17 (liz)
Quando finalmente abro os olhos depois do que pareceu uma eternidade adormecendo, vejo um ventilador de teto girando rapidamente sobre a minha cabeça. Faz um barulho estranho, e temo a possibilidade de que ele despenque sobre mim a qualquer momento.
Movo os olhos com dificuldade ao redor do pequeno cômodo branco. Tem cheiro de hospital, mas parece pequeno demais para ser um. Minha boca está seca e amarga, e sei que estou estirada sobre uma maca de metal porque minhas costas estão geladas e meu corpo todo está tremendo. Minha visão está um pouco embaçada, mas sinto um alívio imediato quando noto a presença de minhas amigas no quarto, sussurrando baixinho aos pés da maca, parecendo preocupadas. Quando percebem que estou recuperando a consciência, as duas suspiram aliviadas, aproximado-se de mim e segurando minha mão, na tentativa de me passar algum tipo de consolo, mas suas mãos estão mais trêmulas que as minhas, de modo que a única coisa que me passam é ainda mais nervosismo.
— Onde estamos? — Pergunto com dificuldade a elas.
— Na enfermaria da universidade. Acho que o irmão do Noah estuda aqui. Noah pediu ajuda a ele. — Sarah responde. Sua voz ainda soa abafada, como se eu estivesse debaixo d'água, o que me deixa um pouco nervosa com a ideia de nunca mais voltar ao normal, embora, no fundo, eu saiba que isso é meio irracional.
Franzo o cenho, confusa, mas não pergunto mais nada. Volto a encarar o ventilador no teto. O vento gelado faz meu corpo se arrepiar sobre a maca de metal.
Ao longe, ouço vozes gritando coisas meio sem sentido, até que a porta do cômodo se abre, e vejo Theodore e Noah caminharem para dentro, discutindo sobre algo que levo alguns segundos para processar.
— Que droga, Noah! Quando traz uma garota para uma festa, precisa garantir que ela fique viva!
— Não enche, Theo! Você acha que é fácil manter essas garotas vivas? — Noah rebate, irritado.
— Não interessa, droga!
— Ei, ei! Ela acordou! — Cassie informa, interrompendo a discussão.
Ambos dirigem seus olhos a mim, parecendo tão aliviados quanto minhas amigas. Theodore, se aproxima com o rosto sério, curva-se sobre mim e analisa cada centímetro do meu rosto em silêncio. Eu o assisto confusa. Ele puxa as minhas pálpebras para cima e aproxima o rosto do meu para olhar no fundo dos meus olhos.
— O que está fazendo? — Pergunto, mas ele não responde.
Sua respiração quente em meu rosto me incomoda, mas aceito a condição porque não sei exatamente o que está acontecendo e não tenho forças para me esquivar. Depois disso, ele posiciona uma lanterna pequena e forte em meus olhos, e tenho meu primeiro impulso: viro o rosto e coloco a mão nos olhos, tentando impedir que a luz me atinja novamente, mas ele rapidamente abaixa minha mão, e não tenho forças para levantá-la de novo. Aceito que a luz continue ali, mas tento evitar ao máximo olhar para ela.
Por fim, ele desliga a lanterna. Em seguida, levanta meu vestido até a altura do ferimento, e analisa o corte em minha coxa com atenção. Não parece muito impressionado. Por alguma razão, sinto uma onda de constrangimento tão grande invadir o meu corpo, que não consigo direcionar meu olhar a ninguém, exceto o teto branco sobre nós. "Que bom que depilei a minha perna" é o pensamento que me ocorre de repente, quando na verdade, essa deveria ser a minha última preocupação nesse momento.
Sarah e Cassie aglomeram-se em cima de nós, e tenho a impressão de que o ar fresco está se esvaindo da pequena enfermaria, com suas respirações quentes e olhares curiosos tão próximos de nós.
Ele suspira, virando-se para elas. Fica em silêncio por alguns segundos, e mesmo de costas para mim, consigo vê-lo ponderar maneiras de dar uma notícia ruim.
— Ela... vai precisar de alguns pontos. — Anuncia, e eu cairia para trás de susto se já não estivesse deitada. — Foi um corte profundo, e ela perdeu uma quantidade razoável de sangue.
Sinto meu coração disparar.
— Ela também bateu a cabeça quando desmaiou. — Cassie adiciona, nervosa.
— Ela vai ficar bem. — Theodore afirma. — Mas precisamos cuidar disso logo.
Arregalo os olhos.
— O que quer dizer com "precisamos"? — Questiono, assustada.
— Quero dizer que eu preciso. — Responde, calmamente.
Eu o encaro por alguns segundos, esperando que ele diga que está brincando, mas ele não diz. Então olho para minhas amigas, que parecem tão inseguras com isso quanto eu, e em seguida, para Noah. Seu olhar sério responde tudo o que preciso saber: aparentemente, isso vai mesmo acontecer.
Volto meus olhos para Theodore e continuo o encarando como se ele estivesse louco em pensar que pode simplesmente costurar a minha coxa. Não que eu tenha muitas opções no momento, mas tenho certeza de que essa não pode ser a nossa melhor solução.
