho os olhos e danço. Danço, apesar de não ser a maior fã de dançar. Danço, apesar de uma parte de mim ainda ter vergonha de que alguém veja. Danço e vivo o momento como se esses fossem os meus últimos minutos na Terra.

Depois de três longas músicas, Cassie olha por cima do meu ombro e faz uma cara suspeita.

— O que foi? — Pergunto, tentando encontrar o motivo para sua expressão.

Ela dá uma risadinha.

— Colin está vindo aí.

Arregalo os olhos.

— Ah, droga! — Resmungo. — Vamos embora daqui. — Falo, tentando puxá-la em direção ao corredor, mas ela se mantém firme como uma rocha, me puxando de volta.

— Espere! Não quer nem saber o que ele tem para falar? — Indaga, curiosa.

— Não! — Exclamo, porque realmente não quero. Não há nada que Colin possa falar que possa parecer remotamente interessante para mim.

— Ah, qual é, Liz? — Ela reclama. — Olha só, eu vou até o banheiro e vocês ficam aqui conversando, está bem?

— Cassie, não! — Imploro, segurando seu braço com força.

— Lizzie, eu preciso fazer xixi! — Ela exclama, rindo. — Se as coisas ficaram ruins eu volto para te buscar — Fala, se afastando com um sorrisinho malicioso no rosto, e sei que está mentindo. Não vai voltar para me buscar. Vai encher outro copo com outra bebida e esquecer até mesmo de que eu existo.

— Por favor, não. Não me deixe aqui sozinha! Volte aqui! — Suplico, mas ela finge não estar me ouvindo, e continua se afastando, me lançando um beijo no ar.

Sozinha, sinto todo o ar se esvaindo dos meus pulmões. A multidão ao meu redor começa a se tornar um enorme borrão, esbarrando em mim o tempo todo, e começo a me sentir tonta. Talvez seja a bebida em meu sangue, me causando efeitos estranhos graças à minha tolerância comicamente baixa ao álcool, ou talvez seja o atordoante fato de que Colin está atrás de mim, mais uma vez.

Entendo que as intenções de Cassie são as melhores. Ela é do tipo de amiga que te empurra em direção a desafios que sabe que você nunca enfrentaria por conta própria, normalmente porque enxerga que você precisa e é capaz de lidar com aquilo. Na maioria das vezes, acabamos a agradecendo no final. Mas o que ela não entende é que esse com certeza não é um dos casos em que irei agradecê-la no final, e que agora, só preciso que ela fique ao meu lado.

Meu desespero aumenta conforme a vejo partir. Olho para trás e avisto Colin se aproximando. Nossos olhares se cruzam por um segundo, e decido que a coisa mais sábia a se fazer é fingir que não o vi e sair andando, como faço sempre que o vejo, desde o ano passado, quando ele me deu uma carona e suas mãos não paravam de tocar "sem querer" nas minhas coxas. Me senti tão constrangida que nunca tive coragem de contar a ninguém, nem mesmo às minhas amigas.

Eu me encolho e tento me misturar entre as pessoas, na esperança de que ele me perca de vista ou entenda o recado e simplesmente desista, mas ele mantém os olhos fixos em mim, independente das minhas tentativas de desaparecer. Reviro os olhos, pensando que se Colin dedicasse metade dos esforços que gasta comigo em qualquer outra coisa, seria excepcional nela.

Viro à direita e subo as escadas o mais rápido que consigo, desvencilhando-me das pessoas sentadas nela até chegar ao andar de cima, que para a minha surpresa, está quase vazio, exceto por duas garotas conversando na porta do banheiro. O corredor é estreito e bem iluminado, com portas e paredes brancas, onde alguns quadros coloridos se destacam.

A casa de Dylan é tão grande que parece não ter fim. Independente de quantas vezes já tenha estado aqui, nunca parece ser o suficiente para conhecer a casa inteira. Quanto mais eu ando, mais cômodos surgem.

Olho para trás. Nenhum sinal de Colin. Aparentemente, consegui despistá-lo.

Caminho até a última porta, onde as janelas possivelmente darão para os fundos da casa, no jardim. Abro-a, e a pouca iluminação do corredor revela um quarto escuro diante de mim, e sem pensar duas vezes, entro e fecho a porta de maneira silenciosa, abafando todo o barulho do lado de fora.

Apenas quando paro e respiro fundo é que sinto todo o peso do meu corpo recaindo sobre meus ombros e pernas. Por alguma razão, já me sinto cansada, e me sento na cama perfeitamente arrumada, me questionando se essa noite deveria mesmo estar sendo assim. Teoricamente, a festa de hoje deveria ser inesquecível, mas até agora, parece estar falhando em cumprir seu papel.

De repente, me vem à memória a primeira festa em que eu e minhas amigas fomos no ensino médio. Éramos todas calouras, e Sarah nos convenceu de que devíamos ir à festa de Max Stevens, apenas porque estava muito a fim dele. Max era um ano mais velho do que nós, mas agia como se já estivesse na faculdade. Era um babaca, bem como todos os outros caras com quem Sarah veio a se relacionar depois.

Sarah e Cassie não tiveram problemas em se enturmar, mas Daisy e eu passamos boa parte da festa sentadas na escada, observando as pessoas e nos perguntando se realmente estavam se divertindo ou se estavam apenas fingindo, como a gente. Naquele dia, todo o conceito de festas foi completamente destruído para mim, e levou aproximadamente mais duas festas até que eu começasse a me divertir de fato.

