O Enterro.
Abro meus olhos com menos dificuldade que da última vez, fixo o teto que me deixa extasiada toda vez que o olho, seus anjinhos e nuvens me dão paz. Levanto da cama olhando para meu corpo novamente, as inúmeras manchas me entristecem, nunca fiquei confortável em ter manchas ou marcas na minha pele. Mas acho que deveria aprender a conviver com elas até que desaparecessem, sai da cama à procura do banheiro, adoraria tomar um banho bem gelado para me despertar.
Olhei minha imagem no grande espelho do banheiro e sussurrei:
- O que seria de mim sem Obito...
(●)OBITO(●)
As imagens daquele dia ainda ficam me atormentando.
Ver a minha garota no chão, os cabelos molhados com o próprio sangue, sendo machucada pelo homem que um dia eu chamei de irmão...
- Ahh, Maya... - suspirei com o antebraço no rosto - Agora ninguém vai te machucar.
Respirei fundo e me levantei da cama, o sol ainda estava escondido dentre as nuvens, gostava de acordar cedo para resolver tudo o que tinha para fazer, ainda mais agora que Maya está aqui, estou muito empenhado em fazer de tudo para ficar ao seu lado.
Vou para o banheiro pensando em tudo a todo momento, minha mente não tinha paz, nada a fazia ficar quieta por muito tempo. Levar uma vida dupla não era fácil, mas as únicas vezes em que eu podia ser Obito, era com Maya, minha adorada menina de cabelos vermelhos. Fitei minha imagem no espelho, raros eram os momentos em que eu me sentia completamente feliz, depois da morte de Rin e todas as desgraças depois.
Pensei em Madara e em como ele me manipulou no início, mas Maya logo percebeu que algo estava errado...
- Agora o desgraçado está selado para sempre... - sussurrei entrando na banheira. A água do chuveiro escorria pela minha pele deformada, já se foram os tempos em que eu me incomodava tanto com minhas marcas, hoje eu aprendi a gostar delas.
Sentei na banheira quando ela já estava razoavelmente cheia, ao sentir meu corpo submerso, pude também permitir que minha mente viajasse para a época em que eu conheci ele.
Rin conversava comigo super nervosa e empolgada pelas provas do Exame, quando olhei para Maya ao meu lado olhando para trás, observando e sendo observada por um garoto que não parava de sorrir para ela. Fiquei imediatamente com ciúmes, ainda mais por perceber que Maya estava vermelha como um tomate.
Depois da notícia que ele e a família viriam morar na Folha, eu soube que era inevitável a sua presença no nosso grupo reservado. Aos poucos fui aceitando sua amizade, me conformando com a crescente paixão dos dois um pelo outro. Ver Maya feliz, era, e é a minha felicidade.
Ele a tratava com ainda mais cuidado que eu, me irritava às vezes em que Maya se metia em problemas e o cara já estava lá muito antes de mim, resolvendo tudo. Era realmente um bom menino, comecei a tratá-lo como um irmão, a querer sua presença conosco. Sentia sua ausência quando ia em missão com o time 7 e morria ainda mais por dentro quando ficava longe de Maya.
Procurava não pensar muito no que ocorreu anos depois... Minha quase morte, a morte de Rin, o massacre, a invasão à Aldeia, que fez Maya e eu nos afastarmos por manipulação de Madara, mas que logo foi desmascarado.
Mas não entrava na minha cabeça que aquele bom homem que havia se casado com Maya tenha se tornado aquele monstro. Bom, o que eu posso esperar, não é mesmo? Nunca imaginei que Kakashi atravessaria o coração de Rin e assim aconteceu.
Percebo meu corpo totalmente inexpressivo dentro da banheira, pego o sabonete e começo a me ensaboar. Logo levanto finalizando meu banho, escovo os dentes, faço a barba e dou uma última olhada no espelho. Apesar do amor que eu sentia por ele no passado, o ódio por sua nova forma e pelos seus atos começaram a me consumir aos poucos.
- Preciso fazer isso por Maya... - suspirei e saí do cômodo para me vestir. Precisava falar com Nagato para avisar a todos, através de Pain, que Maya faria parte da Organização e que em breve após se recuperar, iniciaria nas missões com os outros membros, mas que enquanto isso era obrigação de todos mantê-la em segurança.
- Mas o que?! - berrou Kakuzu - Porque nós iríamos nos dar ao luxo de proteger uma moribunda como aquela??
Meu sangue ferveu, mas me contive, não poderia sair do personagem.
- Porque serão recompensados, como em qualquer missão. - Pain em sua voz já irritado, disse cruzando os braços.
- Rum, quem é ela para tanto zelo assim? - Deidara bufou olhando para os lados buscando a curiosidade dos outros membros.
- Alguém que você terá de proteger, caso algo aconteça. - Kiyoko levantou a voz visivelmente estressada com os burburinhos - Idiota!! Espero que Jashin te elimine por ser tão burro!
- Como é que é? - Deidara se levantou - O que foi que você disse sua maluca sangrenta?!
- Mais respeito com ela, sua bomba ambulante! - Hidan também se levantou, seguido de Kiyoko que abriu seu sorriso maligno.
- Ahhh, pessoal... - a vozinha de Tobi saiu pela minha garganta - Que clima pesado é esse!? Deidara-Senpai, pense na boa grana que isso vai lhe render, vai até poder comprar argilas melhores para suas artes!
- Aquilo lá é arte... - Sasori comentou baixinho e Kiyoko riu debochada.
- Chega! Façam o que eu mandei! - Pain finalmente interrompeu a discussão - Vocês já serão recompensados pelo trabalho extra! Agora vão trabalhar!
As vozes de reclamações se dissiparam conforme os membros iam saindo de casa, quando vi que a casa estava completamente vazia, tirando os empregados silenciosos da mansão. Usei o Kamui e fui direto para a porta do quarto de Maya, bati e pude ouvir sua doce voz me convidando para entrar, abri a porta e me apressei em adentrar seu quarto.
Maya levantou-se devagar da poltrona onde estava, trajava um vestido preto rodado que ia até um pouco acima da metade das panturrilhas, nos pés sapatilhas pretas simples, a parte de cima vestia muito bem seus ombros largos, acentuando-os. Um típico vestido ombro-a-ombro, o cabelo amarrado como sempre em um rabo-de-cavalo com sua franja longa pendendo sobre seu rosto. Ela estava linda em seu luto, sua aparência abatida revelava seu passado como um soco em meu estômago, a foto em suas mãos e a ansiedade transbordante avisavam que ela estava pronta.
- Você está linda, Maya. - me aproximei dela entregando em suas mãos uma fotografia antiga, onde os sorrisos juvenis e familiares foram logo percebidos.
- Obito... - ela suspirou colocando a mão no peito e lacrimejando ao avistar eu, Rin, ele e Maya juntos em um abraço, ainda pequenos e recheados de inocência - Nossa, eu me lembro desse dia, que foto linda!
Ela me abraçou com força e eu retribui apertando-a com delicadeza.
- Está pronta?
Maya saiu do meu abraço e ajeitou-se.
- Estou. - pegou em minha mão e em seguida nos envolvi em meu Kamui.
(●)MAYA(●)
Quando chegamos na Vila, fui recebida pelo seu clima típico, meu corpo inteiro se arrepiou por estar novamente ali, em minha segunda casa, onde vivi lindos momentos. Estávamos a poucos metros da casa onde eu morei com ele.
Andei em silêncio, as memórias passavam rapidamente pela minha mente, me fazendo por um breve momento confundir a realidade do imaginário. Fiquei em frente onde ficava a casa e adentrei ao terreno, me esforcei para ver beleza em sua destruição, mas as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. Obito permaneceu em silêncio o tempo todo, só me dando a sua presença, que já era suficiente para mim.
Minhas pernas fraquejaram e antes de tocar ao chão o meu querido amigo me pegou em seus braços e lentamente me ajudou a ficar de joelhos. Me soltou saindo de dentro das ruínas e voltou com uma pá, aquilo só me fez chorar mais compulsivamente, eu tinha que fazer aquilo, mas ainda era tão difícil, tão doloroso...
Obito ajoelhou-se ao meu lado, tirou uma vela acesa de seu Kamui e dali foi tirando mais e mais coisas até montar um pequeno altar. Meu coração se encheu de amor pela forma atenciosa em que estava fazendo aquilo, quando ele terminou, levantou e com a pá abriu um buraco pequeno e fundo ao lado do altar.
Chorei mais um pouco com as duas fotografias grudadas em meu peito e finalmente pude falar,
- Eu sinto muito meu querido. Sinto muito por tudo o que você passou naqueles meses de guerra que consumiram seu espírito, até não sobrar mais nada de sua essência tão linda. - funguei e retomei o fôlego para continuar minha despedida - Você foi a luz da minha vida, desde o momento em que nossos olhos se encontraram pela primeira vez. Meu amor, eu amava quando a água da nossa cachoeira favorita respingava nos seu cabelos, pareciam mil brilhos tilintando nos inúmeros fios bagunçados da sua cabeça. Seu sorriso torto que sempre me fazia perder o ar, seus sussurros no meu ouvido dizendo o quanto me achava linda enquanto fazíamos amor... Agora estamos aqui, como você queria, eu e você na terra onde nasceu e agora... - voltei a chorar mais - E-está sendo muito difícil, mais do que eu pensava sobre me despedir de ti. Nunca o esquecerei...
Abracei com mais força as fotografias, me recusando a dizer as palavras finais. Senti o toque da mão de Obito em meu ombro, levantei minha cabeça para olhá-lo e lá estava ele, sem máscara, com sua expressão calma e dolorida, me dando seu apoio silencioso. Olhei para frente, respirei fundo e pus as duas fotos no altar.
- Adeus, meu Yuri... Eu vou te amar do mesmo jeito para sempre. Que Rin te receba com aquele sorriso doce e abraço aconchegante que só ela sabe dar.
- Adeus... Yuri meu amigo. - Obito abaixou-se colocando uma única flor branca sob o altar - Cuide da minha garota e a faça companhia que eu cuido da sua daqui de baixo, até que nos encontremos com vocês quando nossa hora chegar...
As palavras de Obito acabaram comigo, virei para abraçá-lo me derramando em lágrimas, meu corpo tremia pelo frio,
- Maya, coloque meu manto. - Obito me levantou e passou seu manto longo pelo meu corpo, me inundando com a sensação do calor delicioso que tinha e o perfume perfeito dele. Beijou o topo da minha cabeça e começou a enterrar as duas recordações de nossos queridos amigos, quando terminou, me envolveu em seus braços e permaneceu em silêncio, em respeito ao acontecimento.
- Podemos ir. - sussurrei em seu peito, ele me abraçou um pouco mais forte e em seguida estávamos no meu quarto.
O barulho de chuva se iniciou assim que deitamos na cama, e permanecemos assim o dia todo, abraçados e ouvindo a chuva cair forte do lado de fora.
O barulho da minha barriga rompeu o silêncio do quarto, pude sentir Obito sorrir.
- Que tal comermos algo? - ele falou acariciando minhas costas.
- Seria uma ótima ideia...
;
"Ter amigos é quase, ou tão quão importante que respirar, mas a sua amizade me impulsiona para ser capaz de fazer mais." - Bea Senju.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro