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Capítulo 11 - Uma troca de sabores

No que deveria ser a "sala de inscrições à Cavalaria Real de Angustura", Pedro respirava fundo, empurrava a porta e caminhava, pé ante pé devagarinho ao mesmo tempo em que estranhava a escuridão daquele lugar e depois de tanto tempo, finalmente dava broncas em si mesmo por ter se esquecido de trazer ao menos uma lamparina para a viagem. Por via das dúvidas, o jeito era preparar a espingarda, superar o medo e reviver o sonho de que era caçador experiente e dos bons como sonhava e continuar a prosseguir em meio ao barulho das folhas secas e dos gravetos que pisoteava, sem contar o canto dos pássaros que teimavam em distrai-lo... Pássaros?!

-De longe se reconhece, de longe se reconhece o canto de sabiá ou do bem-te-vi quando deseja anunciar alguma coisa... Aquela garça, coitadinha, ainda vai ficar tonta do tanto que fica rodando nessa gaiolinha... Égua, mas o pessoal daqui é bom de pegar passarinho!

E Pedro começava a se dar conta da imersão de si mesmo em uma espécie de viveiro barulhento e habitado por várias espécies de pássaros, dos que já conhecia de Rio Adentro até os que habitavam na floresta; garças e arajajubas, tucanos e sabiás, tangarás e periquitos, papagaios e japins, uirapurus e curiós de bico-doce, cada qual em sua gaiolinha. De início, ele até se admirava, mas logo se compadecia e se dedicava a alimentá-los com as sementes e os pedacinhos de frutas que juntava do chão, além de se divertir imitando o som dos que já conhecia de longa data, até se deparar com o sonho alaranjado que habitava numa gaiola dourada com a seguinte inscrição:

Destinado A Ser entregue nas mãos da princesa

Maria Berenice de Serruya

-E você... Você que é todo alaranjado e feito de luz só pode ser Abaruna... o Abaruna que Alexandre procurava...

"O mesmo que rodopiava no céu quando eu era pequeno!" Bem, assim Pedro poderia continuar a dizer se de tanto encantamento, o restante de sua própria fala não estivesse entre aspas e reservada ao seu próprio pensamento. E das frutinhas que restavam em suas mãos, haviam apenas umas sete alaranjadas e pequeninas, da mesma espécie de frutas que outro dia ele mesmo declarava o quatro seria mais fácil de se ver caindo do céu que se viver num mundo sem a mãe Rosaura...

-De minhas mãos, agora eu só tenho esse bocadinho de pupunha... E você não se incomoda de provar também, não é?

E Abaruna se deliciava, com o sabor da pupunha e a alegria que Pedro sentia a cada vez em que ele oferecia mais uma e em seguida o aceitava, gerando assim uma troca de sabores inigualável, cujos efeitos também repercutiam no coração de Dinahi, mesmo de longe. Como de costume, os irmãos mais velhos haviam saído para a ronda noturna e os mais novos se encarregavam de cuidar tanto da maloca, como também da irmãzinha que já adormecia e também de Abeguar que descansava, ainda a refletir sobre tudo o que se passava enquanto se recuperava até perceber que Moacir se aproximava.

-Não consigo entender... Não consigo entender como a nossa irmã fez o que fez para lutar e sobreviver, e depois se arriscar tanto pra conseguir nos encontrar... Encontrar os irmãos que não conhecia...

-E você sabe que além de nosso mãe Inayê e do desejo de retornar pro nosso povo, Dinahi também se arrisca por amor de nosso pai... A gente vai se arriscar pelo desejo dela também?

-Ainda tenho o que pensar... E se pai Eirapuã não se aproveita pra se vingar da gente? De longe se reconhece a intenção de Dinahi, mas quando se trata de Eirapuã... De Eirapuã nunca se sabe!

-Mas, de Dinahi, a gente sabe...

-E pensar que de acordo com a Justiça que me rege, nasci para tomar a frente dos meus irmãos e de meu povo, mas com o tempo eu descobria que ela também gosta de escolher a você para tomar a frente das coisas... Escolhido pela Justiça para descobrir sobre o desejo de nosso pai e contar a nossa mãe, para encontrar e lutar contra Dinahi e depois escutar essa mesma Justiça que nos ordenava à renúncia do nosso antigo juramento... - Murmurava o primogênito, lutando para se manter acordado enquanto Moacir molhava a sua testa com água gelada, ambos caindo de sono até serem surpreendidos com a voz de Dinahi que despertava, saltando da rede para correr de um lado a outro e gritar o nome de Abaruna até ser contida pelos irmãos.

