Capítulo 30 | Surpresas de Aniversário
Inspiração dos looks de Hadassa e Noah.
🩷
Hadassa Luz
Eu estava ali, imóvel, observando Noah. Ele cantava com uma intensidade que refletia o céu, cada palavra contendo uma energia que parecia incendiar o ar. No canto do palco, num lugar privilegiado, eu era a única que via além da performance: o suor em sua testa, o brilho intenso de seus olhos. A multidão se agitava em euforia, gritos e flashes explodindo como estrelas. Era um espetáculo visceral.
De repente, a música cessou. O som da banda foi engolido por um silêncio denso, quebrado apenas pelo toque suave e melancólico do piano. Minha respiração acelerou quando o holofote se voltou para mim. O calor da luz me queimava a pele, revelando-me à multidão. Todos os olhos estavam em mim. Inclusive os dele.
Noah largou o microfone do pedestal e caminhou alguns passos. A voz que ecoou em seguida era grave, com uma intensidade que reverberava no chão:
— Hadassa Soares Luz...
Minha alma congelou, e o chão parecia afundar sob meus pés.
— Você está demitida.
O mundo explodiu. Gritos de “FORA! FORA!” preenchiam o ar. Vaias surgiam como uma onda cruel que me consumia. Noah riu. Ele riu com uma frieza cortante enquanto todos o acompanhavam.
Senti um toque no ombro. Me virei e dei de cara com Estela, com um sorriso tenso e papéis em mãos.
— Feliz aniversário, querida — ela sussurrou, venenosa. — Este é o contrato de encerramento entre vocês.
Minha mente girava enquanto Ricardo, do outro lado do palco, me lançava um olhar de compaixão distante.
— Você quebrou todas as regras. Não há mais espaço para você aqui — continuou Estela, sua voz ressoando com autoridade e desprezo.
Noah me encarava de longe, sem sorrir agora. Seu rosto era uma máscara de indiferença, mas seus olhos... seus olhos diziam algo que eu não podia decifrar.
E então ela apareceu. Ângela. A presença dela era um veneno pulsante. Ela segurava uma rosa vermelha, seus espinhos reluzindo como pequenos punhais.
— Você acha mesmo que Noah se casaria com uma fã? — A pergunta dela era um golpe.
Eu olhei para Noah, e lá estava: em sua mão, uma pequena caixa preta de veludo. Meu coração disparou. Mas antes que eu pudesse falar, ele a fechou com força. Seu olhar era frio, quase ressentido.
— Tudo o que você foi para ele é um contrato — Ângela continuou, estendendo a rosa.
Quando a toquei, os espinhos perfuraram minha pele, e o sangue escorreu, quente e cruel. E ali, no palco, eu senti a realidade se desfazer.
Segurando a rosa, desci as escadas do palco, cada passo marcado pelo peso da humilhação e dos olhares que me queimavam. As vaias ainda ecoavam na minha mente, mesmo quando alcancei a saída. Corri sem olhar para trás, com as mãos trêmulas e o coração acelerado. Entrei em um carro estacionado na lateral, o motorista nem perguntou para onde eu queria ir. Simplesmente seguimos.
Enquanto as luzes da cidade cortavam o vidro da janela, meu olhar se perdeu em um rapaz na calçada. Ele estava parado, rindo, zombando, e então apontou diretamente para mim. Mateus. O riso dele parecia ecoar nas ruas vazias, me atingindo como pequenas facas invisíveis.
Mais à frente, outro golpe: um grupo de fãs, segurando cartazes enormes. As palavras gravadas em letras negras eram cruéis: “Noah jamais se casará com você”. Não consegui desviar os olhos. As letras dançavam na minha mente, como se alguém tivesse esculpido aquilo em meu coração.
O carro continuava, mas minha alma parecia presa naquele momento. Quando, finalmente, estacionamos, o veículo parou diante de uma mansão. Fria, grandiosa, e silenciosa. Eu entrei, guiada por um som que parecia me chamar. Era um violão. Cada acorde vibrava no ar, como um convite que me puxava para dentro.
