Capítulo 28 | Confissões do Passado
Hadassa Luz
“Sabe a história de José, lá na prisão?
Um jovem sonhador, mas vendido como escravo em aflição
Mesmo em meio à dor, não perdeu seu coração
E na solidão, confiou em Deus na provação
Muitos já passaram pelo vale da aflição
Acusados sem razão, feridos pela escuridão
Mas no tempo certo, Deus vem para agir
E aquilo que era pranto, Ele faz sorrir
Se te humilharam, Deus vai te exaltar
Se te traíram, Ele vem te restaurar
No deserto, na prisão, no vale ou no poço
Assim como fez com José, honrado serás de novo”
♫♩ ♬ Noah Tremblay
⏳
Eu esperei Noah voltar para a sala, mas sua demora começou a me incomodar. Havia algo errado, e eu sabia. Claro, ele tinha gritado no futebol – qual homem joga bola sem gritar? – mas aquilo parecia mais do que apenas cansaço.
Então meu celular vibrou. Uma mensagem dele:
Noah Tremblay: Cinderela, não vou assistir com vocês. Depois você me conta como foi!
O texto era direto, mas aumentou minha preocupação. Sem pensar muito, decidi ir até o quarto dele. Precisava saber como ele estava. Bati na porta e ouvi sua voz, fraca, mas presente:
— Entra!
Abri a porta e meu coração apertou ao vê-lo. Ele estava deitado, o rosto com sinais de exaustão, mas ainda assim... Meu Deus. Ele vestia uma regata branca e uma bermuda samba-canção preta com pequenas notas musicais espalhadas, algo tão casual, mas que de alguma forma parecia perigoso demais para a minha sanidade.
Seus braços estavam à mostra, os músculos perfeitamente definidos, e o tecido da regata mal escondia os contornos do peito. Era como se ele tivesse sido esculpido sob medida para provocar. Ele passou a mão pelos cabelos bagunçados, os fios caindo despreocupadamente sobre a testa. Um gesto tão simples, mas que o tornava devastadoramente irresistível.
Noah levantou os olhos para mim e abriu um meio sorriso, preguiçoso, tentador, sabendo exatamente o efeito que aquele gesto tinha sobre mim.
— O que foi? — perguntou, a voz rouca, transparecendo sono, mas de alguma forma soando como quem estava afim de me provocar.
Tentei me segurar. Pisquei algumas vezes, meu coração em um ritmo descompassado.
— Nada... Só... Você está diferente.
Ele ergueu uma sobrancelha, intrigado e divertido ao mesmo tempo.
— Diferente como?
Engoli em seco. Eu não podia dizer “perfeito”, “irresistível” ou “a visão exata do que me tira o chão”, porque ele provavelmente se divertiria ainda mais com a minha reação.
Apenas balancei a cabeça e desviei o olhar, tentando recuperar o controle.
— Esquece.
Mas como eu poderia esquecer? Ele continuava ali, lindo, relaxado, parecendo feito para me testar. Eu sabia que deveria dizer algo, deveria me preocupar com sua saúde, mas tudo que meu corpo fazia era me alertar sobre a tentação que Noah representava – e o quanto ele sabia disso.
— Eu sabia que você tinha exagerado com a voz no futebol — murmurei, fechando a porta atrás de mim e caminhando em sua direção. Minha voz era suave, mas havia uma ponta de preocupação. — Por que você é tão teimoso? — Cruzei os braços, parando ao lado da cama, olhando-o de cima.
Noah deixou escapar um sorriso cansado, mas ainda cheio daquela travessura característica.
— Tá parecendo que é minha namorada.
A palavra escapou dos lábios dele com uma casualidade quase cruel, e o impacto foi instantâneo. Senti o calor subir pelas minhas bochechas, o coração acelerando. Até alguns dias atrás, a ideia de ouvir isso dele seria impensável, mas ali estava ele, lançando aquela provocação como quem sabe exatamente o que está fazendo.
Tentei não reagir além do necessário, desviando o olhar para disfarçar. Sem dizer nada, sentei ao lado dele na cama, de frente, tentando manter o foco. Ele sempre tinha que provocar. Sempre.