Estou tão distraída com meus pensamentos, que quase pulo de susto quando a porta atrás de mim se abre estrondosamente, revelando uma silhueta masculina que não consigo identificar no escuro.

— Quem está aí? — Indago, torcendo para que não seja Colin. Levo a mão ao peito para sentir meu coração acelerado.

O garoto acende a luz do abajur na mesa de cabeceira ao lado da cama, iluminando nossos rostos.

É Noah. Meu coração, já acelerado pelo susto, agora parece querer saltar para fora do meu peito.

— Sinto muito, eu não quis... — ele diz, fazendo uma pausa ao se dar conta de que sou eu, ficando brevemente sem reação. — não quis te assustar. — Completa.

Algo brilha em seus olhos claros. Talvez seja a luz do abajur, mas no fundo, torço para que seja outra coisa.

— Tudo bem. — Respondo.

— O que faz sozinha aqui? — Ele pergunta, demonstrando uma curiosidade genuína.

— Eu estava... me escondendo das pessoas. — É o que respondo, porque parece menos pior do que mencionar a obsessão de Colin por mim. Por alguma razão, a sentença sai pausadamente da minha boca. Ele parece causar um efeito estranho sobre mim, e eu perco totalmente o controle sobre mim mesma toda vez que ele está por perto.

Noah sorri.

— Não te julgo.

Nos encaramos em silêncio por longos segundos. Ainda parado na porta do quarto, consigo vê-lo ponderar se deve entrar ou sair.

— E quanto a você? — Pergunto de volta, discretamente revelando o meu desejo de que ele fique.

Ele levanta a mão direita, onde segura uma câmera.

— Dylan me mandou aqui para tirar fotos das pessoas no jardim. Daqui de cima posso ter uma visão bem melhor das coisas. — Ele fala, finalmente adentrando o quarto e se aproximando da janela que, como eu havia previsto, revela o jardim — Mas antes que você ache isso estranho, as fotos vão ser usadas no anuário. — Esclarece.

Dou risada.

Ele faz sinal com a cabeça para que eu me aproxime da enorme janela de vidro junto dele, para que possa entender do que ele está falando, e assim o faço. Ele tem razão: daqui de cima podemos ver tudo, e é incrível. O jardim da casa de Dylan é quase tão grande quanto o lado de dentro da casa, com uma piscina enorme, cheia de luzes coloridas que causam um efeito moderno na água. Podemos enxergar toda a bagunça que acontece ali, uma boa parte das árvores que cercam a estrada até sua casa, e até mesmo uma parte dos jardins igualmente enormes dos vizinhos. Não sei explicar a sensação que sinto ao notar que aquelas pessoas não fazem ideia de que estão sendo assistidas por nós. Sempre agimos de forma diferente quando achamos que estamos sozinhos, mas daqui de cima, podemos ver as pessoas de verdade, quem realmente são quando não sabem que estão sendo observadas.

Por um segundo, tento relembrar dos poucos minutos em que estive lá embaixo, me questionando quem eu era enquanto achava que ninguém estava me observando, mas afasto o pensamento rapidamente.

Em meio à multidão, avisto Daisy e Cassie dançando juntas de forma desajeitada, ambas felizes. Cassie detesta dançar sozinha, por isso sempre arrasta uma de nós para a pista com ela. É uma das coisas que eu mais gosto nela.

Enquanto isso, encontro Sarah jogando beerpong com Dylan e um bando de garotos do colégio, e parece estar ganhando de lavada, pois está com aquela expressão de vitoriosa que usa quando sabe que está prestes a vencer em algo, e que quaisquer esforços que qualquer um faça contra ela, irá falhar. É uma expressão um tanto intimidadora, para ser honesta. Ela ergue os braços e grita algo inaudível, comemorando quando a bolinha acerta em cheio um copo na outra ponta da mesa. Sem perceber, solto um riso, quase comemorando junto dela.

Noah leva a câmera até a altura dos olhos e tira algumas fotos, enquanto eu o observo. Ele franze o cenho, e seus olhos azuis e brilhantes estão tão concentrados em um ponto fixo que quase parecem perdidos. Sua expressão é séria e imóvel, exceto por sua respiração, lenta e quente, que embaça um pouco o vidro da janela e faz com que ele dê um pequeno passo para trás. Com o canto do olho, ele me vê fitando-o, e eu desvio o olhar. Tento não deixar o constrangimento tomar conta de mim.

Ele solta um riso tímido.

— Quer tentar? — Pergunta, me oferecendo a câmera.

Sempre gostei de fotografia, mas nunca foi algo ao qual já dediquei meu tempo. No fundo, acho que sempre tive medo de tentar e descobrir que sou péssima nisso, o que seria um tanto frustrante. Mas recusar algo vindo dele nesse momento parece tão impossível que acabo cedendo e decidindo me arriscar.

Estendo a mão e pego a câmera, e ele sorri, passando os braços ao redor de mim para me ajudar a posicioná-la corretamente diante dos olhos, guiando minhas mãos pela lente. Sentir a respiração dele tão próxima de mim me causa uma sensação que não sei explicar, e as batidas do meu coração aceleram tanto que quase consigo ouvi-las. Assim que me ensina rapidamente o necessário para que eu possa tirar uma boa foto, ele se afasta. Sinto um frio na barriga de repente. No fundo, gostaria que ele tivesse ficado.