Subi até o meu quarto, e ali estava: uma rosa vermelha repousava sobre a cama. Diferente da outra, esta não tinha espinhos. Seu perfume era suave, quase reconfortante, mas o contraste era cruel. Abaixo da rosa, um papel dobrado. O contrato. Um carimbo vermelho marcado com a palavra “REPROVADA” cobria a primeira página.
Eu me sentei na cama, com a rosa em mãos, e comecei a ler. Linha por linha, cláusula por cláusula, cada palavra parecia pesar toneladas. No final, estava lá, exigindo minha assinatura para oficializar a demissão. Minhas mãos tremiam enquanto assinei. Algo dentro de mim se despedaçava porque eu sabia: Nunca mais veria o Noah novamente.
Quando terminei de assinar, me levantei abruptamente, segurando o lençol contra o corpo. O sol atravessava as cortinas, atingindo meu rosto com uma intensidade quase agressiva. Foi nesse momento que percebi: era um sonho. Ou melhor, um pesadelo.
Minha respiração estava acelerada, meu coração disparado, como se eu realmente tivesse vivido tudo aquilo. O alívio foi imediato, mas a sensação de perda ainda pairava como uma sombra.
Sentei-me na cama e agradeci a Deus, tentando recuperar a calma. Mas uma pergunta não saía da minha mente: Por que esse sonho, justo hoje?
Espreguicei-me lentamente, sentindo a energia de um dia especial pulsar ao meu redor. Levantei com um sorriso nos lábios e fui até o banheiro, cumprindo minha rotina matinal com tranquilidade.
De volta ao quarto, com o roupão envolvendo meu corpo, abri o armário em busca de algo que combinasse com o clima radiante lá fora. Escolhi um vestido tubinho de alcinhas amarelinho, radiante como o sol daquela manhã. O tecido ajustado realçava minha silhueta com elegância, enquanto o decote quadrado adicionava um toque delicado. A cintura marcada trazia um charme romântico, equilibrando perfeitamente a modelagem justa com um ar sofisticado. O comprimento midi completava a harmonia entre estilo e conforto. Para finalizar, optei por sandálias rasteiras de couro branco, com tiras finas que deixavam meus pés livres.
No espelho, fiz uma maquiagem leve. Apenas o suficiente para realçar minha naturalidade: a pele iluminada, um blush pêssego aquecendo minhas bochechas, um rímel sutil nos cílios e um batom rosado que parecia uma extensão do meu sorriso. Finalizei com um perfume floral, doce e delicado, que dançava com a brisa da manhã.
Quando terminei, ajoelhei-me na cama e agradeci a Deus. Era um hábito meu começar o dia com oração, e hoje, especialmente, eu queria dedicar aquele momento a Ele. Depois, sentei-me à escrivaninha com a Bíblia nas mãos, mergulhando em meu devocional diário. A leitura de um livro de 365 dias trouxe paz à minha alma, enquanto os raios de sol continuavam a preencher o quarto com sua luz acolhedora.
Terminei e, como de costume, chequei meu celular. As notificações explodiam de mensagens carinhosas. Respondi uma a uma, com o coração aquecido. Liguei para meus pais, para a Evy e alguns amigos da igreja em São Paulo. As vozes animadas do outro lado da linha me arrancavam risadas e um sentimento de gratidão.
Finalmente, senti que era hora de sair do quarto. Subi as escadas em direção à cozinha, ainda absorta em toda a energia boa daquele dia. Mas quando cheguei lá e olhei para o balcão, meus olhos se arregalaram.
O que vi diante de mim me deixou sem palavras.
Ali, repousava um lindo buquê de rosas champagne misturadas com flores do campo, que exalavam um perfume suave e envolvente. Ao lado, uma caixa de madeira nobre chamava atenção com um bilhete escrito à mão, que já fazia meu coração bater mais rápido.
Com delicadeza, abri a caixa e encontrei uma seleção impecável de chocolates artesanais e macarons franceses, organizados como pequenas joias. Cada detalhe transparecia cuidado, mas foi o livro de romance de época que me fez parar. Na contracapa, uma dedicatória em letras cursivas perfeitas:
“Para que essa história te envolva tanto quanto sua presença me envolve.”
Dentro da caixa, um marcador de ouro delicado, com minhas iniciais gravadas, brilhava como se fosse feito especialmente para mim. Meu coração disparou, e meu sorriso foi imediato. Peguei o buquê de flores, aproximei-o do rosto e respirei fundo, deixando o perfume suave acalmar qualquer resquício do pesadelo que ainda pairava pela manhã.
— O príncipe encantado está inspirado hoje, não é? — Marta surgiu de repente, quebrando o silêncio e me arrancando um susto leve.
— Marta! Não chega assim, mulher! — exclamei com a mão no peito, mas rindo. — Eu amei tudo isso.
Peguei um bombom da caixa e ofereci um para Marta. Ao provar, o chocolate derreteu na boca, com um sabor único, refinado, diferente de tudo que eu já havia experimentado.
— Feliz aniversário, princesa — disse ela, dando a volta no balcão e me abraçando com carinho.
— Obrigada, Martinha — respondi, retribuindo o abraço.
— Tenho um presentinho pra você também — anunciou, indo até o sofá para pegar uma sacola. O gesto simples, mas cheio de afeto, me fez sorrir ainda mais.
— Marta, você não precisava! — falei, recebendo a sacola com carinho, já ansiosa para ver o que ela tinha preparado.
Ao abrir, meu queixo caiu com surpresa e emoção. Dentro havia uma pulseira delicada, com um pequeno charm em formato de cupcake gravado com detalhes minuciosos. Era singela, mas tinha um significado profundo.
Segurei a pulseira nas mãos, observando seu brilho suave e os detalhes encantadores. Aquilo não era só um presente. Era um símbolo do carinho e da amizade genuína que Marta sempre me ofereceu desde que cheguei aqui.
— É perfeita, Marta. Eu não acredito! — falei, sentindo meus olhos brilharem.
— Achei que tinha a sua cara — disse ela, emocionada, enquanto eu a abraçava novamente, sem conseguir conter o sorriso.
— Tem mesmo. Obrigada, de verdade. — Apertei-a com força, sentindo meu coração se aquecer ainda mais.
— Mas hoje não é dia de lágrimas, querida — disse ela, segurando meus braços com carinho. — O galã de Hollywood preparou uma surpresa pra você no terraço.
Meu coração acelerou instantaneamente, e minha cabeça virou automaticamente para o rooftop.
— Eu falei que ele estava caidinho por você — Marta sussurrou, rindo, enquanto eu não conseguia segurar um sorriso nervoso.
Ela me guiou até o terraço, e, quando cheguei lá, minha respiração parou por um momento. Diante de mim, uma mesa cuidadosamente posta, com um café da manhã farto. Minhas flores preferidas ocupavam o centro, trazendo cores delicadas que contrastavam com o azul cristalino do céu e o brilho suave do mar ao fundo. A brisa fresca e o som das ondas completavam o cenário perfeito.
— Pode se sentar, meu amor — Marta disse, afastando-se lentamente, me deixando sozinha com aquela visão que parecia tirada de um sonho.
Eu me sentei, ainda sem acreditar. Minhas mãos tremiam levemente ao tocar a mesa, enquanto meu coração batia mais rápido que nunca. Então, como se o mundo ao meu redor parasse, eu o vi.
Noah.
Ele entrou no terraço com uma presença magnética, avassaladora. Sua camisa social marsala moldava seu torso perfeitamente, destacando seus ombros largos e o tom de sua pele. A calça preta de alfaiataria era impecável, e ele parecia saído de uma revista de moda, mas era o brilho em seus olhos que prendia minha atenção. Ele usava óculos escuros, e o jeito como os tirou, lentamente, e os pendurou no colarinho da camisa, fez minha respiração falhar.
Com passos firmes e decididos, ele se aproximou. Quando parou à minha frente, estendeu a mão sem dizer uma palavra.
Levantei as sobrancelhas, surpresa, mas não hesitei. Aceitei sua mão, sentindo o calor de sua pele contra a minha, e me levantei. Meu coração parecia querer escapar do peito.
Ele não disse nada. Apenas sorriu, aquele sorriso discreto e encantador, antes de envolver minha cintura com firmeza. Sua outra mão subiu, tocando minha nuca com delicadeza, e em um movimento natural e irresistível, ele inclinou o rosto até que seus lábios encontrassem os meus.
O beijo foi carinhoso, suave, mas cheio de intensidade, como se ele tivesse esperado por aquele momento tanto quanto eu. Quando se afastou, seus olhos buscaram os meus, e ele sussurrou com a voz rouca:
— Feliz aniversário, Cinderela.
Eu mal conseguia falar. Um sorriso amplo tomou conta do meu rosto, e meus lábios tremeram em um suspiro involuntário. Ele percebeu e riu baixinho, aquele riso desconcertante que só ele tinha.
Com um gesto elegante, ele puxou a cadeira para que eu me sentasse novamente, enquanto eu ainda tentava absorver tudo o que havia acabado de acontecer.
— Caramba, Noah, ainda não acredito que decidiu me surpreender assim — comentei, absorvendo cada detalhe com os olhos, meu coração batendo mais rápido. — Mas não foi você quem preparou isso tudo, foi?
Ele riu, aquela risada baixa e irresistível que me fazia esquecer como respirar por um segundo.
— Cada detalhe foi por minha conta — respondeu, enquanto segurava a jarra de suco para me servir. — Confesso que Marta me ajudou com algumas coisas, mas a arrumação e alguns pratos foram obra minha.
O sorriso dele era tão contagiante que acabei sorrindo também, como se fosse inevitável.
— Obrigada por isso, Noah. De verdade — falei, minha voz mais suave do que eu esperava.
Ele inclinou ligeiramente a cabeça, seus olhos fixos nos meus.
— Quero que seu dia comece de uma forma especial. Você merece. E, sinceramente, não vejo como começar de outra maneira a não ser assim — disse ele, com um brilho no olhar que me deixava sem fôlego.
— Você é incrível — murmurei, e quando nossos olhos se encontraram, algo mudou. O momento parecia se alongar, ficando mais intenso.
Noah estendeu a mão por cima da mesa, pegando a minha com delicadeza. Seus dedos traçaram minha pele, enviando um calor que subia direto para meu rosto.
— Não quero que saia da minha vida, Cinderela — ele disse, sua voz profunda e firme. — Não sei o que você fez comigo, mas... Eu gostei. E não quero que isso acabe.
Fiquei sem palavras, o coração acelerado, enquanto o comentário dele ecoava dentro de mim. Um rubor invadiu minhas bochechas, e tentei desviar o olhar, mas era impossível. Ao mesmo tempo, aquele momento trouxe algo à tona — o sonho. Ele voltou com força, me fazendo reviver cada detalhe.
— O que foi? — perguntou ele, a voz gentil e curiosa, inclinando-se ligeiramente na minha direção.
Engoli em seco, hesitando.
— Não é nada. Q-quer dizer... é complicado.
Ele apertou levemente minha mão.
— Cinderela, sabe que pode me contar qualquer coisa. Estou aqui.
Respirei fundo, tomando coragem, e comecei a falar. Contei sobre o sonho, sobre o peso do contrato entre nós e como me sentia sufocada por ele. Era estranho, estar ali com Noah, sentindo que quebrávamos regra após regra sem perceber. Meu coração dizia uma coisa, mas minha mente lutava contra.
Noah me ouviu com atenção, sem me interromper, até que soltei o último suspiro profundo. Ele pareceu ponderar minhas palavras por um momento antes de soltar um sorriso tranquilo.
— Então você ainda enxerga esse contrato como uma barreira entre nós? — ele perguntou, inclinando a cabeça levemente.