— Não brinque com isso, Noah — murmurei, minha voz mais doce do que eu gostaria. Ele precisava de cuidado, não de bronca. — Você sabe que pode prejudicar sua carreira se não se cuidar.
Ele não respondeu de imediato, mas segurou minha mão sobre a cama. O gesto foi simples, mas tão cheio de significado que meu coração deu um salto. Nossos olhares se encontraram, e havia algo na intensidade com que ele me olhava que parecia roubar todo o ar do quarto.
— Eu sei — ele admitiu, finalmente, em um tom baixo. — Passei dos limites hoje.
Assenti, tentando manter a calma, mas sem perceber, comecei a deslizar suavemente o dedo pela mão dele. Era um toque involuntário, mas que havia mais do que eu queria admitir.
Noah sorriu de canto, aquele sorriso que sempre parecia um convite para algo que deveríamos fugir. Ele notou, claro que notou, e, como sempre, não ia deixar passar. Eu desviei o olhar, sentindo um sorriso tímido se formar nos meus lábios, mesmo sem querer.
— O que posso fazer para te ajudar? — perguntei, baixinho, a preocupação transbordando.
Ele fingiu pensar por um instante, o olhar dele que me fazia perder o equilíbrio, antes de responder:
— Sei que um beijo resolveria tudo... — Ele pausou, deixando a frase pesar no ar enquanto meu coração disparava. — Mas, como estou tossindo muito, vou me contentar só com sua companhia. Sem beijo, mas aceito carinho.
Revirei os olhos, soltando um riso baixo, quase nervoso, e me levantei, como se quisesse encerrar aquele momento de tensão entre nós. Mas algo em mim me impediu de sair. Antes que pudesse racionalizar, me sentei novamente ao lado de Noah, dessa vez encostando-me na cabeceira da cama. Ele, sem dizer nada, deitou a cabeça em minhas coxas, como se aquele gesto fosse a coisa mais natural do mundo.
Minhas mãos se moveram automaticamente para seus cabelos. Comecei a acariciá-los em movimentos lentos, sentindo a textura suave entre os dedos. Eu sabia que isso o acalmava, mas, secretamente, fazia algo comigo também. Cada segundo em que ele estava ali, tão vulnerável, aumentava a conexão entre nós de um jeito que eu mal podia explicar.
— Noah... — chamei, baixinho, e ele abriu os olhos para encontrar os meus, o olhar preguiçoso, mas atento. — Você sabia que o Blake Zion vem para o Brasil em poucos dias?
Assim que o nome saiu da minha boca, algo mudou. A tensão atravessou o corpo dele como uma corrente elétrica. Os ombros relaxados ficaram rígidos, e o brilho despreocupado em seus olhos desapareceu, substituído por algo mais profundo.
— Eu queria ir ao show dele — continuei, sem perceber o impacto imediato que minhas palavras causavam. — Ele é um dos rappers gospel mais famosos do mundo, e eu sei que você o conhece.
Noah suspirou, abruptamente se levantando. Ele agora estava sentado ao meu lado, encostado na cabeceira, o olhar perdido em algum ponto à frente.
— Hadassa, você sabia que o nome do Blake não é Blake Zion? — perguntou de repente, sua voz contendo algo entre ironia e amargura.
Franzi o cenho, surpresa.
— Sério? É um nome artístico? Qual o nome verdadeiro dele? Nunca vi isso em lugar nenhum!
Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto tão habitual, mas que parecia diferente dessa vez, como se ele estivesse tentando organizar o caos interno antes de falar.
— Blake Zion é o nome artístico dele. O verdadeiro nome é Ryan. Ryan McAllister.
Meu coração deu um salto. Meu olhar encontrou o dele, e a surpresa evidente em meu rosto fez Noah estreitar os olhos, desconfiado. Ele me encarou com intensidade, como se tentasse ler o que eu estava pensando.
— Ryan? — sussurrei, quase sem voz, minha mente conectando peças soltas. — Aquele Ryan?
O cenho de Noah se franziu imediatamente.
— Aquele Ryan? — repetiu, a confusão e algo que parecia ciúme começando a surgir. — Você o conhece? Como assim “aquele Ryan”?
