Uma Carta Amiga
O ano se passou melhor do que Abigail e seus amigos imaginaram. Apesar do árduo trabalho que tinham que fazer como punição e do cuidado em não se encontrar com Pedro e com sua horda de amigos, eles fizeram muitas amizades no orfanato e às vezes alguns órfãos os ajudavam nos afazeres. Nos horários vagos, eles se divertiam como podiam. Logo a vila foi contagiada por essa alegria e os habitantes amoleceram com o castigo dos garotos, procurando minimizar a quantidade de trabalho que era dado a eles.
Ao acordar, Bernardo sentiu uma forte enxaqueca:
− Da próxima vez que eu for caçar, vou tomar mais cuidado quando descer de uma árvore − disse, esfregando um galo na cabeça. Tinha caído da árvore quando soltou as duas mãos do galho para atirar uma flecha num cervo que passava bem em baixo de si – Se Abi me visse caindo, nunca mais ia parar de me encher.
Quando se levantou, viu que havia um pedaço de papel dobrado em cima da cômoda. Ele pegou e abriu. Ao ler, saiu andando desesperado de casa em busca dos amigos com lágrimas nos olhos.
Ele reuniu Gustavo, Natasha e Juliana na gruta e mostrou o pedaço de papel para que os amigos pudessem ler.
"Bernardo, eu espero que me perdoe por não falar isso pessoalmente. Queria poder vê-lo de novo, mas acho que isso não será mais possível. Quero que saiba que você, Gustavo, Juliana e Natasha foram e sempre serão meus grandes amigos. Eu prometo que nunca me esquecerei de todos da vila, principalmente de vocês.
Não posso lhe dizer o motivo da minha partida e de minha família, mas saiba que nós estamos bem. Poderemos nos encontrar de novo um dia. E quando este dia chegar, espero que ainda se lembrem de mim. Por favor, mostre essa carta para os outros três lá no nosso esconderijo e queimem-na logo depois que terminarem de lê-la. Não estarão seguros se não a queimarem.
Tenham cuidado quando entrarem na floresta. Nada é o que parece ser e cuidem de todos da vila.
Um abraço a todos e fiquem com Deus meus amigos. Nunca se esqueçam que eu amo vocês.
Atenciosamente,
Abigail."
Depois que todos terminaram de ler, Bernardo pegou de volta a carta e, contra a sua vontade, jogou-a numa pequena fogueira que estava preparando enquanto os outros a liam.
− Espero, que onde quer que ela esteja, que seja muito feliz! − comentou Bernardo
− Não precisam ficar com essa cara de choro, gente! Eu sei que ainda iremos vê-la de novo e mais cedo do que vocês pensam! − afirmou Natasha, com uma falsa esperança estampada nos olhos.
− É assim que se fala! E eu prometo para vocês e para Abigail, que também não vou esquecê-la nunca! − ao terminar de dizer isso, Gustavo pôs a mão no centro do grupo e cada um foi pondo a sua em cima da dele, prometendo a mesma coisa.
Fazia duas semanas que Abigail estava em Isla, ainda estava um pouco fraca, mas conseguiu convencer todos de que poderia se levantar e passear pela cidade. Ainda não conseguiu dar um único sorriso desde que chegou. Não conseguia parar de pensar nos seus amigos e desejou profundamente que eles não ficassem com raiva dela, pelo fato de ela ter ido embora sem se despedir.
Abigail percebeu que em Isla nunca chovia, nem fazia frio ou calor. Bem...Saber por que não chovia ali era fácil, o castelo estava em cima das nuvens, não teria como isso acontecer, mas a temperatura não mudava, ficava sempre em torno de 25ºC à 28ºC, o que segundo Iaci era controlado pelos sacis do tempo. Nos primeiros dias em que estavam ali seus pais sentiram muito frio, pois não estavam acostumados. Antes viviam em um local com uma temperatura alta e Abigail, não sentiu muita diferença, pois quando chegou em Isla pela segunda vez, estava desacordada. Seu corpo tinha se acostumado a essa temperatura durante a primeira semana, sem que ela percebesse. Mas com o passar do tempo seus pais se acostumaram a esse novo ambiente e a essa nova temperatura.