Concentro-me em capturar algum detalhe quase imperceptível.

Ao fundo, encostada na parede, flagro Laura Burton, uma garota baixa e magricela, de pele pálida e longos cabelos loiros que cobrem metade de seu rosto, sorrindo. Levo um segundo para absorver a imagem diante de mim, já que ninguém nunca viu essa garota sorrir. Ela costuma andar pelos corredores da escola sozinha, de cabeça baixa, evitando qualquer tipo de contato, por alguma razão que desconhecemos, por isso, começou a passar despercebida — mas hoje não.

Tiro a foto, eternizando o momento, e a mostro para Noah, que sorri, parecendo surpreso.

— Legal! Você tem bons olhos para isso.

Dou de ombros e sorrio, tentando não parecer feliz demais com o elogio.

— Obrigada.

Permaneço próxima dele por mais alguns minutos, observando as pessoas se divertindo no jardim, e, de vez em quando, desviando o olhar para ele, da forma mais discreta possível. Tenho a impressão de que ele ficou ainda mais alto durante as férias, e com certeza, ainda mais bonito. Ou talvez eu tenha sentido falta de estar assim, tão perto dele a ponto de conseguir sentir o cheiro do seu perfume. Apesar de saber porquê eu havia me afastado, é fácil esquecer quaisquer que fossem os motivos quando estou perto dele, e, apesar de saber que eu lhe devo algumas explicações — conversa a qual nós dois estamos claramente ignorando —, temo o momento em que o assunto irá surgir, então tento, desesperadamente, iniciar outro tópico.

— Há quanto tempo tira fotos? — Pergunto de repente, me sentando no banco da janela.

Ele abaixa a câmera novamente.

— Desde que consigo me lembrar. Devo ter herdado isso do meu avô. Ele adorava fotografias. Sua casa era repleta de quadros de fotos, algumas famosas, outras que haviam sido tiradas por ele mesmo. Quando fiz sete anos, ele me deu a minha primeira câmera, e todos os fins de semana me levava a algum lugar diferente, para tirarmos fotos juntos. Ele acabou me ensinando tudo o que sei sobre o assunto. — Ele faz uma pausa, e solta um riso triste. — Sinto falta dele.

Fico sem saber o que dizer, e há muito tempo aprendi que, na falta de palavras, é sempre melhor optar pelo silêncio. Contento-me em lhe lançar um sorriso solidário, ao qual ele retribui, se sentando ao meu lado antes de continuar.

— Mas com o tempo, aprendi a gostar de fotografia por conta própria. Gosto do fato de podermos eternizar alguns momentos. Eternizaríamos muitos, se soubéssemos que seriam os últimos...

Ele levanta os olhos para mim e nos encaramos em silêncio por alguns segundos. De alguma forma, sei que está chegando o momento de falarmos sobre o que temos evitado desde que chegamos aqui, ou, no meu caso, desde que aconteceu. De qualquer forma, um de nós teria que tocar no assunto em algum momento, e, para ser honesta, me sinto até aliviada que Noah esteja assumindo esse papel.

— Liz... — ele sussurra, seu rosto próximo do meu. Consigo ver uma certa inquietude em seu olhar, apesar da pouca iluminação no quarto. Noah abaixa a cabeça e engole em seco, como se ponderasse por alguns segundos se deveria mesmo perguntar o que realmente quer perguntar. — Pode me explicar o que aconteceu depois daquele dia? Eu... eu achei que ficaríamos bem. — Ele questiona, olhando para mim com receio e cuidado, como se achasse que a qualquer momento eu pudesse sair correndo.

Imediatamente sou tomada por memórias daquele dia. Era o último dia de aula antes das férias de verão, e Noah e eu decidimos matar as últimas três aulas para irmos a um show de artistas locais em um pequeno bar em Redgrove. Esperamos até o sinal tocar e os corredores se encherem de gente indo e vindo de um lado para o outro, para que pudéssemos passar despercebidos pela porta principal. Gary, o segurança do estacionamento, concordou em fingir que estava dormindo profundamente se deixássemos vinte dólares em sua caixinha. Achei um abuso de sua parte, mas concordamos.

Nossas expressões estavam mais leves do que haviam estado durante todo o ano, porque as provas finalmente haviam acabado e os trabalhos haviam sido entregues com sucesso. Não tínhamos nada com o que nos preocupar. Noah finalmente conseguiu fazer com que eu ouvisse The smiths, após praticamente um ano inteiro implorando para que eu escutasse, sem sucesso. Ele cantava empolgadamente junto com a música no rádio, vez ou outra me lançando olhares, e eu ria, envergonhada, enquanto eu me dava conta de que aquela era a primeira vez que eu entrava em um carro com ele, mas tudo parecia tão normal e familiar, que era como se acontecesse todos os dias.

