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A vendedora apareceu de óculos e com uma mulher alta e loira ao seu lado, deveria ser a tal Marie.
-Belinda, para você eu sempre tenho tempo.
A senhora Lint e Marie trocaram beijinhos e amenidades antes de sermos apresentadas.
-Essas aqui são as minhas protegidas, Ellie e Ester.
Não sabia que éramos protegidas dela, mas talvez ela fosse a pessoa que nos representaria na sociedade. Não que eu estivesse interessada em ser apresentada a ninguém, preferia conhecer os pontos turísticos em família.
Sorri para a mulher e ela nos levou para um breve tour pela loja.
-Então, do que vocês precisam?
-Basicamente tudo, mas nesse momento o mais urgente são os vestidos de noiva. O resto pode ser entregue depois._ Falou Belinda.
-As duas são noivas, vai ser um casamento duplo?
-Sim, minha irmã permitiu que eu compartilhasse a data que ela tinha escolhido._Falei.
-Os traços mais marcantes como os olhos e cabelos são bem diferentes, mas realmente existe uma semelhança nas feições, agora que examinei melhor.
Ou seja, nós parecíamos parentes, mas não irmãs. Eu me sentia desconfortável com isso, pois Ester e Elise eram extremamente parecidas e eu também queria ser assim. O fato de eu ser ruiva em uma família em que todos tinham cebelos escuros e olhos em diversos tons de azul me tornava ainda mais deslocada.
-Então como são duas mulheres usando bramco ao mesmo tempo precisamos deixar os modelos bem diferentes.
Aquela última fala me atraiu para o presente.
-Eu não vou usar branco.
-Como?_ Falaram Marie e a senhora Lint ao mesmo tempo.
Minha irmã corou.
-Eu não quero casar de branco.
-Mas você é a noiva, o vestido precisa ressaltar sua pureza.
Eu fiz uma careta e minha irmã virou uma cereja.
Não iria casar de branco, não queria transformar meu casamento em uma piada. Até eu tinha um limite para o ridículo que infligia a mim mesma. A vadia da vila casando de branco, nunca daria tal arma para o fuxico. Seria melhor se eu usasse um vestido de seda vermelha com um decote que quase mostrasse os mamilos.
-Tudo bem, que cor quer usar então?_Perguntou a Senhora Lint.
Nem precisei pensar.
-Verde claro.
-Realmente, ficará lindo com seu tom de pele._ Falou Marie._E você, querida vai usar algo colorido ou o branco tradicional?
-E.. Eu não sei.
Ela estava pensando em como a pureza dela contrastaria com a minha depravação, mas eu conseguia ver que ela queria usar branco.
-Você vai ficar linda de branco, Ester.
Tentei transmitir com os olhos o pensamento de que estava tudo bem.
-Então eu vou usar branco.
-Ótimo, minha querida. Vou deixar você com Jane e levarei sua irmã.
Marie tomou minha mão e me levou até os tecidos verdes.
-Você não deveria deixar a opinião das pessoas impedi-la de usar branco em seu casamento. É um dia muito especial.
O problema é que eu realmente não queria usar branco, não queria transmitir pureza. E se fosse puramente pela questão estética eu preferia tecidos coloridos.
-Eu quero usar verde.
Ela deu de ombros e começou a me mostrar os tecidos. Não era uma variedade tão grande quanto a de tecidos brancos, mas um imediatamente atraiu minha atenção.
Era uma cambraia em um tom claro de verde, porém com vida, era perfeito.
-Realmente, essa cor ficará linda em você. Eu tenho um modelo que acho que seria perfeito para esse tecido.
Ela então saiu e voltou alguns minutos depois com um desenho na mão e uma boneca na outra. Marie colocou o desenho no balcão.
O vestido não era armado e tinha mangas longas, o que eu já considerava ótimo e tinha aplicações de renda nas mangas e no corpete. Parecia bonito. Então ela mostrou o vestido na boneca e eu me apaixonei.
-Eu comecei a fazer os modelos em bonecas porque assim as pessoas visualizavam melhor.
A partir da cintura o vestido possuía várias camadas de tecido, deixando-o mais encorpado, porém sem armar. A parte de cima era feita de apenas uma camada sem forro, o que dava uma leve transparência além dos vários apliques de renda nos braços e no tronco.
-É lindo.
-Podemos fazer nesse modelo?
-Sim.
-Então precisamos escolher a renda.
Ela me levou para um outro balcão e me mostrou as três opções de renda verde, escolhi a mais clara.
-Seu véu também será verde?
Até eu achei a ideia estranha, então consenti em usar um véu branco com uma presilha com pedras, mas não muito chamativa.
Marie nos levou para as cabines e tirou nossas meninas. Ester estava radiante de felicidade, agora faltava muito pouco para que ela se casasse com o amor da sua vida. Muito pouco.
Em uma semana eu estaria presa a Pablo para o resto da minha vida. Eu senti como se as paredes daquele lugar estivessem me apertando.
Quando saímos da loja eu me sentia sufocar enquanto minha irmã tagarelava sobre o modelo e os tecidos do vestido dela.
Voltamos para a casa da senhora Lint e eu agia como um zumbi. Tínhamos voltado para almoçar. Subi as escadas para o meu quarto meio fora do corpo.
Deitei em minha cama e Bolinho pulou para ela e ficou ao meu lado. Não sei quanto tempo passou, mas uma empregada abriu a porta e falou.
-Senhorita, o almoço está pronto.
-Eu estou me sentindo mal. Por favor fale para a senhora Lint que eu não vou descer para comer nem para as compras da tarde.
-Posso fazer algo pela senhorita?
-Nada além disso, muito obrigada.
Algum tempo depois a moça voltou e me encontrou na mesma posição.
-Trouxe uma sopa para a senhorita.
-Muito obrigada.
A tarde passou e eu não me mexi, a sensação de estar me afundando em areia movediça se tornava desesperador.
Não percebi em que momento Bolinho se transformou em Riwty, mas só percebi que estava com a cabeça em seu colo e suas mãos afagando meus cabelos quando ele falou.
-Conte o que está acontecendo.
-Eu, eu não pensei que fosse chegar tão rápido. Eu não estou pronta, a realidade de me casar com Pablo está me esmagando.
-Então não se case.
-Eu não posso, ele depende de mim e agora eu estou grávida. Preciso me casar. Só que preciso de mais tempo.
-Fale com ele.
-Eles não vão aceitar. Minha irmã vai ser a primeira a me casar se desconfiar que eu não quero.
-Você aceita que eu adie seu casamento?
Era um favor, parecia algo fútil para se trocar a alma, mas agora ele estava preso a mim e eu não ficaria louca por ter sido abandonada por um fae. Além disso, eu não enxergava nenhuma solução e faria qualquer coisa para não me sentir do jeito que eu estava me sentindo.
-Eu aceito.
O sorriso que ele me devolveu foi tão predatório que quase sobrepujou o aperto no peito que se seguiu ao acordo.
Ele continuou fazendo carinho em mim até que peguei no sono. Quando acordei o sol estava se pondo e Riwty não estava mais lá, deveria ter ido caçar ou resolver meu problema. A tranquilidade me fez perceber que estava faminta.
Estava preparada para comer uma sopa fria e um pão endurecido, mas ela estava quente e o pão delicioso. Mais uma magia que Riwty tinha feito sem nenhum acordo. Consegui sorrir para esse pensamento por um segundo antes de atacar a comida.
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