Tiziana

Gemi quando senti a fincada na parte de trás da minha cabeça.

Estava quente, envolta em algo macio e podia sentir olhos em mim, me observando. Mas por que eu estava ali mesmo? Por que a minha cabeça doía?

Abri os olhos devagar, ofegando quando eles picaram e fechei-os de novo, fazendo uma oração silenciosa para fazer aquela dor insuportável parar.

— Está com dor. — a voz de Soszac chegou até mim, despertando todo o meu corpo, acendendo-o como uma maldita lâmpada.

Abri os olhos, ignorando a dor e as picadas nos olhos, e foquei no homem que estava na minha frente.

Soszac estava sentado ali, em uma poltrona, — essa que eu nunca tinha visto nesse quarto, no quarto dele, — com as pernas cruzadas elegantemente, vestido com um terno preto que lhe vestia perfeitamente. Pisquei uma vez, subindo o meu olhar pelo queixo quadrado com uma barba rala por fazer, e encontrei os olhos escuros como a noite que me fitavam com sua  frieza habitual.

— Soszac... O-o que aconteceu? — perguntei, tentando me lembrar exatamente do que tinha acontecido.

— Você não se lembra? — ele perguntou, estreitando os olhos para mim.

Por que Soszac parecia mais frio que o normal?

— Eu-eu... — todo o meu corpo se enrijeceu quando um flash passou pela minha cabeça. A dor, a água, a falta de ar... A figura sombria parada na margem da piscina com o que supuz ser um taco, me olhando.

Quando olhei para cima, encontrei o rosto esculpido em granito de Soszac.

— A piscina... — murmurei, olhando dentro dos olhos escuros.

— Sim, você se lembra de algo mais? — incitou, aquele brilho cruel brilhando em seus olhos.

— Não... — a figura. Podia aquilo ser fruto da minha imaginação? Podia ter batido a cabeça quando caí na piscina, já que estava tão fundo? — Eu acho que escorreguei e caí, devo ter batido a cabeça.

Mas aquela figura, a sombra. Não parecia real, mas... Será que tinha alguém realmente lá? Me olhando afogar?

— Você tem certeza que foi só isso? — ele empurrou, estreitando mais os olhos.

Mordi o lábio, com medo de falar o que eu acho que vi e ele acabar me achando uma louca.

— Não...

— Não? — Soszac se aproximou e sentou perto de mim, mantendo as mãos longe.

— É que, eu não acho que era real. — olhei para o lado, me sentindo um pouco oprimida por ter sua atenção tão fixada em mim.

— Me diga tudo o que aconteceu, desde o início.

Contei a ele tudo, de quando saí do quarto e desci os lances de escada, falei dos calafrios e arrepios que senti, de quando saí na chuva e me senti calma, e resolvi aproveitar aquele momento na beira da piscina.

— Eu estava lá pelo que pareciam minutos, vários minutos, apenas sentindo a chuva. Eu não o vi chegando... — franzi o cenho, olhando para sua garganta. Ele me acharia louca. — Você pode achar que é a minha imaginação, na verdade, eu tenho certeza que é apenas isso... Mas eu me lembro de sentir dor, muita dor na cabeça, e foi depois disso que eu caí na piscina. Quando eu estava me afogando, pude ver através da água escura e além da chuva, uma figura parada na margem da piscina...

— Uma figura? Como era? — disse, uma faísca de ansiedade brilhando em seus olhos.

— Era preto, uma sombra. Não sei, parecia algo saído de um filme de terror. Um homem, alto, segurando um taco, bastão.... Eu não sei!

Suspirei exasperada, querendo que aquela sensação ruim dentro de mim fosse embora. Fechei os olhos rapidamente e uma única imagem invadiu a minha mente. Aquele homem, o segurança.

Não, não podia ser! Eu não acusaria um homem inocente apenas porquê ele ficava me encarando... Me encarando demais.

— Tudo bem. — Soszac se inclinou e deixou um beijo terno na minha testa, estranho, antes de se levantar. — Eu vou procurar saber mais sobre isso.

— Então... Então você não acha que eu estou ficando louca? — perguntei, a minha voz soando alta.

— Não, além do mais, você é uma excelente nadadora, e o médico da Camorra disse que essa ferida na sua cabeça não foi um acidente.

— Então...

