Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 17 - Sete desejos em um

Recolhidos os desejos de Pedro e de D. Alexandre, do rei Hildegardo e da rainha Verônica, do professor Odivelas Fayoum, da princesa Maria Berenice e da pequena Dinahi em suas mãos, a fada Estefânia os materializava em várias fitas coloridas e as entrelaçava de uma por uma em uma única corda. E ela bem sabia, ela bem sabia de cada prece e dos olhares curiosos, das dúvidas e preocupações que a cercavam, mas a recordação da experiência outrora vivida pelo pequeno Juripuri/Kaluanã e da alegria que conservava dentro de si já pareciam lhe antecipavam a garantia de como tudo deveria terminar...

-E pensar que mesmo sem acreditar, nem Odivelas deixou de me ofertar o próprio desejo... Ah, meu Abaruna, me diz o teu segredo?

"O encontro de cada desejo com o desejo de minha cura, é fruto de gentileza. Gentileza de cada coração, gentileza que brota de quem me cerca... E nada, nada poderia lhes fazer se não me permitissem..."

-Pedro! Ei, Ei Pedro! O que será que vai acontecer? - Indagava o cavaleiro Tomásio que ajudava Pedro a organizar e manter a multidão afastada do círculo formado pelos irmãos de Dinahi.

-Pelo que entendi, me parece que os irmãos da menininha que conheci na floresta vão se preparar e fazer uma dança. Uma dança dessas que só eles sabem e daí minha madrinha Estefânia vai pedir licença pra atuar com a magia dela e... Ei Alexandre, o que aconteceu?

-Pois adivinhe, tive que ajudar Maria Berenice a tampar os ouvidos e também afastá-la de certas pessoas... - Respondia o jovem cavaleiro de Angustura. - De longe já estão duvidando e dizendo o tempo todo dizer que este ritual vai não funcionar!

-E não é para menos! - Exclamava a princesinha. - Tanta coisa me diziam que me deixavam tonta, quase que ganho de presente mais uma dor de cabeça... Por D. Carlos Maria, e se não der certo?

-Ah, mas não perde tempo com essa gente não! Só de Abaruna precisar da gente pra se curar eu já sinto que vem coisa grande... Imagina o que ele não pode fazer pra te ajudar a sorrir?

-Que ressoem! - Anunciava Estefânia. - Que ressoem os acordes dos instrumentos encantados, o balanço de cada fita e as batidas de cada lança, vamos começar!

Ao mover das mãos de Estefânia e dos desejos entrelaçados ao desejo da cura de Abaruna, o ritual se iniciava. Algumas pessoas se esticavam à procura de quem estivesse a tocar com flauta doce e a bater em sincronia com o tambor e a coreografia dos irmãos de Dinahi, outras juravam reconhecer a melodia do banjo e os toques da viola e do chocalho, instrumentos tão conhecidos das antigas orquestras de pau e corda. Por sua vez, o príncipe-pássaro ainda precisava lidar com a teimosia da força cinzenta que logo se afastava para que ele pudesse ensaiar a batida de suas asas e atrair não somente as penas de volta ao seu corpo como também a corda entrelaçada das mãos de Estefânia para a ferida aberta que pouco a pouco cicatrizava.

-Abaruna pode demorar, mas ele há de conseguir, meu Abaruna há de conseguir... - Murmurava Dinahi sempre agarrada ao seu pequenino muiraquitã. - Pelo poder da Justiça e o ritual de meus irmãos, meu Abaruna há de se curar e curar também a filha de caraíba!

Vai esperança, vai guiando como fogueira constante e estrela candente, vai guiando a quem não se perde na missão!

-Enquanto o Senhor meu Deus fica guardando e protegendo a minha mãe e a Luisinha lá em Rio Adentro, não deixa de me ajudar por aqui... - Murmurava Pedro no decorrer de suas orações. - E também não deixa de curar o coração do nosso Abaruna dessa flechada no peito e o da nossa princesinha de todo o sofrimento...

Bondosa calmaria, apazigua e fortalece o bem-querer!

