Não amo... talvez ame
— Eu te amo - dissera. Alto, claro. A mão no pulso abaixo de tecido azul dela. Quente em meio a neve. Em meio as vestes pesadas.
Por que? Amava mesmo? Nenhuma fagulha ascendeu-se no peito. O estômago não deu um mortal.
Fitou os cabelos negros cobrindo as costas da cabeça da humana. Esperando. Em pé na estrada de pedras cinzentas. Ladeada por terra escura.
Ela vestia azul. Quimono sobre casaco sobre camisa. E sobre calça e short.
Os três degraus que levavam ao piso elevado da cidade adiante. Uma passada da humana. Dois dela, a criatura com longos chifres marcados de vermelho no topo.
— Mentirosa - baixo, tenso. Sem virar-se para encarar o lilás das íris demoníacas. - Vá embora.
''Ela está certa, não está?''.
Engoliu em seco. Umidade nascendo na borda dos olhos. Tocada por luz verde. De pedras de mana atadas as bordas do portal de madeira. No fim da escada de rocha cinza.
A mão da humana fez força. Para frente. Para fora dos dedos brancos do demônio.
O agarro seguiu. Imóvel, indiferente a aquela ação.
— Me solta - disse. Sob ventos capazes de soprar vida corpo a fora. Costas ainda voltadas a mulher com olhos lilases. - Por favor.
A respiração da oni subiu um tom. Frio zanzando entre os fios negros. Deslizando pela pele.
— Kaguya... - a criatura começou. Esperançosa de que as palavras de que precisava seguiriam a deixa.
Silêncio.
As pálpebras da Ouroboros, da mulher com longos chifres, apertavam-se. Os lábios abriam-se tenuamente. E fechavam.
''Não seguiam''.
— Sim, cruel assassina? - a humana soltou, aço cortando o silêncio. A esperança. ''Acabou, o que ainda faz aí?'' posto a subir a mente da criatura demoniaca. - Quer me mostrar mais alguma atrocidade?
Uma onda de irritação subiu. As sobrancelhas pressionaram os olhos púrpuras.
A barriga enrijeceu.
Por ruas. Por residências. Em um barco pesqueiro tentando descobrir porque o queijo do capitão desaparecera quatro vezes seguidas durante a hora do almoço.
Com um tabuleiro entre elas. Ou um corpo cujo homicídio a humana tentava desvendar. Atrás de um gato com heterocromia perdido. Seguindo a trilha de uma harpia que roubava sandálias.
Estiveram juntas por vinte dias. E a oni esperava por vinte mais. Por levá-la a cidade élfica. A terra dos anões, a dos licantropos. Por apresentá-la Laís e Patrício.
Mas a amava? ''Quem se importa com isso?''. ''Não amo... talvez ame, que doentia divagação''.
''Quero sua companhia, que a profundidade do motivo fique profundamente perdida''.
— A mesma que mostrei na cama da pousada - respondeu, desistiu. Abriu mão e permitiu que acabasse. Um malicioso sorriso forçado na boca. - Quero ouvir seus doces gemidos. Por que mais?
Um puxar de ar abrupto de Kaguya.
Os dedos da oni a deixaram e ela subiu os degraus.
Sem fitar para trás. Pisando sonoramente.
A mulher com longos chifres fechou os olhos. Soltou o ar pela boca. E virou na direção contrária. Um leve tremor a tomou durante os primeiros passos para longe dali.
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