As ruas eram limpas e bem cuidadas, havia uma enorme fonte no centro da ilha, essa também fazia à mesma coisa que a outra (tinha uma taça em cima da fonte e também saía qualquer líquido que pedissem). Em frente a essa fonte tinha uma enorme casa (era a única que diferenciava de tamanho e formato de todas as outras na cidade inteira) e estava vazia. Iaci disse que era aí que, se passasse em um teste, Abigail ia aprender tudo de que precisava, mas tinha de se recuperar completamente primeiro e além do mais os treinamentos só iam começar em março e ainda estavam em janeiro. Essa "escola" tinha o formato de metade de um globo e era maior que todas as outras casas, mas menor que o castelo. No alto tinha enormes letras de metal com os dizeres:
CTEJS
Campo de Treinamento para a Elite dos Jovens Sacis
− Em menos de um ano você já pode se formar, – dizia Iaci para Abigail quando tinham passado por esse campo – parece que não temos tantos poderes por ser tão pouco o tempo de aprendizado, mas isso não é verdade, temos mais poderes do que possa imaginar.
− Então por que menos de um ano? – perguntou Abigail, seus pais estavam passeando pela ilha enquanto ela estava sentada numa praça conversando com Iaci.
− Você verá...
− E que teste é esse que eu tenho que fazer? − Abigail começou a imaginar uma prova assustadora em que ela estaria arriscando a sua vida para poder provar que merecia estudar no CTEJS. Se o nome do local diz Elite, provavelmente só escolhem os melhores.
− É bem simples, embora eu não aprove − coçou a cabeça e olhou carrancuda para o prédio como se ele lhe estivesse fazendo algum mal − Eles escolhem apenas os jovens que tem muitos poderes. Não concordo com esse método, não é só assim que surgem os verdadeiros talentos.
− E o que acontece com os que não passam − Abi já estava procurando pelas ruas para ver se achava outros campos de treinamento, mas não via nenhum à vista.
− Recebem algum treinamento dos pais, ou parentes, mas isso não é a mesma coisa que receber um treinamento devido. Você vai perceber que não é só a quantidade de poder que determina o mais forte, mas sim o verdadeiro talento de saber utilizar aquilo que possui com maestria. Estou tentando mudar a lei para a escolha dos sacis que estão sendo selecionados nesses testes, mas por ser uma lei muito antiga e muitos sacis serem conservadores, ainda estou tendo muita dificuldade em sequer discutir essa lei no conselho − Iaci deu um muxoxo de descontentamento e rumou para o castelo − Vou voltar para o castelo está ficando tarde estou meio cansada, quer ir também?
− Não não, mas tarde eu volto – comentou a garota, olhando em volta.
Ela se despediu de Iaci e vagou passeando para outra rua. Enquanto passeava e vislumbrava as paisagens, reparou em uma senhora que vinha com uma espécie de sacola nas mãos e entregava para os sacis que paravam em frente a ela um pequeno objeto embrulhado num papel. Abigail se aproximou para ver do que se tratava e se apoiou numa parede de uma casa, próximo à velhinha. Um menino (de uns 17 a 18 anos, alto, cabelos grandes, lisos, prateados até a cintura, olhos castanhos e muito penetrantes, com orelhas também pontudas, assim como a de todos os sacis que Abigail tinha visto) saiu de trás de uma rua e se dirigiu à velhinha.
− Oi, Rute! Pode me ver dois aí hoje? − pediu o garoto.
− Claro, toma − a velhinha pegou dois objetos pequenos, que Abigail pôde constatar que era alguma espécie de comida, talvez algum doce.
O menino pegou os dois embrulhos e ao ver que Abigail estava olhando curiosa a cena, ele ofereceu um.
− Quer um? − e estendeu um embrulho para Abigail, que aceitou e agradeceu − Meu nome é Miguel, qual é o seu?
− Abigail, prazer − apertou a mão estendida de Miguel e retribuiu em um tom sereno e tímido, depois continuou – Obrigada pela cocada. Você é um saci?
− Ah! Sei quem você é e muito prazer! E bem, ainda não sou um saci, vou para o campo de treinamento daqui a dois meses, mas quando sair formado de lá vou virar um.
− Entendi, também pretendo ir para lá daqui a dois meses. Como você sabe quem eu sou, se eu nunca o vi? − desembrulhou o pacotinho, como fez Miguel, e tirou um pedaço para experimentar.
− A bem... quando você chegou em Isla numa maca, com tantos ferimentos e guardiões em volta, chamou muita atenção. Para não espalhar pânico entre os sacis, Iaci esclareceu a questão para todos de que não estávamos sendo invadidos, mas que isso foi conta de um ataque brutal que você sofreu. Agora, não há ninguém por toda Isla que não saiba quem é você.
− Não sabia que Iaci tinha feito isso, ela não me contou.
− Isla é um reino muito pequeno, não há nada que aconteça aqui que depois todos não fiquem sabendo. Ei, já foi a Lianduí alguma vez? − perguntou interessado e pediu outro doce para Rute.
− Não, nunca ouvi falar − Abigail tirou outro pedaço de cocada, era muito saborosa e doce.
− Não da pra explicar, só vendo, mas é bem legal. Fica em outra dimensão. Estou indo pra lá, encontrar com meus amigos, não quer ir?
− Tudo bem – ela só precisou esperar Miguel guardar a cocada numa sacolinha e andaram pela rua principal, em direção aos portões de Isla.
Como na noite em que voltou para casa, ela chegou ao portal e Miguel pôs sua mão na parede e disse:
− Lianduí, ao lado da quadra 20 − ele passou pelo portal e Abigail em seguida.
O lugar em que apareceram era mais escuro que Isla. O chão era feito de terra, o que pensou Abigail gostava mais assim. Ao erguer os olhos ela avistou uma quadra ao lado e, mais adiante, várias espécies de brinquedo. Supôs que fosse isso, porque, apesar dos gritos que ouvia de alguns, as pessoas saiam animadas e muitas corriam em direção aos outros brinquedos. Havia um mais ao longe, era uma espécie de castelo, mas daquele ali, Abigail pôde notar que poucas pessoas ousavam entrar e as que se atreviam a ir, depois saiam correndo de dentro dele apavoradas. Ao olhar para os lados, viu várias outras quadras, algumas já ocupadas por outros sacis.
− Caraca! − comentou Abigail.
− É...bem legal aqui. Existem outras dimensões interessantes também para se visitar e outras que também que servem como moradias − Miguel olhou para o lado a procura dos seus amigos, mas como não viu nenhum, ele foi andando em direção a alguns bancos que se localizavam logo à frente e se sentou. Abigail o acompanhou.
− Quer dizer, que nem todos moram em Isla? − perguntou surpresa.
− Nam, somos muitos, não iria caber todos lá. Mas só é possível entrar no reino, partindo daquele portal lá de Isla − quando ele viu que Abigail não entendeu o que ele quis dizer, continuou − Sabe...entre essas dimensões como Lianduí. Isla funciona como uma espécie de porta de passagem entre o mundo exterior e o reino.
− Isso é perigoso não? Quero dizer, se por algum milagre, o reino for invadido, os sacis vão ficar encurralados, sem ter como fugir! − disse preocupada.
🐇Imagina morar perto de um parque de diversões e poder ir para lá sempre de graça.👌 Eu nunca sairia de lá. 😃😍
Se gostou, não esquece da estrelinha. 🌟❤🌟
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