Eu assenti, mordendo o lábio.
— É como um muro de Berlim... sempre ali, nos lembrando do que não deveríamos fazer.
Ele afastou a cadeira, levantando-se com um jeito decidido.
— Me dê um minuto, Cinderela.
Fiquei ali, imóvel, tamborilando os dedos na borda do prato enquanto o via sair do ambiente. Meu coração estava um turbilhão de emoções, e cada segundo parecia uma eternidade. Quando voltou, segurava uma pilha de papéis. Meu estômago deu um salto ao reconhecer o contrato.
Noah sentou-se calmamente, colocando os papéis sobre a mesa com uma expressão de quem estava prestes a mudar tudo. Ele olhou para mim, e seu sorriso ganhou uma suavidade que desarmava qualquer medo.
— Acho que está na hora de derrubarmos esse muro, não acha? — ele disse, o sorriso permanecendo em seus lábios.
Ele respirou fundo, passou os dedos pela borda das folhas e, então, ergueu o olhar para mim. Havia algo diferente em seu olhar — um brilho intenso que misturava desafio e rendição.
— Vamos recapitular isso aqui, só por diversão — disse ele, com um sorriso torto. Pegou a primeira folha e deslizou os olhos pelo texto. — Cláusula um: sem envolvimento amoroso ou íntimo. Essa já foi pro espaço, não foi?
Ele soltou um leve riso e, sem hesitar, rasgou a folha ao meio, deixando os pedaços caírem no chão. Meu coração disparou.
— Cláusula dois: sem contato físico, a menos que seja estritamente profissional. Bom, acho que ultrapassamos essa linha há tempos. Você quer contar ou eu conto?
Tentei engolir em seco, mas minha garganta estava seca. Noah rasgou mais uma folha, sem desviar o olhar de mim.
— Cláusula três: você não deveria se meter na minha vida pessoal. — Ele balançou a cabeça, rindo de si mesmo. — Mas, sinceramente, como eu poderia não te deixar entrar? Você conhece mais de mim do que qualquer pessoa nesse mundo.
Outro papel foi rasgado, e meu estômago revirou ao ver os pedaços se acumulando ao lado dele.
— Quatro, cinco… Ah, o sigilo e a proibição de fotos. Acho que já não fazem mais sentido quando eu quero que o mundo inteiro saiba quem você é para mim.
Meu peito subia e descia rapidamente. A intensidade em sua voz me fez prender a respiração.
Noah pegou a última folha, observou-a por um instante e então rasgou o restante do contrato em pedaços, deixando-os cair ao chão como se fossem completamente insignificantes.
Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa.
— E a sexta? Obediência cega às minhas ordens? Hadassa, eu nunca quis alguém que me obedecesse. Eu só queria alguém que estivesse ao meu lado.
Meu coração martelava dentro do peito. Então, ele respirou fundo, passou a mão pelos cabelos e me olhou com uma intensidade que me fez esquecer de tudo ao meu redor.
— No fim, nada disso importa mais. Porque, mesmo que todas essas regras fossem cumpridas, eu ainda teria falhado na mais importante de todas.
Minha voz saiu quase num sussurro:
— Qual?
Ele sorriu de canto e murmurou:
— A única que eu deveria ter colocado: não me apaixonar por você.
O silêncio que se seguiu foi avassalador. Não havia mais contrato, não havia mais regras. Apenas nós dois, e a verdade que já não podia ser evitada.
Ainda sentada ali, eu me sentia em um turbilhão de emoções. Um calor inexplicável percorria meu corpo enquanto as palavras de Noah ecoavam na minha mente, cada uma delas um golpe certeiro no meu coração. Não conseguia acreditar que ele realmente tinha dito aquilo. Ele queria derrubar todas as barreiras, queria que eu esquecesse o contrato e, de alguma forma, me fazia sentir segura.
Noah voltou a segurar minha mão, seus dedos firmes envolvendo os meus, e seu olhar, iluminado pelo reflexo do sol, parecia enxergar cada parte de mim. Meu coração acelerou ainda mais. Era impossível não me render.
— Só esquece o contrato de uma vez por todas, tá? — disse ele, sua voz firme, mas com um tom doce que me desarmava. — E quanto à minha equipe... Hadassa, eu sou o chefe deles. O que eu decidir, está decidido e ponto. Por que você ainda teria medo deles se sou eu que estou mandando esse contrato pro espaço?
A clareza e a simplicidade com que ele falou me deixaram sem chão. Ele tinha razão. Qualquer resistência de minha parte parecia não só desnecessária, mas boba.
— E outra coisa... — ele levantou um dedo, com aquele toque de charme irresistível que só ele tinha. — Ângela estava errada mais uma vez.
Meu coração deu um salto. A forma como ele dizia isso, como se estivesse me provocando, fazia o mundo inteiro parecer estar em câmera lenta. Meu rosto provavelmente já estava corado o suficiente para denunciar tudo o que eu sentia.
— Nossa... — foi tudo o que consegui dizer.
Noah soltou uma risada gostosa, o tipo de risada que parecia envolver todo o ambiente, deixando-o ainda mais quente e acolhedor. Ele inclinou-se levemente, como se fosse confidenciar algo.
— Podemos terminar o café sem a sua paranóia sobre um contrato que não existe mais? — perguntou, seus lábios curvados em um sorriso.
Eu assenti, ainda sem conseguir organizar meus pensamentos, mas com o sorriso tímido brincando em meus lábios.
Terminamos o café entre risadas e histórias das turnês de Noah, cada detalhe me deixando ainda mais fascinada. Saber da boca dele que estava apaixonado por mim era o suficiente para eu ganhar o dia — não, a semana inteira. Eu também estava apaixonada, claro. Mas não ia dizer. Ainda não.
Quando nos levantamos para sair do rooftop, Noah se aproximou, os olhos claros fixos nos meus, e inclinou-se para me beijar. Mas antes que seus lábios tocassem os meus, dei um passo para trás, um sorriso travesso brincando em minha boca. Ele franziu o cenho, surpreso, e arqueou uma sobrancelha.
— Sério? — Sua voz veio cheia de incredulidade e provocação. — Você acabou de me rejeitar?
Eu ergui um dedo, imponente.
— Já que o senhor Noah Tremblay fez uma confissão tão importante, vamos estabelecer uma regra.
Ele cruzou os braços, a expressão divertida.
— Regra?
— Isso mesmo. A partir de agora, você não pode mais me beijar.
O silêncio durou apenas um segundo antes dele soltar uma risada baixa e rouca.
— Ah, não posso mais? — Sua voz era pura provocação. — Você tá propondo um desafio, Cinderela?
— Eu só disse que não pode tocar meus lábios.
Ele inclinou a cabeça, os olhos semicerrados, analisando.
— Certo. E por quanto tempo essa... tortura?
— Até eu decidir que pode, Tremblay.
O sorriso dele se alargou.
— Como quiser.
Dei as costas, satisfeita com minha pequena vitória. Mas, antes que pudesse dar um passo, fui puxada com força contra um peito firme, e Noah, com um atrevimento delicioso, roubou um beijo. Lento. Intenso.
E eu? Eu cedi. Por alguns segundos. Até que, lembrando da minha própria regra, tentei me afastar com uma falsa resistência.
— Noah! — exclamei, ofegante.
Ele riu, passando a língua pelos próprios lábios.
— Perdão, Cinderela. Jurei ter ouvido você dizer que já tava liberado.
Revirei os olhos, mas não consegui segurar o sorriso quando virei de costas. Ele me acompanhou, passos preguiçosos e confiantes.
Na sala, peguei um bombom da caixa e levei até a boca, mas Noah foi mais rápido. Segurou minha mão no ar e, sem desviar o olhar do meu, pegou o chocolate com os dentes, um sorriso presunçoso curvando seus lábios.
— O que foi isso? — perguntei, semicerrando os olhos.
— Só um lembrete, docinho. — Ele mastigou devagar, sem desviar os olhos de mim. — Você não vai aguentar muito tempo sem me beijar.
Eu ri, descrente.
— Vamos ver, Tremblay.
Ele pegou outro bombom da caixa e deu de ombros, como se não tivesse acabado de provocar um incêndio dentro de mim.
Quando virei para pegar um macaron, Noah já estava perigosamente perto de novo. Perto o suficiente para me fazer recuar um passo — ou tentar.
Outro beijo.
Outro golpe baixo.
Minhas mãos voaram para o peito dele, empurrando-o com menos força do que eu gostaria. Ele soltou uma risada baixa, cheia de pura diversão, e simplesmente se afastou, jogando-se no sofá como se nada tivesse acontecido.
— Isso vai ser divertido.
Eu encarei seu sorriso travesso e soube de uma coisa: estava encrencada.
Me acomodei na poltrona de frente para Noah, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Pamela entrou na sala segurando um buquê de flores brancas.
— Hadassa, essas flores chegaram para você agora há pouco. Tem um cartão.
Noah ajeitou a postura no sofá, os olhos imediatamente afiados. Seu maxilar se contraiu enquanto me observava pegar o buquê das mãos de Pamela.
— Obrigada, Pam.
Ela assentiu e saiu, me deixando sozinha sob o olhar atento de Noah.
Deslizei os dedos pelo cartão e o abri.
“Feliz aniversário, Dassa. Você merece toda a felicidade desse mundo.
— Lorenzo.”
Um sorriso surgiu nos meus lábios, pequeno, discreto. Mais pelo carinho do gesto do que por qualquer outra coisa.
Noah pigarreou. Alto.
— Seu primo também tem bom gosto pra flores — provoquei, inalando o perfume das pétalas.
Ele balançou a cabeça devagar, a expressão nada satisfeita.
— Rosas champagne combinam mais com você.
A voz dele veio rouca, firme.
Eu mordi o lábio, divertida. Ele estava com ciúmes.
Noah se levantou e, sem cerimônia, pegou o buquê da minha mão, levando as flores até o nariz.
— Nem são tão cheirosas assim — desdenhou, tombando a cabeça de lado.
Ri, cruzando os braços.
Estávamos perigosamente próximos agora. O ciúme dele era evidente, um fio de tensão se esticando entre nós. Noah me olhava como se estivesse considerando algo. Como se estivesse prestes a…
O interfone tocou.
O som cortou o momento como uma lâmina afiada.
Noah fechou os olhos por um segundo, visivelmente contrariado, enquanto Pamela ia atender.
Eu soltei uma risadinha. Ele estava indignado.
— Para Hadassa? — Pamela perguntou.
Eu e Noah franzimos o cenho ao mesmo tempo.
— Um instante — ela disse antes de se virar para nós. — Tem uma pessoa procurando por você.
Minha respiração vacilou. Ok, da última vez que alguém apareceu inesperadamente, as coisas não terminaram muito bem.
— Quem? — perguntei, tensa.
— Evelyn. Uma amiga sua.
Meu coração deu um salto.
Meus olhos se arregalaram no mesmo instante, e um sorriso enorme se abriu no meu rosto.
— Noaaaah! — girei para ele, os olhos brilhando como os de uma criança no Natal. — Por favor, hoje é meu aniversário, deixa ela subir, por favoooor!
Ele cruzou os braços e me analisou com um meio sorriso, claramente gostando de me ver implorar.
— Primeiro… quem é Evelyn?
— Minha melhor amiga, Noah! Como uma irmã pra mim! — praticamente implorei, juntando as mãos como se estivesse orando.
Ele suspirou e me lançou um olhar de falsa relutância antes de sorrir.
— Tudo bem, pode deixar subir.
Um gritinho escapou dos meus lábios, e eu levei as mãos à boca para conter minha animação.
Enquanto Pamela autorizava a entrada de Evy, Noah se aproximou, sua presença quente e intensa ao meu lado. Ele inclinou o rosto para perto do meu ouvido e sussurrou, a voz baixa e cheia de malícia:
— Mereço alguma coisa por isso, não acha?