Dirigimos por pouco tempo, e por fim, paramos em um bar mal iluminado que ficava entre duas lojas no pequeno centro da cidade. Passava despercebido porque raramente se encontrava aberto durante o dia. Foi a primeira vez que pisei naquele lugar. Apesar de ser relativamente escuro, até era um ambiente agradável. Não estava muito cheio. Tinha no máximo quinze pessoas espalhadas em pequenas mesas, balançando a cabeça no ritmo das músicas. Não foi o show mais agitado do mundo, mas para mim, foi o melhor show que eu já havia presenciado, já que não foi necessário me enfiar em meio a uma multidão de gente desconhecida e agitada, sem sequer conseguir ouvir a voz dos artistas.

Nas duas últimas músicas, o vocalista convidou todos a se levantarem e se aproximarem do palco para dançar. Fiquei feliz de ver que as pessoas realmente atenderam ao pedido, e, por alguns instantes, achei que só ficaríamos sentados observando as outras pessoas dançarem. Mas então, Noah me estendeu a mão, e, sinceramente, recusar seu convite parecia quase impossível.

Nos desvencilhamos de algumas mesas até chegarmos na frente do pequeno palco, junto das outras pessoas. Tive a impressão de que algumas delas nos receberam com um sorriso suave de "bem-vindos à pista". De acordo com o ritmo da música, e seguindo exatamente o que os outros estavam fazendo, Noah levou suas mãos até a minha cintura, e eu, até os seus ombros, fechando-as em volta do seu pescoço. Senti minhas bochechas corarem quando ele me puxou para perto de si e olhou no fundo dos olhos. Mas de repente, tudo aquilo pareceu certo. Lenta e naturalmente, nossos rostos se aproximaram um do outro, quando Noah, receoso, se curvou e me beijou. Apesar do choque inicial, não me afastei. Passei muito tempo desejando aquilo. Então o beijei de volta, nossos lábios pressionados um contra o outro em meio a o que, naquele momento, pareceu uma multidão.

Respiro fundo. Lembro-me da conversa com Sarah no banheiro. Suas palavras ecoam de um lado para o outro na minha cabeça, e me sinto meio tonta sob a perspectiva de começar a dizer toda a verdade.

— Noah, eu sinto muito. — É só o que eu consigo dizer no momento. Me sinto tão constrangida e confusa que nem sei como começar a me explicar. No entanto, seu olhar denuncia que ele espera ouvir mais do que apenas uma desculpa, o que eu acho justo depois dos últimos meses.

— Olha só, Liz... — ele começa a falar, sentando-se de lado na janela. Tiro os sapatos desconfortáveis que Sarah havia me emprestado, me sentindo imediatamente aliviada e me sento de lado também. — Sempre gostei de você. — Ele admite, olhando em meus olhos — Talvez até antes de você ao menos saber quem eu era. Não te culpo por isso. Eu era baixinho e era difícil me identificar no meio de tantas crianças. — Dou risada — Mas somos amigos há quase um ano. Não é tanto tempo, eu sei. Mas esperava que à essa altura, você pudesse ser honesta comigo. Esperava que pudesse me dizer o que realmente sente, ao invés de me evitar por quase dois meses inteiros...

Ouvi-lo falar essas coisas é como levar um soco no estômago. Mesmo assim, permaneço exatamente onde estou, em silêncio, enquanto o escuto terminar de ser honesto comigo como eu não tive coragem de ser com ele, e pensando no quão egoísta tenho sido, embora essa nunca tenha sido a minha intenção.

— Eu não me sentiria tão mal se você tivesse dito que queria que fôssemos só amigos quanto me senti com a sua ausência sem explicações. — Ele conclui.

Respiro fundo novamente. Sempre tenho que lembrar a mim mesma de respirar fundo em conversas como essa. Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e me aproximo um pouco dele. Ele não se afasta.

— Noah, não é nada disso... só é complicado. Não tem a ver com eu não gostar de você ou querer ser só sua amiga. Na verdade, gosto tanto de você, que me faz sentir coisas que eu nem sei explicar. — Admito, com o coração acelerado, e ele sorri. — Eu só... me assustei. Não por ser você, mas por ser... eu sei lá, o primeiro garoto de quem eu realmente gosto... — sinto que estou me atrapalhando ao tentar encontrar as palavras certas para me expressar, então simplesmente decido deixar assim, enquanto encaro minhas mãos e mexo freneticamente nos anéis em meus dedos.

— Seu primeiro... namorado? — Ele pergunta, com as sobrancelhas arqueadas, mas é como se já soubesse.

Dou de ombros.

— Bom, se prefere usar esse termo...

Ele ri.

— Por quanto tempo vai afastar as pessoas por isso?

Faço cara de pensativa.

— Até que alguém lute o suficiente para ficar?

Noah sorri, agora com uma certa determinação em sua expressão.

— Tudo bem, olha só... — ele também se aproxima de mim, ficando agora perto o suficiente para que eu consiga sentir sua respiração quente próxima de mim — Não temos que fazer nada que você não esteja pronta para fazer. Não precisamos apressar as coisas ou fazer disso algo assustador, quando, na verdade, pode ser bem simples. Gosto de você, e você gosta de mim, e podemos simplesmente gostar um do outro e estar com o outro.

Gosto de como tudo parece mais simples da forma como ele coloca.

— Isso parece... bom. — Não consigo deixar de sorrir diante da ideia — Sinto muito por ter sido egoísta com você. Eu devia ter me explicado antes, ao invés de ter evitado e desaparecido. — Digo, olhando em seus olhos que parecem brilhar mesmo no escuro.

Ele sorri, e então afasta uma mecha de cabelo do meu rosto, e antes que eu me dê conta, estamos nos beijando. Talvez eu o tenha beijado primeiro, ou talvez ele tenha me beijado. Para ser honesta, isso já não importa. Apenas tento me aproximar ainda mais dele, apesar da distância entre nós já ser quase inexistente. Ainda assim, não parece ser o suficiente. Neste momento, percebo o quanto havia sentido falta dele, do seu cheiro, do seu gosto, de tocar os cachos em seu cabelo e de tê-lo tão perto de mim a ponto de sentir nossos corpos trocando calor. Seus lábios macios tocam os meus com intensidade, descendo em seguida pelo meu pescoço, enquanto suas mãos agarram minha cintura me puxando para mais perto. Por alguns segundos, não consigo pensar em absolutamente nada.

E então meu celular apita com uma mensagem.

Depois outra, e mais outra, e mais outra, e quando penso que acabou, ouço o inconfundível toque do meu celular, e sou obrigada a atender antes que fique constrangedor.

— O que foi? — Rosno, irritada pela interrupção.

Do outro lado da linha, ouço Sarah perguntar algo indecifrável, talvez pelo barulho no andar de baixo ou pelo fato dela estar um pouco alterada.

— Não consigo te ouvir! — Exclamo, na esperança de que ela consiga.

Ela repete a pergunta, quase berrando.

— Onde é que você se meteu? Estamos te procurando há um tempão! Não te achamos em lugar nenhum.

Ela costuma ser exagerada, por isso quando diz que está fazendo algo "há um tempão", desconfio.

— Estou no andar de cima — Digo, também em voz alta.

— O que?

— Estou no andar de cima! — Repito, começando a ficar irritada com o fato de não conseguirmos nos ouvir.

— Não consigo te ouvir! — Ela exclama por fim, em tom de desistência. — Só apareça aqui na sala, está bem?

Ela desliga o telefone e a responsabilidade de encontrá-las fica oficialmente em minhas mãos.

Bufando, começo a tatear o chão em busca dos sapatos de Sarah, mas não consigo encontrá-los de forma alguma no escuro do quarto. Eles parecem ter sido engolidos pelo carpete, e concluo que encontrá-los levará mais tempo do que eu planejo gastar em sua busca.

Reviro os olhos, irritada. Enquanto isso, Noah me encara com um riso sarcástico estampado em seu rosto.

— Sério? Taylor Swift? — Ele zomba do toque do meu celular.

— Não se atreva a julgá-la. — Digo, ainda tateando o chão, mas encarando a expressão de divertimento em seu rosto.

— Eu jamais a julgaria. Estou julgando você. — Ele diz, rindo.

— Ela descreve os meus sentimentos desde os meus treze anos, o que faz de mim uma grande fã, está bem? Nesse caso, você está brincando com o fogo.

Ele ergue os braços em sinal de redenção, mas ainda ri.

Finalmente me levanto, desistindo de procurar os sapatos no escuro, mas nem um pouco a fim de acender a luz.

Meu celular apita com outras três mensagens de Sarah, e tenho a sensação de que as coisas estão acontecendo rápido demais ou ao mesmo tempo, e não estou tendo tempo para processá-las direito. Talvez eu ainda esteja sob o efeito da bebida que Cassie e eu havíamos tomado num longo gole. Em meio a minha confusão interna, puxo Noah para perto de mim e o beijo novamente pelo máximo de tempo que consigo, saindo do quarto logo em seguida. Quando abro a porta, o som, que antes estava abafado, me atinge como um balde de água fria. Acho que Noah, ainda sentado no banco da janela, me pergunta algo como onde estou indo ou se está tudo bem, mas não tenho certeza se ouvi direito. Apenas respondo "está tudo bem", enquanto saio correndo descalça feito uma doida pelos corredores.

Já estou quase alcançando a escada quando sinto uma mão agarrar brutalmente o meu braço e me puxar para trás, me jogando com mais força do que eu poderia prever contra a parede. Meus sentidos desaparecem por uma fração de segundos. Quando abro os olhos, me deparo com Colin.

É claro.

— Preciso que me escute. — As palavras se arrastam para fora de sua boca com uma certa dificuldade. No entanto, suas mãos ainda seguram meus braços com força, impedindo que eu me afaste ou sequer me mova, embora eu tente de todas as formas fazer com que me solte.

— O que você quer? — Pergunto, impaciente, olhando no fundo de seus olhos preguiçosos.

— Você está me enlouquecendo!

Franzo o cenho, confusa e incomodada com essa conversa e com o fato de que suas mãos estão agarrando os meus braços.

— Como é?

— Liz, precisa me dar uma chance! Não está curiosa para ver o alvoroço que causaremos na escola se aparecermos juntos finalmente? — Ele argumenta, e é a gota d'água que transborda o meu copo da irritação. É doloroso ouvir qualquer palavra que saia de sua boca.

Reviro os olhos, com preguiça demais para tentar lhe explicar o quanto estou me lixando para causar alvoroço na escola, e o quanto isso não é razão suficiente para que eu queira estar com ele ou lhe dar uma chance.

— Preciso ir, minhas amigas estão procurando por mim. — Respondo, com rispidez.

Um sorriso malicioso se forma em seu rosto.

— Tenho certeza de que você ainda tem alguns minutos.