-Minha rosa Verônica... Sim, minha rosa Verônica, minha rosa vermelha, e pensar no tempo que perdemos com a tolice de nossas discussões e com os meus próprios devaneios... - Suspirava o rei Hildegardo Camilo que por sua vez estendia suas mãos para segurar as da rainha Verônica. - Por tudo o que vivemos até aqui e pelas coisas que ainda vamos viver, você me perdoa?

-Por tudo o que vivemos... E por tudo o que nós vamos viver ainda, eu também te perdoo, meu príncipe!

Coragem desperta, produz e faz ecoar tua resposta!

-As dúvidas sobre o que a princesa acha de minha poesia e dos meus sentimentos ainda persistem, mas eu não tenho o direito de pressioná-la o tempo todo e nem de esperar que ela me dê satisfações. Em nome da gentileza, e mesmo que ela nunca me diga... - Murmurava D. Alexandre consigo mesmo enquanto a princesa Maria Berenice parecia reservar a sua resposta ao próprio coração. - Mesmo que nunca me diga, nunca vou deixar a minha missão de gentileza...

Gratidão! Vá além do teu arrependimento e desejo de reparação, e se faça valer por quem precisa de ti!

-Ela precisa anunciar desse modo? - Indagava Odivelas, um pouco envergonhado. E quando os guaharís abriram a roda para a passagem de Estefânia, ela sacudiu sua varinha ao redor de Abaruna e encerrou o ritual com o incessante pedido de Maria Berenice.

"Meu Abaruna... Meu Abaruna que veio de longe... Não deixa de cumprir a tua promessa e me ajuda ter o direito de sorrir!"

"O encontro de cada desejo com o desejo de minha cura, é fruto de gentileza. Gentileza de cada coração, gentileza que brota de quem me cerca... E nada, nada poderia lhes fazer se não me permitissem...

...E se é assim que desejam, assim eu farei!"

De repente, o susto. Dos que estavam na festa, um pequeno príncipe de nome Joaquim de Albuquerque lá do reino da Campina do Vento Norte, viria a escrever mais tarde sobre a seguinte cena:

Mal tivemos tempo de nos surpreender ou de chegar mais perto para verificar se este dito pássaro Abaruna já estava se recuperando e de repente, ele já estava subindo para ofuscar o maior de todos os lustres e de lá ressurgir como se fosse uma espécie de cometa ou de raio de fogo...

Um raio de fogo que se dedicava a percorrer o Salão Principal a toda velocidade, atirando inúmeras faíscas que se refletiam dos lustres às medalhas e os botões dourados dos uniformes de cada cavaleiro real de Angustura e dos enfeites de vestidos e penteados daqueles que gritavam e saiam correndo para se esconder ou fugir do palácio. Os corajosos que se mantinham de olhos abertos podiam perceber e apreciar a quantidade de vezes em que ele mudava de cor e gerava diversos apelidos como "Pássaro Arco-íris", "Correnteza Verde-Água", "Beleza Negra", "Rio de Cristal", e "Pingo de Ouro", até que ele pousava delicadamente no centro do salão e se curvava para saudar a princesa Maria Berenice, como se estivesse a atraí-la para junto de si.

-Ele me pede, ele me pede para chegar mais perto!

-Mas descalça?! - Indagava o rei Hildegardo Camilo. - Olha que eu te deixo ir, mas toma cuidado com a magia dele!

-É meu Abaruna, papai! Se ele me chama... - Se era Abaruna quem chamava, Maria Berenice não hesitaria em retirar os sapatinhos de camurça e se libertar de tudo o que pudesse impedi-la de correr como criança, brincar como criança, e como criança chegar mais perto de seu príncipe-pássaro para oferecer-lhe o carinho e desvendar o que havia por trás do brilho de seus olhos dourados...

-Ele me pede, ele me pede para chegar mais perto!

"E se é assim... Se é assim que deseja, assim eu farei!"

No instante em que ela chegava mais perto, uma nova surpresa. Desta vez, era Abaruna quem se divertia ao rodopiar ao redor da princesinha, tomando para si o azul-marinho e as estrelas prateadas de seu vestido de festa, transformando-o inteiramente com suas cores incandescentes. E nossa princesa? Ah, essa não parava de se divertir e rodopiar, trazendo consigo o mais belo e iluminado sorriso! Sorriso, sorriso mesmo! E sorriso feito de sonho a se realizar sob os olhares atônitos dos reis Hildegardo Camilo e Verônica, de D. Alexandre e de Pedro, do professor Odivelas e da pequena Dinahi...

