Capítulo Vinte e Sete
- O... O que? – Sua voz estremeceu.
Ela foi pega totalmente de surpresa, como que ele sabia disso? Olhou na tela do celular e então percebeu que uma versão online dos exames havia chegado pelo e-mail. Mas claro, eles fazem isso hoje em dia, como ela havia se esquecido disso? Tomou o celular das mãos dele e ficou encarando aquela tela sem saber o que dizer, ela queria tudo, menos olhar nos olhos dele.
- Me desculpe, eu sei que não devia olhar seus exames, que isso é invasão de privacidade, mas eu só queria baixar eles pra quando você fosse ao médico não precisasse levar um monte de papel na bolsa.
- Jura que é com isso que você tá preocupado Felipe? – Ela recomeçou a chorar.
Felipe se levantou rapidamente da cama, envolvendo-a em seus braços enquanto ela chorava copiosamente. Ele sabia, pois ela lhe dissera que não podia engravidar e mais tarde, quando eles conversaram sobre isso, assim que começaram a namorar, ela lhe confessou que mesmo se pudesse não tinha pretensão, pois se sentia agoniada, que tinha até um certo medo de gravidez e que bem mais para frente seu sonho mesmo seria a adoção e agora vê-la naquela situação era estranho. Ele não sabia se ficava feliz ou triste, porque jamais tinha a pretensão de fazê-la chorar. Se eles se descuidaram foi porque ela tinha certeza, respaldado por um médico, que jamais poderia engravidar.
- Mas... como aconteceu? Como foi isso? – Ele sentou-se na cama a sentando em seu colo.
- Eu não sei, só sei que quando fui pegar o exame veio com esse brinde.
- Mas você achava que estava grávida?
- Não, juro que não, eu nem pedi isso ao meu médico. Não sei se ele pediu o exame por conta própria porque eu reclamei de alguns enjoos, mas isso acontece sempre quando fico nervosa. Se eu tivesse um filho a cada ataque de ansiedade que eu tenho... Ai Felipe, eu não sei, eu nem imagino o que você deve estar pensando de mim.
- O que? Pensando de você? O que eu pensaria?
- Não sei, que eu sou uma farsante, uma aproveitadora.
- Que? Não... eu jamais pensaria isso de você, nunca. Eu confio totalmente na sua palavra e que, obviamente, ocorreu um erro médico.
Ela se sentiu um pouco reconfortada por isso.
- E agora? – Janaina estava morrendo de medo.
- Me diz você. Janaina, eu não posso jamais responder isso por você, mas no que você decidir, eu estou aqui contigo, do seu lado, pra sempre. – Ele a abraçou bem apertado.
Aquela conversa se estendeu madrugada adentro, ela queria saber o que faria então. Janaina era uma defensora ferrenha dos direitos das mulheres, inclusive dos direitos ao aborto e já cogitara milhões de vezes isso intimamente. Porém, por mais medo que tivesse, sabia que teria todo suporte e todo apoio de sua mãe, seu pai e principalmente de Felipe. No fundo, bem no fundo, ela por si só, sem opinião alheia, sabia que não teria coragem de seguir pelo lado do aborto. Mas aquela era sua opinião e se sentia grata por ter a liberdade de escolha. Ao amanhecer do dia, ela já tinha sua resposta e já havia passado a Felipe, que a acatou com todo respeito que podia a ela. Bem que no fundo, ele estava muito feliz e animado de poder compartilhar aquele momento com sua amada, só que jamais queria pressioná-la a fazer nada que ela não quisesse.
Ficou acordado então que eles não contariam nada a ninguém até que se completassem três meses.
Ambos então foram para o trabalho exaustos, visto que não tinham conseguido fechar os olhos. Felipe chegou a pedir o adiamento da gravação de um vídeo por estar com as feições péssimas e sem a mínima disposição de fazer graça em frente a uma câmera. A única coisa que ele queria era ficar ao lado de Janaina o dia inteiro, nem que fosse dentro do escritório. Os trabalhos inadiáveis tinham que ser feitos, mas vire e mexe ele olhava sobre a tela do computador para a namorada, que parecia tão exausta quanto ele. Mesmo se ela mudasse de ideia a qualquer momento, ele estaria ali para dar todo suporte a ela.
Pouco depois das três da tarde, bateram à porta do escritório, Janaina levantou-se para atender, não reconhecendo a pessoa que estava ali parada. O segurança que o acompanhava passou o cartão que a visita havia lhe passado para as mãos de Janaina que em rápida leitura viu se tratar de alguém que trabalhava no laboratório.
- Pode entrar – disse ela, abrindo passagem, fechando a porta logo em seguida.
- Muito obrigado, meu nome é Fernando Cortês, sou representante do laboratório, como a senhorita pode ver no meu cartão. A senhorita é a Janaina Fernandes?
- Sim, sente-se por favor. – Ela apontou para as cadeiras que ficavam à frente da mesa de Felipe.
O homem se sentou rapidamente, Janaina foi para o outro lado da mesa, ao lado de Felipe.
- Pois não? Aconteceu alguma coisa?
Como o assunto era diretamente ligado a Janaina, Felipe a deixou conduzir a conversa, dando seu lugar para ela se sentar, mas sempre ao seu lado.
- Pois veja bem... – Ele sacou um lencinho do bolso e secou a testa suada. – Acho que ocorreu um pequeno engano em seus exames.
- Erro? Que tipo de erro?
- Nós tínhamos duas Janaina Fernandes no sistema, a senhorita, que possui somente Fernandes como sobrenome e outra Janaína, que além de ter um acento no i, ainda possui mais um sobrenome. Nós estamos trabalhando com um programa de estágios e nosso estagiário, afobado, acabou por escrever somente o nome da senhorita no sistema e sem querer juntou seus exames com o da outra senhorita. Fiz questão de vir pessoalmente dar baixa no teste de gravidez que não lhe pertence. – Na verdade, ele estava ali porque sabia quem era Janaina, que ela era a famosa namorada de Felipe Neto e ele jamais queria problemas com Felipe Neto e sua gama de advogados.
- O senhor está dizendo que aquele teste não é meu? – Ela mal conseguia acreditar.
- Exatamente. A senhorita não estranhou o fato de não haver pedido para esse tipo de exame entre os seus pedidos médicos?
- Sim, mas eu pensei que o médico pudesse ter colocado por engano, ou sei lá. – Ela se levantou da cadeira, chorando de alegria e abraçou Felipe. – Foi engano Felipe, engano!
Felipe respirou aliviado pelo grande alívio que via que sua namorada sentia.
- Eu lhes peço as devidas desculpas.
- Tudo bem moço, acontece. – Ela ainda estava incrédula que havia sido apenas um mal-entendido.
Fernando por fim se levantou da cadeira anunciando que então iria partir.
- Bom, foi apenas para sanar esse mal-entendido. Eu em nome da empresa peço-lhes perdão. Já vou indo.
- Vou deixar passar dessa vez – disse Felipe com Janaina pendurada em seu pescoço. – Mas só dessa vez.
Fernando contraiu a face, nervoso.
- Pois bem, eu mesmo irei me certificar que erros assim não ocorram mais. Passar bem.
Como um raio ele atravessou a porta, aliviado por não ter tido problemas mais sérios.
- Mais aliviada? – Ele colou sua testa na dela.
- Com certeza. Eu sei que eu ia amar meu filho, ia cuidar dessa criança com a minha vida, mas mesmo assim, criança nenhuma deveria vir ao mundo sem que seus pais a quisessem de verdade.
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