Solto um riso, nervosa.
— Está brincando comigo?
— Ah, me desculpe. Parece que estou brincando?
Arqueio as sobrancelhas, levemente ofendida com seu atrevimento.
— Você está maluco se pensa que vou deixar você costurar a minha perna! — Exclamo, e ele solta um riso.
— E o que vai fazer exatamente? Sair correndo? — Ele zomba, e reviro os olhos.
Reúno forças para levantar o meu tronco. Apoio-me em meus cotovelos e, com um pouco de dificuldade, me sento na maca de metal, ficando cara a cara com Theodore. Ele me encara impassível. Sinto vontade de dizer um monte de coisas a ele, mas não consigo pensar em nada para dizer. Apenas sinto raiva, por alguma razão.
Então abaixo os olhos e finalmente consigo observar o ferimento sob uma boa luz. Parece ainda pior agora que posso enxergá-lo completamente. O sangue escorreu até a altura dos meus joelhos, e agora está espalhado e grudento.
— Ah, meu Deus, parece que a perna dela explodiu! — Sarah exclama, observando o corte pela primeira vez de perto. O comentário não ajuda muito.
Theodore revira os olhos.
— Está bem, preciso que todos vocês saiam. — Fala, assistindo as duas falharem em me passar tranquilidade.
— O quê? Nem pensar, nós queremos ajudar! — Cassie protesta, mas mal consegue olhar para o corte e todo o sangue sem fazer uma careta.
Theodore sorri.
— Eu sei. E vai ajudar muito se esperarem lá fora. — Ele rebate, e as duas abrem a boca para contestar, mas reconhecem que ele está certo.
— Você vai ficar bem? — Sarah me pergunta antes de soltar minha mão.
Apenas dou risada, porque a verdade é que não sei. De qualquer forma, aperto sua mão com força, como quem afirma que sim. E então, eu as assisto partir de braços entrelaçados, tão nervosas por mim quanto eu ficaria por elas se estivessem na mesma situação.
Noah permanece parado onde está, parecendo hesitante. Vejo a mandíbula de Theodore se contrair com força.
— Você também pode ir. — Ele fala em um tom vazio, sem se virar para observar o irmão, mas Noah parece incapaz de se mover para fora do cômodo. Ele encara de longe o sangue que se espalhou, parecendo culpado por ter permitido que isso acontecesse, mesmo que não tenha sido sua culpa.
— Tem certeza? — Noah pergunta, receoso.
Theodore vira-se para ele.
— Foi você quem pediu a minha ajuda. Agora, precisa confiar em mim.
Vejo Noah engolir em seco diante da única opção de confiar em seu irmão.
— Ela vai ficar bem, Noah. — Theo reafirma, finalmente voltando-se para ele quando percebe seu receio em sair. — Vou garantir isso.
Noah assente, como se apenas precisasse ouvir a frase mais uma vez para ter certeza.
— Me chame se precisar de mim, está bem? — Ele diz, aproximando-se de mim e beijando os meus lábios. Theodore revira os olhos diante da cena, mas nenhum de nós dá importância ao seu incômodo. Por fim, Noah caminha em direção à porta, como minhas amigas, e então ele se vai.
Agora, somos apenas eu e Theodore no pequeno quarto branco. Parece um pouco maior agora que estamos sozinhos. Evito olhar fixamente para ele ou iniciar qualquer tipo de conversa que possa levar ao mesmo fim que tivemos da última vez. Apenas levanto os olhos para ele quando sinto seus dedos afastarem gentilmente uma mecha de cabelo do meu rosto, colocando-a atrás de minha orelha.
— Como se sente? — Pergunta.
Dou de ombros.
— Um pouco tonta. Meio fraca. E enjoada. — Respondo, e ele assente como se isso fosse normal.
Em silêncio, ele se vira e caminha até a pequena pia para lavar as mãos. Engulo em seco, tentando digerir o fato de que isso vai mesmo acontecer.
— V-você já fez isso antes? — Pergunto, nervosa. Meu coração está tão acelerado que quase consigo ouvi-lo pulsando em meus ouvidos. A perspectiva de cuidar do buraco na minha perna já era ruim o suficiente antes, quando não sabia que teríamos que costurá-lo. A possibilidade deveria ter passado pela minha cabeça em algum momento, mas não tive tempo de pensar muito a respeito. Agora que sei, preferia não saber, porque a ideia de costurar minha pele me causa calafrios.
Theodore ri.
— Bom... sim... — responde, não parecendo muito certo sobre sua resposta enquanto pega uma caixa de materiais e medicamentos e separa os materiais necessários.
Arqueio as sobrancelhas.
— Tem certeza? — Insisto. Minhas mãos começam a tremer de repente enquanto o assisto colocar um par de luvas e começar a se aproximar com ferramentas o suficiente para realizar uma pequena cirurgia.
Ele sorri de lado, mas não responde. Ainda assim, puxa uma cadeira e se senta diante de mim, pronto para começar o procedimento.