-Maria, Maria Berenice! - Exclamava o rei Hildegardo Camilo ofegante. - Maria Berenice minha filha, está tudo bem? Por D. Carlos Maria, esse pássaro poderia lhe queimar como a Joana D'Arc!

-Camilo! - Respondia a rainha Verônica. - Ah Maria Berenice, graças a Deus você está bem e Abaruna não te fez mal!

-Mas senhora minha rainha, que mal meu Abaruna ia fazer se ele só veio pra ajudar a princesinha e... Alexandre? Alexandre, você tá chorando? - Sim Pedro, ele estava. Com o olhar fixo no rostinho iluminado da princesa Maria Berenice, D. Alexandre se tornava o primeiro a vê-la sorrir e a sentir como se tudo ao seu redor estivesse desaparecendo em meio ao tempo que parecia estar congelando, para que somente os que haviam oferecido seus desejos nas mãos de Estefânia pudessem compreender o que era vivido e assim desfrutar de tamanha surpresa à sombra das asas de Abaruna...

-Alexandre me dizia... Alexandre me dizia que se alguém viesse a anunciar o segredo de minha cura e o local onde ela estava, ele faria de tudo para me trazer até mim. De repente, o segredo se revelou, Alexandre me trouxe Abaruna e Abaruna me fez... Me fez sorrir. Ah, como posso explicar? O que sinto é tão novo para mim!

-Um milagre, um milagre que se vive à sombra das asas de Abaruna... - Respondia D. Alexandre com os olhos cheios d'água. - Ah, e se alguém vem me dizer que os milagres não existem, eu te juro que... Eu te juro... Ah, deixa. Não me importa o que me digam!

-Nem dezesseis ou dezessete anos de pesquisas ou das minhas investigações poderiam me servir para explicar o que acontece contigo, minha nobre pequena... - Respondia o professor Odivelas ao enxugar os olhos e esconder as lágrimas para manter a compostura de sempre. - Milagre, apenas milagre é o que se pode dizer!

-Camilo, a nossa filha... Veja a nossa filha Camilo, veja a nossa filha! Veja como sorri, veja como sorri a nossa filha! - Exclamava a rainha Verônica que se emocionava juntamente com o seu querido esposo. À essas alturas, já não haviam regras de etiqueta e protocolos que viessem impedir a princesinha de ser adornada com centenas de abraços e uma enxurrada de beijos, sem contar as risadas e os gritos dos ditosos reis de Angustura a convidar os demais a também sorrir e celebrar com tamanha surpresa. E se as lágrimas existiam, dessa vez elas poderiam ressurgir; desde que se revestissem de alegria!

De um lado e outro, D. Alexandre e Pedro beijavam as mãos de Maria Berenice e a conduziam em um desfile improvisado do Salão Principal até os jardins do palácio ao som da orquestra e da magia dos instrumentos de pau e corda que ainda ressoavam. Emocionada, a princesinha continuava a brincar e se encantava ao perceber o quanto Abaruna também fazia questão de "se fazer de brinquedo", indo e voltando de seu braço direito para as mãozinhas da pequena Dinahi, que por sua vez retribuía com gestos de ternura e se divertia enquanto era carregada, ora nos ombros de Raoni ou de Abeguar e Kabianã até pressentir que o seu amigo adorado queria se manifestar.

"Com tudo o que estamos vendo..." Refletia o professor Odivelas em meio ao burburinho da multidão. "Quem se espanta ainda com uma princesa que depois de tanto tempo conseguiu sorrir através da magia de um pássaro deveria ter o dom de se espantar consigo mesmo!"

E o pressentimento de Dinahi se confirmava ao perceber que das mãos de Maria Berenice, o pássaro Abaruna voltava a passar por cima da multidão como fizera no Salão Principal do palácio, sobre o riso e o encanto e até mesmo do terror de parte da multidão que se abaixava como que a temer ser atingida por chamas de fogo até que ele pousava entre os galhos da mangueira mais próxima; apartando seus galhos e frutos com o bater de suas asas e a permissão dela mesma, lá estava ele a criar uma espécie de nicho, com os olhos a brilhar como nunca e a mostrar que de fato, ele não era um pássaro comum!

