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15 (liz)

Agarro a mão de Noah com força quando sinto que estou prestes a desmaiar, porque novamente sinto todo o ar escapar de meus pulmões. O que isso significa, afinal? Será que a essa altura, já estamos sendo investigadas? Será que amanhã já seremos publicamente responsabilizadas pela morte de Dylan? Será que teremos que encarar seus pais, agora sem um filho por nossa causa? Ou será que, na hipótese mais maluca de todas, o garoto com quem esbarrei no corredor há poucos minutos era mesmo Dylan? Parecia mesmo ser ele... e agora, estou parada diante da cova onde o enterramos, mas ele não está aqui. Mas se fosse mesmo ele, por que não voltou para a casa? Por que não contou a todos sobre o que fizemos? Será que achou que ninguém acreditaria nele? Bom, isso parece plausível. Sinto minha cabeça começar a girar com todos essas perguntas e nenhuma resposta. Noah aperta minha mão com força para me lembrar de que ainda está aqui, o que, a propósito, parece cada vez mais uma ideia terrível. Ele devia mesmo ir embora daqui.

Ao meu lado, ele suspira.

— Encontraram alguma coisa útil? — Pergunta, e Cassie revira os olhos.

— Olha só, seu sarcasmo não vai ajudar em nada agora, Thompson. — Ela fala, voltando-se para ele. — Sabemos que você não queria que a gente voltasse aqui porque seria inútil. Meus parabéns.

Noah estreita os olhos, encarando-a com seriedade.

— Cassie, quem enviou a foto provavelmente é a mesma pessoa que... — ele encara a cova vazia e tenta pensar nas palavras certas para descrever a situação — bom, que está com o corpo... eu acho.

As palavras de Noah ficam pairando no ar por alguns segundos, até que Cassie resmunga, frustrada.

— Ugh. Por que alguém faria isso? E onde esconderiam um corpo? Isso tudo é bizarro!

Noah dá de ombros.

— Eu não sei. Mas oficialmente, precisamos descobrir quem está por trás disso tudo. Não vamos perder o foco. — Ele fala, e Cassie assente, piscando algumas vezes para tentar limpar sua mente. — Encontraram alguma coisa aqui além... disso? — Ele pergunta novamente, indicando a cova aberta.

Cassie suspira.

— Ainda não. Estávamos pensando em olhar nos arredores. — Enquanto ela fala, Sarah parece distante. Seu olhar parece inquieto, olhando para todos os lados, exceto para nós. Ela parece tentar discretamente esconder seu rosto, e nesse momento, sei exatamente o porquê: Sarah estava chorando, e obviamente, não quer que nós saibamos disso. Talvez, embora lute com todas as forças para fingir que estar de volta na floresta não lhe afeta, ela sabe muito bem que isso não passa de uma grande mentira. A afeta o suficiente para lhe trazer lágrimas. Poucas coisas têm esse poder sobre Sarah, por isso, é sempre um choque vê-la chorar.

— Você está chorando? — Noah indaga, tão chocado quanto qualquer outra pessoa ficaria.

Cassie e eu viramos o rosto para os dois, alternando nossos olhares entre Sarah e Noah, sem saber exatamente o que vai acontecer em seguida. Qualquer coisa pode acontecer a partir dessa pergunta. Ele imediatamente percebe o seu erro.

Sarah vira o rosto para ele, furiosa.

— O quê? É claro que não! Deixe de ser ridículo! — Esbraveja, cruzando os braços e olhando-o no fundo dos olhos, como se de repente precisasse provar que é forte.

Noah franze as sobrancelhas, e abre a boca para responder algo, mas desiste de última hora, o que sinceramente, parece ser uma decisão sábia de sua parte.

— Noah, onde estava quando tirou a foto? — Cassie pergunta, tentando aliviar a tensão e voltar ao ponto principal da conversa.

Ele nos guia até o outro lado da floresta, onde estava quando acidentalmente nos registrou. É um pouco mais próximo da casa onde estávamos, mas longe o suficiente para que já não seja mais possível ouvir a música, apesar de estar alta.