Quando suas mãos se aproximam do ferimento, seguro-as com força, porque preciso muito de uma confirmação de que ele sabe o que está fazendo. Ele suspira, encarando minha mão sobre a sua.
— Liz, pode me deixar fazer isso aqui ou eu posso te levar ao hospital. Só não posso deixar esse corte aberto, ou vai sangrar até morrer. — Ele fala, sério, com suas mãos presas sob minhas mãos sujas de sangue. — Confie em mim.
Eu o observo em silêncio, hesitante.
— Tudo bem. — Sussurro por fim, soltando suas mãos. Apesar do medo que sinto, ele tem razão: de uma forma ou de outra, teremos que cuidar disso, e embora fazer isso aqui não me pareça a opção mais segura, ainda parece melhor do que ir ao hospital, onde teria de responder a um monte de perguntas que não sei bem como responder.
Theodore levanta novamente o meu vestido até a altura do corte para limpar o ferimento, e noto que as bordas do vestido estão completamente manchadas de sangue. Ele limpa o corte e a pele ao redor com um material úmido e gelado, com uma atenção impressionante, enquanto tento disfarçar o fato de que a ação me causa arrepios. Parece estranho que suas mãos estejam tocando minha coxa, quando nem mesmo as mãos de Noah estiveram ali, mas tento não pensar muito sobre isso. Não consigo passar muito tempo prestando atenção no que ele está fazendo porque assistir a tudo isso me deixa ansiosa e agitada, então percorro atentamente os olhos por cada ladrilho branco do cômodo, como se fosse a coisa mais interessante do mundo a se fazer. Não é uma enfermaria muito grande, mas o fato de ser bem iluminada a faz parecer muito maior do que realmente é.
Quando ele termina a limpeza, retira um frasco e uma agulha enorme de dentro da caixa.
Arregalo os olhos
— O-o quê é isso? — Pergunto, assustada. Meu coração acelera tanto que parece estar prestes a saltar para fora do meu peito.
— Anestesia local.
Comprimo os lábios e agarro a borda da maca de metal com força quando ele insere a agulha próxima ao ferimento, mas poucos segundos depois, já não sinto coisa alguma.
— Tudo bem? — Ele pergunta.
Assinto, mas agarrei a maca com tanta força que não sinto mais os meus dedos das mãos.
— Como sabe dessas coisas? — Pergunto, tentando desesperadamente me distrair quando o vejo retirar os fios de sutura de dentro da caixa.
Ele dá de ombros.
— Bom, eu estou estudando para isso, então... seria estranho se não soubesse o que fazer.
Arqueio as sobrancelhas.
— Como é? Você faz medicina ou algo do tipo?
— Exatamente. — Responde, sorrindo diante do meu espanto.
— Uau. Isso é... surpreendentemente legal.
Ele franze o cenho, mas ainda consigo ver um sorrisinho vaidoso no canto de seus lábios.
— Por quê a surpresa? O que achou que eu estudava? Música? Oh! Artes cênicas? — Brinca.
Curvo os lábios.
— Pode ser. Você tem a aparência certa para isso.
Theodore comprime os olhos e me encara como se não entendesse bem o que quero dizer com isso. Para falar a verdade, nem eu entendo muito bem o que quis dizer com isso. Quer dizer, ele certamente tem o tipo de aparência que seria capaz de atrair multidões de garotas. É alto e tem os ombros largos, e o cabelo e as sobrancelhas escuras se contrastam com os olhos acinzentados. O sorriso também é bonito, mas me deixa um pouco nervosa. Talvez pela confiança exacerbada que ele exala. Pessoas confiantes demais me assustam um pouco, e Theodore certamente sabe como usar seu charme com confiança para conseguir o que quer. Além disso, sem sombra de dúvidas é capaz de ter uma atitude babaca quando quer, bem do tipo que se espera de um rockstar. De qualquer forma, não penso muito nele. Não pensava antes de conhecê-lo, quando Noah apenas o mencionava superficialmente, e não pensei depois de conhecê-lo também. Era mais fácil evitar quando ele era apenas um nome, mas continuo não me permitindo pensar muito a seu respeito mesmo agora, que sei exatamente como se parece. É uma linha que não deve ser cruzada.
— Por que não me disse isso antes? — Questiono, tentando mudar de assunto. Sinto um enorme alívio por ele saber o que está fazendo, mas uma grande irritação por ter optado por não me contar que sabia esse tempo todo.
Ele sorri de lado, e uma covinha surge em sua bochecha.
— Precisa ter um pouco mais de fé nas pessoas, Liz.
Abro a boca, sem saber o que dizer.
— Eu... eu te odeio! — Exclamo.
Ele levanta os olhos para mim, sorrindo como se gostasse de me ver irritada.
— Cuidado, eu tenho uma agulha bem aqui nas minhas mãos. — Zomba, enquanto eu reviro os olhos e tento reunir todas as minhas forças para não chutá-lo entre as pernas. — Está bem, me desculpe. Foi divertido ver você surtar, mas eu sabia que dava conta de cuidar desse corte. Não tocaria nisso se não tivesse certeza de que podia te ajudar. E eu posso. — Responde.
