Capítulo Dezesseis
Ainda desacreditada pelo que fez, Janaina estava finalmente deitada em sua cama. Não conseguia parar de reprisar em sua mente o momento em que criou coragem e deu um beijo nele. Sentia frio na barriga toda vez que se lembrava daquele momento. Não sabia se havia feito o certo, mas alguma coisa naquele momento a fez agir assim, mesmo não sabendo de onde havia tirado coragem para fazer tal coisa. Mas não se arrependia, na verdade, só se arrependia de não ter feito antes. Como aquela sensação era boa, era tão bom sentir novamente aquele frio na barriga, as mãos suando e tremendo, o nervosismo, o entusiasmo, a incerteza. Ela virou-se na cama, com um largo sorriso no rosto. O silêncio dele era ensurdecedor, ele não havia nem sequer lhe mandado uma mensagem e ela, gastando toda a coragem que tinha na hora do beijo, também não conseguiu mandar nada. Algumas coisas só podiam ser ditas pessoalmente.
Na manhã seguinte, já segunda feira novamente, o dia amanheceu diferente, estava mais claro, o Sol brilhando no céu azul e limpo. Sua mente a apresentava mil cenários diferentes, mas nada como a boa e velha realidade, isso ela já havia aprendido. Nada nunca acontecia como em sua mente, então resolveu se concentrar para conseguir chegar sã ao trabalho e finalmente colocar um ponto final (ou quem sabe uma vírgula), nessa história de uma vez por todas.
Chegou e percebeu que o carro de Felipe já estava lá, sua barriga doeu na hora, por mais que ela quisesse parecer forte, estava morrendo de medo por dentro. Mesmo assim, vestiu seu melhor sorriso e agiu com toda normalidade ensaiada de todos os dias. Cumprimentou a todos com seu melhor sorriso, aparentando plenitude e tranquilidade, porém, tudo caiu por terra quando finalmente seus olhos encontraram os de Felipe. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo todo, parando subitamente, fazendo com que um de seus colegas de trabalho trombasse com ela. Ao mesmo tempo, Felipe parou de prestar atenção no que estava fazendo e voltou seu olhar a Janaina, pedindo licença, sem nem mais conseguir ouvir uma palavra, ele veio em sua direção. Faltando apenas alguns passos para finalmente encontrar-se com sua amada, ouviu alguém desesperado chamando por seu nome.
- Felipe, pelo amor de Deus, a Maya está na sua sala, vamos logo, você não pode deixar ela esperando.
- Só um minutinho.
- Não Felipe, você sabe que ela não espera.
Ele empurrou Felipe pelas costas, o obrigando a ir para sua sala. Só deu tempo de ele dar mais uma olhada rápida para Janaina. Assim que ele sumiu, ela conseguiu respirar de novo. Bruno chegou por detrás, dando um susto nela, que tremeu de cima a baixo.
- Muito adulto Bruno.
- Obrigado. – Ele deu um sorriso despretensioso.
- Quem é Maya?
- Maya? Ah sim, filha de um importante parceiro nosso, herdeira de um império.
- Por isso ela não espera. Bruno, eu tô pirando, já que o Felipe tá em reunião com ela, eu posso conversar com você um minutinho?
- É pra já, vamos tomar café?
Eles foram pra copa e logo sentaram na mesa mais afastada.
- Eu beijei o Felipe ontem à noite. – Ela falou tudo de uma vez só.
Bruno quase engasgou com o café.
- Como assim?
- Ontem à noite, quando eu estava indo embora, por um impulso eu beijei ele. – Ela segurava o café com as duas mãos à sua frente. – E isso nem é tudo. No dia seguinte da festa, eu acordei na cama do Felipe, não tenho certeza, mas... Pode existir a possibilidade de termos dormido juntos.
Bruno fingiu surpresa nessa segunda parte.
- E ele não te disse nada?
- Não, eu fiz a louca, fugi de lá e disse a ele que acordei no meu quarto.
- E como você se sente em relação a isso?
- Eu tô uma bagunça Bruno, eu não sei o que pensar. Ele não me mandou uma mensagem sequer ontem à noite, tenho medo de ter feito uma burrada.
- Eu acho que vocês têm muita coisa que conver...
- Jana até que enfim te achei. – Samanta vinha afobada ao seu encontro. – Lembra daquele papel que te dei sexta feira? Preciso dele, pra ontem!
- Claro, tá na minha mesa, vou buscar, um minuto. – Ela se levantou e foi em busca do papel.
Já tão acostumada com o entrar e sair da sala de Felipe sem precisar das formalidades de bater na porta, naturalmente ela abriu a porta sem cerimônias e presenciou uma cena que partiu seu coração. Ela viu quem era Maya, uma jovem loira, lindíssima, com porte de modelo, silicone em dia, trajando um belo e revelador vestido vermelho, com um decote de dar inveja a qualquer um. Ela também viu Felipe, e por fim, viu um beijo acontecendo naquele exato segundo. Sua respiração cortou na hora, porém sem saber de onde tirou tanta força, foi firme.
