Capítulo 2: Dias Chuvosos
Sete dias se passaram desde a tragédia fatal que mudou sua vida para sempre. Jimin continua a tocar piano, acreditando que pode, de alguma forma, se conectar com os mortos. Ele esperava ansiosamente pelos aplausos que recebia diariamente após começar a tocar. Taehyung e Robyn sentiam pena dele.
— Não vai à missa de sétimo dia? — Taehyung perguntou após a última nota ser tocada.
— Eles não eram católicos. Quem está organizando isso? — questionou, se preparando para deixar o instrumento.
— Sua tia, Clarice!
— Eu não vou. Ela não é minha tia de verdade, é viúva do tio-avô do meu pai. É muito desrespeitoso comigo e com a memória dos meus pais fazer algo assim quando eles nem mesmo eram cristãos — ele conta, virando de costas para o piano para encarar o motorista. — Na verdade eram adeptos a maçonaria.
Taehyung assentiu, mordendo os lábios para conter o nervosismo. Desde a discussão na boate, sente que deve pisar em ovos para não acabar prejudicando-se no trabalho. Ele amava Jimin, mas sabia que o mesmo era imprevisível, e sem Apollo para protegê-lo, não poderia fazer nada caso o loiro lhe mandasse embora.
Jimin sorri para Taehyung achando engraçado seu comportamento, estava adiando todas as reuniões com os advogados da família e executivos de suas empresas, pois não estava pronto para assumir seu posto e nem queria lidar com nada. O motorista sorri de volta, abaixando a cabeça, intimidado com o sorriso encantador do patrão.
— Obrigado por não me deixar passar por esse inferno sozinho — ele disse tocando no motorista. Taehyung acaricia suas mãos com carinho, trazendo as até os lábios para beijá-las com devoção. — Também sou grato a você, Robyn! — continua ao avistar a governanta atrás do motorista, segurando uma bandeja com suco natural.
— Imagina, meu amor, sou muito grata por tudo que os patrões fizeram por mim e permanecerei ao seu lado durante o tempo que permitir — disse a mulher parda de olhos esverdeados, com um sorriso dócil nos lábios. — Fiz suco para você, fique hidratado!
Jimin concordou, afastando-se de Taehyung para ir até ela e pegar o copo, bebericando o líquido gelado em seguida. O rapaz, que não sai de dentro do pijama há dias, tenta se recompor e recomeçar.
— Robyn, me prepare um banho quente por gentileza — pediu ao devolver o copo agora vazio na bandeja. A mulher imediatamente se retira para fazer o que foi mandado.
— Me acompanha? — convida, deixando Taehyung agitado.
— Q-quer que eu tome banho com você?
— Relaxa, nós não vamos transar. Eu só quero sua companhia — explica. Taehyung coça a nuca meio sem jeito. — Você está estranho desde a nossa discussão. Me desculpa por falar daquele jeito. Eu estava bêbado e não podia prever que algo havia acontecido. Eu sinto muito de verdade.
O de cabelos castanhos logo aceita o pedido de desculpas, sendo surpreendido pela proximidade de Jimin, que se aproxima e o beija pela primeira vez em sua casa. Incapaz de recusar, ele suspira ao receber o loiro em seus braços, unindo ainda mais seus corpos.
Ele amava os lábios suaves de Jimin, sentia-se privilegiado. Sabia que o mesmo não tinha sentimentos por ele e que tudo não passava de carência, mas não se importava e sabia aproveitar tudo que o mais baixo tinha a oferecer. Robyn reaparece e flagra os dois juntos, mas não parece realmente surpresa. Conhecia Jimin desde menino e sabia muito bem de suas peripécias. Diferente dos pais dele, percebia que algo acontecia entre os dois. Taehyung é um homem muito bonito, era claro que o patrão não deixaria passar.
Quando o beijo é interrompido e Jimin lentamente se afasta, Taehyung sente um rubor que queima suas bochechas. Sabia que Robyn não poderia fazer nada com a cena que presenciava, mas temia ser julgado como interesseiro, mal sabendo que a governanta era mais esperta do que aparentava.