Balanço a cabeça, inconformada.
— Você é muito babaca. — Respondo, mas estou sorrindo.
— E você parece ter uma habilidade inigualável para se meter em confusões. — Ele rebate, voltando ao trabalho. O fio cirúrgico atravessa minha pele pela primeira vez, e tento não focar no fato de que foi apenas o primeiro ponto e na agonia que isso me causa. É difícil ignorar as pequenas pinçadas que sinto em minha coxa quando o fio penetra minha pele, mas tento realmente focar minha atenção na conversa.
Dou de ombros.
— Nada que fuja dos padrões comuns. — Minto.
Theo não parece acreditar muito. Ele tem bons instintos.
— Então por que não me conta como conseguiu fazer um corte tão profundo como esse?
Fecho os olhos e balanço a cabeça, pensando no enorme trabalho que teria caso decidisse lhe contar a verdade.
— Acredite, você não vai querer saber.
— Só estou fazendo as perguntas que todo mundo faria.
Solto um riso.
— Estou na sala de enfermaria de uma universidade, tarde da noite. Não fui a um hospital justamente para evitar essas perguntas. — Rebato, reprimindo um gemido de agonia quando ele finaliza o primeiro ponto. Apesar de não sentir dor por causa da anestesia, ainda sinto o movimento dos fios de um lado para o outro, o que me causa calafrios.
Theodore suspira, fixando seus olhos cinzas sobre mim. Talvez seja a luz branca da enfermaria, mas seus olhos parecem mais claros agora, quase como se fossem transparentes.
— Devo me preocupar com alguma coisa nessa história toda? — Pergunta, sério.
É óbvio que sim.
Afasto uma mecha dos olhos, colocando-a atrás da orelha.
— Não. — Respondo, tentando soar sincera. Não conseguiria contar nos dedos todas as razões pelas quais ele deveria, na verdade, se preocupar. Ele tem sorte de estar fora de todo o nosso caos, embora me sinta mal por, de certa forma, tê-lo arrastado um pouquinho para o meio de nosso furacão essa noite.
Por um segundo, receio estarmos nos tornando pessoas altamente destrutivas, do tipo que estragam tudo o que tocam e destroem a vida das pessoas que cruzam nossos caminhos ao sugá-las para dentro de nossas confusões, como buracos negros.
Suspiro.
— Sinto muito por ter estragado sua noite. — Falo de repente, me sentindo mal por ele estar perdendo a festa para estar cuidar de um ferimento misterioso em minha perna.
Ele sorri, concentrado no que está fazendo.
— Não se preocupe com isso. Para ser sincero, eu já não me divirto tanto em festas como há alguns anos. Tudo parecia muito melhor na minha cabeça.
Tento formar um sorriso.
— É, acho que entendo o sentimento. — Digo.
— Mas obrigado por me fazer companhia hoje. Foi divertido. — Ele faz uma pausa, finalizando os últimos pontos em minha perna. — Bom, claramente foi melhor para mim do que para você.
Sorrio.
— É mesmo? Está se divertindo com o meu sofrimento?
Ele sorri de lado.
— Não, eu sinto muito por isso. É um corte bem grande. Pode causar incômodo durante alguns dias.
Assinto, porque já imaginava isso.
— Foram quantos pontos até agora? — Finalmente pergunto, sem conseguir olhar para minha própria perna.
— Quatro. — Ele responde, e já me parece assustador o suficiente. — Talvez precise de mais quatro.
Arregalo os olhos, tentando digerir o fato de que essa manhã saí de casa totalmente alheia ao fato de que mais tarde, voltaria com oito pontos e uma quantidade quase preocupante de sangue a menos. Também me ocorre que minhas últimas experiências fora de casa definitivamente não têm sido positivas, e talvez fosse mais simples se eu simplesmente decidisse não sair mais.
— Quando vi esse corte pela primeira vez, você estava deitada no banco de trás do carro, desmaiada e sangrando, e suas amigas estavam completamente histéricas. E eu pensei "eu sabia que essa garota com cara de boazinha seria boa em arranjar confusão".
Sorrio.
— Ei! Isso não é totalmente verdade. — Protesto, mas não soa honesto nem para mim.
Ele levanta os olhos para mim como quem não acredita, mas não diz nada para discordar. Apenas continua:
— Ficamos algum tempo discutindo sobre te levar a um hospital, mas no fim, viemos para cá. A glamurosa enfermaria da universidade de Rosefield. É quase como um hotel cinco estrelas. — Brinca.
— Deveríamos estar aqui? — Pergunto.
Ele dá de ombros.
— Bom... não.
— Theodore!
Ele abre um sorriso um tanto charmoso.
— Relaxe, não vamos ter problemas por causa disso.
Reviro os olhos. Odiaria que ele tivesse problemas por minha causa.
