Não iria dizer a verdade para ele, para que ficasse atrás de mim e sofrendo pela perda assim como eu.

-Eu não sei. Poderia ser seu ou do Pablo.

O rosto do Felipe endureceu, mas ele apenas balançou a cabeça.

-Como está se sentindo?

-Com dor e cansada.

-Sinto muito.

Ele veio até mim e segurou a minha mão. Tudo poderia ter sido diferente. Senti raiva de Pablo pela primeira vez, se não fosse por ele, se ele não fosse tão descuidado eu estaria com Felipe da maneira certa, casaria por amor e não ficaria me enfiando na floresta para vigiar o casal, então também não teria me envolvido com Riwty. Ele beijou meu cabelo e ficamos meio abraçados até meu noivo aparecer.

-Ellie.

Felipe não se soltou rápido de mim, muito pelo contrário, parecia querer marcar território. Revirei os olhos, se ele soubesse...

-Já falei com meu pai e o doutor, vou passar o dia com você, ele também achou que seria melhor você dormir lá na taverna hoje, ficaria mais fácil para cuidar de você.

-Você já tem seu irmão para cuidar, eu posso ajudar a Ellie.

-Tudo bem, mas ela não pode passar a noite sozinha e não sabemos se a Elise vai dar conta de cuidar dela.

-Não tem problema, eu passo a noite lá.

-O quê? Você está louco Felipe? Ele é meu noivo.

-Seu noivo não se importa em dividir você com um cara que não liga a mínima para você, eu te amo.

-Ellie, eu só dei minha opinião, a decisão é sua. Vou ficar ali no corredor para vocês se acertarem.

As lágrimas caíam no meu rosto, de frustração e vergonha.

-Eu não acredito que você me ofendeu desse jeito.

-Quem te ofende é ele, que te trata feito puta e não se importa com a sua reputação. Eu te amo, não sei te explicar mas sinto dentro de mim que esse filho era meu.

-Você não tem como saber.

-Mas podia ser. Isso me fez pensar que você pode engravidar a qualquer momento e esse filho ser meu, mas ele vai ser o pai oficial.

-Você está falando tudo isso comigo agora? Eu acabei de perder meu filho, estou com hemorragia e muitas dores. Vai embora, por favor.

-Ellie eu te amo.

-Por favor sai.

-Não.

-Ei, ela falou para você sair.

-Não se mete no que não é da sua conta.

-Claro que é, ela é minha noiva.

-Você não dá a mínima para ela.

Comecei a chorar compulsivamente, não podia lidar com aquilo agora, não tinha condições. Nenhum dos dois se importou com isso, continuaram discutindo sobre mim como se eu fosse um objeto em disputa.

-Vou embora.

-Eu vou dormir no quarto lá em cima, venho à noite te levar para a taverna.

Estranhei aquilo e virei para eles, os dois estavam com os olhos vidrados e saíram do cômodo, parado na porta estava Bolinho. Quando a porta da frente foi fechada, Riwty apareceu.

Não sentia mais raiva, parecia que não conseguia sentir isso por ele durante muito tempo, mas estava triste. Não tinha nada para falar, então fiquei quieta. Ele não tinha a expressão maliciosa de costume, também estava triste.

-Desculpe.

-Você me fez perder o bebê.

-Não, não fiz. Você já sabia que iria perder, estava sentindo dores.

-Por que me largou lá no chão sozinha?

-Eu, eu não consigo te explicar, sinto muito.

-Não consigo sentir raiva de você.

-Eu sei, faz parte da relação entre os fae e os humanos. Quanto mais favores aceitos mais o humano fica dependente do fae.

-Então eu realmente perdi partes da minha alma.

-Não, você só passa a precisar de mim. Por isso que muitos humanos enlouquecem quando são abandonados, dizem que a dor é muito grande.

-Então eu vou sofrer muito quando você for.

-Não, eu estou preso a você, fizemos aquela ligação. Você conseguiu um pouco de magia vinda de mim, não posso te abandonar porque tem um pedaço meu aí.

-Por que fez isso?

-Achei que pudesse precisar em algum momento e que merecia.

-Por causa dessa dependência que eu não consegui te deixar ir quando me perguntou?

-Sim.

-Por que eu?

-Você é especial, diferente de tudo o que eu conhecia. Meu mundo não é tão diferente do seu, somos cruéis e egoístas, acho que apenas assumimos isso. Mas eu via você fingindo para todos para salvar a pele daquele cara e perdendo tanto com isso. Fiquei fascinado.