Capítulo 9
Era uma noite bela e cheia de luzes. A música alta não impediu ninguém de conversar e muitos ainda aproveitavam as atividades recreativas antes que sua banda favorita entrasse no palco.
Os sete — quase — amigos logo se dispersaram, cada um atraído por algo diferente.
Zoe e Apolo, por exemplo, pararam em frente a uma barraca com uma placa que dizia: "acerte quantos dragões puder e leve um prêmio!". A sereia torceu para que fossem dragões de brinquedo, apesar de serem realistas.
— O rapaz se acha capaz de ganhar alguns prêmios para a senhorita? Basta acertar essa flecha no máximo de dragões! — O vendedor não perde tempo em se aproveitar da atenção dos dois.
Os sereianos trocam olhares e sorriem de maneira divertida. Apesar de sua aparência delicada, as princesas em Atlantis não aprendem apenas regras de etiqueta. Assim, Zoe pegou um arpão e Apolo pegou um outro para disputarem entre si.
O dono da barraca controlava os dragões, e Zoe deu o primeiro tiro, passando de raspão na cauda de um. Apolo foi logo em seguida e acertou . Zoe se concentrou e conseguiu acertar o segundo tiro. No fim das contas, após 5 tentativas os dois empataram
— Não pude deixar de notar que aquele mago é um trapaceiro! — Apolo e Zoe continuaram a caminhar em busca de novas atividades.
Pouco longe dali, Amélie, Roberto, e Seline estavam numa competição para ver quem dava o soco mais forte, com Nicolai apenas observando de braços cruzados. Um sorriso escapuliu do seu rosto quando Roberto atingiu uma pontuação baixa.
— Está rindo, é? Então faz melhor!
Roberto pareceu realmente incomodado com a maneira com a qual o lobisomem olhou para ele. Por sua vez, Nicolai deu de ombros e resolveu mostrar o que poderia fazer. ele se preparou fechando o punho e puxando o cotovelo para trás concentrando sua força para acertar o alvo.
De fato Nicolai conseguiu uma pontuação melhor, mas Roberto não se deu por vencido e quis uma segunda disputa. Seline estava se divertindo com a intriga dos dois enquanto Amélie se afastava cada vez mais, passando despercebida.
Seline riu quando Roberto reclamou sobre Nicolai estar trapaceando devido aos poderes de lobisomem. A elfa foi compartilhar suas impressões com a feiticeira, mas ela já não estava lá.
— Onde foi parar a Amélie? Ela sumiu do nada.
— Relaxa Sel, todos estamos nos divertindo, ela só deve ter encontrado um jogo mais legal.
Os três pareciam relativamente tranquilos, no entanto isso mudou quando Mira surgiu no campo de visão deles, sua presença destoando da animação ao redor. Ela caminhava distraída, esbarrando nas pessoas sem perceber, com um olhar distante e perturbado. Os pensamentos sobre a adivinhação a consumiam, e seu semblante carregava a marca de uma inquietação.
— Mira! Está tudo bem? — Seline é a primeira a perguntar, chamando a atenção dos outros dois que até então não tinham percebido a aproximação da vampira.
— Estou! Só que eu acabei de ouvir umas coisas e...— ela parou de falar pensando se realmente precisava contar tudo.
— Alguém te fez mal? — Roberto se aproximou da vampira, preocupado.
— Não! Era só uma adivinhação, mas... é complicado.
Dessa vez Nicolai parou de fingir indiferença e passou a prestar mais atenção.
— Com essa cara até parece que o mundo está prestes a acabar— Nicolai debocha, mas ficou sério assim que Mira direcionou sua atenção a ele. O lobisomem percebeu que talvez a adivinhação fosse realmente era séria.
— O que você descobriu? — Seline foi a primeira a perguntar.
Enquanto Mira contava sobre a adivinhação, Zoe e Apolo continuavam suas aventuras pelo festival.
— Ei, que tal voar? — Apolo perguntou a Zoe
— Como assim?
— Olha lá! Eles entram naquele negócio, tipo um pote quadrado gigante, e as feiticeiras fazem ele subir até o céu..
Enquanto ele explicava, Zoe via os outros fazendo e apesar de parecer extremamente perigoso, isso a atraía como um imã. Bastou um olhar para Apolo entender o desejo da sereia. Eles avisam aos guardas e se acomodam no local indicado. Nada os segurava no lugar, Zoe começou a suar frio conforme eles iam se distanciando do chão.
Zoe fechou os olhos, o coração batendo acelerado com a sensação de altura. O calor da mão de Apolo sobre a dela a fez abrir os olhos lentamente, e ela notou os dedos entrelaçados deles. O toque dele era um conforto inesperado em meio ao frio da altura.
— Você vai perder a vista! — Ele a olhou nos olhos e depois voltou a encarar o horizonte.
Zoe o seguiu, e a vista lá de cima lhe tirou o fôlego. O festival inteiro se espalhava abaixo deles, com as luzes brilhando como estrelas coloridas na noite.
— Zoe... — Apolo chamou a atenção dela. — Eu nunca tive coragem de dizer, mas hoje você está... incrível. Você já é linda todo dia, mas hoje... — Ele hesitou, e Zoe percebeu que estava prendendo a respiração — ...é especial.
Ele sussurrou a última palavra e o som do ambiente parecia cada vez mais distante para eles. Neste momento, Zoe resolveu deixar seu coração lhe guiar e tomou a iniciativa de tocar seus lábios com os seus. As mãos de Apolo se apoiaram na cintura dela e Zoe se atreveu a deslizar sua mão em direção aos cabelos do tritão, ela sempre quis saber se são tão macios quanto parecem. Eles se afastam por poucos centímetros, ainda com as testas coladas e a respiração pesada.
Enquanto desciam lentamente, eles se afastaram, embora fosse a última coisa que quisessem fazer. Mas nenhum guarda podia saber o que tinha acontecido. Jamais poderiam sequer encostar um no outro. Se vissem Apolo tão próximo da princesa, ele estaria arruinado. Já era difícil aceitarem a amizade deles.
Em silêncio eles tocaram o chão novamente, com os rostos tão vermelhos como o sangue, mal conseguiam conter o sorriso.
Gotas de chuva começaram a cair do céu, e Zoe sentiu um calafrio que a fez estremecer. A sensação de energia pesada era inconfundível. Seu sorriso desapareceu enquanto ela estendia a mão para apanhar as gotas. Quando viu a água vermelha escorrendo pela sua pele, uma sensação de inquietação tomou conta dela. Zoe olhou para Apolo com um olhar preocupado.
— Precisamos encontrar os outros. Essa água está carregada de energia negativa.
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