— Seu banho está pronto, querido — avisou com sorriso gentil e, em seguida, se retira para conferir o trabalho dos outros empregados.
— Vamos? — convidou, estendendo a mão. Sem ter o que perder, Taehyung segurou sua mão e o acompanhou até o quarto.
O quarto luxuoso é o sonho de muitos: uma cama grande e confortável, lustres elegantes, lençóis de seda, tudo com cara de capa de revista. Taehyung observa tudo atentamente, adentrando o cômodo pela primeira vez. Sentindo-se perdido, ele fica chocado com uma grande parede espelhada que revela um banheiro escondido, acionado por controle, permitindo uma visão ampla do banheiro de cima da cama. Era algo de outro mundo, Jimin achou engraçada a reação do rapaz.
— Você gostou? — ele assentiu e moveu seu olhar entre o loiro e o vidro transparente. — Espere até me ver lá dentro.
Jimin gentilmente toca seus ombros e o obriga a sentar na cama, sem saber o que fazer. O motorista apoia o chapéu nos joelhos, com medo de colocá-lo diretamente no lençol. Arrastando-se nervosamente, observando Jimin desaparecer enquanto caminha pela porta que leva à grande parede, e logo aparece ao lado da banheira.
Ele engoliu em seco. Sabia que Jimin era ousado, mas era demais para seu coração batendo descontroladamente, suava frio. Observando de longe, o loiro de pele clara começou a se despir lentamente, fazendo com que Taehyung suspire.
Ao tirar a roupa, Jimin entrou lentamente na banheira, sentindo a água quente com sais de banho tocar sua pele. Ele acariciou levemente seus braços e pernas com as mãos, percebendo o olhar gelado de Taehyung.
— Ó, meu Deus!
Agoniado por todo o corpo devido ao calor, o motorista desabotoou alguns botões da camisa. Não sabe se deve ir ou apenas assistir, mas queria ser a água que encharca o corpo do rapaz. E o loiro com o corpo ensaboado acena, como convite para que fosse até ele.
O homem caminhou até ele sem pensar, e parou ao lado da banheira, Jimin sorriu. E pediu para Taehyung tirar a roupa, que obedeceu prontamente. Ele estava nu, de joelhos, com o rosto bem próximo da cabeça dele, que nunca perdia a oportunidade de beijá-lo molhado, e se considerava um sortudo.
— Eu menti para você, Taehyung — Jimin avisa, confundindo o homem.
— Do que você está falando, patrãozinho?
— Quero transar com você, eu quero que me foda. Até que a dor desapareça.
Jimin trabalhou duro enquanto ele foi pego de jeito, pela forma que o aperta e empurra. Porque é direto em suas provocações, charmoso, não tinha como negar. Enquanto Taehyung, estava muito envolvido, pronto para trabalhar das nove da noite às cinco da manhã, outra vez Jimin conseguiu o que queria.
(...)
Na área esfumaçada, Kevin defendeu seu espaço: "Coloque a comida na minha mesa, não aceito conversa fiada", ordenou à garçonete que o atendeu. Ele era do tipo que deveria ser preso, para ser impedido de fornecer substâncias de alta qualidade. A polícia o procurava, mas nunca encontrava o traficante.
Jungkook andou pelas ruas, grama e calçadas, procurando por alguém. As favelas se movem durante a noite, piscando como as luzes de um estádio. Diante de sua antiga casa, ele reflete sobre como tudo é diferente, mas ainda é o mesmo menino do gueto. Eles embalam, pegam, fumam, procuram comida, sentem falta de algo.
A casa, que agora pertence a Oliver, tem as janelas abertas, indicando que ele está na residência. Desde tenra idade, ele observou cuidadosamente que sua mãe teve um caso com o homem, com o consentimento de seu pai. Sua ignorância infantil se transformou em lembranças tristes, manchadas em meu rosto com drogas e sexo sem vergonha.
Para Jungkook, sua mãe sempre foi uma vítima, e ninguém além de Oliver e seu pai foram os responsáveis por seu sofrimento. Ela estava agindo como as pessoas deveriam agir no lugar dela, não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso, e é por isso que ele estava bravo. Ele olhou em volta para se certificar de que não havia testemunhas, então cuidadosamente pegou um contêiner caído no chão à sua esquerda.
