Capítulo Vinte e Dois
Ninguém pôde entrar para vê-la no mesmo dia do incidente, porém nenhum dos três arredou os pés do hospital enquanto não conseguissem por seus olhos nela para se certificarem de que tudo estava bem. Seus pais chegaram ao hospital com Ruan no colo, via-se nitidamente que o menino estava assustado, porém Luccas com todo seu jeitinho de lidar com crianças conseguiu distraí-lo. A madrugada ainda resistiria por mais algumas horas até que finalmente o Sol começasse a nascer novamente e Felipe sugestionou a Denise e Jean que fossem para sua casa, afim de descansar, principalmente por causa de Ruan. Jean se ofereceu para ir com o menino, mas este foi irredutível só aceitando sair de lá com a mãe e o pai. Pelo bem de Ruan eles foram sabendo que voltariam assim que as visitas fossem liberadas pela manhã.
O pior já havia passado, Janaina estava fora de perigo e o pior agora seria noticiar tudo o que havia acontecido logo após o jantar. O médico achou por melhor que contassem logo para ela, visto que estavam em um hospital e teriam todo o suporte necessário.
Janaina se sentia extremamente culpada pelo que ocorrera em sua casa, principalmente com os terrores vividos pelo seu irmão. Ela não conseguia imaginar ele com uma faca naquele pescocinho magricela ou então vendo Eduardo sendo morto bem na frente de seus olhos. E Eduardo? Estava morto? Várias coisas se passavam em sua cabeça, vários sentimentos oscilavam, raiva, remorso, pena, culpa, tudo de uma vez só. Ela chorava aparada pelos três, seus pais ainda não haviam chegado, pois estavam na delegacia.
Sua cabeça girava um pouco e foi acometida por um enjoo muito forte, sorte que Bruno foi ágil subindo uma lixeirinha a tempo de aparar o conteúdo de seu estômago. O médico achou melhor dar um calmante para ela, que a fez se sentir levemente melhor.
- Eu não acredito que ele fez isso, e o Ruan? Como está meu irmãozinho? – Ela estava menos agitada, porém chorava.
- Fisicamente bem, emocionalmente... abalado. Eles chegaram aqui ontem muito tarde e depois eu pedi que fossem lá pra casa pro seu irmão poder descansar um pouco. Eles devem estar chegando a qualquer momento – disse Felipe fazendo carinho em sua mão.
- Gente, eu preciso falar com a dona Angélica, preciso pedir perdão a ela por isso tudo. Eu nem quero imaginar o quanto ela está sofrendo. – Ela caiu em mais um choro dolorido pela ex sogra.
- Hey, você não teve culpa de nada, não pense isso – disse Felipe, afagando sua mão.
- Mas... mas se eu... se eu...
- Cunhadinha, aconteceu o que tinha que acontecer, não foi culpa sua. Se tem alguém inocente aqui, esse alguém é você. – Luccas deu um beijo no topo de sua cabeça.
- Isso aí Jana, o Luccas tá certo. Agora, por favor, descansa pra ficar bem logo e sair daqui. Te amo viu? – disse Bruno carinhosamente. – Eu e Luccas vamos deixar você e o Felipe a sós um pouquinho, qualquer coisa só chamar.
- Luccas – ela chamou antes dele sair pela porta -, muito obrigada pelo que você fez por mim.
- Imagina, tudo pelas pessoas que amo. – ele deu um sorriso antes de sair pela porta.
Felipe olhou para Janaina, seus olhos inchados de tanto chorar. Ele não largava sua mão. Ela acabou perdendo a briga com o sono que o remédio lhe trouxe, deixando-se levar, estava esgotada. Felipe ficou a observando por um tempo em silêncio, ela estava pálida, a boca branca, muito contrastante com o batom vermelho que usava algumas horas atrás.
- Eu fiquei com tanto medo. – Por fim, ele desabou em lágrimas falando sozinho. – Pensei que ia te perder. Se eu perco você eu nem sei o que ia fazer. Como alguém pode ter mexido tanto assim comigo? Já nem consigo mais imaginar um futuro sem você. Nunca senti tanto medo. Nunca. Eu te amo tanto.
Nesse momento bateram à porta e logo apareceram os pais e o irmão de Janaina. Depois de chorar e se lamentar pela filha, eles se sentaram nas poltronas que haviam na sala, mas sempre de olho nela. Ruan adormeceu no colo do pai, ainda estava exausto.
- Eu não entendo o que houve com o Eduardo, ele não era assim.
- O poder Denise, o poder. Tem gente que quando perde fica louco. Vocês podem não ter percebido, mas ele pouco a pouco controlava ela e quando perdeu esse controle, simplesmente surtou.
- Jamais esperaríamos isso dele, tratávamos ele como um filho. Tadinho do Ruan - ela olhou para o filho –, ficou tão apavorado que disse que não quer mais voltar pra casa.
- E nem vai, nem ele e nem vocês, mas depois a gente conversa sobre isso, nesse momento, vocês ficam na minha casa até tudo se resolver. Ele viu tudo, o sangue, a morte?
- Não, sorte que na hora do tiro, na hora que Eduardo caiu pra trás, ele caiu ajoelhado para frente e Jean foi hábil em pegar Ruan no colo e tapar os olhos dele, já correndo pra dentro de casa. Acho que ele não iria suportar assistir a isso.
- Se você permitir, gostaria de pagar um acompanhamento psicológico pro Ruan, ou para os três, se quiserem.
- Olha Felipe, depois disso tudo acho que não tem como recusar a isso não. Não sei nem como eu estou de pé. – Ela olhou novamente para a filha, que parecia estar em um pesadelo.
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