Olhos Verdes Brilhantes.
- Infelizmente, ela vai ficar inconsciente por algumas semanas...
- Como é que é?! Você é uma médica, a melhor, e está me dizendo que não pode fazê-la acordar?!!?
- A situação de Maya precisa de muito repouso, Obito. Ela precisa dar um tempo para o corpo dela!
- E o que eu devo fazer!? Pelo céus, ela não pode ficar toda inchada assim. O que eu posso fazer por ela!?
- Acalme-se Obito, veja como Maya está. Os inchaços vão diminuir, mas os hematomas continuarão por um tempo. Veja a pele dela, essas marcas são antigas. Com o tempo irão curar, mas tenha paciência, sua amiga precisa disso...
- Está certo, Tsunade. Agora saia da minha casa. Se algo acontecer com ela, eu pedirei para buscá-la.
- Não se preocupe, eu mesma virei. Eu quero cuidar dessa mulher corajosa.
- Certo. Agora saia.
- Adeus, Obito.
*choro de homem*
*barulho de mobília quebrando*
- Aah, Maya... Por que, por que você não me falou isso ANTES!?
•1 semana•
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Constantemente escuto vozes ao meu redor, minha pele sente o toque e o chakra de cura que um dia tanto usei.
As vozes familiares preenchiam o vazio que a minha mente estava. Não consigo me mexer, abrir os olhos ou ao menos responder quando chamavam pelo meu nome. Onde estarei. O que aconteceu com ele. Por que não consigo abrir meus olhos...
- Maya...
Era Obito! Obito, me ajude! Eu não consigo abrir os olhos!
- Maya, acorde logo... abra seus lindos olhos cor de céu, e acorde...
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•2 semanas•
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Percebi que novamente minha mente afundou-se no vazio. Essa sensação me dói, é triste e esquisita.
Permito que minha mente lembre do passado, da vida que eu tinha, o paraíso da minha existência;
Obito e eu brincávamos na praça em frente da nossa casa, éramos inseparáveis. Todos os fins de semanas nossos pais se reuniam em ambas as casas para um almoço harmonioso e sempre divertido. O clã dos Uchihas sempre foram reservados e centrados somente aos seus, mas a família de Obito estava constantemente nos tratando com gentileza.
Obito era bobão e animado, sempre me arrastando para alguma encrenca, até que suas peripécias foram mais contidas por mim, pois já estávamos frequentando a academia. Alunos talentosos e prodígios se destacavam por lá, logo fui posta em destaque pelo meu ótimo empenho e habilidade com chakra, Obito sempre se esforçava ao máximo mas os outros meninos não perdiam a oportunidade de tentar humilhá-lo por ficar para trás.
Além de mim, a única pessoa que o tratava bem de verdade era Rin, que havia se mudado para Konoha no meio do ano letivo. Ela era doce, cheia de vida, divertida e encantadora, o oposto de mim que sempre fui calada e na minha. Obito logo ficou intensamente apaixonado por ela, aquilo me deixava meio chateada, mas éramos melhores amigos, irmãos... só gostaria de vê-lo feliz.
Ahh... a escuridão veio novamente.
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•3 semanas•
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A lembrança da risada dele me arrancou da escuridão.
O exame chunnin havia chegado e com ele vários ninjas de todas as aldeias, mas um em especial chamou minha atenção, sentada na cadeira ao lado de Obito e Rin que conversavam freneticamente, pude ouvir a risada mais melodiosa saindo de um garoto atrás de mim junto a seus amigos. Seus cabelos bagunçados e castanho-claro pendendo sobre seus olhos verdes me observaram na mesma hora em que eu o olhei, ele sorriu para mim e acenou.
Virei-me bruscamente para frente, podia senti meu rosto queimar. Acho que nunca senti meu coração pulsar tanto como naquele momento.
- Com licença, você é daqui, não é? - senti uma cutucada nas costas e voltei a olhá-lo.
- Ela é sim, e eu também! - Obito pegou na mão dele num cumprimento - Você é de onde?
- Da Vila da Nevoa, - tocou a bandana em sua cabeça - estão nervosos? - ele olhou para mim que permaneci calada o tempo todo somente os observando.
- Maya. - Obito me tocou e o olhei ainda calada - Por que esta tão vermelha?
Toquei meu rosto com ainda mais vergonha, levantei da cadeira rapidamente, saí dali prevendo que Obito e Rin viriam atrás de mim. Cheguei a porta e fui impedida de sair por um jounnin.
- Maya! - Rin tocou meu ombro me fazendo olhá-la - O que houve? Você esta vermelha!
- Ah, n-nada Rin, estou bem.
- Maya, o que houve, - Obito veio logo atrás de Rin -está passando mal??
- Não, estou bem.
- Aah, que bom! - o mesmo menino que agora há pouco tinha me feito surtar, também veio, ele parecia estar preocupado comigo - Isso deve ser nervosismo, mas não se preocupe tenho certeza que você vai se sair bem. - por fim pôs a mão no meu ombro abrindo um largo sorriso. Obito o olhou com cara feia pelo ato e ele sem graça tirou as mãos de mim.
- Eu estou bem, vamos nos sentar...
Depois de conhece-lo, foi a vez dele de fazer parte do nosso pequeno grupo, seus pais haviam se mudado para a Vila após o sucesso dos exames, éramos todos oficialmente Chunnins. Ele vivia atrás de mim, sempre expondo mil assuntos para arrancar poucas palavras minhas, era fofo, otimista e barulhento, o oposto de mim, em tudo se viam diferenças entre nós dois, a única coisa que antes partilhamos era esse sentimento intenso e maravilhoso do amor jovem, todo dia eu o amava mais um pouco.
Obito aprendeu a dar lugar a ele no nosso grupo quando viu o quanto me apreciava e era carinhoso e bom para mim. Obito e Rin foram para o mesmo time junto com Kakashi outro cara que nunca troquei uma palavra enquanto éramos crianças, ele foi para o time de outros membros da Vila da Nevoa que moravam em Konoha e eu fui para o time de Kurenai e Shizune, times diferentes que não nos separaram, eles eram minha família.
Aos 15 anos, esperava por Obito em minha janela.
Eles chegariam da missão naquela noite, Minato-Sensei bateu a porta da minha casa com o semblante derrotado e tristeza visivelmente contida, me dizendo que Obito havia morrido. Lembro da sensação ruim que a minha boca sentiu quando ouvi aquilo, minhas pernas cederam e eu gritava tentando extinguir a dor que crescia dentro de mim. Nem meus pais, Rin ou ele, puderam me ajudar a diminuir 1% da dor que não parava de crescer em mim.
Não tinha um dia em que eu não chorasse de saudades do meu melhor amigo, da minha alma gêmea, lembro até de Kakashi vir à minha casa para tentar falar comigo e lembro também de expulsá-lo de lá, Rin havia me dito o que tinha acontecido, que meu melhor amigo tinha salvado a vida dele e que isso custou sua vida. Rin passou vários meses em minha casa pois seus pais viajaram sem data para retorno. Até que o Time 7 foi novamente em missão me deixando receosa e ansiosa.
Enquanto eu estava deitada olhando para o teto, tentando dormir, ouvi um toque em minha janela. Fui até ela e pude ver uma figura com alguém nos braços fora da casa, não podia ver quem era pela escuridão da noite. De repente a figura desapareceu,
- Maya... - uma voz rouca sussurrou atrás de mim, me virei e meu corpo gelou, quando Obito viu que eu havia notado quem era a pessoa em seus braços, nos envolveu em seu Kamui e me levou para um lugar distante para gritar e chorar a morte de minha melhor amiga. Rin, o Eclipse da minha Lua, a minha menina.
Aos 19 anos, dei meu primeiro beijo.
O por do sol era nosso cenário, sentados no telhado da minha casa eu finalmente pude revelar meus reais sentimentos por ele, aquilo o deixou tão emocionado que chorou, ri da sua reação e o mesmo me beijou apaixonadamente. Passar os dias com ele espantava a solidão que eu sentia pela ausência de Obito que não podia me visitar muito e a de Rin que eu somente via em meus sonhos.
Ele era a segunda pessoa, depois de Obito, que me conhecia mais que eu a mim mesma. Me tratava com tanto zelo, sempre me livrava de situações que sabia serem desconfortáveis para mim, era meu protetor, meu escudo... Meu amor.