— Eu soube que a situação era séria quando Noah pediu a minha ajuda. — Continua — Ele nunca fez isso. Mas quando você se machucou, acho que ele não hesitou em pedir. Você deve mesmo ser muito importante para ele.
Abro um sorriso tímido, ao qual ele retribui, mas assisto seu sorriso desfalecer aos poucos.
— Aliás, eu... sinto muito pelo que disse mais cedo, na festa. Fui um idiota.
Não preciso que ele me diga sobre o que está falando, porque sei exatamente do que se trata.
Abaixo os olhos, encarando minha própria perna, envergonhada demais para olhá-lo nos olhos. O corte já não parece um ferimento tão ruim quanto antes, exceto pelo sangue seco ao redor.
— Tudo bem, você tinha razão. Fui uma idiota também. — Falo. — Eu não deveria ter me intrometido...
— Não. — Ele me interrompe como se houvesse uma certa urgência em admitir que estava errado enquanto tem coragem para dizer — Eu só me apavorei e... acabei te afastando. Eu só não estou acostumado com isso.
— Acostumado com o que? — Pergunto, confusa.
— Com alguém que se importe o suficiente para perguntar o meu lado da história. — Ele diz, e fico tão surpresa que não consigo responder. — Com alguém que realmente me dê o benefício da dúvida.
Ele levanta os olhos para mim, e ficamos nos encarando em silêncio durante alguns segundos. Fico absorvendo sua fala, mas antes que possa responder qualquer coisa, ele torna a falar:
— E, aliás, eu menti. — Admite. Acho que ele nota a minha confusão, porque logo esclarece: — Sobre me arrepender. Você me pegou de surpresa. Mas acho que eu não fico pensando muito nas coisas que não posso mudar. Isso me deixaria louco porque... se pudesse, acho que faria muitas coisas de um jeito diferente. Mas não posso. E, na verdade, só penso desse modo hoje porque as coisas foram exatamente como foram, mas... eu não me orgulho de tudo o que fiz no passado.
Assinto, porque entendo o sentimento, e invejo a sua capacidade de conseguir não pensar muito nessas coisas, porque em uma coisa ele está certo: é mesmo enlouquecedor.
— Então talvez se arrependa, afinal. — Aponto.
Ele para o que está fazendo para refletir por alguns segundos.
— É. — Fala, pensativo. — Talvez. Acho que sim. — Conclui, quase surpreso consigo mesmo.
Sorrio. É bom vê-lo finalmente baixar a guarda. Parece uma pessoa completamente diferente quando consegue admitir que estava errado.
— Sabe, eu tinha apenas três anos quando o Noah nasceu. — Começa a contar. — Não me lembro de quase nada antes disso, obviamente. Mas por alguma razão, tenho certeza de que me lembro do dia em que trouxemos ele para casa. Ele estava enrolado em um cobertor azul que costumava ser meu, e eu chorava porque o queria de volta, mas no fundo eu sabia que nunca mais seria meu.
Solto um riso.
— Ah, não. Por favor, não me diga que essa confusão toda é por causa de um cobertor de criança? — Zombo, tentando aliviar o clima da conversa.
Ele sorri.
— Era um ótimo cobertor, está bem? Seria muito justo. Mas não, não é. — Ele responde rindo, antes de continuar. — Enquanto nós crescíamos e ganhávamos consciência sobre o mundo ao nosso redor, eu comecei a perceber que... eu era diferente da minha família. Mas não era apenas um sentimento qualquer. Era um fato. Qualquer um podia notar. Quando estávamos lado a lado, ou em fotos de família, ficava muito nítido que... eu era mesmo diferente. Como um intruso, e não de um jeito bom. E eu não sabia o motivo, mas era um pouco... frustrante. Aquilo me irritava muito. Mas quer saber? Talvez esse fato nem me incomodasse tanto se não fosse pelo Noah. Ele era... frustrantemente perfeito. — Ele ri. Um riso de dor. — Uma mistura perfeita dos nossos pais. Sem razões para ter impulsos agressivos porque nunca precisou sentir que não pertencia a algum lugar. Nunca se sentiu ridiculamente diferente. Nunca precisou fazer consultas semanais com aquele psicólogo idiota da escola, ou de medicamentos. E eu o odiava por isso. Eu o odiava por não ser tão quebrado quanto eu. — Admite. Tenho a impressão de ver seus olhos se encherem de lágrimas, mas nenhuma delas chega a rolar para fora. Ele fala como se não sentisse orgulho de suas ações, mas como se ainda sentisse raiva o suficiente para que elas lhe parecessem plausíveis de alguma forma. Quase consigo ver as partes de sua mente se encarando em uma batalha longa e inconclusiva.
Theodore nem ao menos consegue me encarar enquanto confessa todas essas coisas. Seus olhos permanecem baixos, encarando os pontos em minha perna, apesar de não estar trabalhando em nenhum deles agora. Consigo ver a dor que o assunto causa nele, e não tenho certeza se quero continuar ouvindo. Não tenho certeza se quero que ele continue falando. Mas ele continua:
— Então... é, eu não me dava bem com o Noah. Nós brigávamos muito. Bom, eu brigava muito. — Corrige, com honestidade. — Ele era como um lembrete constante de que tinha algo de errado comigo. Eu só... não sabia exatamente o que era. E ainda levei alguns anos para finalmente descobrir. — Ele faz uma pausa, e recordo sua prévia relutância em se abrir comigo. Falar sobre isso parece ser mais doloroso para ele do que achei que seria. — Quando eu tinha uns treze ou catorze anos, estava fuçando nas coisas dos meus pais para ver se encontrava uma grana. Não sei nem o que pretendia fazer com isso na época, mas... só o que achei foram alguns documentos em uma caixa. De início não dei muita importância, mas logo me deparei com algo que chamou a minha atenção. Era o meu documento de adoção.
Arqueio as sobrancelhas, surpresa.
— O quê? V-você é...
— Sim, eu fui adotado. — Ele me interrompe antes que eu possa concluir o óbvio questionamento. — Não precisa agir como se fosse uma grande surpresa. Você já viu Noah e eu lado a lado. Não temos nada em comum.
Isso é verdade. Imediatamente me recordo da tarde em que ele foi até a escola, e de repente me sinto mal com a quantidade de minutos que dedicamos em reparar no quanto ele e Noah não se pareciam em nada.
Theodore suspira.
— A questão é que... por mais óbvio que isso devesse ser para mim, não era. E eu me lembro de sentir um turbilhão de coisas ao mesmo tempo. Eu me senti traído, e meio... sozinho. Todo o tempo eu sabia que havia algo de diferente em mim, e me odiava por não saber o que era. Me odiava por querer tanto ser como o resto da minha família e nunca conseguir. E o motivo finalmente estava ali. Mas eu não descobri de uma forma legal, com uma conversa sincera. Eu simplesmente encontrei as respostas da pior forma possível. E, caramba, eu era uma criança, Liz! O meu mundo inteiro entrou em colapso. Não era um mundo muito legal, de qualquer jeito, mas era o mundo que eu conhecia. E de repente eu não conhecia mais nada. De repente eu era a criança que nem conhecia os próprios pais e nem sabia de onde veio realmente. Eu não soube como lidar com isso muito bem, obviamente, porque daquele dia em diante, a coisa toda só piorou. Os casos de agressividade, falta de atenção, ansiedade. Tudo se tornou muito pior. Até culminar na minha expulsão, é claro.
Ele para de falar quando acha que já falou o suficiente. Engulo em seco, sem saber exatamente o que pensar disso tudo. Abro a boca para dizer alguma coisa, mas percebo que não sei exatamente o que dizer no final das contas. Suspiro, sentindo um enorme peso tomar conta do meu peito, preenchendo todos os espaços, e penso que é isso o que eu ganho por ser enxerida e querer saber de tudo, como se tudo fosse da minha conta. No entanto, a história parece ganhar uma nova dimensão. Soa diferente dessa vez. Embora ainda não goste do fato de ele ter descontado toda a sua raiva em Noah, consigo enxergá-lo além disso. Sinto que Theo quis que eu o enxergasse além disso, e por isso decidiu me contar essas coisas.
— Theo, eu... sinto muito por tudo isso. — Falo baixinho, e ele balança a cabeça, como se não fosse nada demais. Como se seus problemas não significassem nada apenas porque o mundo tem problemas maiores. Só então percebo que isso é um reflexo da maneira como se sentiu a vida inteira.
— Tudo bem, quer dizer... sou grato aos meus pais por terem me adotado, mesmo que, até hoje, eu não tenha certeza do contexto em que isso tudo aconteceu. Só... tem muitas lacunas. E ainda não consigo preenchê-las completamente. Mas isso já não me incomoda tanto quanto costumava incomodar.
Assinto, ciente de como lacunas sem respostas são capazes de assombrar qualquer um. Afinal, não é esse o verdadeiro motivo para eu e minhas amigas estarmos aqui hoje? Viemos em busca de respostas que preencham as lacunas daquela noite, embora sinta que tudo o que conseguimos foram mais e mais perguntas.
Em silêncio, ele finalmente costura o último ponto em minha perna. Por fim, enrola a região do ferimento com uma gaze, limpa os materiais e os guarda de volta na caixa, suspirando aliviado, bem como eu.
— Prontinho. Nova em folha. Ou quase isso. — Fala, e levanta o rosto para mim, com um sorriso fechado. — Sua pele vai absorver os pontos em uma ou duas semanas, então, evite procurar confusão até lá, e vai melhorar logo. — Recomenda.
Inclino a cabeça.
— Eu não procuro confusão! — Protesto. — É ela quem me procura. Eu apenas a sigo como se ela fosse um coelho branco.
Theo ri da péssima referência.
— É mesmo, "Alice"? E alguma vez isso já te levou ao país das maravilhas? — Indaga, cruzando os braços.
— Bom... não. — Admito, rindo.
Ele sorri de lado.