-Dos caminhos que se entrelaçaram... Dos caminhos que se entrelaçaram, do cumprimento de uma promessa ao alcance da realização de tantos sonhos e da conquista do que até então não se desejava, cada pessoa que se faz presente por aqui foi destinada a viver esta grande aventura... Aliás, uma aventura como resposta dos desejos que lhes desejavam antes mesmo de desejarem através do Amor que se faz presente em minha pessoa. Vocês ainda vão enfrentar muitos desafios e a descrença de muitos, mas nada poderá invalidar o que houve por aqui. Vivam os efeitos desta experiência, mas não se esqueçam daqueles que não a viveram e façam o possível para compartilhá-la, cada um a seu modo. Conseguem compreender?

-Compreendo meu Abaruna, compreendo! - Respondia a princesa Maria Berenice em voz baixa e serena. E a princesinha não se tornava a única, mas por razão até então desconhecida, a alegria que pertencia a todos que vivenciavam os efeitos de tamanho milagre começava a se misturar com os efeitos de uma sensação esquisita e semelhante a que outrora ela mesma sentia enquanto D. Alexandre partia para iniciar a saua jornada, o que ele mesmo sentia enquanto retornava da floresta... E também o Pedro sentia enquanto se despedia da mãe Rosaura e da hospedaria lá de Rio Adentro, de modo que ele mesmo poderia reconhecer e se emocionar até mesmo com a ternura da pequena Dinahi que se aproximava, liberta do curativo com o qual havia tentado socorrê-la na floresta...

-E você já se curou daquela ferida, não foi?

-Já sim. E eu também perdi... Eu também perdi o medo de perder meu Abaruna. Se isso aconteceu comigo e a filha de caraíba também se curou, isso quer dizer que meu Abaruna já pode ir!

-Mas será que ele não podia ficar mais um pouquinho?

-Ah Pedro, bem que eu atenderia ao seu pedido, se eu não fosse destinado a ser mantido somente nas mãos de Dinahi ou de Maria Berenice, nem a continuar retido no interior de uma gaiola e num desses baús onde tanta gente enterrar para esconder os seus tesouros onde desejam... Não importa a quem seja, o meu destino é a me doar a quem precisa de mim e a retribuir a gratidão de quem se alegra com a realização do que tanto deseja com essa alegria que brota do meu coração, como naquele dia em que você sorria enquanto me oferecia aquelas frutinhas. E é desse jeito que mesmo de longe, eu continuo por aqui... Quanto a você Abeguar, o que pretende?

-Enquanto Abaruna anunciava a sua partida, a gente também sentia o quanto a nossa irmã ainda deseja te seguir... - Respondia o primogênito para a surpresa da pequena Dinahi. - ... E se a filha de caraíba permite, a gente pede e também deseja que se realize o desejo de Dinahi, o desejo de te acompanhar mais uma vez!

-O detalhe é que nem imagino que seja necessária a minha permissão! - Assegurava a princesinha. - Mas se é assim que vocês desejam e se Abaruna também deseja...

-Se é assim que desejam, assim eu farei! - No deixar de seu nicho, o pássaro Abaruna se utilizava do mover de suas asas para agradecer e também retribuir à gentileza da mangueira que lhe concedia a permissão fazendo-a regressar ao seu estado natural. Em seguida, ele continuava a atrair e encher os olhares de todos enquanto descia; primeiramente para se deliciar com os afagos e carinhos Maria Berenice e em seguida aguardar à Dinahi, como na primeira vez em que instruía a sua pequena e eterna guardiã sobre a maneira de voar...

"É desse jeito Dinahi, é desse jeito que mesmo de longe te prometo que vou estar sempre contigo, contigo sempre!

-Abaruna sempre comigo... Meu Abaruna, comigo sempre!

Por fim, o príncipe-pássaro impulsionava a si mesmo e subia novamente para reencontrar os céus, ladeado pelos irmãos de Dinahi e com a alegria dos que ficavam na terra e continuavam a celebrar, sem se entristecer ou suspirar com o fato dele partir para se transformar em lembrança. Como Maria Berenice viria a escrever em seu diário e nas cartinhas dedicadas para Agustina e Georgina, duas priminhas que não puderam vir a festa, o pássaro Abaruna se despedia para se transformar em lembrança. Lembrança que se dissolvia no ar e permanecia nos traços de seu próprio sorriso e também no voo alegre e sereno de Dinahi que já retornava com os irmãos ao seio de seu povo guaharí e pousava, sempre de acordo com a cadência do vento...