— Aqui. — Ele diz, por fim, parando atrás de uma árvore de onde é possível ver com clareza o local onde estávamos, apesar da distância. Consigo ter um vislumbre de como ele deve ter enxergado a cena, e como deve ter sido uma das coisas mais bizarras do mundo. Me pergunto como ele ainda teve coragem de falar comigo depois do que viu, mas me obrigo a interromper o pensamento. Ultimamente tem sido muito difícil sentir que eu mereço o amor que as pessoas me dão, e acho que me sentir assim é a última coisa de que preciso agora.

Cassie e Noah começam a divagar sobre onde a pessoa que nos fotografou devia estar naquela noite, enquanto Sarah e eu apenas nos mantemos em silêncio, sem conseguir mover nossos olhos do local onde tudo aconteceu.

— Como foi que acabamos aqui? — Questiono, observando a imensidão de árvores diante de nós. Sarah olha para mim, de braços cruzados, mas não responde. No fundo, deve se perguntar a mesma coisa.

Eu a observo com o canto dos olhos, distraída, os lábios trêmulos, parecendo estar unindo todas as suas forças para não permitir que a barragem que mantém suas lágrimas seguras do lado de dentro se rompa.

— Não devia lutar com tanto afinco para manter isso dentro de você. — Falo, sem conseguir olhar diretamente para ela. No entanto, posso senti-la colocando seus olhos sobre mim.

— Do que está falando? — Indaga, como se não conseguisse nem ao menos imaginar.

— Da culpa, Sarah. Sei que sente culpa pelo que aconteceu, assim como todas nós, embora esteja sempre tentando demonstrar que não se importa ou que não é grande coisa para você. — Sussurro, porque sinto que ela não gostaria que mais ninguém ouvisse essa conversa.

Ela respira fundo, parecendo já estar irritada, apesar de termos acabado de iniciar o assunto.

— Não vou gastar minhas energias ficando mal por algo que foi um acidente. — Rebate, em tom baixo.

Cruzo os braços, encarando-a com certa incredulidade em meu rosto, apesar de saber que estamos no escuro, e as chances dela conseguir visualizar minhas expressões com clareza são quase nulas.

— Então está me dizendo que não se sente nem um pouco mal sobre o que fizemos com o Dylan? — Indago.

Sarah revira os olhos.

— Ele está morto, Liz! — Exclama.

— Sim! Por nossa causa! — Exclamo de volta, irritada.

Ela suspira.

— Nós não podemos voltar atrás! Não podemos fazer mais nada! Devia estar me agradecendo por ser a única que não está choramingando por algo que já foi feito!

Arqueio as sobrancelhas, desacreditada.

— Como é? — Pergunto, inconformada com o que acabei de ouvir sair de sua boca. — Sabe, às vezes eu me esqueço de como você pode ser egoísta. — Digo, furiosa. Minha voz parece ter aumentado muito desde os sussurros.

Ela franze as sobrancelhas e inclina a cabeça.

— Egoísta? Eu? Ah, qual é, Liz? Sou a única que está tentando manter a cabeça no lugar e não me deixando levar pelas minhas emoções. Se não fosse por mim, todas vocês já teriam sido pegas.

Sinto meu sangue borbulhar com a raiva, mas evito o pensamento rápido que cruza minha mente dizendo que, se não fosse por ela, nós nem estaríamos nessa situação.

— Fala sério! Você não fez absolutamente nada além de menosprezar nossos sentimentos em relação aos acontecimentos. "Não chorem na frente de todos", "Não prestem atenção nas conversas onde o nome dele for mencionado", "Finjam indiferença". — Cito-a, de uma forma ridícula, e ela revira os olhos. — Sinceramente, você está me enlouquecendo!

— Uau! Me desculpe por tentar fazer com que não levantemos suspeitas! Que ideia absurda a minha. — Ela responde, em um tom sarcástico.

Franzo o cenho.

— É só disso que se trata para você? Não levantar suspeitas? — Pergunto, incrédula.

— Sim, está bem? É só nisso que eu penso, noite e dia! Penso no quanto sinto medo de que descubram o que nós fizemos, e penso em como vamos sair dessa, ou como vamos esconder isso por tempo o suficiente até irmos para a faculdade, e tudo o que precisamos fazer e deixar de fazer para que nós não levantemos suspeitas. É só nisso que eu consigo pensar agora, está bem? Porque não há mais nada que possamos fazer sobre o acidente.