Aos 21 anos, fui pedida em casamento. Meus pais, os pais de Obito e Rin e os dele estavam presentes no dia do pedido. Os pais de Obito e Rin me viram crescer com seus filhos, logo para eles eu era uma lembrança constante que seus filhos existiram e foram felizes enquanto viveram. Aceitei o pedido do meu querido Amor de olhos verdes brilhantes e de sorriso impressionante. O anel que agora mesmo sinto em meus dedos imóveis foi colocado em mim na época.
Meu Amor de olhos verdes brilhantes... Só a lembrança deles para iluminar a escuridão que agora me cerca novamente agora...
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•4 semanas•
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- Vamos Maya, acorde...
Mesmo me esforçando muito, não consigo despertar, tudo o que me resta é recordar...
Aos 22 anos, a vida de casada parecia um sonho. Acordar todo dia e vê-lo ao meu lado era algo que nunca me cansava. Nossa vida era dedicada um ao outro, ambos eramos Jounnins respeitados na Vila da Névoa, nos mudamos assim que nosso casamento ocorreu,
"Quero viver com você onde nasci e quero morrer com você lá, quando estivermos bem velhinhos, incapazes de erguer uma Kunai sequer", foi o que ele disse para me convencer e foi o bastante para me despedir de meus tios e pais e ir rumo a Vila da Névoa com ele.
Aos 23 anos, recebi uma carta de meus pais. Voltei para a Vila enquanto meu querido marido estava em missão, com a notícia de que estavam doentes e que os melhores ninjas médicos tinham passado por eles, mas nada os fazia melhorar. Tentei tudo que estava ao meu alcance para ajudá-los, mas sabia que não podia fazer nada para impedir.
Meus queridos pais faleceram quase que ao mesmo tempo, pareciam almas gêmeas que eram incapazes de ficar longe uma da outra. Assim como fiquei do lado de Obito quando seus pais faleceram, ele retornou para ficar ao meu lado. Meu melhor amigo sofreu tanto quanto eu...
Aos 24 anos, A Guerra foi anunciada. Estupidamente quebrei meu pé tentando salvar alguns civis que foram atacados na Vila e fui considerada inqualificada para me juntar ao meu marido e aos outros ninjas que entregaram suas vidas para salvar nossas Vilas.
- Maya, eu estou feliz que você não vai... - ele estava à minha frente arrumando sua bolsa.
- O que?! Como você diz isso assim!? - tentei me levantar da cama e ele me impediu sentando-se comigo.
- Eu não conseguiria me concentrar pensando o tempo todo se você estava bem ou não e tenho certeza que você também. - acariciou meu rosto e me beijou com carinho.
- Tem razão... - peguei em sua mão e a beijei o olhando nos olhos - Mas como eu vou ficar aqui, preocupada contigo?
- Maya, eu prometo que de qualquer jeito, eu vou voltar para ti, eu prometo meu amor. - ele me abraçou com lágrimas nos olhos.
- É bom mesmo, senhor. - o abracei de volta, sentindo pela última vez o calor do seu abraço amoroso.
Aos 25, a Guerra durou muito mais que o esperado. A vila da Névoa foi completamente destruída, Konoha fez questão de abrigar as pessoas de todas as Vilas, vítimas da Guerra. De novo estava em casa, sem meus pais, amigos, tios ou ele. Já estava recuperada, mas por ordem tive de ficar na Vila cuidando dos feridos que chegavam da Guerra, torcia de maneira egoísta para que o meu amor viesse com aqueles homens, só queria tê-lo em casa para mim.
Aos 26 anos, minha alegria acendeu no peito. Tinha acabado de fazer aniversário e o melhor presente foi ouvir que os ninjas estavam voltando, e dentre eles meu marido também estava. Fiquei no portão da Vila tentando localizar dentre aquela multidão o homem que eu amava, quando finalmente o vi chegar, fui correndo ao seu encontro, mas ele se assustou e se posicionou para se defender, parei no mesmo instante vendo sua reação. O seu olhar estava baixo, não conseguia olhar em seus olhos, o corpo cheio de cicatrizes e mais forte que antigamente.
- Ei, não vai me dar um abraço? - perguntei me aproximando com cautela.
- Maya? - ele se desarmou e levantou o olhar fixando seus olhos sobre mim, varrendo eles pelo meu corpo como se estivesse tentando acreditar que era mesmo eu.
- Sim, meu amor, sou eu...
Ele veio até mim e me abraçou com força, soltando um suspiro de alívio.