Um sorriso sádico aparece em seu rosto enquanto ele caminha lentamente até a porta da frente, espalhando combustível por toda parte. As pessoas tinham medo de passar por esse beco, o que tornou possível a intenção de Jungkook. Ainda se lembrava das lágrimas derramadas quando seu pai trocou a casa por drogas, obrigando-os a viver na rua por alguns dias.
Afastou-se da casa e acendeu um cigarro que havia deixado atrás da orelha. 1, 2, 3 tragadas e larga o cigarro aceso onde derramou o óleo diesel. Ele sabia que o cheiro não incomodaria Oliver, o suficiente para tirá-lo das chamas antes que ele fosse pego pelo fogo. Nada que incomode quem está acostumado com o cheiro terrível do crack.
Camuflou-se lentamente na escuridão da noite e observou as chamas consumirem o lugar que nunca foi seu lar, mesmo que fosse sua casa. Orgulhoso do que havia feito, ele correu por corredores familiares até um bar próximo, antes que alguém chegasse.
Ele não sabia, mas foi ali que começou todo o declínio de Angel e Oliver quando ele era pequeno. Ele estava procurando por Kevin, que agora era gordo e careca, não se parecia com o garoto que conhecera tantos anos atrás. E que lhe humilhava e batia nele. O homem que uma vez o torturou, se empanturrava com frango frito acompanhado por lindas garotas.
Kevin sorriu para a garota que tentou servi-lo direto na boca, era a sorte de Jungkook, afinal o cara estava sozinho, seus capangas cuidavam do entra e sai do bairro. Ter sido um morador daquele lugar por tanto tempo, teve suas vantagens, uma delas o livre acesso a comunidade. Sem medo do que poderia acontecer, ele foi até a mesa do agora traficante, puxou uma cadeira e sentou-se para assustar a todos.
— Quem é você? — perguntou rapidamente, pegando a arma da mesa, Jungkook sorriu.
— Oi Kevin, quanto tempo sem te ver — cumprimentou, chamando a atenção das garotas que se surpreendem com o homem bonito.
— Tá louco, quem é você, quer que eu dê um tiro na sua cara?
— Não se lembra de mim? Sou eu, o pé sujo — disse ele, fazendo com que os olhos de Kevin se arregalassem.
"Saiam daqui garotas," ele mandou com ciúme compartilhando a preocupação, genuinamente admirando o quanto Jungkook havia mudado.
— Você está tão diferente, onde você esteve? Ouvi dizer que Kennedy tirou você daqui, mas não ouvimos falar de você desde então.
Ele relaxa mais na cadeira, enxergava Jungkook apenas como um idiota, convicto de que alguém como ele não poderia ser uma ameaça. Como reencontrar um amigo depois de muitos anos, pediu mais uma cerveja e um drink. Jungkook aceitou.
— Estou fora do país — explicou ele, tomando uma cerveja.
— Você está bonitão, parece ter mudado de vida, quem diria, pé sujo, como estão seus pais?
— Sou divorciado, me casei com uma garota rica, ela me ensinou algumas coisas sobre etiqueta, meu pai ainda está preso, minha mãe mora no campo com minha avó — disse ele, fazendo Kevin cuspir cerveja e respingar em suas roupas de grife.
— Deu o golpe do baú, é, você realmente está diferente, lembro que era um completo idiota — comentou ele, pegou o cigarro da mesa e entregou para Jungkook, que aceitou. — Quem diria? Mas me diga, o que te traz aqui?
— Você! — Kevin levanta uma sobrancelha. — Tenho uma proposta para você, meu amigo.
— E que tipo de proposta seria essa? — estava interessado.
— Não posso dizer aqui, mas garanto que você vai gostar, gosta de dinheiro, certo? — ele pergunta, inclinando-se sobre a mesa como se estivesse contando um segredo.
— Claro, e de quanto falamos?