"Se a presença transformada em lembrança e a cantiga daquele a quem chamava de 'meu pássaro Abaruna' continuava a encantar e atrair centenas de pássaros para também se juntar a revoada festiva da menina Dinahi e dos irmãos, a notícia de meu primeiro sorriso ecoava aos ouvidos de muitos e assim duplicar os motivos para se festejar em toda parte, e não somente o dom de minha vida. Festejar, sorrir e correr para alcançar a alegria até onde fosse possível e sem se perder...

Talvez um dia, alguns detalhes de uma história como esta possam desaparecer ou se misturar à história deste reino de Angustura, mas a verdade é que nada, nada pode apagar ou afugentar de nossa memória o que daqui por diante pode ser conhecido como 'o dia do Amor'. OOude acordo com o que desejo, o dia de 'Um Sonho Alaranjado'!"

Ao cair da tarde, muitos percebiam como esta ocasião deveria se eternizar e logo se elaboravam sugestões a serem oferecidas e dialogadas com os integrantes da família real serruyana e as testemunhas que tiveram a sorte de viver tamanha experiência. E sugestões que floresciam como um decreto de rês meses de férias, iniciadas com a data de nascimento de Maria Berenice de Serruya, passando pela distribuição gratuita de pães e bolos aos habitantes do reino e a escrita de livros e livros de prosa e poesia para contar a história do ocorrido até ser colhida aquela que seria conhecida como a "Ciranda de Abaruna", uma espécie de folguedo musical em forma de cortejo que se dedicaria a percorrer as ruas e abriria não somente os festejos do aniversário de Maria Berenice como também de seus descendentes no futuro. Por sinal, aí estava a princesinha em seu quarto, a desenhar e pintar num caderninho um esboço da futura réplica do pássaro Abaruna, toda feita de madeira para ser utilizada no folguedo até ser chamada pela rainha Verônica.

-Minha filha, Alexandre já te espera nos jardins!

-Já vou, mamãe! - Respondia a princesinha antes de largar o caderninho. - Por D. Carlos Maria, quase me esqueci...

-E se for sobre o que estou pensando, não se esqueça do que a gente conversava antes da festa... Se for isso mesmo o que você deseja, tudo bem. Mas se não for, não se sinta obrigada a corresponder!

-Não se preocupe, mamãe! Como a senhora me dizia naquele dia, ninguém melhor para responder e decidir do que a mim mesma!

E no coreto iluminado que se destacava no centro do jardim palaciano, lá estava D. Alexandre a caminhar de um lado a outro e a suspirar com a cabeça baixa, lamentando consigo mesmo por não ter o mesmo jeito descontraído de Pedro para conseguir se expressar como deveria, sem contar a estranha timidez que o visitava ou reparar em quantas vezes não assoviava ou esfregava as mãos enluvadas uma na outra enquanto Corre-Campo se aproveitava para comer da grama e beber da água que jorrava da fonte mais próxima, sem ser repreendido ou aconselhado a se comportar em troca de torrões de açúcar...

"À Maria Berenice eu prometi... Eu prometi desde cedo não deixar de lhe doar gentileza, sem imaginar que eu também poderia sentir o que estou sentindo por ela... Ela merece saber o que se passa em meu coração e ser livre para decidir se me aceita ou não me aceita, sem deixar de ser respeitada por conta dessa ou daquela decisão!"

-Alexandre! - Exclamava Maria Berenice que chegava com toda a pressa. - Alexandre, desculpe a demora, é que já estou me ocupando com uma ideia linda... E nosso Pedro, por onde anda?

-Ah sim, é que ele foi chamado para conversar com o meu pai no quartel da Cavalaria Real de Angustura, mas depois ele retorna. Deve coisa da formatura ou recado da família... Bem, se não me engano, a senhorita ainda me deve uma resposta...