— Todas nós pensamos nessas coisas, Sarah! Também estamos com medo de sermos pegas! Mas nós ainda podemos nos sentir mal com o que fizemos. Está tudo bem se sentir mal por isso.

Ela solta um riso desdenhoso.

— Lamentar não vai nos levar a nada. — Responde com certa frieza.

Suspiro, cansada.

— Isso não precisa nos levar a nada! Somos humanas! Só precisamos sentir essas coisas ao invés de ficar escondendo. E você precisa não apenas deixar que a gente sinta isso, como se permitir sentir também. O mundo não vai acabar se você admitir que se sente mal pelo que fizemos.

— Não estou escondendo nada. — Ela rebate imediatamente, e eu reviro os olhos.

— É mesmo? Então está me dizendo que é insensível ao ponto de não sentir nada por ter causado a morte do garoto para quem você enviava cartas? — As palavras escorregam para fora da minha boca antes que eu tenha a chance de pensar melhor sobre elas, mas me sinto aliviada por finalmente estar trazendo o assunto a tona. Sarah me encara com espanto, confusa por eu saber disso. Imediatamente sua expressão fica séria, e consigo vê-la lutando para manter sua respiração estabilizada. Ela engole em seco, e se fosse possível, eu poderia ver o seu coração pulsando acelerado em seu peito.

— Você e Dylan eram tão próximos assim? — Questiono de uma vez, quando ela não diz coisa alguma.

Sarah dá de ombros.

— Não muito. — Responde, evasiva, e começo a sentir o meu sangue borbulhar. Não consigo fazer isso dessa vez. Não consigo fingir que acredito em suas mentiras evasivas mais uma vez apenas para evitar uma discussão complicada. Não consigo mais ouvi-la mentir descaradamente e fingir que acredito que está dizendo a verdade.

— Me conte a verdade, Sarah. Não é tão difícil. — Insisto mais uma vez.

Ela não diz coisa alguma.

Fecho os olhos e respiro fundo, irritada com seus joguinhos. Está mais do que claro que o assunto a deixa nervosa o suficiente para não querer falar disso, e ainda assim, ela insiste em agir como se não fosse nada demais.

— Que droga, Sarah! Eu vi a carta! — Exclamo, frustrada com sua incapacidade de lidar com a situação de uma forma normal.

— Liz, você está louca? Do que você está falando? — Questiona, como se realmente não soubesse. Talvez esteja tão acostumada a mentir que, a essa altura, realmente acredite em suas próprias mentiras, o que as torna muito mais convincentes.

— Sim! — Exclamo, batendo os pés contra a terra. — Sim, é óbvio que eu estou louca, Sarah! Você está me enlouquecendo! E se for para me enlouquecer de qualquer jeito, dá para ao menos me enlouquecer com a verdade dessa vez?

Ela arqueia as sobrancelhas, ofendida, mas não consigo dar a mínima para isso nesse momento.

— Está me chamando de mentirosa? — Indaga.

— Mentirosa, manipuladora, insensível e mimada! — Afirmo. Consigo ver a raiva crescendo dentro dela, e no fundo, talvez eu até queira que isso aconteça. No fundo, talvez eu até queira que ela se sinta tão irritada quanto eu, ainda que por razões completamente diferentes das minhas.

— Quer saber, Liz? Você está sendo uma babaca! É só uma carta! Deixe isso para lá! — Exclama, o que me faz, mais uma vez, tentar imaginar o conteúdo da carta. Sarah não costuma demonstrar intimidação diante de muitas coisas, mas definitivamente está defensiva sobre o assunto.

— Bom, se é só uma carta sem importância alguma, por que não me diz logo do que se trata?

De braços cruzados e olhos fixos em mim, consigo vê-la engolir em seco.

— Porque isso não é da sua conta!

Suspiro alto, desacreditada.