— Muito mais do que você ganha com os seus produtos — ele se endireitou novamente e pegou a tigela de frango de Kevin para dar uma mordida. — Se quiser, posso te mostrar. O dinheiro está no meu carro.
— Eu quero ver!
Ele nem se deu ao trabalho de perguntar de que oferta Jungkook estava falando, não havia nada que ele não pudesse fazer por dinheiro. Sentindo-se vencedor pela segunda vez naquele dia, o jovem elegante convida o bandido a acompanhá-lo no bairro. Sem pensar duas vezes, movido pela própria ignorância ele aceitou o convite.
— Por que você deixou o carro tão afastado, pé sujo? — ele perguntou curioso, vendo o lindo Monte Carlo estacionado sob uma árvore no lado escuro da rua.
— Você não queria que eu fosse assaltado? — Kevin levanta as mãos em sinal de rendição simulada.
— Você realmente virou um bacana, olha o carro de velho — ele zomba, ao ver o veículo de perto. Jungkook continua inexpressivo.
Sem dizer uma palavra, Jungkook vai até o porta-malas, onde está uma mala que pertenceu a Apollo. Com sua típica cara de pôquer, ele manteve uma expressão calma para que Kevin não notasse toda a amargura e repulsa contida.
— Eu gosto, é elegante!
— É brega, mas não julgo, até ontem você era apenas um filho de viciados.
De costas para Kevin, sua expressão endureceu e uma veia inchou em seu pescoço. Com a mandíbula estreita, ele abre o compartimento, lançando um olhar curioso para Kevin, Jungkook puxa a maleta para mais perto da borda e também abre um item mostrando centenas de dólares roubados.
— Puta merda, pé sujo! — seus olhos estavam brilhando. — Diga, o que você quer que eu faça?
— Olhe mais de perto, pode tocar se quiser — o convidante deixa espaço para o homem.
Com os cantos da boca levantados, Jungkook caminha calmamente até o banco da frente. Enquanto Kevin coleta algum dinheiro, ele abre o porta-luvas, pega uma adaga afiada e a esconde prontamente.
Ele ouviu Kevin rir, animado por ver tanto dinheiro. Sempre muito calmo, posiciona-se atrás do gordo, enfiando a adaga diretamente no pescoço dele que espirra sangue para todos os lados. Jungkook puxa o corpo para trás para evitar contaminar o carro e o dinheiro com o sangue podre do bandido.
Jungkook derruba Kevin no chão, que tenta cobrir o ferimento, sem tirar os olhos dele. Ele se lembrou de quando era apenas um menino e pediu perdão, mas foi espancado até perder a consciência. Ele se senta em cima dele e observa sua vida passar diante de seus olhos.
— Vai chorar, pé sujo? — ele repetiu uma frase que ouvira anos atrás.
— Que isso, Jungkook, vai me matar por uma brincadeira de criança? — ele disse fraco, sangrando sem parar, chamando-o pelo nome pela primeira e última vez. — Me perdoe!
Arrependido, ele arrancou o objeto pontiagudo mas era tarde demais. O corte preciso acabou com a desordem que o atormentava há anos, então acabou deixando o corpo sem vida no chão. Ficar perto de um bairro perigoso ajudava a evitar ser visto por outras pessoas.
Ele tranca o porta-malas e rapidamente entra no veículo, saindo daquele lugar. Ele promete nunca mais voltar ao bairro miserável. E utilizou um sistema que ignorava a violência desses becos para ter sucesso no crime. Havia feito um favor aos policiais, que não se esforçavam para prender Kevin.
Quando voltou para o país, decidiu que não perderia a oportunidade de se vingar na cidade que havia sido tão cruel com ele. Mesmo assim, suas decisões ruins não foram suficientes para que se sentisse melhor. Mas agora ele estava pronto para abordar Jimin e já tinha o plano perfeito para limpar todo o carro antes de ir para Hamptons.
(...)
Jimin está nu e enrolado em um lençol de seda, acordado pelo reflexo do sol em seu rosto na janela. Quando o motorista saiu, ele esqueceu de fechar as cortinas. Ele estava exausto e não queria se levantar, mas tomou um banho para limpar o corpo da sujeira da noite anterior e cuidou da higiene para se preparar para o novo dia.
Já Taehyung estava com sono, mas não cansado, e só de lembrar o que realmente aconteceu lhe deu arrepios. Na última semana, seu trabalho ficou estagnado, com duas pessoas a menos e Jimin deprimido, não havia muito o que fazer.
Havia tensão entre ele e Robyn na mesa do café da manhã, não parecia que algo estava errado, era apenas um pouco estranho. Nenhum dos dois se atreveu a comentar o que aconteceu na noite anterior e sentaram-se frente a frente para comer em silêncio.
Para surpresa de ambos, Jimin apareceu de repente na elegante cozinha, na verdade era a primeira vez que ele entrava no cômodo em muito tempo, pois era sempre servido por Robyn que levava seu café na cama. Ele boceja, estica os braços, vai até a geladeira inteligente, procura algo que gosta na tela do aparelho, mas não encontra. Ficando paralisado por um momento, ao perceber que ainda não havia desativado as câmeras que serviam para monitorá-lo.
— Bom dia, gente — disse ele ao sair da geladeira para pegar um copo, mas Robyn correu para ajudá-lo e foi muito prestativa. Acostumado a viver como um príncipe, nunca precisou procurar nada sozinho.
Ele agradece a ajuda da empregada e senta-se à mesa com os criados, ele estava se sentindo sozinho. Esse comportamento era estranho, mas completamente compreensível, Taehyung desejou a ele um bom dia tímido.
— Achei que não fosse acordar tão cedo, desculpe não ter levado o café da manhã para você — disse a morena, ansiosa.
— Não seja boba, eu queria descer para tomar um café com vocês. Eu me sinto sozinho, espero que não se importem — os cantos de sua boca se ergueram.
Jimin foi honesto em suas palavras, ele não tinha muitos amigos porque seus pais não permitiam e ele estudou em casa a maior parte de sua vida. No máximo tinha conhecidos que nem se compareceram ao ocorrido, amigos de festa, nada de muito importante. Sem pais, parentes próximos ou amigos íntimos, havia apenas a companhia de Taehyung e Robyn.
— Claro que não, é uma honra tê-lo conosco. Né, Taehyung — diz ela empurrando o rapaz, que sorri e acena com a cabeça.
— É verdade, é uma honra!
Jimin não entendia a mudança no comportamento de Taehyung após a morte de seus pais, parecia que eles não eram mais tão próximos, ele sentia uma barreira. Mesmo depois de ficarem acordados a noite toda trepando por cada canto do quarto.
A verdade é que o pobre motorista ficou com medo de se aproveitar da situação, mas Jimin era tão irresistível que não conseguiu ignorar. Ele percebeu o quão poderoso o patrão havia se tornado, que estava intimidado.
Enquanto Robyn não era tão próxima de Jimin quanto Taehyung, ele ainda a respeitava muito. Eles se ofereceram para ajudar, talvez porque fossem pagos para isso, mas ele não queria pensar nisso.
A anfitriã serviu ao milionário um copo de iogurte natural previamente preparado com um líquido espesso, enquanto o patrão seguia uma dieta rigorosa e equilibrada como um atleta de gelo. Ele levou o copo à boca, bebeu até esvaziá-lo completamente, soltando um suspiro satisfeito.
— Senhor, sei que talvez não seja o melhor momento, mas gostaria de saber se há algo que gostaria que eu mudasse na rotina do pessoal? — ela ergueu as sobrancelhas, olhando diretamente para ele. — O paisagista ligou e quer saber se ele pode continuar trabalhando normalmente.
Jimin se inclinou para trás na cadeira acolchoada, era estranho tomar decisões. A Sra. Park tinha total controle sobre o andamento dos negócios em sua casa, desde os móveis até o cloro usado na piscina. Isso era apenas o começo de tudo o que aconteceria agora, então deu um tapinha no queixo por pensar nisso.
— Sim, sobre decorar o jardim, confio que o seu bom gosto decidirá — decidiu ele, pronto para assumir, ou pelo menos tentar. — Dê-me uma lista de funcionários, quero saber a hora de chegada e saída de todos, quantas pessoas dormem aqui e quantos dias de folga há em uma semana.
— Sim, senhor, eu vou, algo mais?
— Mude a escala 12/36 para 6/1, folga só aos domingos, quero que esta casa esteja sempre ocupada para não me sentir sozinho e quem discordar pode ser demitido — finalizou chocando os criados que tentaram não demonstrar.
— Mas, senhor... — Robyn tentou questionar, achando injusto o posicionamento de Jimin, mas ele ergueu-lhe uma sobrancelha. — Nada foi nada, eu vou fazer isso.
— Ótimo!
Sem a menor consciência de classe, Jimin era apenas mais um egoísta como qualquer nobre à margem da elite da sociedade. Não que ele seja uma pessoa ruim, ele apenas não sabia o quão estressante era o trabalho e que isso impedia as pessoas de viverem suas vidas. Robyn, por exemplo, tem duas filhas, mas passa mais tempo com o filho de outra pessoa.
Nesses momentos, Taehyung percebe o quão ridículos eram seus sentimentos, eles não pertenciam ao mesmo lado. Um mandava e o outro era mandado. O novo horário o obrigaria a trabalhar mais dois dias por semana, atualmente ele tem pouco tempo com a família.
Ele se levantou para se posicionar ao lado do balcão, deve respeitar e não conversar no horário de trabalho, mesmo que seja com o chefe.
— Só mais uma coisa. Ligue para o meu advogado e peça que ele venha esta tarde — Robyn acenou com a cabeça e recolheu os itens a mesa para as empregadas limparem.
— Pode deixar! — ela concordou ao sair da sala.
— Que diabos, escala 6/1 é escravidão — murmurou quando eles estavam sozinhos. — Minhas filhas estão na cidade no fim de semana, só vou ter um dia com elas.
— Seja otimista, pelo menos agora tem todos os domingos do mês — brincou ele, enfurecendo a mulher que o bateu com uma toalha de pratos.
— Calma, eu também não estou feliz, mas acho que o Jimin simplesmente não sabe como fazer as coisas.
— Eu amo nosso chefe, cuido dele desde menino, mas os ricos vivem em uma realidade paralela. Pena que não tivemos tanta sorte quando nascemos — Eles riram juntos.
O resto do dia passou sem intercorrências, e Jimin, cujo calor era insuportável e o ar condicionado não era suficiente, foi nadar na piscina. Ele ficou na beira com os braços estendidos e o corpo na água, observando o jardineiro trabalhar.
— Que dia maravilhoso! — exclamou.
Ele estava tentando preencher o vazio que sentia no peito. Ainda passando pela fase do luto, naquele momento tentava fingir que nada havia acontecido. O chilrear dos pássaros e os cachorros domésticos correndo pelo jardim eram naturais, como se Anfisa ainda estivesse por ali em um maiô clássico de bolinhas.
Ele se jogou para trás no nado de costas, balançando os braços com destreza até chegar ao outro lado. O vento frio que batia em sua pele o fez estremecer, sentindo saudades de como as coisas eram antes, e suas lágrimas transbordaram.
Perto dali, Taehyung ficava de olho no nado sincronizado. Jimin era tão bom em tudo que ele sonhava em passar o resto de sua vida ao seu lado. Ele sorriu tristemente ao pensar que era apenas uma das fontes de alegria de uma criança mimada, e se preocupou com o choro intenso do patrão.
De repente, o guarda que cuidava do portão da mansão passou por ele para ir para a piscina. Taehyung moveu a cabeça para onde o homem estava, tentando descobrir o que estava acontecendo. Sem conseguir entender nada, deu de ombros e olhou para o relógio, que marcava 15h15.
— Senhor, desculpe pelo inconveniente — o segurança chamou a atenção de Jimin, que se encostou na borda da piscina, enxugando as lágrimas persistentes que rolavam. — Eu sei que me pediu para não incomodá-lo, mas você tem uma visita interessante.
— É o meu advogado, supõe? — Jimin esfregou os olhos para se proteger do sol.
— Não, na verdade, isso pode parecer loucura... — o segurança coçou a nuca, sem saber se deveria dizer isso. — Mas o rapaz ao portão disse em um comunicado que tem informações sobre o dia do acidente.
Sua mandíbula relaxou e seus olhos se estreitaram. Como isso é possível? A polícia afirmou que não havia testemunhas no acidente. Jimin imediatamente ordenou ao guarda que levasse o homem até a saída da piscina e esperasse.
— Sim, senhor!
Do lado de fora, Jungkook passou por um enorme portão de duas portas que parecia a entrada do paraíso. No entanto, não ocorreu sem controles rígidos, como é o caso da entrada de estranhos na casa.
Havia confiança em seu andar, com a cabeça alinhada com a coluna e o resto do corpo. E mesmo andando ao lado dos guardas, não se intimidou, analisando tranquilamente a beleza do gramado verde, a decoração de vasos e esculturas que compunham todo o quintal, a belíssima entrada da casa.
Jimin chama por Robyn e pede para os trabalhadores fazerem uma bebida refrescante sem se preocupar em sair da água porque ele não levou muito a sério que era algo importante. Do mesmo lugar privilegiado onde Taehyung admirou seu chefe, ele olhou com curiosidade para o homem que passava, que acenou para ele e sorriu.
Enquanto Jungkook, bem vestido com um terno skinsuit azul claro, uma elegante fivela dourada e acessórios, caminhou até a beira da piscina, observando com admiração a natação de Jimin.
— Você deve ser o Jimin — disse Jungkook com calma, olhando nos olhos âmbar do outro. — É um prazer!
— E quem é você? — Jimin respondeu desconfiado, mas sem desviar o olhar.
— Jungkook Jeon — se apresentou e entregou a Jimin a foto encontrada na bolsa de Apollo, o que deixou o herdeiro visivelmente comovido e surpreso.
Com mãos trêmulas e olhos marejados, Jimin olhou para a foto que sua mãe tirou dele em seu primeiro concerto aos dezessete anos. Ele questionou Jungkook sobre a origem da foto, sentindo um aperto no coração diante da possibilidade de novas revelações sobre o acidente.
— É isso que eu quero te dizer. Tenho algo que pertence a você.
Com a emoção tomando conta, Jimin pediu a Robyn para interromper o serviço de bebidas e acompanhar Jungkook até a biblioteca, enquanto se retirava para se recompor.
Enquanto se afastava, Jungkook sorriu triunfante, confiante em seu plano de obter a confiança de Jimin para alcançar seus objetivos. Enquanto isso, Taehyung se aproximou de Jimin, oferecendo apoio diante de sua clara perturbação.
— Você está bem, patrãozinho? — perguntou Taehyung, abraçando Jimin enquanto ele desabafava sobre suas angústias e sentimentos de solidão.
— Acho que estou enlouquecendo Taehyung, meu pai nunca me ensinou a trabalhar como ele, e minha mãe esqueceu de dizer o que fazer quando eles não estão por perto. É como em dias chuvosos, está chovendo todos os dias, quero dar um jeito de voltar para meu lar.
Em meio às lágrimas, Jimin expressou seu anseio por ser amado novamente e sua busca por uma sensação de pertencimento. Ele revelou seus medos e incertezas, enquanto Taehyung o consolava com carinho.
— Quem é esse homem, foi ele que te deixou assim?
Jimin nega, e ao sol à beira da piscina, sentia-se numa tempestade, como um mendigo em casa, pobre apesar de toda a sua riqueza.
— Ele não fez nada, nem sei quem é. Só não estou pronto para nada que venha deles, mas preciso ir, volte ao trabalho — disse e saiu dos braços do motorista, deixando-o completamente confuso.
Posteriormente, Jimin tomou uma rápida ducha e reuniu coragem para enfrentar Jungkook na biblioteca. Ele buscou esconder as marcas de sua aflição por trás de uma máscara inabalável e entrou na sala encontrando Jungkook lendo "A Divina Comédia".
Em um momento de vulnerabilidade, Jungkook compartilhou uma versão triste de seu encontro com os pais de Jimin, revelando detalhes perturbadores sobre o acidente.
Continua no próximo...
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