Reúno todo o ódio que ele me causa enquanto tento soltar meus braços de suas mãos com força, ao passo em que ele se aproxima de mim, pressionando seu corpo contra o meu e ficando perto o suficiente para que eu consiga sentir seu hálito de cerveja. Embora lute com todas as forças para não deixar meu medo transparecer, acabo me encolhendo, me sentindo completamente indefesa enquanto tento impedir que o pânico tome conta de mim.

Seus lábios cercam os meus, e eu tenho que pressionar minhas mãos contra seu peito com toda a minha força para mantê-lo longe. O desespero toma conta de mim a cada segundo que se passa e me sinto como uma criança quando começo a ser invadida pela vontade incontrolável de chorar.

A porta do banheiro ao nosso lado se abre, e um garoto completamente bêbado cambaleia para fora. Tento implorar por ajuda, mas ele parece estar tão fora de si que mal percebe o que está havendo ao seu redor. Apenas se arrasta para a direção oposta, descendo os degraus da escada com dificuldade, passivo de levar um tombo a qualquer momento.

— Colin, por favor, me solte! — Suplico uma última vez, em uma tentativa frustrada de me livrar de suas mãos.

— Qual é, Liz? Sabe que eu sou maluco por você. — Ele resmunga, enquanto seus lábios tentam encontrar os meus, mas luto para evitá-lo.

É quando de repente, Colin é violentamente puxado para trás, perdendo todo o controle que tinha sobre mim, e o assisto bater com força contra a parede oposta do corredor. Caio sobre o chão do corredor, ofegante e assustada, quando suas mãos finalmente soltam os meus braços. Sinto lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto meu coração pulsa acelerado.

— O que acha que está fazendo, seu imbecil? Ela pediu para soltá-la! — Noah vocifera, segurando-o pela gola da camisa, de modo que os pés de Colin mal tocam o chão, mas isso não parece incomodá-lo. Está bêbado demais para sequer perceber a ausência de chão sob seus pés.

Engatinho como um bebê pelo corredor, para longe dele, aproximando-me da escada o mais rápido possível, mas ainda consigo ouvir sua resposta desdenhosa para Noah:

— Relaxa, cara. Só estávamos nos divertindo. Não é, Liz? — Indaga, com a voz arrastada, sem resquício algum de culpa. Consigo imaginar seu olhar presunçoso, o que faz o meu sangue borbulhar de irritação. Paro por um segundo, ponderando se devo me virar e respondê-lo com todos os xingamentos que conheço, mas não consigo reunir forças para olhar para trás e encará-lo novamente.

— Se chegar perto dela novamente, eu juro que mato você! — Noah exclama, com firmeza, e, por fim, o solta. Ouço o som do corpo de Colin se desmontando sobre o chão, e em seguida, passos se aproximando em minha direção.

Noah surge diante de mim, preocupado, e se abaixa ao meu lado. Pela primeira vez, consigo ver a raiva contida se espalhando pelo rosto de Noah. Suas bochechas ficam vermelhas e seus olhos mais gélidos do que nunca.

— Você está bem? Ele te machucou? — Pergunta, sério.

Nego com a cabeça, apesar dos meus braços estarem vermelhos onde Colin me segurou. Não consigo abrir a boca para respondê-lo. Não sei nem ao menos se quero respondê-lo. Enquanto parte de mim tenta pensar a respeito do incidente, a outra parte tenta desesperadamente afundar as recentes memórias no mais profundo esquecimento. Talvez eu simplesmente não queira falar disso nunca mais.

— Noah, e-eu... não consigo falar sobre isso agora, está bem? — Respondo, colocando-me de pé, apesar de sentir que minhas pernas estão trêmulas.

Ele também se levanta.

— Liz... — começa a dizer, mas antes que possa prosseguir, eu o interrompo.

Por favor! — Suplico, olhando-o no fundo dos olhos.

Noah parece prestes a responder algo, mas se detém. Seus olhos azuis passeiam pelo corredor ao nosso redor, de onde Colin já se retirou e caminhou para longe. Em seguida, volta a olhar para mim, e assente devagar.

— Tudo bem. Como quiser. — Ele murmura de volta, parecendo estar se esforçando para deixar de lado todas as questões que tem em sua mente no momento.

Limpo as lágrimas derramadas pelo meu rosto e me esforço para esboçar um sorriso de agradecimento, ao qual ele se esforça para retribuir.

E então, respiro fundo e dou-lhe as costas novamente, descendo apressadamente as escadas, me sentindo zonza e atordoada, tropeçando nas pessoas sentadas nela, que estão bêbadas demais para se importarem, por isso não me preocupo em me virar para pedir desculpas a cada uma delas.

O acontecimento e o aroma de suor, álcool e cigarro misturados com o calor do ambiente me deixam um pouco nauseada, mas ignoro a sensação em meu estômago e continuo em busca de Sarah, Daisy e Cassie. Ando sem rumo, procurando por elas em todos os cantos, esbarrando em quase todos pelo caminho. Por fim, as encontro juntas, rindo de algo na porta da cozinha. Sarah e Cassie viram uma dose de uma bebida que não sei o que é, mas o cheiro é tão forte que sinto de longe. Cassie cambaleia para trás, se apoiando nos braços de Daisy, que está rindo de algo que nunca descobrirei o que é, e Sarah se gaba por "nunca ficar bêbada", embora não saiba que já está mais alegrinha do que o normal.

— Aí está você! — Sarah exclama ao me ver. Felizmente não percebe nenhum resquício de abalo em meu rosto. — A gente te procurou pela casa inteira, onde você estava?

— Eu estava lá em cima. Não me procurou lá, espertinha.

Ela analisa o meu rosto com os olhos estreitos, e sinto meu corpo se enrijecer de tensão por um momento.

— Ai, meu Deus! Você beijou alguém! — Grita, alto o suficiente para que as pessoas ao redor possam ouvir, e sinto minhas bochechas corarem.

— Shhh! — Exclamo, envergonhada, mas ela ignora.

Daisy e Cassie não percebem, mas fazem a mesma expressão de choque, como se eu tivesse acabado de cometer o pior crime do mundo.

— Como você faz isso? — Questiono Sarah. Ela tem essa habilidade esquisita de descobrir o que andamos fazendo. Ela diz que herdou esse dom de sua avó, e como não existe nenhuma outra explicação para seu talento bizarro, acabamos engolindo a história.

— Não tente mudar de assunto, Elizabeth! Quem foi? — Ela pergunta mais alto, começando a ficar animada demais.

— Noah, é claro. — Respondo — Podemos mudar de assunto?

Elas trocam olhares e risinhos entre si.

— Daisy, nos deve vinte pratas. — Cassie diz, movendo o dedo entre ela e Sarah.

— O quê? Vocês apostaram de novo? — Pergunto, horrorizada — Bom saber que minha vida amorosa é uma boa fonte de renda e entretenimento para vocês.

Sarah e Cassie dão risada e tentam me consolar dizendo que usarão o dinheiro da aposta para me pagar um café, enquanto Daisy reclama por perder mais uma aposta. Ela não tem muita sorte com essas coisas, e jura que nunca mais apostará nada com nenhuma de nós.

Estamos todas entretidas com a conversa quando a sala, antes mal iluminada por luzes coloridas e piscantes, é acesa, e todos param de fazer o que estão fazendo e olham ao redor, tentando entender o que está acontecendo, incluindo cada uma de nós.

A luz, branca e intensa, invade meus olhos que estavam adaptados à escuridão, e tenho dificuldade em mantê-los abertos durante alguns segundos, e me sinto tão desnorteada quanto os outros.

Nos fundos da casa, alguém grita algo que da sala, é impossível de ser decifrado. Mas em questão de segundos, todas as pessoas que antes estavam bêbadas, se tornam sóbrias e começam a correr de forma desorganizada até a porta da frente, por onde havíamos entrado, e num piscar de olhos somos tragadas pela multidão que corre como se suas vidas dependessem disso.

Furiosa com a situação, Sarah agarra meu pulso e o de Cassie. Seguindo sua lógica, agarro o pulso de Daisy, e somos puxadas ou arrastadas na mesma direção em que todos estão indo, entre tropeços, puxões de cabelo e cotoveladas, e antes que possamos perceber, já estamos do lado de fora, respirando ar puro, mas ainda sem entender o que está acontecendo. Praguejo algo que nem mesmo eu posso ouvir direito quando Sarah pisa em meu pé descalço com seu salto. Só então me lembro de que deixei seus sapatos no quarto de cima, e, apesar de saber que ela pode me matar por isso, declaro que oficialmente, já é tarde demais para sequer cogitar voltar para pegá-los.

Olho em volta, e vejo todos correndo para dentro de seus carros e saindo apressados. Não hesitamos em fazer o mesmo. Corremos até o carro de Sarah, gargalhando alto por estarmos nessa situação sem ao menos sabermos o que está acontecendo. O ar enche os meus pulmões e lembro da sensação de leveza que senti naquele dia, dançando sobre a areia da praia. Passo a correr tão rápido que sinto que estou voando. Nesse momento, por alguma razão, me sinto tão feliz que acho que estou prestes a explodir.

Sarah abre o carro e pulo para dentro. Ela o liga às pressas e sai dirigindo pelo caminho em que todos estão seguindo. A maioria dos carros se espalhou pela saída, criando um pequeno congestionamento.

Quando ela aponta na direção oposta a casa, as luzes da sirene policial se refletem no espelho retrovisor do carro, e finalmente entendemos o porquê de toda a agitação.

Ainda carregadas de uma corrente incessante de adrenalina, olho para Cassie e Daisy no banco de trás, tão ofegantes quanto eu. Trocamos alguns olhares e disparamos a rir novamente.

— Por acaso alguém avisou que a polícia havia chegado? — Pergunto, eufórica, pousando a mão sobre meu coração acelerado, como se isso pudesse, de alguma forma, acalmá-lo.

— Talvez tenham avisado nos fundos, mas a música estava alta demais para que a gente conseguisse ouvir qualquer coisa do lado de dentro. Algum vizinho deve ter se incomodado. — Daisy responde, deitando-se no colo de Cassie como se estivesse cansada, mas ainda posso ver o sorriso pós-aventura estampado em seu rosto.

Cassie resmunga.

— Daisy, você está esmagando minha bexiga! — Reclama.

Daisy ri e tem a bondade de se levar.

De repente, num piscar de olhos, Sarah se desvia da corrente de carros em que estávamos presas, indo na direção oposta à fila de carros, passando novamente pelos policiais em alta velocidade, quase os desafiando.

— O que está fazendo? Os carros estão indo para o outro lado! — Cassie exclama.

— Não seja tola. Tem noção de quanto tempo iremos perder nessa fila de carros? — Ela rebate, e Cassie franze o cenho, confusa.

É aí que me lembro de que Sarah definitivamente não deveria estar dirigindo. Normalmente, o pai de Cassie tinha a bondade de nos buscar quando acabávamos passando dos limites. Mas em meio a todo esse caos, acabamos nos esquecendo de detalhes como esse.

— Não deveria estar dirigindo! — Aponto, embora a essa altura, não haja muito o que possamos fazer.

— Liz, não comece, está bem? Eu não estou bêbada. — Sarah responde, ainda insistindo na baboseira de que nunca fica bêbada. De qualquer forma, aperto o cinto e agarro o assento do banco com força, torcendo para não morrer até chegar em casa.

Embora a mudança repentina da rota não faça sentido algum, prefiro não questionar o que já foi feito. Na maioria das vezes, nenhuma de nós pode dizer o que se passa na cabeça de Sarah, e esse é um dos casos. Eu poderia me juntar à discussão sobre para qual lado deveríamos seguir, ou sobre como ela nem ao menos deveria estar segurando o volante, mas de repente me sinto alheia a tudo isso. Abaixo o vidro da janela, sentindo o vento bater em meus cabelos, fazendo com que eu me sinta viva. Durante todo o verão, me senti assim pouquíssimas vezes, por isso, decido aproveitar cada minuto deste sentimento.

Daisy se curva entre os bancos da frente e coloca uma música no rádio, e, como sempre, ela e Cassie começam a cantar no banco de trás. Sarah e eu trocamos olhares, sorrindo.

E então, em questão de segundos, Sarah desvia a atenção da estrada para olhar para trás quando uma figura surge de dentro das árvores que cercam a estrada, caindo na diante de nós, e me assusto. O indivíduo tenta se levantar a tempo, mas não parece estar em condições de dominar o próprio corpo. Tento avisar Sarah, mas as palavras não saem da minha boca. Apesar de acontecer de forma rápida como um flash, todo o momento passa em câmera lenta diante dos meus olhos.

De repente, já é tarde demais.

Fecho os olhos no momento da colisão. O carro bate com força contra quem quer que seja, fazendo um barulho estrondoso, como se houvéssemos batido contra uma parede de concreto. Não tenho certeza do que aconteceu com aquela pessoa, mas logo em seguida o carro rodopia cinco vezes, e tenho a terrível sensação de estar presa neste momento há muito tempo, como se estivéssemos rodando há uma eternidade e me sinto extremamente enjoada. Um grito agudo fica preso em minha garganta como uma enorme pedra de gelo, e embora minha boca esteja aberta, não consigo reproduzir som algum, apenas sinto todo o ar escapar de meus pulmões, que por alguma razão, parecem estar em chamas.

O momento acontece rápido demais, mas também parece durar por tempo demais. Só então Sarah, de alguma forma, retoma o controle sobre o carro e o faz parar brutalmente. Bato a cabeça contra o vidro, e com um suspiro involuntário, sinto o ar entrar de volta em meus pulmões.

Ficamos paradas, atônitas por um tempo, respirando de forma acelerada, tentando recuperar nossos sentidos.

— Vocês estão bem? — Sarah pergunta, olhando para mim e para as garotas no banco de trás. Embora ainda esteja agitada, ela é a primeira a sair do estado de choque, enquanto Daisy e Cassie estão pálidas, e não conseguem nem ao menos responder a sua pergunta. Apenas aceno com a cabeça.

Sarah desliga o carro, destrava o cinto e salta para fora, correndo até o corpo estirado no chão atrás de nós.

O corpo.

As palavras soam como um estalo na minha mente.

Olho para Daisy e Cassie no banco de trás, ainda assustadas, pálidas como se tivessem visto um fantasma. Destravamos os cintos e saímos do carro, ficando instantaneamente sóbrias, correndo na direção de Sarah, que está parada há alguns minutos diante do corpo jogado de barriga para baixo no meio da rua, nos impedindo de ver o rosto. Quando me aproximo mais dela tenho a impressão de ver seus ombros tremendo, como se ela estivesse chorando, e isso seria quase tão assustador quanto o que havia acabado de acontecer, porque ela nunca chora.

Paro ao lado dela, mas acho que ela não percebe, porque quando passo o braço ao redor de seus ombros, ela pula de susto. Ela me olha de uma forma que, pela primeira vez, não consigo dizer o que significa. Não entendo o que ela está tentando transmitir.

Cassie se ajoelha e checa o pulso do garoto jogado diante de nós. Já sabemos a verdade, mas torcemos para que seu coração ainda esteja batendo. Torcemos para que ainda haja esperança.

Mas não há.

Ela vira o corpo para cima para vermos o rosto. E lá está ele: Dylan Hastings, de olhos abertos, mas não vivo. Há tanto sangue espalhado por todo o seu rosto, que recuo para trás assim que vejo. Seus olhos, que mais cedo estavam sorridentes, agora já não expressam nada além de um enorme vazio. Sinto uma pontada no estômago. A qualquer momento posso vomitar.

Dylan Hastings está morto. E nós somos as responsáveis por isso.

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