— Tem alguém querendo te matar, querida. Mas não se preocupe, eu não vou deixar nenhum fodido filho da puta chegar perto de você novamente.

OLHEI PARA AS VÁRIAS CAMISAS FEMININAS, colocadas perfeitamente em cabides e passadas impecavelmente. Peguei uma branca de mangas compridas e também uma calça legging preta.

O meu corpo ainda estava molhado pelo banho quente, os meus cabelos molhados nas minhas costas, por cima da toalha, o corte fresco na minha cabeça letejando. Soszac disse que tive uma concussão, por isso estava tendo náuseas e tonturas, assim como ânsia de vômito. Por isso ele decidiu de última hora que era melhor me levar junto com ele para onde quer que fosse.

Vesti uma langerie simples de cor branca, e vesti a roupa. O tempo estava esfriando, Soszac me disse que era para levar uma blusa de frio térmica, e assim o fiz, peguei a primeira que vi, amarronzada com uma pele falsa como gola, mas bem fofinha.

Me sentei no banquinho longo que tinha no meio do closet e olhei para a imensa prateleira de duas repartições, lotadas com todos os tipos de sapatos femininos imagináveis, desde tênis esportivos até chinelos de dedo.

Peguei uma bota preta de cano curto e a calcei, me impressionando com o quão macia era.

Soszac entrou no closet vestido em seu terno habitual de três peças e com a barba feita, diferente de quando eu acordei.

Olhei para ele por um momento, observando em silêncio enquanto ele ia até o seu lado do closet e  abria uma gaveta central, essa que descobri cheia de relógios caros. Ele pegou um Rolex dourado e colocou no pulso, parecendo distraído com o que fazia.

— Gosta do que vê? — perguntou, me fazendo soltar o ar assustada.

— Qual o problema de vocês homens, sempre perguntando isso? — retruquei, me levantando um pouco tensa.

— Não, querida. — estremeci com o termo carinhoso, mesmo vindo dele. Soszac me chamava de tantas coisas ruins, que eu ainda me surpreendia quando ele falava algo carinhoso, o que era muito raro.

Revirei os olhos, rindo internamente.

Fui para a penteadeira embutida no armário do closet, e peguei a escova-secadora. A liguei e o barulho encheu o ar enquanto eu secava os cabelos em silêncio, de frente para o espelho médio na minha frente.

Soszac continuava ajeitando seu terno em seu corpo, como se tomando seu tempo enquanto eu secava os cabelos. Ou ele estava me vigiando, com medo que eu tivesse mais uma série de tonturas?

Terminei de secar os cabelos e deixei a escova sobre o banquinho antes de me virar para ele, penteando os cabelos para trás com os dedos.

Os olhos escuros de Soszac encontraram os meus, me fazendo estremecer sob o olhar avaliador, nada conservador. Ele sempre fazia isso, arrancava todas as minhas barreiras e ultrapassava os meus limites só com esse olhar.

— O que foi? Gosta do que vê? — perguntei com um sorrisinho irônico, repetindo a sua fala.

Soszac arqueou a sombrancelha cicatrizada para mim, pressionando os lábios enquanto seu olhar descia pelo meu corpo.

— Muito.

Endireitei os ombros, não querendo ceder a sua voz arrastada. Ele sempre fazia isso, virava o meu mundo de cabeça para baixo, depois o consertava, apenas para sacudí-lo mais forte e fazer o impacto ser maior.

Ele começou a se aproximar, mas desviei dele o mais rápido que pude e fui para fora do closet, ouvindo sua risada rouca atrás de mim.

— Você não vai se atrasar? — perguntei, vestindo a blusa de frio por cima da minha camisa.

— Eu não me importo de me atrasar mais alguns minutos, se isso significa estar dentro da sua bocetinha apertada.

Me virei rapidamente para ele, atordoada pelas suas palavras.

— Não agora. — respirando fundo, engoli em seco e continuei. — Vamos.

— Oh, você está com pressa? — ele se aproximou de mim, ficando a pouquíssimos centímetros de distância.

— Eu? Claro que não!

— Então venha, deixe-me chupar você antes de irmos. — disse lascivo, já circulando a minha cintura e me puxando para ele.

— Você não presta! — ele riu alto, mostrando aqueles dentes perfeitamente brancos e alinhados.

— Eu nunca disse que prestava.

Espero que tenham gostado.

Até o próximo capítulo!