CAPÍTULO DOZE
LUCINDA FLANAGAN
A mulher se revira na cama e eu acompanho seus movimentos. Faz oito horas que está inconsciente e é meu dever resguardar sua saúde. Misturo um tônico com algumas ervas especiais. Aqueles ferimentos na cabeça não serão agradáveis quando acordar.
— Não! — Ela grita e abre os olhos, assustada.
Me apresso com a compressa sobre a sua testa. Há contusões por toda a cabeça, mas o pior corte já tinha sumido. Ela segura o meu pulso. Com força.
— Quem é você? — Pergunta. Sua voz está rouca e eu ofereço um copo e água.
Ela aceita.
— Você é curandeira? — Pergunta. Faço que sim com a cabeça. Sinto que seu corpo está mais relaxado. — Qual o seu nome?
Solto o pano úmido e desfaço qualquer expressão. Ergo a mão e gesticulo.
"Sou muda."
— Você não consegue falar? — Ela está surpresa e vejo um leve constrangimento em seus olhos. Faço que sim novamente. — Mas você pode escutar? Você entende o que eu digo?
Suspiro. Confirmo. É uma longa história que, aposto, ela não está interessada em escutar. Ou que eu esteja interessada em contra, de qualquer forma.
Pego o tônico que preparei e separo uma dose com a colher. Ergo as sobrancelhas e ela abre a boca. Engole. Olha para o braço e depois volta uma expressão surpresa.
— Eu achei que tinha quebrado. — Comenta. Busco uma forma de mostrar que, sim, estava quebrado, mas eu já tinha cuidado disso. Ela pega a essência da mensagem. — Magia? Uau, não sabia que podia pagar por isso.
Quero dizer que alguém pagou por isso, mas não consigo. Uma batida na porta é a salvação que preciso para não ter que explicar.
O Chefe da Guarda – o antigo, não o novo – entra e vou para um canto do quarto, fingindo mexer com os remédios que eu já preparei.
— Você está acordada. — Ele comenta, surpreso. Não arrisco olhar para que expressão ela faz.
— Então é você que está bancando esse tratamento? — Ela pergunta e posso notar a tensão na sua voz. Não sei dizer que tipo de relacionamento eles têm. Amantes, talvez?
— Um pedido da Rainha. — Explica. É mentira, mas não posso falar. Ele não parece confortável em estar no mesmo quarto que ela, ou talvez sinta as ondas de raiva que emanam do seu pequeno corpo na cama. — A competição acabou.
— Eu imaginei. — Sua voz é plana. — Haddon ganhou, pelo que me lembro.
Ela parece enojada com o nome.
— Estou voltando para casa em uma semana.
Silêncio.
Arrisco levantar o olhar e me surpreendo com o olhar de mágoa que há no rosto da mulher.
— Não me peça para voltar para casa.
— Mas...
— Eu não poderia imaginar desonra maior que essa. — Ela dispara. Tenho que admirar sua coragem. — Meu lugar é aqui, servindo. Chefe ou não.
— Eu... — Imagino que poucas vezes o Chefe da Guarda ficou sem palavras. — Eu entendo.
Mais um minuto de silêncio se segue até que ele deixa o quarto.
Finjo que há algo muito importante entre as pomadas quando ouço o choro da mulher.
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