-Pode ser que sim. Ou pode ser que não... - Respondia a princesinha com uma expressão enigmática. - E você deixaria de escrever ou de compor por conta dessa ou daquela opinião?

-Não, não, longe disso! Quer dizer, você sabe que desde sempre fui destinado a ser cavaleiro e não poeta, mas esse foi o jeito que arrumei... Ou melhor dizendo, esse foi o jeito que Pedro me arrumou, e mesmo assim não tenho certeza se consegui me expressar do jeito que deveria... Ou como eu achava que deveria e...

-Bem, se ainda queres saber a verdade, e de verdade... Mesmo depois de te conhecer há tanto tempo, e de saber sobre o quanto você se arriscou em nome de Abaruna.. Ainda não tinha parado para pensar, e muito menos imaginar que além de gentil, você fosse tão poético!

-E eu já nem me lembro se ficou faltando alguma estrofe ou se alguma palavrinha do nada resolveu ganhar vida própria e sair do lugar, mas eu juro, eu juro que eu tentei transmitir o que sentia, como se tivesse colocado o meu coração ali e... O que você disse?!

-Isso mesmo. Poético, gentil e corajoso, como bem o digo. Não somente por si mesmo, mas em nome da existência de Abaruna e de meu sorriso, e da gentileza que te impulsiona desde o dia em que você quis entregá-la para mim, e do começo até o fim de tua jornada enquanto a minha confiança te acompanhava... E também a gentileza. A tua gentileza que também me acompanhava, mesmo de longe... E eu não poderia deixar de retribuir! - Respondia Maria Berenice à D. Alexandre enquanto ajeitava a gola de seu uniforme. Em seguida, ela retirava do bolso um pequenino embrulho e o entregava nas mãos do jovem cavaleiro que o desembrulhava e logo reconhecia o espelhinho dourado de frei Salvador Infante, enrolado no que parecia ser uma espécie de pergaminho preenchido com os trechos de um manuscrito.

-Então... Você também escreve?

-Desde pequena... Bem, na verdade eu gostava tanto de ler que de vez em quando tentava escrever minhas historias e compor alguns pedaços de poesia, mas por achar que nunca seria capaz de conseguir ou que não tinha talento o suficiente eu jogava os meus rascunhos no lixo ou os guardava numa gaveta... Até o dia em que decidi escolher um dos meus manuscritos que ficaram pela metade para continuar escrevendo até o fim... E este é o início do último capítulo!

-E pensar que outro dia na floresta, Pedro até me perguntava sobre o que eu faria se eu tivesse em mãos uma história como esta... E você me entrega a metade do último capítulo ao invés do primeiro?

-É o último capítulo de uma história que de minha, também se tornou a de Abaruna e de muita gente. Essa mesma história já está quase perto de terminar, mas eu deixei pela metade pois ainda cabe a mim e a você a decisão de escolher o final que a gente deseja, mesmo que seja imperfeito... Bem, de nada adiantaria um final perfeito se não fosse agradável ao nosso querer, não é mesmo? - E Maria Berenice estendia as suas mãos para mantê-las seguras nas de D. Alexandre, enquanto ela mesma continuava a sorrir e a se recordar de tanta coisa. Olhares, suspiros, espelhinhos dourados e manuscritos... Gentilezas.

E quando o relógio as soou vinte badaladas, imagine qual não foi surpresa de ambos ao se descobrir que a gentileza também lhes servia como um ótimo instrumento para amar!

-Assim o queres? De verdade?

-Sim, eu também quero... Ah, e não se esqueça de que você também me deve a honra de uma valsa!

-E se é assim que a senhorita deseja, assim se realiza...

Acertado o querer de ambos, a princesinha se colocava na ponta dos pés e suspirava enquanto o jovem cavaleiro de Angustura pedia licença para beijar sua mão direita e a abraçava com sincera ternura, o cavalinho Corre-Campo se deliciava com o sabor da grama do jardim e os reis Hildegardo Camilo e Verônica continuavam a caminhar até se deterem por um instante para observar aquela cena. Naquele dia ao redor do mundo, inúmeros casais fariam o mesmo, mas cada sensação ocorreria modos diferentes, seja debaixo da chuva ou num jardim iluminado. Somando alegria e gentileza, assim surgia o bem-querer!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro