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25

Encontrei Pá e Ester na entrada da taverna. John abraçava minha irmã e sussurrava no ouvido dela. Ignorei a cena e apertei Bolinho no meu colo.

-Filha, nós vamos na carroça do correio e na volta, por causa da bagagem, eu vou alugar uma para nós.

-Por mim tudo bem, Pá.

Andamos até o posto dos correios, uma casinha minúscula, com o emblema do país e do condado pintados na parede branca.

A carroça já estava pronta e o carteiro da cidade e mais dois, que deveriam estar voltando para a capital, já estavam lá. Apenas uma senhora da nossa vila ia viajar e olhou com desgosto para mim quando nos viu chegar.  John e Pablo carregavam nossos baús, e eu, Bolinho.

O escrivão estava abrindo o estabelecimento, era estranho pensar que em pouco mais de uma semana eu estaria me casando enquanto ele celebrava a cerimônia. O senhor gorducho, careca e baixinho, todo vestido de preto, sorriu para nós.

-Olhem só os noivos. As pombinhas vão para a capital fazer o enxoval?

-Vamos sim._ Respondeu alegremente minha irmã mais velha.

Era bonito vê-la feliz assim, apesar ee achar que John não era o homem certo para ela. Ao ver o sorriso de Ester, seu noivo deu-lhe um selinho e seus olhos brilhavam quando levantou o rosto. Os dois se amavam.

Meu coração apertou um pouco ao perceber que eu nunca teria isso. Até meus sentimentos por Felipe estavam esmaecendo.

-Miau.
(Você não deveria deixar sua irmã se casar com ele, só vai fazer a relação de vocês duas piorar, além de que ele é um lixo.)

Cocei a cabeça do gato e não falei nada. Ele estava certo sobre John ser péssimo, mas a respeito da nossa relação piorar eu não poderia acreditar nisso. Apesar de tudo ela era minha irmã.

Entramos na carroça, o baú estava aos meus pés. Pablo me deu um selinho de despedida e Pá abraçou os filhos com força. Também deu um olhar de aviso ao meu noivo, ninguém confiava nele, pensei com um misto de ironia e pena.

Por fim ganhamos a estrada, meu estômago dava voltas de nervosismo, eu estava muito animada.

-Quanto tempo leva a viagem?

-Dois dias. Vamos dormir hoje e amanhã em estalagens, mas não sei quantas vezes vamos parar durante o dia.

Ester deitou a cabeça no meu ombro.

-Animada com a viagem?

-Muito, você gostou de lá quando foi?

-Eu tinha só quatro anos, não me lembro.

-E Você, Pá, gosta da capital?

-Bastante, é uma cidade muito grande e chique. Nós vamos ficar na casa de uns amigos meus, mas eu não perguntei se eles aceitavam gatos, espero que não se importem.

-Miau
(Não vão se importar, ninguém resiste ao meu charme.)

Ou magia, fae abusado.

-Parece até que sabe que estamos falando dele. _Disse Pá admirando o gato.

-Bolinho é um gato muito inteligente mesmo.

-Miau.
(Finalmente fui reconhecido.)

Dei uma puxada na orelha de Bolinho para que ele parasse de responder os comentários sobre ele, mas a única coisa que consegui foi que ele chiasse para mim. Bufei frustrada.

Minha irmã acabou dormindo no meu meu ombro e Pá cochilou em seu assento, roncando baixinho. O que me deixou indefesa para a senhora que me olhou com desprezo antes.

-Os correios já foram uma instituição mais respeitada, hoje em dia eles deixam qualquer um usar seus serviços.

-Miau.
(Realmente, deixaram até você entrar.)

Espremi os lábios para não rir.

-Na minha época era diferente.

-Miau.
(Eu acredito, você parece mais velha que o meu rei, sua velha coroca e ele tem 10 mil anos.)

Dessa vez eu precisei morder a boca.

-Você está rindo da minha cara sua vadiazinha?

-Ei, o que é isso? Eu não ofendi a senhora, pare de me agredir.

-Você ofende a vila inteira com a sua presença. Deveria ficar no bordel, que é o seu lugar.

-Não teria vergonha nenhuma de ser prostituta, mas teria de ser a senhora, que o marido gasta fortunas com elas.

-Miau.
(Isso mesmo, Ellie. Ela é uma corna mal amada.)

-Quem você pensa que é sua vagabunda de última categoria?

A velha avançou para cima de mim e acabou chutando Pá, que acordou. Ela continuou vindo na minha direção, mas meu sogro a segurou, enquanto Bolinho chiava.

A senhora começou a gritar e se debater nos braços de Pá e os carteiros precisaram ajudá-lo.

A gritaria era terrível, isso também acordou minha irmã, que ao ouvir os xingamentos dirigidos a mim, começou a responder a mulher.

Em um instante a carroça freou e a velha quase caiu. Então o condutor apareceu no buraco da lona.

-O que está acontecendo aqui?

O homem com um chapéu de palha e uma camisa branca enrolada no cotovelo parecia irado.

-Essa vagabunda me agrediu.

-Você bateu na velha?

A senhora bufou indignada.

-Não, ela começou a me xingar.

-Não falei nada que não fosse verdade, sua rameira.

-O velha, se você continuar arrumando confusão na minha carroça eu vou te largar na estrada.

-Mas que absurdo, você não vai punir a degenerada?

-A degenerada pagou e estava quieta, enquanto você só sabe fazer baderna no meu transporte. Já foi avisada.

O homem voltou para a boléia e a carroça começou a andar. Riwty passou muito tempo rindo e debochando da velha, o que para os outros parecia uma miadeira infinita.

-Cala a boca desse seu gato, se não o carroceiro vai largar ele na estrada. _Disse a velha.

-Miau
(Sua velha mal amada.)

-Ela está certa, é melhor seu gato ficar quieto._ Falou um dos carteiros.

-Shhhhh, Bolinho. Fica quietinho, fica.

Riwty parou de falar e eu peguei no sono recebendo um olhar raivoso da velha, um decepcionado de Ester e um de preocupação de Pá. Além de tudo isso, Bolinho ficou mal humorado. Realmente, foi melhor dormir.

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