— É claro que isso é da minha conta, Sarah! Não seria mesmo se aquela noite nunca tivesse acontecido. Mas aconteceu. Caso não se lembre, nós enterramos o corpo do garoto para quem você escreveu aquela carta, e você agiu como se isso não fosse nada demais só porque nós mal o conhecíamos! E aí eu descubro que vocês eram próximos o suficiente para que você lhe escrevesse uma carta? Como consegue mentir desse jeito? Como consegue andar por aí nos dizendo que não deveríamos nos sentir tão mal com o que aconteceu, e deveríamos engolir todas as nossas emoções para que ninguém perceba que somos culpadas, quando você, dentre todas nós, era próxima o suficiente dele para lhe escrever uma droga de carta? — Cuspo de uma vez, praticamente descontrolada. Sinto que estou chegando ao meu limite mais rápido do que achei que aconteceria. Achei que ainda conseguiria sobreviver a algumas semanas dentro dessa situação antes de finalmente colapsar, mas as coisas simplesmente não param de piorar, e Sarah não está colaborando em nada.

— E o que você quer que eu diga, afinal? — Ela finalmente explode — Que sim, eu o conhecia melhor do que o resto de vocês? Quer que eu admita que me sinto terrível pelo acidente que causamos a alguém que eu conhecia muito bem? Que me sinto um lixo de ser humano porque ele está morto por minha causa? — Consigo ouvir o embargo em sua voz quando sua raiva começa a se transformar em dor — Eu matei o garoto por quem eu era apaixonada, está feliz? E adivinha só, Liz: Isso não muda nada. Não podemos fazer nada!

Fico em silêncio, absorvendo cada uma de suas palavras enquanto ela limpa as lágrimas de seu rosto antes mesmo que elas tenham a chance de rolar para fora de seus olhos.

— Você... estava apaixonada? — Pergunto, estática diante da revelação, a qual nem mesmo ela parece ter se dado conta de que disse em voz alta.

— O quê?

— Sarah, você disse que... estava apaixonada pelo Dylan? — Pergunto novamente, perplexa por nunca ter notado. — Era disso que falava na carta?

Ela dá de ombros.

— Isso não importa muito agora, não é?

Não sei o que dizer enquanto ela me encara, parecendo cansada e meio desesperançosa. Apenas permaneço ali, com a boca semi aberta, me sentindo cheia de culpa por alguma razão, dividida entre querer dizer que sinto muito agora que sua perda parece muito mais pessoal, ou lhe encher de perguntas sobre o porquê ela nunca me contou sobre isso. Mas não consigo fazer nenhuma das duas coisas.

Suspiro, cheia de dúvidas, tentando guardá-las para um momento mais apropriado, se é que haverá algum.

— Como sabe sobre isso, afinal? — Ela pergunta, por fim.

— Eu encontrei a carta em uma das gavetas do quarto dele na noite em que voltamos para buscar seus sapatos. — Admito. — Mas não tive coragem de pegá-la.

Ela assente, como se já esperasse isso de mim, mas mesmo assim, parece aliviada em ouvir.

— Olha, eu não sei do que se trata aquela carta. E não sei por quê nunca me contou nada sobre o que quer que seja isso. Mas será que dá para parar de fingir que não se importa nem um pouco com a morte do Dylan, quando na verdade se importa, sim? Sei que gosta de parecer forte e corajosa o tempo todo, mas quer saber? Não poder admitir que tudo isso simplesmente te tira o sono assim como faz com todas nós, não te faz mais de nenhuma dessas coisas.

Vejo seu rosto se contorcer de uma forma estranha, e percebo que o comentário a atingiu de verdade. Se as chamas estavam começando a se apagar, acabei de jogar gasolina.

— Agora está me chamando de covarde? Fala sério, Liz! Não pode falar sobre isso quando você é o tipo de pessoa que prefere afastar as pessoas a dizer a elas a verdade sobre o que sente. Isso é muita hipocrisia. — Rebate, como se uma parte dela realmente acreditasse no que está dizendo, o que me ofende um pouco.

Sinto uma onda de calor e irritação subindo pelo meu corpo novamente.

— Sarah, isso é completamente diferente! — Exclamo, me sentindo mais na defensiva do que gostaria de estar.

Ela ri.

— É mesmo? Porque eu acho que você acabou de se dar conta de que lidamos com nossos problemas de uma forma muito parecida. — Ela responde antes de virar novamente o olhar para a floresta, parecendo tão irritada quanto calma. É uma mistura confusa, mas faz muito sentido nela.

Eu a encaro no escuro, com os olhos semicerrados, com cara de quem definitivamente discorda do que foi dito. Quero exclamar que ela está errada. Mas ao mesmo tempo em que acredito nisso, parte de mim também se sentiu atingida pelo que ela disse, porque sabe que pode ser verdade, por mais que eu não queira que seja.

Lembro-me de que certo dia, meu pai contou sobre algo que leu em um livro: Ele disse que, muitas vezes, os defeitos que nos incomodam nas pessoas, normalmente costumam estar presentes em nós mesmos, sem ao menos percebermos. Na época, não fez muito sentido para mim. Soou até como uma grande bobagem, afinal, se nos incomoda, por que estaria em nós? No entanto, nunca fez tanto sentido quanto faz agora, nesse exato momento.

Não sei exatamente como essa conversa se tornou uma discussão, mas concluo que provavelmente está encerrada, porque tornamos a ficar quietas. A luz do dia começa a ir embora lentamente, o que não contribui para que o cenário se torne mais agradável, mas continuamos observando a floresta em silêncio. Parece que ficamos uma eternidade assim, olhando de longe o local onde o corpo de Dylan foi enterrado enquanto tentamos afastar as memórias daquele dia, embora, estando aqui, seja impossível. É possível ouvir o barulho das folhas dançando ao violento soprar do vento. Não seria tão desagradável se não soubéssemos o que aconteceu aqui.

Não estamos sendo exatamente úteis por aqui, mas ninguém está reclamando, então permanecemos assim por mais alguns longos minutos. Em determinado momento, me distraio tão intensamente em meus próprios pensamentos que só me dou conta de que ainda estamos aqui quando Cassie volta correndo de longe, chamando por nós.

— Encontramos algo! Vocês precisam ver isso! — Exclama, eufórica. Sua agitação começa a se dissipar quando para diante de Sarah e de mim, notando a clara tensão pairando sobre nós. — Aconteceu alguma coisa? — Questiona.

Sarah e eu nos entreolhamos, ainda meio emburradas como duas crianças. Sinto-me ridícula, como se estivéssemos de volta ao sexto ano.

— Não. — Ela responde. — Está tudo bem.

Cassie aperta os olhos, analisando nossos rostos, como quem realmente não acredita no que está ouvindo, mas então dá de ombros, decidindo deixar para lá, porque certamente não temos tempo para isso.

— Venham comigo. — Ela fala, e nós a seguimos, nos embrenhando em um longo e estreito corredor de árvores, desviando dos galhos soltos com dificuldade até sairmos em uma espécie de clareira, onde Noah está parado diante de uma casa de madeira de quase três andares, camuflada por uma parede de folhas, cercada por enormes muros e portões. A casa é tão velha e apagada que praticamente desaparece em meio a todas as enormes e robustas árvores que a cercam. Não fica muito distante do lugar onde enterramos o corpo de Dylan, e, ainda assim, fomos incapazes de enxergá-la, talvez pelo desespero do momento, ou talvez porque no escuro da noite, seja praticamente impossível visualizá-la.

Sinto-me estúpida.

— Essa casa sempre esteve aqui? — Indago, confusa.

— Ao que parece, sim. Achamos que as fotos podem ter sido tiradas do andar de cima — Cassie responde, apontando para o sótão no topo da casa, onde uma pequena janela parece oferecer uma ampla visão de grande parte da floresta, incluindo o local onde fomos fotografadas. — Devíamos entrar lá. — Fala, por fim, com uma naturalidade que implica que os portões estão abertos para nós, o que não é verdade.

Quando a encaro como se ela fosse louca, ela dá de ombros e se justifica:

— Quero ver o que tem lá dentro. Só por curiosidade.

— Nunca ouviu que "a curiosidade matou o gato"? — Cito.

— Bom, então fico feliz por não sermos gatos. — Responde, de prontidão. — Quem vai pular primeiro?

Nós observamos o portão de cima a baixo e concluímos que é monstruosamente alto.

— Eu posso pular. — Noah se oferece.

Sarah lhe lança um olhar torto.

— O que foi? Acha que nós não conseguimos?

Mesmo no escuro, consigo ver que ele fica sem jeito.

— E-eu não disse isso!

— Sarah, quer parar de besteira? — Peço. Tenho a impressão de que às vezes, ela implica com Noah por puro prazer, ou até mesmo para me atingir indiretamente.

— Eu posso pular! — Ela insiste. Consigo ver aquele brilho de teimosia em seus olhos e já sei que qualquer argumento será inválido graças a isso.

Noah respira fundo e ergue os braços em redenção, concluindo que não vale a pena discutir.

— Tudo bem. Vá em frente.

Sarah faz uma careta ao passar por ele e começa a escalar o portão, tentando não demonstrar dificuldade, embora seja nítido que o trabalho acaba sendo mais árduo do que ela havia pensado que seria. Mas no fim, ela passa para o outro lado do portão e escorrega pelo metal até estar mais próxima do chão para, enfim, pular. Seus pés atingem o chão com força, e ela sorri através das grades para nós, se sentindo cheia de razão e orgulhosa de si mesma, enquanto o resto de nós apenas espera que ela encontre uma forma mais prática de abrir o portão de dentro para fora, para que possamos entrar com mais facilidade.

Com um pedaço grande de madeira que encontra ao seu redor, ela golpeia com força diversas vezes o cadeado e as correntes enferrujadas que mantém o portão trancado, até que as correntes cedem e caem no chão, nos abrindo passagem.

Tenho a impressão de que todos nós hesitamos alguns segundos antes de finalmente cruzarmos o portão. Sarah caminha na frente enquanto nós permanecemos em grupo atrás dela. Ela parece imune às diversas emoções que o resto de nós parece estar sentindo, o que é bizarro de se ver.

— A porta está trancada. — Ela fala, depois de mexer insistentemente na maçaneta da porta da frente. — Pode derrubá-la ou algo do tipo? — Pergunta diretamente para Noah, que faz uma careta.

— O quê? É claro que não! Quantas portas acha que eu já derrubei na vida? — Responde, sarcástico. O tom em sua voz deixa claro que acha a ideia absurda.

Sarah revira os olhos.

— Bom, existe uma primeira vez para tudo. — Ela fala, cruzando os braços, como se fosse tão simples assim.

— Sarah, não vou derrubar a porta da casa de um desconhecido no meio da floresta. — Ele fala, com firmeza.

— Achei que quisesse nos ajudar! — Ela exclama, irritada.

— E quero! Mas deve haver outra forma de entrar.

Antes que Sarah tenha a chance de responder, Cassie intervém:

— Noah tem razão. — Defende. — Deve haver uma forma mais fácil de entrar, talvez uma janela aberta ou uma porta dos fundos...

Sarah ergue as mãos em redenção, cedendo à ideia de Cassie, mas deixando claro que acha inútil, pois dá alguns passos à frente e se senta nos degraus da escada, esperando pelo momento em que voltaremos sem encontrar nada.

Noah e eu partimos em direção ao corredor escuro do lado esquerdo da casa, enquanto Cassie analisa o lado direito, deixando uma Sarah pronta para quebrar uma janela sob a total responsabilidade da própria consciência.

A lateral da casa dispõe de diversas janelas. Tento abrir uma delas, sem causar muito estrago. Apesar do enorme rangido que a madeira faz, quase como se fosse ceder e acabar abrindo em algum momento, no final, acaba não dando certo.

Solto um grunhido de frustração.

— Você está bem? — Noah pergunta. Acho que só está tentando ser gentil. Está claro que não estou bem.

Suspiro, cansada demais até para tentar fingir que sim. É claro que não estou bem. Estou levemente embriagada, acabei de ter uma crise de pânico em uma banheira muito duvidosa, discuti com minhas amigas, e, para piorar, o corpo sumiu — a droga do corpo sumiu!

— Não muito. — Digo, suspirando alto. — Só quero ir para a casa a essa altura.

Ele arqueia as sobrancelhas, surpreso.

— Agora que encontramos algo que pode ser realmente útil?

Dou de ombros.

— Bom, não vai ser nada útil se não conseguirmos entrar. — Rebato.

Ele me observa por alguns segundos, intrigado.

— Certo, o que foi que aconteceu? — Ele pergunta por fim, quando já estamos longe o suficiente para que elas não escutem nossa conversa, e nem nós possamos escutar a delas.

Coloco algumas mechas de cabelo atrás da orelha.

— Muitas coisas aconteceram essa noite, precisa ser mais específico. — Respondo, tentando não soar irritada, embora esteja me sentindo assim. A última coisa que desejo é despejar minha rispidez nele, mas preciso lutar com afinco para contê-la.

— Entre você e Sarah. — Parado diante de mim, ele especifica rapidamente, sem fazer rodeios. — Está claro que vocês estão irritadas uma com a outra, porque Sarah está irritada com tudo e todos, e você também.

Levanto os olhos para ele por um segundo, tentando não pensar no fato de que talvez isso signifique que somos mesmo muito parecidas de certo modo. Então sigo em frente, contornando seu corpo apoiado na parede.

— Ela já estava brava comigo porque não quis voltar aqui mais cedo. — Explico, esperando que seja o suficiente, mas ele segue me observando em silêncio, esperando que eu continue. — E depois, brigamos de novo enquanto você e Cassie bancavam os detetives. — Resumo, enquanto tento abrir outra janela.

Noah se aproxima para me ajudar.

— Não parece ter sido uma briga qualquer. — Ele comenta.

— Não foi. E no final das contas, eu ainda tenho muitas perguntas sem respostas. — Respondo, sem querer entrar em detalhes, porque ainda estou chateada com a forma como a conversa terminou. Felizmente, Noah não pergunta mais nada, provavelmente porque agora já tem certeza de que o mau humor excessivo de Sarah foi causado por mim, e não se atreve a fazer nenhum comentário a respeito.

Caminho até a próxima janela, repetindo o mesmo processo. Noah sorri e se aproxima para me ajudar. Diante de nossos esforços, a segunda janela se levanta um ou dois centímetros a mais do que a anterior, e por um segundo acreditamos que irá ceder e abrir totalmente. Mas em seguida, quase como se tivesse vida própria e pudesse sentir os invasores, recai-se pesadamente sobre nossas mãos. Quando nos damos conta de que não aguentaremos sustentar seu peso por muito tempo, retiramos nossas mãos o mais rápido possível em um sobressalto, antes de assistirmos a janela se fechar com uma força assustadora. No final das contas, falhamos novamente.

— Parece uma boa maneira de se perder alguns dedos. — Noah comenta, com os olhos arregalados e a respiração ofegante. Tenho a impressão de ouvir meu coração pulsando em meus ouvidos, porque definitivamente não esperávamos pelo contra-ataque.

Nos afastamos, observando as janelas a uma certa distância, nos questionando como diabos uma tranca pode ser tão forte, e acima de tudo, o que há de tão importante dentro desta casa que precisa ser tão altamente protegido.

— Talvez você tenha que arrombar a porta, afinal. — Falo baixinho, e ele assente, sem muita empolgação.

Noah aproxima o rosto do vidro, tentando enxergar algo do lado de dentro, mas não parece encontrar nada muito relevante. As respostas sempre estão nos menores detalhes.

— Vamos terminar de dar a volta ao redor da casa. — Ele diz, mas há um certo tom de desesperança escondido em sua voz.

Para a nossa sorte, nos fundos da casa há uma grande porta de madeira e vidro, que segundo a nossa breve análise, parece muito mais frágil do que a porta da entrada principal. A maçaneta fica ao lado de um pequeno bloco de vidro, o que significa que só precisaremos quebrá-lo e abrir a porta pelo lado de dentro. Não parece pior do que quebrar uma janela inteira ou arrombar uma porta. Noah e eu nos entreolhamos, e ele entende o recado: é a nossa melhor opção. No entanto, antes que possamos nos mover em busca de algo que nos ajude a quebrar o pequeno pedaço de vidro, somos interrompidos por uma exclamação eufórica vindo da frente da casa.

Sarah, NÃO! — Cassie grita, e de repente tenho a impressão de que já é tarde demais, porque sua voz é seguida por um estrondo de estilhaços.

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