- Me desculpa mesmo, não queria interromper, mas tenho que pegar um documento de suma importância na minha mesa. – Enquanto ela falava, foi e voltou igual uma flecha em sua mesa. Sorte o papel estar em fácil acesso.
- Você não ensina seus empregados a baterem na porta não Felipe? – Foi a última coisa que ouviu quando fechou a porta, sem ouvir a resposta de Felipe.
Por um segundo ela quis ficar sozinha, se encostou na parede para se recompor. "Não vou chorar, não vou chorar! ", lutando contra seus sentimentos, ela pensava e repensava essa frase. Respirou fundo e voltou para a copa, onde Samanta mal a viu e já se levantou arrancando o papel de sua mão.
- Você tá bem Jana? – perguntou Samanta antes de sair.
- Tô sim, só estou com um pouquinho de cólica, mas tenho remédio na bolsa.
Samanta saiu da copa com seu papel importante em mãos e ela se jogou na cadeira, em frente a Bruno.
- Você pode ter enganado a Samanta, mas a mim não engana, que foi? Aconteceu alguma coisa?
Uma lágrima atrevida saltou de seu olho, mas rapidamente ela a limpou, fazendo de tudo para não chorar. Bruno saltou para a cadeira ao seu lado, a abraçando.
- Que foi? A um minuto atrás você estava bem, radiante falando do beijo com o Felipe.
- Acabei de crer que foi idiotice da minha parte.
- Não diz isso, o Felipe... – Ele estava decidido a contar sobre os sentimentos de Felipe para ela.
- Estava beijando a tal fulana lá na sala dele – ela o cortou.
- O que? Você tem certeza?
- Eu vi Bruno, eu abri a porta na hora que aconteceu. Mas o que mais eu queria, ela é a herdeira de um império e eu... sou somente eu. – Ela deitou a cabeça no ombro de Bruno, que a fazia carinho. – Eu vou ao banheiro e depois vou esperar a reunião deles acabar e continuar meu trabalho. Geralmente eu fico nas reuniões, mas acho que nessa eu ia ficar sobrando.
- Jana, eu nem sei o que dizer.
- Nem precisa Bruno, você não tem que dizer nada. Tá tudo bem.
Ela pegou sua bolsa de cima da mesa e saiu a passos duros para o banheiro. Bruno estava perplexo, sem conseguir entender o que estava acontecendo. Ontem o amigo parecia estar apaixonado por ela e hoje estava beijando outra? Será que ele não havia entendido a conversa deles e tentou fazer tudo errado? Ele se levantou e foi até o escritório de Felipe, encontrando Maya saindo de lá, a porta nem se fechou e ele abriu novamente, entrando sem bater.
-Felipe, o que aconteceu cara? Por que você estava aqui beijando essa garota?
- Eu não beijei ela, ela que vem me perseguindo há um tempão e eu sempre me esquivando, ela tentou me beijar da primeira vez e eu me esquivei, brinquei com ela, você sabe de quem ela é filha né? Não podia jogar a real na cara dela. Mas da segunda vez ela conseguiu me pegar distraído e a Jan... Ai meu Deus, a Janaina viu isso, logo depois de ontem. Logo depois daquele beijo.
- Ela me contou, ela me contou tudo Felipe, eu estava lá tentando ajudar, persuadir ela a falar com você ou você falar com ela e agora isso. Você podia ter sido mais enérgico com essa Maya hein.
- Eu sei e me odeio por isso, mas depois que a Jana apareceu eu tentei ser um pouco mais duro com ela, por isso ela saiu daquele jeito daqui.
- É, depois da cagada já feita.
- E cadê ela que não volta pra sala?
- Foi no banheiro, estava bem triste.
- Vou falar com ela. – Ele se levantou subitamente.
- Espero que ela te ouça e vocês arrumem isso de uma vez por todas.
Ele saiu da sala atrás de Janaina e a pegou saindo do banheiro.
- Jana, a gente precisa conversar.
- Não precisamos conversar Felipe, já entendi o recado e desculpa por ontem.
- Por favor, me ouve.
- Felipe, preciso de você na minha mesa urgente. – Claysson apareceu de repente.
Janaina passou no meio de ambos para voltar à sala, quando por fim, Felipe falou:
- Aquele beijo ontem significou muito pra mim. Eu realmente gosto de você Janaina.
Ela parou onde estava, ainda de costas para Felipe e Claysson.
- Talvez o que eu tenha a dizer não seja tão importante assim, volto depois. – Claysson simplesmente sumiu do corredor.
Janaina não teve coragem de olhar para Felipe, não disse uma palavra, então ele continuou.