-Meu Abaruna, Moá! Meu Abaruna, meu Abaruna tá por aqui!

-Mas daqui não vejo, nem ouço nada... - Respondia Moacir ao franzir o rosto enquanto a pequena repetia sem cessar.

-Mas eu ouvi meu Abaruna Moá, eu ouvi!

-A cantiga de Abaruna, deve ser a cantiga daquele pássaro que acompanhava Dinahi nos tempos da floresta! Veja Moacir, veja se Abaruna ainda não canta por aqui! - Ordenava Abeguar apreensivo enquanto Moacir relutava em se afastar de Dinahi suava frio e estremecia, além de sentir-se assombrada com uma ideia desoladora...

-Moá, e se Abaruna me deixou de vez?

-Mas do jeito que Dinahi me falava de Abaruna, eu sentia que ele não poderia te abandonar. E se Abaruna não te abandona, ele só pode estar perdido ou aprisionado na mão de quem não deixa ele voltar. Ô Dinahi, quem sabe se você não sonhou e...

-Espera! - Exclamava Abeguar em voz alta. - Espera Moacir, espera que daqui mesmo eu consigo ouvir... Sim, eu consigo ouvir... E é uma voz tão bonita e cheia de vida que ressoa até dentro de mim!

-Ô meu pai, estou surdo! - Respondia Moacir ao balançar a cabeça. Através de sorrisos e pequenos gestos, Dinahi revelava mais detalhes sobre a vida e as aventuras ao lado de Abaruna enquanto a saudade, quietinha e acostumada com a ausência se manifestava, só que dessa vez graciosa e serena até se transformar além de esperança, um dos primeiros milagres a serem vividos naquela noite.

O segundo milagre começava a se realizar em meio à escuridão do "viveiro clandestino" quando de repente, a portinha da gaiola que até então aprisionava Abaruna se abria sozinha e ele finalmente recuperava a sua postura imponente diante de Pedro. Mas ao contrário do que se poderia esperar diante do que via, por alguma razão a "fogueirinha do coração" o motivava a estender o seu braço direito e aguardar o pouso de quem também era conhecido como o sonho alaranjado que lhe fazia sorrir e se emocionar enquanto o acariciava...

-Ah meu Abaruna, se não fosse pelo tanto que Alexandre fez sacrifício pra te encontrar na floresta e do tanto que a princesinha de Angustura tá te esperando pra conseguir se curar... - De tanta alegria e brincadeira, Pedro até se esquecia de se dar conta de si mesmo, ou dos pés descalços que se tornavam pequeninos e afundavam no chão que se tornava barrento, sem contar o quão grande e bonito estava se tornando aquele lugar... Grande o suficiente para ajudá-lo a retornar ao antigo encantamento da infância e continuar brincando!

E finalmente, o terceiro milagre... Aliás, como bem dizia a história de um menino que não crescia, mas que bem entendia de voar e de fadas que não são madrinhas[1], um milagre cuja escrita merecia ser tecida com ouro líquido ao invés de tinta comum... Raios luminosos alcançavam as fechaduras de cada gaiola, para que todos os pássaros pudessem desfrutar da própria liberdade, e Abaruna se rendia aos afagos de um Pedro criança que brincava e corria por uma estrada de terra barrenta sob os aplausos de frei Salvador Infante e da mãe Rosaura, jovem e bonita que se ajoelhava para oferecer-lhe uma colher cheia de doce de goiaba... Ah, mas se poderia existir um sonho melhor do que este, que pudesse despertá-lo agora mesmo!

-Alto! Tire já as mãos de Abaruna e fique onde está!

Dos fundos da floresta, abria-se uma porta. De volta à realidade, em torno de uns seis ou de sete integrantes da Cavalaria Real de Angustura apareciam de repente para surpreender e avançar sobre o intruso desconhecido que se revelava no viveiro de D. Carlos Maria, ainda com Abaruna "empoeirado" no braço direito. E o menininho que de dentro para fora estava prestes a voar ainda custava a compreender o que lhe acontecia enquanto retornava capturado à realidade, sem poder se despedir de quem também se tornava o seu príncipe-pássaro ou de estender-lhe o dedo para colher as suas lágrimas...

-Ah, mas não se mexa! Não se mexa que a gente te leva no gabinete da Cavalaria Real ou direto pro subsolo agora mesmo!

