Capítulo Vinte e Oito
O coração de Janaina estava em fervorosa, ela mal conseguiu dormir junto a Felipe aquela noite. Virava e revirava na cama, ansiosa pelo dia seguinte. Podia ter se acostumado a muita coisa, a ter esbarrado com muita gente enquanto estava ao lado de Felipe, até fingia costume muito bem em certas ocasiões corriqueiras, porém naquele dia seria diferente, ela receberia uma visita profissional, mas não sabia ao certo o quanto profissional conseguiria ser naquela situação. Ela ainda não havia entendido muito bem o motivo, mas estava tão animada que sequer pensava nisso, tudo o que sabia e havia prestado atenção era que seu ídolo estaria pertinho assim que o dia clareasse. Anos e anos, shows, CD's, DVD's, programas de TV, redes sociais, revistas e mais tudo o que se possa imaginar em que ela o acompanhava desde que explodiu como um meteoro no Brasil todo. Sim, Luan Santana estaria cara a cara com ela. Poderia ver seu sorriso, olhar bem fundo naqueles olhinhos doces, descobrir qual perfume usava, escutar sua voz ao vivo. Ela era fã de verdade, tinha um carinho por ele que ultrapassava qualquer barreira, era um amor sem sentido, sem explicação. Ela ria ao se imaginar já velhinha entoando suas músicas, enquanto ele, mais velho ainda, emplacava hits de sucesso.
Agora um misto de ansiedade, excitação e medo, de fazer alguma coisa errada ou simplesmente de ser inconveniente batiam nela com força. Alguns dizem que a melhor coisa é nunca encontrarmos nos nossos ídolos para não nos decepcionarmos, porque eles podem ser extremamente diferentes de como imaginamos em nossas cabeças, porém sentia que nunca se decepcionaria com ele. Não que ele fosse perfeito, mas, sabia ela, que ele era um ser humano iluminado. A inquietação tomou conta de si e para não acordar Felipe que dormia tão bem, com aquele mexe remexe desordenado, decidiu levantar e andar para gastar um pouco daquela energia toda.
Pouco depois de ela levantar, Felipe sentiu sua falta ao seu lado, passou a mão na cama, procurando-a e percebeu que não havia ninguém lá. A primeira coisa que passou em sua mente adormecida foi que ela era apenas um sonho lindo que nunca aconteceu. Depois com a mente mais desperta, percebeu que não, que não era um sonho, ela era real e não estava ao seu lado na cama. Ligou a luz do quarto, fechando os olhos com o primeiro impacto e em seguida calçou suas pantufas e vestiu o robe que estava no cabideiro, o fechando por completo. O quarto estava bem gelado, porém seu edredom quentinho não deixava ele sentir. O perfeito equilíbrio de frio e calor para uma noite de sono perfeita. Seguiu então, os rastros de luz acesa deixado pela amada, encontrando-a sentada sobre o balcão da cozinha.
- Mô?
- Fui pega no flagra. – Ela sorriu lhe mostrando um pote de doce de leite em uma mão e uma colher em outra.
Ele se aproximou, se posicionando de frente a ela, entre suas pernas, roubando um pouco do doce da colher. Com ela sentada sobre o balcão, ficaram praticamente na mesma altura.
- Tá tudo bem?
- Tá sim. Por que não estaria?
- Bom... você se mexeu bastante até a hora que eu peguei no sono e agora está aqui comendo doce e até onde eu sei, você prefere dormir a qualquer outra coisa.
- É, você me conhece bem.
- É o Luan, não é? Tá nervosa.
- Você me conhece bem mesmo. – Ela tirou outra colherada do pote, comendo em seguida.
- Você só fala disso desde que te contei que ele iria nos visitar, ele até tirou seu sono.
- Tá com ciúmes?
- Talvez. – Ele abaixou a cabeça, ligeiramente envergonhado.
- Ah meu amor, jura?
- Claro, o cara é o maior galã, você é apaixonada por ele... – Ele levantou apenas o olhar.
- Awn que bonitinho, você com ciúmes de mim. – Ela levantou a cabeça dele, lhe dando um beijo. – Eu posso ser apaixonada por ele, mas quem eu amo é você seu bobão.
Ele deu um sorriso tímido. Janaina continuou.
- Eu só tô animada de conhecer meu ídolo. Aposto que quando você teve a oportunidade de conhecer os seus ficou nervoso também.
- Dependendo de quem é, ainda fico, só finjo costume.
- Então seu bobo, é que eu passei tantos anos admirando ele, as músicas dele. É só isso. Só amor de fã. E tem mais: como você acha que me senti quando vim aqui te ver pela primeira vez?
- Você se sentiu assim?
- Claro, eu mal conseguia respirar, dormir então? Nem pensar, não preguei os olhos entre o dia que você falou comigo e o dia em que vim aqui.
Ele estufou o peito, abrindo um sorriso triunfante e lhe puxou para mais um beijo.
- Esse literalmente é o beijo mais doce que já dei em toda minha vida – concluiu Felipe, com um sorriso no rosto.
Ela mal sabia o que lhe esperava no dia seguinte.
...
A vinda de Luan estava programada para depois do almoço, eles iriam tratar de alguma coisa relacionada a uma parceria. Essa vez foi a primeira em que Janaina literalmente não se importou com o trabalho, tudo o que queria era encontrar com o tão amado ídolo. Obviamente que no almoço sequer conseguiu comer nada, de tão ansiosa que estava. Sentia seu estômago revirar. Os demais achavam graça dessa devoção toda a ele. Finalmente o horário do almoço terminou então foi até o banheiro escovar os dentes e checar o visual, mas também de que adiantaria, parecia que ela nunca teria roupa para aquele evento.
Ao sair do banheiro, viu Luan na porta, sendo recepcionado por Felipe. Ela teve certeza que naquele momento, seu coração pulou uma batida. Felipe a viu, já indo em sua direção com Luan.
- E essa aqui é a Janaina, minha namorada. – Felipe os apresentou.
- Ah então essa é a primeira dama. – Ele pegou sua mão e deu um beijo. Sua barba fez cosquinha na mão de Janaina.
Ela só conseguiu dar um sorriso nervoso, sem dizer uma palavra. Luan, com toda experiência que tinha com fãs nervosas, apenas abriu um sorriso lindo e a puxou para um abraço. Seu coração se derreteu todinho. Ao se afastar dela, viu seus olhinhos nadando em lágrimas.
- Acho que se eu piscar eu choro – disse ela nervosamente, com uma lágrima descendo ao piscar.
- Ô minha linda, não chora não, vem cá. – Mais uma vez Luan a abraçou.
- Ah Luan, impossível né? Passei mais de dez anos da minha vida pensando nesse momento. Todo show seu em que eu fui, eu chorei do início ao fim. – Ela olhava admirada pra ele.
Todos, inclusive Felipe estavam achando aquela cena muito fofa, Janaina parecia uma criança ganhando sua boneca favorita. A emoção estava estampada em seu rosto. Luan então, foi cumprimentar o restante da equipe e Felipe foi para seu lado, a puxando para si. Ela deitou a cabeça em seu ombro, os olhos ainda em Luan.
- Obrigada amor, mesmo.
- Pelo que?
- Se não fosse você, talvez eu jamais teria esse momento lindo com o Luan. Esse é o terceiro dia mais feliz da minha vida!
- Terceiro? – disse ele espantado. – Pensei que seria o primeiro.
- Por mais que seja incrível, o primeiro foi quando Ruan nasceu. Depois quando você me pediu em namoro. – Ela olhou para ele, os olhos ainda um pouco vermelhos da emoção.
"Acho que já, já você irá que rever essa escala aí. ", pensou ele.
Luan por fim, voltou-se a Felipe.
- Então rapaz, quando que vamos a tal reunião?
- Ah não, Luan Santana bem aqui e vocês vão pra reunião? Nada disso, primeiro Luan tem que cantar pra gente. – Bruno logo interveio.
- Sorte minha então que sempre ando com um violão no carro.
Tudo se ajeitou muito rápido, todos pararam o que estavam fazendo e juntos foram para a sala de reunião, que ironicamente naquela semana estava sem a longa mesa, que Felipe cismou estar bamba a mandando trocar por outra que ainda não havia chegado. Mas estranhamente naquele dia, a sala parecia ter mais cadeiras do que ela estava lembrada. Talvez fosse a emoção que estivesse mexendo com sua mente. Eles arrumaram as cadeiras como uma pequena plateia e rapidamente um a um se ajeitaram nas cadeiras, com Felipe e Janaina sentados bem à frente.
- Vamos de música nova então? – disse Luan, se ajeitando na frente de todos.
De repente somente voz e violão entoavam a mais nova balada romântica de Luan e ela, claro, acompanhava a música letra por letra. Aquela música se encaixava tão bem no amor entre ela e Felipe, parecia que Luan estava escondido em algum lugar observando tudo e escreveu aquela letra baseado neles. Quanta bobeira de se pensar.
- Vai que é sua Felipe!
Totalmente de repente, Luan aponta para Felipe dizendo essas palavras quase no final da música. Sua voz agora estava bem baixinha, parecendo que só o violão emanava algum som. Ela se segurou na cadeira olhando para todos os lados, porque muita coisa aconteceu ao mesmo tempo. Todo o pessoal do trabalho estava com faixas com frases de amor, balões de coração e expressão de cumplicidade. O que quer que estivesse acontecendo, todos eles sabiam. Ela percebeu também que duas câmeras que estavam por detrás dela, de repente saíram de suas posições, vindo para sua frente. Assim, Felipe se levantou de seu lugar, se posicionando a sua frente, a puxando pela mão, fazendo-a se levantar. Ela arregalou os olhos quando viu uma caixinha de anel em sua mão. Luan ainda cantava ao fundo.
- Acho que agora você está entendendo que não tinha trabalho, não é? Eu chamei ele aqui, lutei contra meu ciúme bobo, porque queria que fosse um dia inesquecível pra você. Queria que todos soubessem o quanto eu te amo e o quanto você é especial pra mim e quem melhor do que o Luan pra cantar isso por mim? Janaina, eu sei que nem preciso mais falar, o quanto sou grato por ter você em minha vida, por você ter aparecido pra mim sob forma de palavras e de repente ter tomado conta de todos os meus dias, de todo o meu coração. Ainda assim me faltam palavras pra expressar tudo o que eu sinto, porque acho que não foram inventadas palavras o suficiente para isso. Eu sei que é você desde o primeiro dia que pus meus olhos em você, desde o segundo que nossos olhares se cruzaram. Tudo o que eu mais quero agora é te dar meu sobrenome, te chamar de minha esposa. – Ele se ajoelhou aos pés dela. – Janaina, você aceita casar comigo?
Por um momento tudo ao seu redor se congelou, ela tinha certeza que sob seu batom vermelho, seus lábios deviam estar brancos. Parecia que seu fôlego tinha ido por completo e que suas pernas pesavam cem quilos cada. Ela deu uma rápida olhada e todos, sem exceção, até Luan, a olhavam ansiosos por uma resposta. Haviam câmeras apontadas para ela. Felipe a olhava com expectativa e amor.
- Ai não, o Luan Santana de novo não, acho que vou vomitar. – Ela teve que usar o último fôlego que lhe restava para dizer essas palavras, antes de sair correndo com o rosto queimando enfiado entre suas mãos.
Ninguém sequer se mexeu, quem estava com a bebida a ponto de estourá-la ficou imóvel e quem estava responsável pelo confete, ainda o erguia no ar, sem coragem de se mexer. Luan estava de olhos arregalados, interrompendo a música no exato segundo em que ela saiu correndo. Nem mesmo Felipe conseguiu se mexer nos primeiros minutos, ele não havia entendido absolutamente nada. O que ela queria dizer com "Luan Santana de novo não. "?
Por fim, caindo em si novamente, ele correu atrás dela, sem sequer saber onde ela estava. Os demais não tiveram sequer coragem de se mexer, permanecendo imóveis na sala, um olhando para o outro com sinais de desconforto aparentes.
Felipe saiu correndo, abrindo de porta em porta até finalmente encontrar ela no banheiro, muito abalada e chorando. Ele abriu a porta com mais força do que deveria, a fazendo bater com tudo na parede, consequentemente a assustando. Passado o susto momentâneo, ela já se jogou em seus braços, se sentindo extremamente culpada.
- Meu amor, o que foi aquilo? Você sentiu tanto nojo da proposta que veio vomitar?
- Não, não, não, por favor, não me entenda mal. Eu sequer vomitei.
Ele respirou um pouco aliviado.
- Mas é claro, como eu não pensei nisso antes? Eu fiquei tão empolgado com a ideia do Luan que esqueci totalmente sua fobia de atenção.
- Tô me sentindo péssima por você ter planejado tudo isso e eu ter estragado o momento. Felipe foi lindo o que você fez, mas quando eu vi aqueles olhos todos olhando pra mim ao mesmo tempo, aquelas câmeras apontadas pra mim, eu vi o Luan olhando pra mim... eu surtei.
- Não, não se sinta péssima, eu que planejei mal as coisas. Prometo que nunca mais vou fazer isso sem que você permita. – Ambos riram e após ele suspirou, olhando-a no fundo dos olhos, como sempre gostava de fazer. – Casa comigo?
- Claro que sim meu amor, é o que eu mais quero na vida!
Eles então ouviram uma explosão de gritos, palmas e outras agitações vindo lá da sala de reuniões, enquanto ele colocava a aliança no dedo dela. Ele então apontou para seu bolso na blusa.
- Tem uma câmera e um microfone aqui. Desculpa.
- Tudo bem. – Ela deu um passo para trás, apontou para o dedo e olhando para câmera disse, entre sorrisos. – Eu disse sim!
Mais uma vez ouviu-se uma comemoração calorosa. Então eles saíram daquele banheiro, abraçados, para enfim se juntar aos outros.
- Mas me explica essa história de "Luan Santana de novo não. ", porque eu não entendi nada.
Ela riu antes mesmo de contar.
- Isso aconteceu há bastante tempo, foi, se não me engano, na época do segundo CD do Luan. Eu estava no ensino médio, de boas lá, sentada na sala com toda minha turma, esperando professor chegar eu acho. Tinha a fileira encostada na parede, mais uma fileira e eu sentada na terceira, mas na primeira cadeira. De repente, um menino da minha turma, que eu sequer tinha intimidade, colocou Luan pra tocar e assim, sem mais nem menos pediu pra namorar, ou ficar comigo, sei lá, não lembro bem as palavras dele. E sabe o que eu fiz?
- Saiu correndo chorando para o banheiro deixando o pobre rapaz com cara de taxo?
- Exatamente. Acho que estou ficando expert nisso. – Ela riu mais uma vez, com a lembrança dos tempos de colégio.
- Ah mas não vai mais precisar, você nunca mais vai ser pedida em nada por ninguém. – Eles pararam frente a porta da sala em que todos estavam os aguardando. – Você vai ser pra sempre minha Janaina.
A porta então se abriu, uma chuva de confetes voando para tudo o que era lado e também ouviu-se o estampido de uma garrafa sendo aberta. Hora de comemorar.
- Caramba Jana, que susto você deu na gente, pensei que você ia dizer não. – Bruno parou ao lado de Janaina que estava em uma mesa improvisada com uns quitutes.
- Impossível eu dizer não pra um pedido desses. – Ela olhou apaixonada em direção a Felipe. De repente Luan já não parecia mais tão importante assim.
- E aquela história da escola hein, que doido esse garoto.
- Quê? Como você...? O microfone do Felipe... ainda bem que eu não disse nada demais. – ambos se juntaram a Felipe e Luan.
- Mais uma vez parabéns pra vocês dois, fico muito feliz de fazer parte disso. Já quero cantar no casamento.
- Por ela eu faço tudo, se ela quiser entrar com você cantando ao vivo, assim será.
- Felipe, só eu, você e a lua de testemunha já é o suficiente, eu caso com você em qualquer circunstância. Te amo.
- Também te amo. – Eles então trocaram um beijo apaixonado.
- Ah cara, assim eu vou chorar – disse Bruno secando uma possível lágrima no guardanapo.
Janaina então, ranqueou aquele como seu segundo dia mais feliz, dando a Luan, a quarta posição. Nada superava o amor dela por Felipe. Aquele dia, com toda certeza, seria inesquecível.
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