- Aquilo que você viu, aquela garota vem me perseguindo há meses, ela simplesmente cismou comigo e eu tentei sair pela tangente e acabei me dando mal. Mas conversei com ela e logo ela foi embora batendo o pé porque se deu conta que eu não sou um brinquedinho pra ela. Eu nunca poderia dar meu coração pra alguém que não soubesse cuidar dele, alguém que não cuidasse tão bem dele quanto você cuida. – Ele deu a volta e ficou de frente a ela. – Por favor, vamos conversar na nossa sala.
Ele pegou sua mão e a conduziu até sua sala, trancando a porta atrás de si. Não importa quem batesse, ele não queria ser incomodado. Ela se recostou na parede e ele ficou de pé em sua frente, pegando suas mãos, olhando-a nos olhos.
- Desde que eu te vi pela primeira vez, sabia que você era diferente. Você apareceu na minha vida do nada e de repente conseguiu colocar tudo de ponta cabeça. – Ambos riram. - Você cuidou de mim com todo carinho, dedicação e amor que tinha dentro de si e cada dia que passava eu ia me apaixonando mais por você. Você tem um jeito único que eu não consigo explicar, é uma mulher e ao mesmo tempo uma menina. Às vezes é forte, mas as vezes desmorona. Ri e chora ao mesmo tempo. Tem uma visão única da vida e sempre acredita no melhor das pessoas. Me fez acreditar no melhor das pessoas. Eu conheço cada pedacinho da sua alma.
- E isso não te assusta? – ela falou finalmente.
- O que exatamente?
- Você viu partes de mim que ninguém nunca jamais viu antes. Você conhece todos os meus defeitos, os meus medos, os meus demônios.
- Conheço e amo cada um deles e isso jamais me assustaria, até porque eu também conheço todas as suas qualidades. Eu sei que você chora de tanto rir, até sua barriga doer. Eu sei que você morde os cantos das unhas quando fica nervosa. Eu sei que gosta muito de tomar chocolate quente em dias frios. Sei que dá bom dia do presidente ao porteiro, sem fazer distinção de ninguém. Sei que é uma amiga leal e vai até as últimas circunstâncias para ajudar quem ama. Sei que ama fazer as pessoas felizes. Tá vendo? Sei de tanta coisa boa ao seu respeito que mal consigo lembrar das ruins. Eu sei que você não é perfeita, mas quem é? Eu sei que ainda tem algumas partes quebradas aí dentro, mas quem não tem? A gente pode tentar juntar nossos caquinhos e quem sabe não dá um inteiro?
Finalmente ele se dispôs a beija-la, aquele tão sonhado beijo finalmente ia sair de seus mais profundos sonhos para se tornar realidade. Mas no último segundo, ela recuou.
- Tem certeza disso? A gente não está quebrando alguma regra maluca? Tipo aquela que o patrão não fica com a empregada?
- Você quer mesmo tentar descobrir isso agora?
- Não.
Então ela tomou para si o momento do beijo, mais uma vez acertando em cheio um beijo em Felipe. Seus pensamentos, que estavam frenéticos, em um segundo tornaram-se vazios, tudo o que ela queria era sentir, sentir aquele momento único e inexplicável. Seus corações estavam conectados, batendo exatamente no mesmo ritmo. Todos seus sentimentos finalmente pareciam estar entrando em harmonia perfeita. Ela não queria saber de nada, de ninguém, pois tudo o que queria estava ali, bem em seus braços. Eles então se afastaram, olhos grudados, um sorrindo para o outro, que após foi seguido por um abraço forte e apertado.
- Como eu esperei por esse beijo – disse ela.
- E eu...
- Nós, dois adultos agindo como dois adolescentes imaturos.
- Mas foi bom sentir tudo isso de novo, o medo, a incerteza, a insegurança, o frio na barriga.
- Sem dúvida nenhuma foi sim. – Ela passou a mão pelo rosto de Felipe e o beijou de novo. E de novo. E de novo. – Não quero parar nunca mais.
- Vamos fugir?
- Que? Você tá doido? A gente tem um monte de trabalho pra fazer aqui.
- Vamos fugir! Vem comigo, a gente só sai correndo sem dizer nada, entra no carro e... vamos sumir em algum lugar.
- Felipe...
Sem ter tempo de responder, ele simplesmente a puxou pela mão, deixando ambos os celulares sobre suas mesas. Eles passaram rindo, que nem dois raios em meio a todos, para que não desse tempo que alguém viesse estragar tudo. Ele destrancou o carro ainda de longe e ambos se jogaram dentro apertando os cintos como dois fugitivos. Rapidamente ele deu partida no carro e a beijou antes de sair.
- E para onde a gente vai senhor fujão?
- Não faço ideia, mas com você eu vou até o fim do mundo.
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