Encarei Riwty por alguns segundos, me senti em um conto de fadas, quando ele puxaria a varinha mágica? 

-Bem, pronta?

-Não.

-Então vamos assim mesmo.

Em um segundo minha roupa se transformou no vestido que ele havia feito para mim. Riwty parou e  me olhou por alguns segundos.

-Acho que sapatos vermelhos não ficariam bons. Prefere dourado ou prateado?

Pensei nas  rosas das costas do vestido e fiquei corada ao lembrar que nessa parte ele era transparente. 

-Dourado.

-Tudo bem, levante o vestido.

Puxei o vestido para cima e ele colocou sandálias douradas nos meus pés. Elas tinham pedras pretas nas laterais, eram simplesmente lindas. Não sabia porque ele as estava colocando em mim quando ele simplesmente poderia fazê-las aparecerem lá, já amarradas. A sensação de seus dedos quentes em meus pés me dava pequenos arrepios. Um sorriso malicioso se espalhou no rosto de Riwty e aqueles olhos verdes pareceram brilhar ainda mais. 

-Eu não posso ir.

-E por que não?

-Todos me conhecem.

-E?

-Até eu tenho um limite para minha ousadia, a reputação da minha família estaria arruinada e minha irmã perderia o noivo.

-Ela se livraria de um traste, isso sim.

-Eles se amam.

-Uma pena para ela. Eu posso fazer uma boa maquiagem.

-Meu cabelo, não tem outra ruiva lá.

-Posso dar um jeito nisso também. Que cor você quer? Verde para combinar com seus olhos? Quem sabe um azul?

-Não, claro que não.

-Para que se prender à essas cores humanas limitadas?

-Se eu colocar um tom de verde no meu cabelo vou chamar ainda mais atenção.

-Tudo bem, que cor humana chata você quer?

-Castanho médio.

-Isso é sério?

-Sim.

-Coloque pelo menos o tom preto de suas irmãs, é bonito.

Pensei naquilo, muitas vezes tive vontade de ter aquele cabelo, era realmente muito bonito.

-Pode ser então, depois volta ao normal?

-No momento que quiser.

-Tudo bem.

Ele passou a mão pelos meus fios e senti uma eletricidade percorrer meu couro cabeludo, não senti mais a trança batendo em minhas costas e dois cachos negros e bem mais largos que os meus caíram nas laterais do meu rosto.  

-Agora uma maquiagem pesada para ninguém te reconhecer.

Ele tocou levemente minha bochecha e um formigamento passou por meu rosto. Um espelho de corpo inteiro com moldura dourada apareceu na minha frente. Vi uma mulher que não conhecia. Meus olhos pareciam maiores com uma sombra dourada e meus lábios inchados pela tinta vermelha. Finalmente entendi porque ninguém me reconheceria, flores e círculos estavam desenhados por todo o meu rosto, como uma máscara. 

Meu cabelo estava parcialmente preso no alto com os cachos caindo desordenadamente. Riwty havia mentido para mim, aquele não era o tom de cabelo das minhas irmãs. Era um preto profundo como tinta, mas parecia ter um fundo azulado. Eu parecia uma visão, um ser irreal. Nunca havia me sentido tão linda.

-Faltam os brincos.

Ele veio por trás de mim e separou o cabelo do pescoço, colocou um brinco dourado com uma pedra negra em formato de rosa com duas pedras verdes em formato de folhas ao lado. Fez a mesma coisa com a outra orelha.

-Você está deslumbrante.

Corei, mas quase não se via por baixo de todos aqueles desenhos. Não percebi que encostei a mão em seu rosto, ele a puxou e a encostou em sua boca. Pensei que ele ia morder meu dedo, mas deu apenas um beijo suave. Seu olhar era doce.

Nos olhávamos quando vozes chegaram até nós. Ele nos puxou mais para o meio da floresta.

-Então como foi na capital?

-Um desastre, aquele conde é um desgraçado.

-Ele deu o caso para o Feny?

-Antes fosse. Aquele homem estúpido disse que estávamos desperdiçando o tempo dele com um caso de ovelhas e nos obrigou a pagar uma moeda de prata cada um.

-Socorro, é muito dinheiro.

-Sim, vai ser um bom prejuízo para a fazenda.

-Então o que vai fazer aqui hoje?

-Vim descansar, eu mereço após todo essa desgraça.

-Mas vai gastar mais dinheiro ainda.

-Minha mulher economiza depois.

Fiquei com raiva. Ele acabava de pperder uma quantia absurda e estava interessado em gastar com um bordel, para depois a esposa se virar com os gastos da casa.

-Não fale nada Ellie. Eles não podem nos ver aqui. _Sussurrou Riwty no meu ouvido.

Aquilo me arrepiou e acabei inclinando a cabeça em sua direção. Senti seu sorriso em minha orelha e então ele me mordeu. Quase gemi quando ele chupou o sangue.

-Desculpa, não consegui resistir.

Não falei nada, senti minha garganta travada.

-Barnaby, esse nosso conde é um inútil .

-Sim, ele gasta o dinheiro dos nossos impostos e fica sentado sem resolver nada.

-Não entendo porque o rei não faz nada.

-Ele tem assuntos mais importantes. O reino está com problemas internos e externos.

Arregalei os olhos quando ouvi aquilo. As informações nunca chegavam naquela parte do país, vivíamos em um fim de mundo.

-O que está acontecendo?

-Parece que os países do leste estão criando problemas, querem impostos menores para o acesso ao mar. Parece que o nosso rei disse que se eles fizessem parte do nosso país não teriam que pagar impostos. Isso foi levado como uma ameaça de guerra.

-O que aconteceu com nosso rei? Ele sempre foi pacífico.

-Dizem que enlouqueceu. Dois países exigiram que ele fosse deposto em nome do filho.

-Meu senhor unificador. E os problemas internos?

-Estamos em meio a uma guerra entre os unificadores e os fae.

Senti Riwty ficar tenso.

-Mas isso eles sempre estiveram.

-Aparentemente os purificadores cortaram várias árvores sagradas e os fae para retaliar estão transformando o deserto do norte em uma floresta. Dezenas de árvores nascem todos os dias e eles não têm lenhadores lá. Além disso, eles estão atacando humanos.

Riwty começou a apertar meu braço.

-Vários homens que tentaram cortar as novas árvores desapareceram dias depois.

-Como você sabe de tudo isso?

-Meu irmão trabalha nos corrreios.

-Estamos atolados em merda sem nem saber.

-Vamos, o bordel abriu.

Riwty continuava me apertando, quando toquei o braço dele ele se assustou.

-Está tudo bem?

-Por que não estaria?

Riwty deu um sorriso que não chegou aos olhos.

-Você não pode entrar lá com esses aneis.

Ele pegou minha mão direita e tirou minha aliança e o anel que Felipe me deu e guardou em algum lugar da túnica.

-Vamos, você tem uma festa para ir.