Eu revirei os olhos, rindo baixinho.
Me aproximei devagar, meus lábios pairando perigosamente perto dos dele. Noah prendeu a respiração. Seus olhos desceram para minha boca. E no último segundo, eu desviei, deixando um beijo estalado em sua bochecha.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Certo… eu vou tentar me contentar com isso.
Mordi o lábio, vitoriosa, e me afastei em direção ao elevador, sentindo seu olhar queimando em minhas costas.
Assim que a porta se abriu, eu já estava prestes a saltitar de alegria. E então, lá estava ela, ao lado de um rapaz que trazia suas malas.
— EVY! — gritei antes mesmo que ela pudesse dar um passo para dentro.
Os olhos dela se arregalaram de pura felicidade antes que largasse a bolsa no chão e corresse para me abraçar.
— AMIGA! — ela exclamou, girando comigo no abraço apertado. — Você achou mesmo que eu ia perder seu aniversário?
— Eu não acredito que você fez essa surpresa!
Ela se afastou só o suficiente para me encarar com um sorriso radiante.
— Eu disse que ia te dar um presente, mas preferi entregar pessoalmente.
Eu ia responder, mas algo chamou a atenção de Evy. O olhar dela passou por mim e foi direto para a sala, e então… ela congelou.
Literalmente.
A boca entreaberta, os olhos piscando rapidamente, como se tentasse garantir que sua visão não estava pregando uma peça.
Eu conhecia bem aquela expressão.
— Não… Pode… Ser… — ela murmurou, levando uma mão ao peito.
Noah estava jogado casualmente no sofá, com uma expressão que eu já decifrava bem demais. Um meio sorriso, aquele olhar tranquilo. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo.
— Oi — ele cumprimentou, a voz rouca e despreocupada, como se Evy fosse apenas mais uma pessoa chegando na casa.
Mas, para Evelyn, ele não era “só mais uma pessoa”.
Ela me olhou, depois voltou para ele. Depois para mim.
— Você… Você é o Noah… O NOAH! — sua voz quase falhou de tanta emoção. Ela prendeu a respiração, depois soltou o ar num suspiro forte. — Eu tô sonhando? Porque, se eu tiver, não me acorda.
Eu ri.
— Sim, Evy, você tá aqui, de verdade.
Ela abriu a boca de novo, mas desistiu de falar e passou a mão pelo rosto, tentando se recompor. Depois olhou ao redor, como se estivesse absorvendo cada detalhe da cobertura, e finalmente voltou a encará-lo.
— Eu te acompanho há anos. Eu amo suas músicas. Eu… Eu nunca imaginei que um dia fosse te conhecer assim.
— Bom, agora imagina — Noah respondeu, piscando para ela, claramente acostumado com esse tipo de reação.
Evy levou a mão à boca, completamente incrédula.
— Eu preciso de um minuto. — E então começou a andar em círculos pela cobertura, respirando fundo como se tentasse não surtar.
Noah me lançou um olhar divertido, e eu revirei os olhos.
— Você sempre sabe o roteiro — brinquei, cruzando os braços.
— De cor e sorteado — ele disse, com um sorriso torto. — Mas sempre é engraçado.
Evy parou abruptamente e apontou para ele.
— Você tem noção de que sua música salvou minha vida? Eu passei por momentos difíceis e foi ouvindo você que encontrei forças para seguir em frente. Abaixo de Deus, é claro.
Dessa vez, o sorriso de Noah mudou. Deixou de ser divertido para algo mais suave, genuíno.
— Obrigado por me contar isso. Significa muito para mim.
Evy ficou completamente imóvel. Piscou uma, duas, três vezes.
— Meu Deus… — ela murmurou, quase sem ar.
Eu balancei a cabeça, rindo.
— Parabéns, Noah. Você acabou de ganhar o dia dela.
Ele olhou para mim e sorriu. Aquele sorriso específico.
Meu coração acelerou um pouco mais.
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