-Segura, segura esse daí e chama logo nosso chefe! Chama logo D. Domingos que esse há de dar o jeito nele agora mesmo!

-Estás ficando louco?! Por D. Carlos Maria, onde estavam com a cabeça para deixar esse tal de Abaruna por aqui?! - Protestava outro cavaleiro que em seguida sussurrava de modo a camuflar o restante da conversa. - Ah, mas se nosso chefe me chega perto daqui e descobre o que se passa longe do viveiro de D. Carlos Maria...

-O que é que vai... - Estremecia e gaguejava Pedro, assustado demais para conseguir se defender. - Que é que vai acontecer comigo?

-Não se preocupe, meu rapaz! - Respondia estranhamente o que aparentava ser o líder de todos eles. - Com certeza você teve o azar de aparecer no lugar errado e na hora mais inadequada, portanto o único jeito de se resolver a situação é te reservar um bom lugar, um lugar onde você vai poder descansar até ser interrogado amanhã no gabinete da Cavalaria Real de Angustura... Desde que você guarde segredo a respeito do que se encontra por aqui!

-Daí se eu não guardar... Ah já sei, se eu não guardar segredo, já vi que vai sobrar pra cima de mim...

Assim combinado, Pedro engolia em seco e era arrastado através de um corredor escuro e desconhecido até ser empurrado para dentro de uma das celas que se localizavam no subsolo do quartel da cavalaria. Impactado com o som das grades que se fechavam por trás de si mesmo, o odor esquisito do limo e das goteiras que impregnavam no local, e com as impressões que lhe causavam os prisioneiros que logo o intimidavam com várias brincadeiras e provocações, lá estava ele a permanecer em silêncio e aguardar o que viria pela frente.

-Levanta rapaz, levanta já daí e vai dizendo o que você fez!

-Pelo jeito esse aí tava tentando roubar galinha do vizinho e não conseguiu, nem cara de bandido ele tem!

-E desde quando bandido tem cara? Por aqui nós somos todos inocentes! - Ironizava outro prisioneiro que atirava um copo d'água diretamente no rosto de Pedro e se divertia esperando que ele viesse a reagir de maneira agressiva e assim provocar mais tumulto.

-Eu queria saber... Eu só queria saber quem é que tá aqui só por causa de segredo que não pode contar ou de denúncia que não pode dizer? De verdade, quem é que tá aqui? - À princípio, a pergunta de Pedro intrigava e chegava a provocar discussões quando de repente, um senhor idoso e magricela levantou a mão e resolveu se aproximar para contar a sua história. Com o tempo, outros quatro começavam a se juntar à dupla e confessar não somente sobre o medo que sentiam como também protestavam sobre o fato da estadia na prisão já ultrapassar os sete dias e assim por diante.

-Pois é por tudo isso e muito mais que estou aqui. Agora me diz se faz sentido, se faz sentido prum bocado de gente, e gente que nem precisa ficar por aqui, ficar que nem passarinho de gaiola só porque mentira de autoridade vale mais que a verdade da gente?

Nem Pedro sabia como tivera força suficiente para conseguir se posicionar enquanto permanecia de pé com a mão esquerda agarrada ao tercinho que guardava no bolso, mas logo permitia que os demais pudessem se aproximar para ajudá-lo a suportar o que deveria ser a sua primeira noite na prisão em troca de alguns dos conselhos outrora recebidos de frei Salvador e palavras de ânimo, além dos toques de uma flauta emprestada por um de seus novos companheiros. Uns estavam ali por justa causa, outros através das injustiças dos patrões, das consequências dos amores proibidos e traições de supostos amigos, dentre outros relatos que chamavam a atenção e despertavam o desejo de liberdade do jovenzinho de Rio Adentro até o sono chegar...

"Agora me diz se faz sentido, se faz sentido esse bocado de mentira... Mentira de autoridade valer mais que a verdade da gente... "

Distante de preocupações, D. Alexandre bem sabia o quanto a sua chegada seria bem-querida e celebrada não somente pela família real serruyana como também pelo professor Odivelas através de um belíssimo jantar no palácio, regado com as melhores iguarias e vinhos espumantes, sem contar e os tradicionais lugares de honra com os quais era recepcionado juntamente com o pai Domingos. Tirando a demora imprevista e as questões a serem resolvidas com Tomásio e os cavaleiros que haviam desistido da jornada e ficado pelo caminho, de maneira panorâmica a jornada continuava a ser tida como prazerosa e bem-sucedida especialmente aos olhos do rei Hildegardo Camilo que brindava a todo instante pela coragem e bravura do jovem cavaleiro.

-Ao nosso querido e destemido Alexandre Fuas Nolasco, o cavaleiro responsável por nos trazer da floresta até as mãos de minha filha Maria Berenice, o miraculoso e raríssimo pássaro Abaruna!

-Obrigado Majestade! Só lamento por não ter estado por aqui para ajudar o senhor, o meu pai e os meus amigos da Cavalaria Real com a derrota da Boiúna, mas eu posso garantir que minha ausência se deu por justa causa.... E teus cachinhos, alteza? E teus cachinhos que estão presos hoje? - Indagava D. Alexandre de surpresa para Maria Berenice. Ufa, por pouco ela não viria a se engasgar com seu sorvete de morango entre pedaços de biscoito e coberturas de caramelo!

-Ah Alexandre, desde semana passada que nossa filha está testando os penteados que pretende usar na semana de seu aniversário... - Respondia a rainha Veronica. - E modéstia à parte, os que a deixam com postura de rainha são os que mais me admiram!

-Assim como ela deve admirar a postura e também os passos de uma rainha-mãe como a senhora... - Assegurava o jovem cavaleiro com os olhos fixos no rosto avermelhado da princesinha que evitava ser o foco das atenções e mordiscava mais um bolinho de morango.

"Ele está mais forte desde a última visita... E essa barba do jeito que está... Por D. Carlos Maria, o que estou a pensar?!"

-Ah, mas não se preocupe meu rapaz! Não se preocupe, logo mais hão de lhe surgir outras aventuras e... - E no melhor da conversa entre D. Alexandre e o rei Hildegardo Camilo de Serruya, a harmonia da ocasião era interrompida e todos se levantavam em meio aos gritos de um lacaio que se aproximava todo esbaforido até a mesa de jantar.

-Majestade, Majestade! Um desconhecido majestade, um desconhecido conseguiu retirar o pássaro Abaruna da gaiola, sendo que a chave estava comigo o tempo todo!

-E essa agora Cassiano, acaso não vês que nós estamos em família? - Respondia o monarca. - E esse prisioneiro, por acaso estava tentando ferir ou maltratar o tesouro de minha filha de alguma forma?!

-Não que eu saiba, mas...

-Ao menos tiveram de investigar a situação desde o princípio?

-Investigar?! Nós o pegamos no viveiro de D. Carlos Maria!

-Por D. Carlos Maria, depois de tudo o que tem acontecido nos últimos dias, pelo menos me diga que você e seus amigos não se precipitaram a ponto de prejudicar um inocente!

-Camilo, espere! - Respondia a rainha Verônica. - Cassiano, com certeza o senhor ainda se lembra de tudo que aconteceu...

-E este prisioneiro, como ele era? - Indagava a princesa Maria Berenice, que também se levantava para tranquilizar o monarca.

-De muita coisa não sei, mas pelo que me disseram ele tremia o tempo todo, era tão pequeno e desajeitado que mal sabia se defender com a espingarda que tinha em mãos... Ah, e se chamava Pedro!

-Pois bem Cassiano, não deixe de orientar os seus amigos acerca do prisioneiro e também de transferir Abaruna o quanto antes para outro viveiro. E que não seja mais um caso de julgamento precipitado, ouviu bem? - Ordenava o monarca. Em segunda, o guarda Cassiano ainda obteve a autorização de levar alguns docinhos de hortelã e o jantar prosseguia sem que D. Alexandre pudesse trocar alguma coisa com a princesa Maria Berenice além de alguns suspiros e olhares tímidos, e sem contar a dúvida repentina que o perturbava...

"O que estou pensando?! Não, não pode ser o Pedro que conheci nos dias em que estive na floresta! Por D. Carlos Maria, ele não poderia ser mantido pudesse mantê-lo num lugar assim!"

-Mais sobremesa? - E de repente, era a princesa Maria Berenice quem devolvia D. Alexandre à realidade e reunia a coragem que possuía para oferecer-lhe mais uma taça de sorvete. - Desculpe, é que não é de hoje que te vejo cansado e abatido desse jeito... E digo por mim mesma, que de vez em quando os meus docinhos ajudam!

-Maria Berenice? Ah sim, é minha cabeça que não para se preocupar com a história desse prisioneiro. Já é a terceira vez que meus companheiros se envolvem nesse tipo de confusão, imagine se eles chegam a meter um inocente na prisão ou algo do tipo?!

-Querendo ou não, isso também me preocupa... - Respondia a princesinha. - No mais, eu só tenho a lhe agradecer por me trazer Abaruna. Por ele deve ter sido uma aventura e tanto!

-E como! Sem contar que além de Abaruna eu também pude cruzar meu caminho com o de um jovenzinho lá de Rio Adentro. De início nós tivemos alguns atritos, mas com o tempo ele se mostrou uma pessoa formidável, do tipo que você adoraria conhecer... - Suspirava D. Alexandre com certa melancolia. - Mas agora preciso ir, desta vez é o meu pai que me parece cansado e abatido, sabe?

-E quando chegar em casa, não deixe de aparar a barba... Seu pai chegou a me dizer que ela parece um mico-leão dourado!

-Ah, aparar ou não aparar, eis a questão! - Respondia D. Alexandre em tom de brincadeira. Em seguida, ele se despedia para acompanhar o pai Domingos em seu retorno para casa, e os olhos da princesa Maria Berenice continuavam acompanhando-o até se deparar com a garrafa de vinho tinto que se encontrava sob a mesa de jantar.

-E se não for tão bom quanto me dizem? Odivelas bem me dizia, quando a esmola é demais, o santo desconfia... - Murmurava a princesinha um tanto receosa. Mas sabe-se lá o motivo, uma espécie de coragem repentina brotava de si mesma e a motivava a se certificar de que não havia ninguém ao seu redor; em seguida, ela enchia a sua taça de cristal com o que restava da garrafa e assim permitia com que o sabor do vinho viesse a contagiá-la dos pés à cabeça...

-Vencesse, és saboroso como dizem... E saboroso até demais!

Num instante, a princesinha deixava de provar do vinho e corria rapidamente até chegar aos seus aposentos e fechar a porta por trás de si mesma; do espelhinho a ser entregue por D. Alexandre em forma de gentileza ao miraculoso pássaro Abaruna, passando pelas discussões que se travavam por conta de sua própria condição, das lições do professor Odivelas até os mimos e conselhos a serem oferecidos pelos reis Hildegardo Camilo e Verônica, lá estava Maria Berenice a se inebriar os pensamentos e as recordações que lhe vinham na cabeça num ziguezague fervilhante e aparentemente destinado a se tornar infinito se ela mesma não estivesse a visualizar além do nome, o rosto do prisioneiro injustiçado a quem tanto desejava...

"Se queres, tens a chance de te presentear a ti mesma..."

-Presentear a mim mesma... Através desse prisioneiro!

"A voz que te animava até outro dia enquanto você se colocar diante da varanda continua sendo a mesma que vos fala. Confia, confia não somente na minha voz como também nesse teu desejo de sair de teu lugar e interceder em favor de alguém. Confia que mesmo de longe eu me encarrego de ser o guia de teus passos e o relógio que desperta a tua coragem, a tua coragem que adormece dentro de ti!

-A capa cor de sonho... A capa cor de sonho! A capa cor de sonho têm que estar aqui! - Do cavalete aos baús e gavetas, a princesinha se dedicava a revirar o que via pela frente e com toda a pressa até se deparar não somente com a capa cor de sonho escondida no fundos do guarda-roupa como também percebia que uma parte dela estava enganchada no braço de uma pequena lamparina...

Aparentemente, o silêncio e a escuridão noturna novamente predominavam no viveiro de D. Carlos Maria de Serruya. Alguns pássaros adormeciam tranquilamente, outros ainda se lamentavam em nome da liberdade que tanto desejavam enquanto se contentavam em observar Abaruna que também já dormia... E era melhor que todos estivessem pensando desse jeito, pois ninguém viria a suspeitar de que seu espírito já estivesse a ultrapassar os limites do espaço e do tempo até se deparar com una pequena brecha por onde poderia adentrar no coração da princesinha, que por sua vez ainda temia ser descoberta e repreendida, sem contar as ocorrências que poderiam lhe acontecer no meio do caminho, mas logo não hesitava em se revestir de sua capa cor de sonho, acender o pavio da lamparina e assim prosseguir por onde a voz de seu príncipe-pássaro deveria lhe indicar...

"Enquanto o sorriso não vem, a coragem desperta!"

[1] Peter Pan ou A História do Menino Que Não Queria Crescer (1904), lançada inicialmente como peça teatral e mais tarde reescrita pelo escritor e dramaturgo escocês James Matthew Barrie (1860-1937) como o clássico infantil de 1910 que popularizou a personagem de Peter Pan.

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