- Meu amor, que bom que você voltou. - as lágrimas em meu rosto brotavam com força.
- Err, eu voltei...
- Vamos, eu vou te levar para a nossa casa.
Chegamos em casa e o coloquei no banho, ele estava calado e visivelmente em choque, procurei não falar muita coisa para não perturbá-lo ainda mais. Fiz comida, comemos em silêncio e ao anoitecer deitamos em nossa cama. Lembro de ficar inquieta e extremamente incomodada pelo seu jeito atípico de se comportar, mas procurei entender.
No meio da noite senti seu corpo em cima de mim, me olhando fixamente, soltei um grito pelo susto e ele tapou minha boca com uma das mãos me impedindo de respirar.
- CALA A BOCA! - ele gritava incessantemente mesmo depois de ficar calada e parada. Segurei seus braços com força e tentei tirá-lo de cima de mim - SHIIIIU, caladinha!!
Comecei a ficar desesperada e sem ar, lembrei do abajur que ficava do lado da cama, peguei e o arremessei em sua cabeça, ele desmaiou para o lado caindo no chão e eu corri para o outro lado da cama completamente assustada. Foi a partir dali que eu percebi que algo muito errado estava acontecendo com ele.
Depois daquele surto, qualquer coisa o deixava alterado, jogar meu corpo na parede e me enforcar para calar minha boca estava virando rotina e um hobby para ele. Consultei os psiquiatras da Vila e todos me falavam para levá-lo até ele, e quando ele se recusava terminantemente a ir pois afirmava com muita seriedade que não estava doente, me receitavam remédios para ajudar com a raiva.
Quanto mais eu implorava para que ele fosse, com mais tapas no rosto eu era respondida. Cada vez normalizando mais seus ataques agressivos, justificando cada dor que ele me causava, cada toque forçado...
Um dia quando ele voltou bêbado para casa, me olhou nos olhos e falou meu nome agressividade, foi ali, ali, que eu percebi que meu querido marido havia morrido na guerra e aquele homem na minha frente, era tudo, menos ele.
Os roxos na minha pele estavam cada vez mais difíceis de curar, maquiagem já não escondia com tanta eficiência quanto antes, procurava não sair muito de casa para evitar perguntas. Depois de violências incontáveis, abusos e palavras horríveis que saiam de sua boca para mim, estava mais que decidida a fazer qualquer coisa para acabar com aquele Monstro que havia matado o meu Amor.
A escuridão chegou levando minhas memórias ruins para longe...
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(●)
Abro meus olhos com dificuldade, meu corpo todo está dolorido. Fecho meus olhos novamente tentando dissipar a dor de cabeça que se formava em mim. Quando os abro de novo, observo o teto atípico do local, era de um marrom polido com pinturas de anjinhos dançantes, levantei a cabeça com certa dificuldade para olhar em volta. O local parecia um sonho, daqueles castelos luxuosos e antigos. O sol brilhava nas cortinas de seda branca e lilás que deixavam tudo ainda mais confortável. Poltronas em frente a uma lareira me animaram pelo artefato nunca visto. Me levantei com cuidado sentando na cama macia, recheada de travesseiros.
Tirei minha atenção do ambiente e voltei meu olhar para meus braços. Haviam manchas arroxeadas e amareladas por toda extensão da minha pele, minhas pernas esticadas estavam aparentemente da mesma forma. Algumas faixas cobriam partes da minha coxa direita e foi ao vê-las que pude sentir a faixa bem presa à minha cabeça, toquei a área ainda dolorida e grunhi.
Minha voz quase não saía, toquei minha garganta tentando desfazer o nó que se formava. Comecei a lembrar do que havia acontecido, meu corpo gelou pela lembrança dele saindo de casa em meio às chamas, vivo. Logo depois completamente endurecido em cima de mim, quebrando meu rosto. Toquei meu nariz que parecia estar no lugar. Lágrimas finalmente preencheram meu rosto, caindo livremente pelo meu ser, lavando minha alma.
A imagem de Obito matando o monstro em cima mim provocou uma onda ainda mais violenta de lágrimas e soluços, meu corpo tremia recebendo aquelas memórias dos socos que o monstro me dava e logo depois a sua cabeça separada de seu corpo no chão.
Eu estava livre.
Mas, o que mais me doía era não ter enterrado meu querido e amado marido, o homem que antes da guerra, era o amor da minha vida. Eu sabia que ele havia morrido no instante em que olhei nos olhos daquela fera. Gostaria de enterrar a memória dele, para que não ficasse obscurecido pelo monstro.
Deixei que as lágrimas escorressem, até não sobrar nenhuma gota dessa lembrança horrenda. Ouvi um barulho de vozes vindo de algum lugar da casa e não pude deixar de ficar extremamente curiosa sobre o lugar onde estava.
Me arrastei com dificuldade para fora da cama, pus os pés no chão me preparando para fazer algo que aparentemente fazia tempos que eu não fazia. Levantei me segurando nos cômodos, me arrastando pelas paredes e poltronas que haviam ali. Cheguei à porta e sorri ao virar a maçaneta luxuosa.
''Se isso for coisa de Obito, eu vou ficar lhe devendo a vida toda".
Assim que saí do quarto suspirei com a lindeza e grandiosidade do local, um grande espaço aberto com grandes lustres no teto, uma área com mais poltronas e uma tv enorme fazendo tudo parecer uma sala de cinema aberta. Ao redor várias portas, provavelmente outros quartos, uma vontade avassaladora de espiar o que estava atrás delas me consumiu, mas o grito de um homem, bom, de vários homens, me interessaram mais.
Atravessei a sala e fui em direção a uma escada, o que me confirmou que eu estava no segundo andar e o barulho vinha do primeiro. Assim que cheguei ao pé da escada, paralisei com a cena abaixo de mim, não haviam um ou dois homens, e sim vários, 9 homens e 2 mulheres. Fiquei maravilhada pela cena daquelas pessoas tão distintas, que usavam o mesmo uniforme brigando e interagindo entre si.
Desci o primeiro degrau sem que ninguém tivesse percebido minha presença, olhei com atenção para todos e vi Obito disfarçado de Tobi, claramente irritando um homem loiro com um penteado engraçado. Desci o segundo degrau com ainda mais dificuldade, sentia que minha perna poderia vacilar a qualquer momento. Parei para descansar e observei aquelas pessoas mais uma vez, me segurei no corrimão dourado das escadas e o apertei firme, observei o local onde estavam, era claramente a parte de entrada da casa, o portão enorme aberto e suas roupas meio surradas denunciavam que haviam chegado há pouco tempo. Desci o terceiro degrau e gemi de dor ao sentir uma pontada terrível na coxa me fazendo cair de bunda na escada, despertando a atenção de todos para mim, principalmente de Obito...Tobi.
- Meu Deus... - um homem alto e azul veio em direção a escada aparentemente para me ajudar, junto a uma mulher de cabelo roxo. O pavor tomou conta de mim quando eu pensei na possibilidade de os dois me tocarem.
- Não, por favor... - tirei forças de onde eu não tinha para recuar - Não toquem em mim, - meu Rikudou - eu imploro!
Os dois pararam assustados com a minha reação,
- Não se preocupe, nós vamos somente te ajudar a levantar... - a fala mansa da mulher provocou um nó na minha garganta.
- Exatamente, se você quiser eu posso me afastar e Konan pode te ajudar sozinha. - o homem que já estava na metade da escada recuava para o meu alívio, mas a mulher, aparentemente Konan, permanecia parada, esperando pelo meu sinal.
Olhei desesperada para a figura de mascarada que escondia o rosto do meu amigo, ele parecia terrivelmente inquieto e provavelmente não veio até mim para não revelar sua identidade.
- Você aí, de máscara e luvas! - apontei para ele - Eu deixo você me ajudar, eu só não quero de jeito nenhum ser tocada, por favor - o choro voltava a se instalar em meus olhos, Konan e assim como todos que estavam lá, olharam para onde ele estava, mas ao terminar da minha frase Obito já estava ao meu lado me estendendo as mãos cobertas por suas luvas pretas. Peguei em suas mãos tremulas e levantei.
- Tobi, leve-a para o quarto. Irei chamar a médica. - o cara cheio de piercings e ruivo falava com autoridade, o que me fez lembrar de quem era, Pain, a marionete de Obito que aparentemente estava fazendo de tudo para que aquilo parecesse uma ordem puramente sua - O resto de vocês, vão arranjar o que fazer!
Obito me ajudou a virar e subir os pequenos degraus que eu havia conquistado, me pôs no colo e me levou em direção ao quarto onde tinha acordado. Ele estava quieto, mas seus músculos contraídos denunciavam uma gritaria silenciosa. Lembrei dos dois Nukenins que tentaram me ajudar, e eu rejeitando seus toques a todo custo. Apenas Obito me passava segurança o suficiente para me tocar, mas usar suas luvas como desculpas, foi genial.
Chegando na porta, eu fiz um esforço para abri-la para ele, mas seu grunhido baixo me fez voltar, quando ele mesmo a abriu, nos fez entrar com cuidado, me tratando como uma boneca de porcelana, empurrou a porta com os pé e a fechou do mesmo jeito, depois foi em direção a cama. Me colocou com cuidado sobre ela tirou a máscara, deixando ela cair no chão e revelando sua linda face coberta de lágrimas que não paravam de escorrer, a expressão em seu rosto fez meu coração doer.
- Ahh Obito... - estendi meus braços e ele me encontrou num abraço apertado, mas não o suficiente para me machucar
- Maya, sua idiota, por que não me disse nada!? Eu teria te salvo dali, teria matado aquele desgraçado antes mesmo de ele tocar você. Pelos céus Maya! - os soluços eram intermináveis, ver Obito daquele jeito me fazia sofrer tanto quanto ele. Passei minhas mãos pelas suas costas tentando confortá-lo, mas ele começou a tremer muito - Maya, eu pensei que você tinha ido de vez! Mas hoje eu sonhei que você voltava para ficar ao meu lado, fiquei mais relaxado e olha só que maravilha...
- Ah meu menino tolo, você acha mesmo que eu te deixaria aqui sozinho? - levantei seu rosto para que ele olhasse os meus olhos - Não precisa se preocupar, pois agora estou acordada, viva e principalmente livre. Graças a você. - aproximei seu rosto para beijar sua testa, ele fechou os olhos suspirando de alívio. Era assim que eu me sentia, aliviada.
- Agora me conte, que lugar é esse?? - tirei as mãos de sua face para enfatizar ainda mais a mansão em que estávamos.
Ele deu aqueles sorrisos de lado que derrubaria qualquer um e sentou-se na cama, - Esta é a Mansão da Akatsuki, gata. Somos podres de ricos, esqueceu?
- Então quer dizer que me trouxe aqui para ser empregada de vocês? Olha que eu vou querer décimo terceiro ein! - ele soltou uma risada, sinal de que o homem de ainda há pouco que chorava como uma criança já estava dando espaço para o Uchiha divertido.
- Muito pelo contrário minha garota, você mora aqui, este quarto é seu - ele apontou para todo o quarto - e seu nome está na escritura da casa junto com os demais.
Meu queixo caiu, - Meu Deus, Obito... Você ficou louco?
- E desde quando eu não sou? Mas tudo isso tem uma condição Maya.
- É claro que tem, Uchiha Obito. - ele me fuzilou com o olhar, sabia que só o chamava assim quando não concordava com algo que ele fazia.
- Antes de julgar, apenas escute, Maya!
Revirei meus olhos e encostando as costas nos travesseiros da minha cama, - Fala logo...
- Junte-se a nós, seja um membro da Akatsuki. - sua voz firme me enrijeceu, aquela proposta já havia sido feita a mim mais de uma vez - E nem pense em me dar um motivo qualquer para recusar, - ele se aproximou de mim - desta vez você só tem essa opção.
- Sabia que me ofereceram um cargo de elite para ser professora de Ninjutsu Médico na Vila? - meu olhar estava fixado no vazio, pensando sobre a proposta que Kakashi me apresentou.
- Isso teria sido uma maravilha se você não fosse uma criminosa e ainda mais por ter sido vista sendo levada por um membro da Akatsuki que inclusive arrancou a cabeça daquele filha da puta na frente de todos aqueles incompetentes.
- Obi... - ele me fitou sério pelo meu tom de voz - Eu sei de tudo isso, tenho consciência de como as coisas estão para mim agora. Só estou compartilhando com você algo que eu sonhava em ser...
Ele tirou as luvas me oferecendo as mãos, em seguida beijando as costas das minhas mãos cheias de marcas, - Maya, pessoas vem e vão, assim como oportunidade de seguir nossos sonhos, mas a única coisa que permanece aqui com você, sou eu. Então me ajude a mantê-la segura. Fique aqui, se junte a nós e quem sabe no futuro, não possa nos ensinar suas habilidades?!
As palavras cheias de ternura e de súplica me amoleceram um pouco, mas não poderia ceder assim antes de fazer uma última coisa para esquecer meu passado e tentar seguir em frente.
- Obito, eu posso aceitar seu convite.
- Mas? - ele me conhecia bem o bastante para saber que aquela frase seria seguida de um "mas".
- Eu quero enterrar ele.
- O que??? Aquele desgraçado!? De jeito nenhum Maya!
- Não aquele monstro, o meu marido. Faça isso por mim Obito, e eu aceito sua proposta.
- Você está se ouvindo?? Maya, eles são a mesma pessoa! - ele pegou gentilmente em meus ombros - Pare de fazer distinção entre eles!
- Obito, você o conheceu antes. Você sabe que aquele monstro e ele não são os mesmos. - toquei em seu peito, tentando provocar nele a intensidade das minhas palavras.
Ele suspirou, provavelmente lembrando de quem foi o homem com quem me casei, o menino na qual ele conheceu naquele exame em Konoha, a pessoa que cresceu ao nosso lado.
- Está bem Maya, o que quer que eu faça? - soltou meus ombros com o semblante derrotado - A Vila provavelmente já deu um fim no corpo dele.
- Não, eu não quero enterrar aquele corpo. Onde estão minhas coisas, você as trouxe para cá? - varri meus olhos pelo quarto tentando procurar algum sinal de meus pertences.
Ele se levantou e foi até um baú que estava em frente à cama e o abriu, veio até mim e estendeu a mão para que eu me apoiasse enquanto me levava até o objeto.
Me ajoelhei com ajuda de Obito que segurava a tampa sob a minha cabeça, remexi entre as roupas e cartas, até passar minhas mãos por uma foto. A foto.
Obito se abaixou um pouco para olhar juntamente comigo a imagem do rapaz que um dia eu amei mais que a mim mesma, passei os dedos sobre a foto contornando seus olhos e seus lábios que sempre traziam um sorriso.
Meu olhos marejaram ao ouvir em minha mente a sua doce voz, que nunca ousou me dizer nada de ruim.
- Então, o que vamos fazer? - Obito me tocou nos ombros me tirando de meus devaneios.
- Vamos até a Vila da Névoa, enterrar esta foto, no local onde ficava a nossa casa. - falei fazendo forças para levantar.
- Venha cá. - Obito novamente me pôs no colo, me poupando de andar, até que estava gostando de ser tão paparicada assim novamente.
Fomos para a cama e eu continuei,
- Me prometa que vamos fazer isso, Obito. Eu seguirei seus conselhos e irei morar aqui com vocês, se me prometer isso.
- Se essa é a sua forma de esquecer o passado e honrar a memória do que um dia já foi digno de ser honrado, então eu o farei. - ele não me olhava, mas sabia que aquela era sua forma de falar seriamente comigo - Eu prometo à você May.
Um sorriso se formou no meu rosto, o abracei e ele retribuiu alisando minhas costas doloridas.
De repente uma batida interrompeu nosso momento, Obito se levantou para ir até a porta e eu pude finalmente perceber o que eu estava vestindo.
Uma camisa branca larga e macia e um short preto do mesmo tecido. Fico me perguntando quem estaria me trocando durante esse tempo todo em que apaguei.
Obito abriu a porta e meu corpo gelou ao ver a mulher que eu mais respeitava no mundo, na minha frente e na mansão de seus inimigos naturais.
Seus cabelos loiros estavam amarrados para trás, sua roupa discreta daquelas que poderia passar despercebida pela multidão, mas sua imponência e postura nunca passavam despercebidos.
- Tsunade... - sussurrei, fazendo a mesma sorrir docilmente para mim - O que faz aqui?
- Estou aqui para cuidar de você, bom, estou cuidando de você já faz mais de um mês. - ela disse se aproximando e eu recuando.
- Mais de um mês!??! - minha cabeça começou a doer fortemente com o baque da notícia, por Rikudou eu apaguei por tanto tempo.
- Acalme-se meu bem, Maya, você precisa respirar e se acalmar, okay? - ela chegava mais perto enquanto Obito trancava a porta novamente.
- Por favor, senhora Tsunade. Não chegue perto de mim. - minhas mãos estavam à frente do meu corpo expulsando sua proximidade.
- Ah, claro, claro Maya. - ela pegou uma cadeira e se sentou perto da cama - Mas precisamos resolver como iremos saber se você está melhorando da forma mais fácil e rápida.
- Não quero que toque em mim. Me perdoe. Mas eu não consigo. - minha respiração começou a acelerar, anunciando uma crise de ansiedade por vir, Obito veio até mim do outro lado da cama e sentou ao meu lado.
- Maya, respire fundo. - suas mãos passeavam pelas minhas costas me dando a segurança de suas palavras - Tsunade veio somente ver se está tudo bem com você. Nela você pode confiar.
- Como eu posso confiar nela Obito?? Ela é a Hokage de Konoha, sabe que sou uma criminosa...
- Criminosa não. - Tsunade me interrompeu dura - Sobrevivente! É isso que você é, querida Maya!
Meus olhos arregalaram ao ouvir tais palavras.
- O que? - Olhei para Obito com uma confusão nos olhos.
- Nunca precisei forçar Tsunade a vir aqui para cuidar de você Maya, desde o ocorrido ela tem vindo aqui cuidar de você. - Obito segurou meu ombro contra seu peito, me abraçando e olhando para Tsunade.
- Você faz parte do meu povo e não somente por isso, mas por ter sido uma das mulheres mais corajosas, uma sobrevivente. - ela estava com aquela sua postura habitual de sempre, a mesma que usava para dar ordens e discursar para o povo, mas algo em seu tom a fazia ser ainda mais sincera. - Akatsuki e eu temos um acordo há muitos anos, desde que eles não ataquem nossa gente e as vilas de nossos aliados, a paz e a harmonia se instaura. E tem sido assim por anos e anos desde a minha liderança.
O choque dos segredos políticos que estavam por baixo dos panos me fez ficar boquiaberta. Obito me olhou e pôs minha boca no lugar, me fazendo soltar uma risada.
- Mas, pois bem, Maya. - Tsunade se levantou - Será que eu poderia examiná-la?
Meu corpo todo tremeu com a possibilidade, mas parte de mim sabia que precisava dos cuidados daquela mulher para que eu pudesse seguir com a minha vida, sem nenhuma sequela física do meu passado.
Suspirei fundo, controlando minha respiração e assenti com a cabeça.
- Não se preocupe, vamos no seu ritmo. - ela disse em seu tom gentil.
Obito se levantou para me dar privacidade naquele momento e foi até a janela observar o lado de fora. Tsunade preparou os kits médicos de sua bolsa na mesa do abajur e sentou-se a uma distância razoável de mim.
(●)
D
epois de uma consulta dolorosa e paciente, Tsunade concluiu: em termos médicos, que minha recuperação estava sendo um sucesso.
Já poderia retirar a faixa da cabeça e da coxa, ambas as feridas estavam totalmente cicatrizadas.
- Ah, não se preocupe com as manchas arroxeadas e vermelhas, eu te trouxe um gel para passar sob elas. Já as amarelas, como você sabe, estão prestes a desaparecer. - falou me entregando o tubo com o gel que parecia ser uma receita caseira.
- Obrigada, Tsunade-Sama. Obrigada por cuidar de mim por todo esse tempo. - peguei em sua mão, ainda com muito receio de tocá-la e a apertei.
- Ah querida Maya, espero que daqui pra frente você possa ser feliz de verdade. - ela falava com ternura - Mesmo que nossos caminhos se tornem diferentes a partir de agora.
O tom da sua voz já indicava sua ciência em minha decisão de aliar-me a Akatsuki, fiquei ruborizada e assenti. Assim que saiu do quarto, provavelmente para nunca mais me ver, Obito voltou para o meu lado na cama e puxou meu rosto para que eu o olhasse.
- Maya, amanhã podemos resolver esse lance do enterro, mas agora durma bastante. - seu tom de voz fez meu coração derreter, o cuidado que ele tinha por mim era louvável - Daqui a pouco mandarei comida para você, ok?
Sorri e o abracei, - Obrigada, meu garotão Uchiha.
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Eu não podia superar isso tudo que me ocorrera, nunca poderia…
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