•Capítulo Treze•
Papai abriu a porta do carro e saiu assim que Soszac começou a andar na direção das amplas escadas.
Tentei segurar a ansiedade martelando dentro de mim a cada passo que ele dava. Seus cabelos estavam mais curtos, bem rentes a cabeça, e sua barba mais rala. A cicatriz na sombrancelha esquerda esbranquiçada e mais pronunciada, e sua boca, oh, boca! Firme e rígida, retorcida levemente pela expressão cruel no rosto bonito.
Enquanto Soszac descia as escadas para se encontrar com papai, que acabara de dar a volta na frente do carro, eu me perguntava o que ele fizera no último mês. A idéia dele com outra mulher me enojava, me irritava ao extremo, não fora feita para dividir. E se Soszac quisesse tal coisa, ficaria muito feliz e negá-lo
Soszac parou perto de papai e os dois se cumprimentaram, o anel no meu anelar parecia pesado, fora uma lembrança constante dele no último mês. Era impossível ignorá-lo com aquele diamante enorme.
O interior do carro ficou em um silêncio estranho quando Soszac e papai olharam para o carro, mais especificamente para a janela onde eu estava.
— Acho que eles estão falando de você. — Patrizia falou do meu lado.
Mordi o lábio, nervosa, vendo papai tagarelar como um cão bravo para Soszac, que permanecia calado, uma expressão dura em seu rosto, os braços cruzados na frente do peito.
Depois de alguns segundos Soszac retrucou algo, tentei fazer leitura labial mas não consegui entender nada, eles falavam muito rápido.
— Mas que merda!
— Olhe a boca aí, mocinha! — mamãe repreendeu do banco da frente.
Revirei os olhos e me recostei no assento, cruzando os braços, birrenta. Pati apenas me observava com uma sombrancelha arqueada.
Papai e Soszac apertaram as mãos de novo e depois voltaram a olhar para o carro. Papai se virou e veio abrir a porta para mamãe, que saiu e passou as mãos pelo vestido enrugado. Soszac continuava lá, parado com os braços cruzados enquanto papai vinha abrir a porta para mim.
— Uh, se comporte. — Pati zombou antes que papai abrisse a porta.
Sorri para ela e saí, evitando o olhar de Soszac. Ergui o queixo e esperei ao lado de papai enquanto Patrizia saía do carro.
Ela veio para o meu lado e passou o braço no meu, me segurando perto dela. Uma boa idéia, eu estava sentindo aquelas vibrações negativas direcionadas a mim, e sabia bem de quem era.
— Lembre-se do que eu te falei. — papai disse pela milésima vez. — Se comporte.
Bufei, irritada.
— Eu sei! — ele estreitou os olhos para mim, repreensivo, o que me fez olhar para o chão. — Desculpe papai, eu vou me comportar.
— Bom. — papai vocíferou e se virou para sair.
— Mas nada garante que ele vá se comportar. — soltei, talvez um pouco alto demais, já que todos voltaram a atenção para mim, incluindo Soszac.
— Quieta, Tiziana. — papai grunhiu em tom baixo para que apenas eu escutasse, antes de se virar e ir na direção de Soszac.
Mamãe, Pati e eu o seguimos, senti a minha coluna arrepiar quando chegamos perto o suficiente de Soszac. Atrás de nós, pude ouvir o barulho da porta de um carro se fechando, sabia que era Enrico, e apenas por saber que ele estava a pouco mais de dois metros de distância de mim, o meu corpo gelava. O homem era assustador quando estava sério, ou seja, sempre.
Estava perdida em pensamentos quando uma mão grande e calejada pegou a minha, um pouco suave demais para o toque de Soszac, mas era ele, e foi por isso que fiquei tão surpresa quando levantei o olhar e encontrei seus olhos escuros.
Ele não sorriu, continuou com aquela expressão impenetrável enquanto me fitava, e muito lentamente, levou o dorço da minha mão a boca e depositou um beijo casto, mas úmido.
O toque dos seus lábios me trouxera a lembrança de quando ele estava me beijando em outro lugar, um lugar que agora estava quente e molhado.
Puxei o ar com força antes de soltá-lo pelo nariz, presa no olhar de Soszac quando ele deu um leve aperto na minha mão e a soltou.
— Sejam bem-vindos a minha casa. — ele disse depois de alguns segundos, segurei o comentário maldoso que ameaçou sair dos meus lábios.
Foda-se, aquilo não era uma “casa”, ele estava se exibindo.
— Bela casa. — falei, lhe dando um sorriso forçado.
Ninguém percebeu o leve arquear da sua sombrancelha cicatrizada, mas eu percebi, e também vi aquele familiar brilho nos olhos escuros como a noite.
Ouvi passos vindo na nossa direção, mas preferi me manter no meu lugar, com Patrizia agarrando o meu braço.
— Soszac. — Enrico cumprimentou assim que parou perto de nós. — Extravagante. — comentou, olhando para a mansão.
Sorri, não sabia bem o porquê, mas consegui segurar quando ouvi o tom explícito de sarcasmo que Enrico usou.