— Certo. Então recomendo que ignore o coelho branco da próxima vez que o vir. Ou pode acabar em uma enfermaria de segunda-mão com um médico que ainda não é formado, de novo.
Prefiro não mencionar que esse não é o pior lugar onde já estive. Para ser sincera, a floresta fria e escura, ou até mesmo o banheiro isolado onde tive um ataque de pânico mais cedo, me parecem muito piores se colocados em perspectiva com essa enfermaria minúscula.
— Mas caso não consiga evitar e acabe precisando de ajuda de novo... pode sempre me procurar.
Ele não sabe do que está falando. Mesmo assim, sorrio.
— Obrigada. — Agradeço, puxando as bordas do meu vestido para baixo novamente. Agora, quase sinto-me feliz por ele estar envolvido em toda essa bagunça, no final das contas, porque se não estivesse, seria muito pior. — Mas com todo o respeito, espero não precisar tão cedo.
Ele ri.
— Bom, não estou falando apenas nesse sentido.
Sinto minhas bochechas corarem, apesar de nem entender muito bem o que ele quer dizer com isso. Ficamos uma eternidade nos encarando, sem saber o que dizer em seguida, até ouvirmos batidas na porta. Nós nos viramos simultaneamente na direção de Sarah, encostada no batente com um olhar intrigado que vagueia entre o meu rosto e o de Theo.
— Oi. Trouxe água para você. — Ela finalmente diz, caminhando para dentro da enfermaria e estendendo um pequeno copo de plástico para mim.
Sorrio em agradecimento antes de beber toda a água de uma só vez, enquanto ela permanece parada ao meu lado, encarando Theo com um olhar fuzilante, por alguma razão. Com a noite de hoje, concluí que Theo não é de se intimidar facilmente por garotas irritadas, e olhares de reprovação, mas o olhar fixo de Sarah sobre ele parece deixá-lo suficientemente desconfortável para querer se afastar de nós. Ele se levanta da cadeira em que estava sentado, recolhe os materiais e vai até a pia na parede oposta, ficando de costas para nós. A tensão repentina se espalha por todo o cômodo, e começo a me sentir nervosa com a situação. Tenho a impressão de sentir uma gota de suor escorrer pelas minhas costas, apesar da sala estar tão gelada quanto um freezer. Por que enfermarias são sempre tão frias?
— Pode me trazer mais água? — Peço a Sarah, na esperança de que ela leve o clima estranho embora com ela.
Ela cruza os braços.
— Theodore pode. — Diz, de repente.
Tenho a impressão de ver as costas de Theo se enrijecerem por um segundo antes de se virar para nós após ouvir o seu nome.
— Hum? Ah, claro. — Responde, pegando o copo de minha mão e saindo da enfermaria o mais rápido possível. Devia estar louco para dar o fora daqui desde que Sarah entrou, trazendo consigo uma enorme nuvem de estranheza. Por fim, somos só ela e eu.
— Isso foi meio rude, o que há com você? — Pergunto assim que tenho a chance.
Sarah revira os olhos.
— O que há comigo? Fala sério, Liz, não pode ser tão inocente!
Arqueio as sobrancelhas, sem entender de onde isso tudo está vindo. Talvez ela ainda esteja chateada pela briga que tivemos na floresta, mas duvido que iria querer falar disso agora. Na verdade, duvido que voltemos a tocar naquele assunto tão cedo.
— Sarah, do que você está falando?
Ela suspira, irritada.
— Esse garoto está obviamente flertando com você. Você é boazinha demais para perceber, e ele está tirando vantagem disso. Se não está, ainda vai.
Franzo o cenho, incapaz de conceber a ideia.
— O quê? Sarah, isso é ridículo! — Exclamo.
Ela passa a mão pelo rosto, caminhando de um lado para o outro enquanto tenta encontrar uma maneira de enfiar a ideia na minha cabeça de uma vez, ciente de que isso pode ser um desafio. Surpreendentemente, Sarah e eu não costumamos ver o mundo da mesma forma.
— Olha só, eu conheço garotos como ele. São engraçadinhos, envolventes, sedutores e levemente atrevidos, e antes que você perceba, vai estar com problemas por causa dele. — Não tenho como negar que a descrição da personalidade de Theodore parece estar no ponto. Mas, de qualquer forma, não importa muito, porque a situação entre nós não é nada como ela está pensando. — Eu não sei qual é a dele, mas sei que ele e Noah tem problemas, então você devia se afastar antes que vire uma peça na rivalidade entre os dois.
— Isso nunca vai acontecer. — Afirmo.
— Já está acontecendo. Você tem sorte de que a primeira pessoa a cruzar aquela porta fui eu, e não...
Noah. Antes que ela termine a frase, ele caminha para dentro da enfermaria, com um copo de água nas mãos.
— Ei. — Ele sussurra, beijando minha testa. — Trouxe um pouco de água para você. Eu traria uma garrafa, mas Cassie ainda está lá fora tentando descobrir como aquela máquina funciona.
Sorrio, mas antes que possa agradecê-lo, Theo retorna com um copo de água também.
Mas que droga.
Ele permanece parado na porta por alguns segundos, absorvendo os olhares que se voltam para ele, e então nota o copo nas mãos de Noah, assim como Noah repara no copo em suas mãos. O silêncio é ensurdecedor. Fico pensando em como contornar a situação sem catastrofizá-la por algo tão bobo. Sarah me lança um olhar que interpreto como "eu te avisei que a coisa ia ficar estranha", e odeio o fato de que ela estava certa sobre isso.
— Ah, muito obrigada, você é uma graça. — Ela fala de repente, em um tom açucarado e até meio flertante, pegando o copo das mãos de Theo. Ele parece confuso por um segundo, mas logo percebe do que se trata.
— Sem problemas. — Responde, abrindo o sorriso mais natural que consegue, como se esse tempo todo, sua intenção fosse servi-la.
Sarah me lança uma piscadinha, bebericando a água que Theo trouxe para mim, mas que acabou se tornando dela. Assim, finalmente aceito o copo das mãos de Noah, meio perturbada com toda essa sequência de acontecimentos estranhos.
Ouvimos os passos de Cassie se aproximando no corredor. Completamente alheia aos acontecimentos na enfermaria, ela caminha para dentro, parecendo frustrada. Novamente, o espaço torna a parecer pequeno demais para comportar todos nós de uma só vez.
— Tem algo de errado com aquela máquina estúpida. — Reclama. — Acabei de perder cinco dólares tentando retirar uma garrafa de água e dois refrigerantes.
— Precisa apertar o botão secreto. — Theo informa, e ela levanta os olhos para ele, confusa.
— Que botão secreto? — Pergunta.
Ele enfia as mãos no bolso e dá de ombros.
— Bom, é secreto.
Cassie faz uma careta.
— É sério? Vai mesmo me fazer perder cinco dólares por diversão?
Theo sorri como se gostasse da ideia, mas cede:
— Fica escondido sob o painel de vidro.
— Por quê? — Cassie indaga, inconformada.
— Eu sei lá, eu não construí a máquina!
Ela revira os olhos.
— Pode me ajudar? — Pede.
Theo assente, cruzando a porta atrás dela, enquanto o resto de nós fica para trás, absorvendo a curta interação entre os dois.
Sinto-me esgotada de repente, tentando processar tudo o que aconteceu nessa noite, e sinto um cansaço extremo recair sobre mim. Por um segundo, temo a possibilidade de que todos os dias sejam igualmente longos e caóticos a partir de agora.
— Podemos ir para a casa? — Murmuro para Noah, tentando não soar como uma criança.
Ele sorri gentilmente.
— Claro. Vou buscar o carro e depois venho te ajudar, está bem? — Noah fala, e assinto.
Me sinto um caco. Gostaria de poder apenas me deitar aqui mesmo nessa maca gelada e dormir até que alguém me acorde no dia seguinte. Mas pela maneira como Sarah se aproxima de mim, sei que ela ainda tem muito para discutir, independente do quão cansada eu esteja.
— Eu avisei que a coisa podia ficar estranha.
— É, eu saquei.
— Lizzie, eu te conheço bem o suficiente para saber que você não é o tipo de garota que gosta de se colocar em situações confusas. Você sabe bem o que é certo e errado, e você é leal aos seus princípios e ás pessoas que você ama. Mas eu também sei que você pode ser ingênua e você é uma garota doce, que está sempre disposta a conhecer melhor as pessoas e prefere não julgá-las mal logo de cara. Mas eu conheço caras como Theodore. Eles podem ser perigosos, porque tem um certo charme, e adoram quando garotas ingênuas dão a eles o benefício da dúvida. Mas você vai acabar sendo usada antes mesmo de perceber o que está acontecendo. Sabe que eu te amo, então acredite em mim quando digo que precisa se afastar dele, antes que a coisa toda fique estranha e confusa. Odiaria te ver presa em uma situação em que, no final das contas, você seria apenas mais uma peça nos jogos de guerra entre Noah e ele. Porque confie em mim, ele parece o tipo de garoto que faria tudo o que pudesse para chatear Noah, inclusive usar você para isso. Fico surpresa que não tenha percebido isso ainda, quando ele tem dado sinais desde o dia em que o conhecemos.
Suspiro. Quero dizer que ela está errada sobre ele, e que na verdade, Theo é só um garoto que teve uma infância difícil, mas de alguma forma, conseguiu encontrar um bom caminho para seguir, o que é admirável. Mas no final das contas, não digo nada, porque no fundo, reconheço que não o conheço o suficiente para afirmar com tanta certeza sobre a pureza de suas intenções quando se trata de Noah. No fundo, sei que ela está certa. Eu deveria me afastar.
— Você tem razão. — Admito, cabisbaixa, e vejo seu rosto relaxar, como se estivesse aliviada por me fazer entender o perigo da situação.
Minutos depois, Noah retorna, me ajudando a levantar e me guiando para fora da enfermaria da universidade de Rosefield, tão pronto para dar o fora daqui quanto eu.
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