— Obrigado. — Soszac agora estava emburrado, mas ignorou aquilo e se virou para apontar a mansão. — Vou mostrar onde vocês vão ficar.
Papai e mamãe passaram por Soszac, assim que eu Pati passamos por ele, murmurei baixo, mas alto o suficiente para que ele ouvisse: — Uh, estou tão animada!
(...)
O quarto que eu e Patrizia estávamos dividindo era enorme, todo branco, com gravuras gravadas nas paredes e também tinha um lindo lustre no meio do quarto.
As duas janelas em uma parede lateral tinham vidraças quadradas, por onde a luz da lua entrava e iluminava o interior escuro parcialmente.
Eu não conseguia dormir, não depois do jantar que tive que suportar, ouvir papai, Enrico e Soszac conversando sobre como matar os russos e as melhores formas de tirar informações deles era nauseante. Eles falavam sobre como torturar os membros da Yakuza como se estivessem falando sobre tempo, e bem na mesa de jantar.
Tive que segurar para não colocar toda a comida para fora enquanto a minha imaginação voava solta, o que foi difícil. Mamãe e Pati não estavam muito diferente de mim, elas estavam tão assustadas quanto eu, e já começava a imaginar que aquilo seria a minha rotina diária.
Estava vendo que viver com Soszac seria um verdadeiro inferno, um grande inferno, o homem era quente, mas cruel. Não tinha nenhum problema com o sexo, podia ser bruto, selvagem, eu gostava disso na verdade, mas não lidaria bem com tripas e miolos no jantar, e não duvidava nem um pouco que ele comia o coração dos seus inimigos na janta.
Me sentei, sentindo o suor escorrer pelo meu pescoço e têmpora. Estava me sentindo doente depois daquele jantar, me perguntava como Patrizia estava conseguindo dormir tranquilamente bem do meu lado.
Olhei para ela, desmaiada, roncando. Tinha que sair dali e ir tomar um ar. Do lado de fora, talvez?
Me levantei e saí do quarto, encontrando o longo corredor escuro. Merda, nem sequer sabia em que parte da mansão estava, ala norte, talvez? Não, não sabia mesmo.
Pisei descalça no chão frio do corredor, sentindo um calafrio percorrer o meu corpo. Parecia muito com aqueles cenários de filme de terror, só faltava a criatura maligna para me pegar. Não que isso fosse um problema, já tinha uma.
Andei pelo corredor, calafrios subindo pelo meu corpo, arrepiando os pêlos da minha pele exposta pela camisola branca e curta. Os meus mamilos eriçaram quando virei a esquina do corredor e encontrei uma janela aberta, por onde estava entrando o vento frio.
Esfreguei os braços enquanto descia um lance de escadas. Papai e mamãe me matariam se soubessem que eu deixei o quarto durante a madrugada, mas eu não estava aguentando mais aquele mal-estar. Estava demais.
Desci um segundo lance de escadas e me encontrei em outro corredor. Com certeza, essa era apenas uma das enormes alas da mansão, se não me enganava, ela tinha de quatro a seis — pelo menos fora o que Soszac falou em nosso breve “tour” pelo local.
Desci mais alguns lances de escadas, virando um corredor ali, outro aqui, até que cheguei na parte que a ala Norte se encontrava com a ala Leste.
Olhei para todos os lados, vendo a escadaria bem na minha esquerda que levava para a ala Leste, e na minha frente, tinha o amplo corredor que levava ao salão de visitas principal e as alas Sul e Oeste.
Então eram quatro alas, não seis. Soszac precisava fazer as contas com mais cuidado, ele morava na mansão e não sabia quantas alas tinha a mesma. Fui para o corredor que levava para o salão principal, assim que cheguei no mesmo, atravessei a tapetaria super-cara no chão e entrei em outro longo corredor. No fim dele, encontrei as duas escadarias que levavam ao que supuz ser as alas Sul e Oeste.
Estalei os dedos, nervosa, e olhei para a grande janela comprida — em comprimento — que tomava conta das duas paredes estreitas nas minhas laterais.
O vento balançava as árvores robustas ao redor da mansão, lançando folhas pelo ar, o uivo do vento era sinistro, tirando suspiros de medo de mim. Me aproximei da janela a minha direita e olhei para fora, para o lindo e bem cuidado jardim. O meu coração acelerou, podia jurar que iria sair uma criatura mística do meio das árvores e me atacar.
Braços fortes circularam a minha cintura e puxaram as minhas costas para um tronco duro, quente e nu.
O ar saiu dos meus lábios em uma lufada, assustada, todo o meu corpo se acendeu contra o corpo duro e quente atrás de mim, o meu coração palpitou freneticamente dentro do meu peito.
A minha respiração estava acelerada, o meu peito subindo e descendo em busca de ar, esse que me foi tomado quando a mão grande circulou o meu pescoço por trás, agarrando-o em um aperto firme, mas sensual.
Sabia quem era o dono daquela mão, daquele corpo magnífico.
— Com medo, garota maldita?
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