Engoli em seco, tentando encontrar uma explicação que não soasse mais complicada do que já era. Mas era impossível evitar o que estava prestes a acontecer.
— Noah, me perdoe por não ter te contado antes, mas... — pausei, sentindo o peso das palavras. — No dia em que você teve febre, você delirou muito. Você falou algumas coisas... citou um tal de Ryan.
O ar no quarto parecia mais denso agora. Noah não se mexeu, mas o brilho em seus olhos mudou. Havia algo ali, um misto de dor e raiva que ele não conseguia esconder.
— Você dizia que não fez algo e que foi Ryan quem colocou lá — continuei, escolhendo cada palavra com cuidado. — Eu achei que era apenas um delírio... mas agora que você está me dizendo que Blake é Ryan... então não era só febre.
Ele respirou fundo, o som da respiração entrecortada, como se estivesse se forçando a manter a calma. Finalmente, sua voz saiu, ainda mais rouca e quase falhando.
— Ryan... foi alguém que considerei um irmão.
A voz dele saiu mais grave e a rouquidão da voz dele era impossível de ignorar. Noah tossiu de repente, uma tosse profunda que ecoou pelo quarto, como um aviso de que ele estava forçando além do limite.
— Ryan McAllister, o rapper gospel canadense. Blake Zion.
Houve uma pausa longa, e eu podia sentir a tensão em cada fibra do corpo dele. Minha curiosidade queimava, mas algo me dizia que era uma história que machucava.
— O que ele fez para trair sua confiança? — perguntei, quase num sussurro, sem saber se deveria pressionar.
Noah me olhou, os olhos mais intensos do que nunca, mas antes que pudesse dizer algo, uma crise de tosse tomou conta dele.
— Noah, não! — interrompi, segurando seus ombros com delicadeza. — Não force a voz.
Ele balançou a cabeça, tentando afastar minha preocupação, mas não conseguiu parar de tossir. A respiração dele estava visivelmente irregular, e o som rouco só piorava.
— É ele... — murmurou entre tosses, a voz quase inaudível. Ele ergueu os olhos para mim, o olhar tão intenso que parecia que queria me fazer entender tudo sem precisar falar. — Eu... preciso... te contar...
Ele se inclinou para a frente, ficando bem próximo, como se quisesse garantir que eu entenderia a gravidade do que vinha a seguir. Mas eu sabia que aquele não era o momento.
— Eu quero muito saber, Noah, mas você precisa descansar — murmurei, acariciando seu rosto, tentando acalmá-lo. — Toma um remédio, dorme um pouco. Depois você me conta, pode ser?
Ele hesitou, os olhos ainda presos aos meus, mas finalmente cedeu, soltando um sorriso leve e assentindo.
Enquanto ele fechava os olhos, ainda tossindo de vez em quando, minha mente não parava. O nome de Ryan – ou Blake Zion – ecoava dentro de mim como uma pergunta sem resposta. Quem era ele, realmente? E o que ele tinha feito para marcar Noah tão profundamente?
Eu me levantei sem pressa, peguei o remédio e a água e entreguei a Noah. Ele bebeu em silêncio, seus olhos pesados pelo cansaço, e se deitou logo em seguida. Eu o cobri com a manta, deixando um toque suave sobre seu ombro, como se aquele simples gesto pudesse protegê-lo do que quer que estivesse pesando sobre ele.
Apaguei a luz do quarto, ajustei o ar-condicionado na temperatura ideal e saí, fechando a porta com cuidado. Deixei Noah descansando, mas minha mente estava longe de qualquer descanso.
Fui para o meu quarto com pensamentos em turbilhão. Finalmente, Noah quer me contar sobre o que aconteceu com o tal de Ryan, mas ainda me custava acreditar que Blake Zion e Ryan são a mesma pessoa.
Blake Zion. Um nome gigante, um ícone da música gospel. Eu sempre quis conhecê-lo, não tanto quanto Noah, claro, mas a admiração sempre esteve ali. E eu sabia que eles eram amigos, mas nunca imaginei que Blake era o mesmo Ryan que Noah confessara ter sido o traidor, o melhor amigo que lhe apunhalou pelas costas.
Depois de um tempo perdida em pensamentos, olhei pela janela, o vidro frio sob minha pele contrastando com o calor que queimava dentro de mim. Minhas mãos estavam trêmulas, mas não de medo. De determinação.
Antes que pudesse me questionar, vasculhei o guarda-roupa e peguei um maiô bordô. Vesti um short de tecido leve e saí para o rooftop. A noite estava quente, e eu precisava relaxar — ou apenas tentar.
Tirei o short, ficando apenas de maiô, e soltei o cabelo. A brisa noturna fez os fios roçarem minha pele, despertando arrepios. Deixei o celular sobre a mesinha e mergulhei sem hesitação.
A água fria me envolveu de imediato, arrepiando minha pele e me puxando para um instante de silêncio absoluto. Um alívio. Um refúgio.
Enquanto nadava, a água aquecendo ao redor do meu corpo, minha mente insistia em voltar para Noah. Para seus beijos, para o calor que ele me causava, para a sombra do passado que ele temia revelar. Eu estava curiosa, mas, mais do que isso, estava certa de que não precisava temer. Algo dentro de mim me dizia que, não importava o que fosse, eu queria conhecê-lo por inteiro.
Ao emergir, inspirei fundo, sentindo meu coração acelerar dentro do peito. Meus olhos vagaram até a grande parede de vidro que separava a piscina da sala, onde tudo parecia luxuoso, imponente, inalcançável. Mas não era isso que me prendia. Era ele.
Noah Tremblay. O homem que mexia comigo de uma maneira avassaladora.
Me aproximei da borda da piscina e me apoiei ali, deixando a água, agora morna, dissipar o frio da noite. O céu estava encoberto, sem estrelas, apenas nuvens espalhadas pelo azul-escuro profundo.
De repente, meu coração quase saiu do peito ao sentir duas mãos firmes deslizarem ao redor do meu pescoço, os dedos quentes e habilidosos massageando minha pele em toques lentos e precisos.
Arrepios subiram pela minha espinha antes mesmo de eu me virar. Eu já sabia quem era.
Noah.
O sorriso dele estava ali, perigoso, cheio de uma confiança que me desarmava toda vez. Seus olhos brilhavam com aquela teimosia irresistível enquanto ele inclinava a cabeça de leve, o hálito quente tocando minha pele.
— Noah! Por que não está descansando? — tentei soar séria, mas minha voz saiu mais baixa do que eu queria.
Ele não respondeu de imediato. Apenas se inclinou mais, os lábios quase tocando minha orelha.
— Shhh… só relaxa, Cinderela — murmurou, a voz rouca que fazia meu corpo inteiro reagir.
Eu deveria afastá-lo. Deveria dizer algo. Mas como, quando aquelas mãos estavam massageando de uma maneira tão relaxante?
Noah se sentou na borda da piscina, os pés tocando a água, e eu, quase sem perceber, me posicionei de costas entre suas pernas. Ele retomou a massagem, os polegares pressionando de um jeito exato, certeiro, como se soubesse exatamente onde me desmontar.
— Não sabia que você era tão bom nisso — confessei, sentindo meu corpo relaxar contra a pressão deliciosa dos dedos dele.
— Eu sou bom em muitas coisas — respondeu, e não era só o tom da voz dele que sugeria algo a mais. Era tudo. O jeito como seus olhos me analisavam, como sua respiração tocava minha pele.
Ele deslizou as mãos para meus ombros antes de parar a massagem e me virar levemente para ele.
— Mas hoje, preciso te dizer algo importante.
A ausência do toque dele me fez despertar do torpor.
— Primeiro, o que tá fazendo aqui em vez de estar descansando? E sua voz? Está melhor? — perguntei, os olhos presos aos dele.
— Não consegui dormir sabendo que preciso te contar algo — ele passou a língua pelos lábios, como se ponderasse suas palavras. — Aquele remédio ajudou um pouco, mas pedi pra Marta fazer uma mistura doida pra tosse, e parece que funcionou. Só não posso falar muito alto porque dá vontade de tossir.
Observei-o, meu olhar passeando por seu rosto. A maldita regata branca ainda moldava seu corpo, destacando cada detalhe sob a luz suave do ambiente. Sentado na borda da piscina, ele parecia alheio ao próprio impacto, despreocupado, como se não tivesse consciência de como atraía meu olhar.
Mas ele sabia exatamente o que estava fazendo comigo.
Saí da água e me sentei ao seu lado, nossos pés brincando com a água morna. O silêncio entre nós era denso, mas confortável.
— Sabe que vai chover, não sabe? E está correndo risco de gripar estando na piscina a essa hora — ele disse, me olhando de canto.
— Não vai chover.
— Vai sim, olha o céu! — Ele apontou. — E a previsão diz que vai chover.
— Uma quentura dessa e você acha que vai chover? — provoquei, e ele riu baixo, aquele riso rouco que fazia algo dentro de mim se revirar.
— Quentura? Você não tá sentindo esse vento frio?
Toquei sua testa de forma teatral, mas antes que pudesse dizer algo, ele segurou meu pulso. O toque quente, firme, dominante.
— Não estou com febre, Cinderela, mas obrigado pela preocupação — murmurou, os olhos cravados nos meus, as íris claras brilhando com diversão.
— Não estou preocupada — retruquei, tentando puxar minha mão, mas ele não soltou.
— Ah, não? — ele arqueou uma sobrancelha, o olhar deslizando lentamente dos meus olhos para a minha boca.
O tempo parou.
— Por que está me segurando? — minha voz saiu mais baixa, quase um sussurro.
Ele passou o polegar pela minha pele antes de soltar minha mão devagar, alongando o contato como se quisesse gravar minha reação.
— Apenas verificando sua temperatura — provocou, um sorriso de canto perigosamente sedutor nos lábios.
Ele estava brincando comigo. Testando meus limites.
— Obrigada pela preocupação — zombei, tentando recuperar o controle da situação.
— Não estou preocupado — ele deu de ombros, como se realmente não se importasse. Mas seus olhos diziam o contrário. — Só estou cuidando para que não gripe. Não quero que pegue atestado.
Ele sorriu de um jeito descaradamente provocante, o olhar ardente enquanto me observava.
— Sou uma boa funcionária, não se preocupe que não lhe deixaria na mão. Talvez um atestado de duas semanas, mais que isso não — brinquei.
Noah soltou uma gargalhada baixa e irônica, os olhos ainda fixos em mim.
— Não sentiria falta.
Meu queixo caiu, e eu o encarei, ultrajada.
— Ah, é? Então posso pedir um atestado a Lorenzo e passar duas semanas longe de você, senhor Noah?
Ele fingiu ponderar, mordendo o lábio inferior.
— Depende de quem iria substituir você… Se for a Rapunzel… — zombou, e eu ri, mas no fundo, uma faísca incômoda se acendeu dentro de mim.
Cruzei os braços e suspirei, dramatizando.
— Eu sou insubstituível, Noah, não era pra dizer isso.
Ele inclinou-se um pouco mais, os olhos segurando os meus com um magnetismo sufocante.
— Insubstituível… e ciumenta, não é, Cinderela?
A voz dele caiu para um tom baixo, íntimo.
— Ciúmes? Não tenho ciúmes — menti descaradamente, mas meu coração batia tão forte que ele poderia ouvir.
Ele sorriu. Aquele sorriso lento, arrastado...
— Ah, não? E se eu disser que quero conhecer a Rapunzel, a Branca de Neve, Aurora…?
Sua voz ficou mais rouca, mais firme. Eu podia sentir o hálito fresco de menta vindo de sua boca, e a proximidade dele era um jogo que eu estava perdendo rápido demais.
O olhar dele deslizou novamente para minha boca, os olhos escurecendo, e então voltaram para os meus, seu maxilar travando.
— Você pode conhecer todas as princesas da Disney, Noah… — minha voz saiu baixa, firme, enquanto eu o encarava de volta. — Mas a única que coube o sapatinho de cristal foi a Cinderela.
Ele parou.
Por um segundo, apenas me observou.
E então, o sorriso desapareceu.
A diversão nos olhos dele deu lugar a algo mais intenso. Algo que fez meu coração acelerar de um jeito incontrolável.
Os músculos dele tensionaram, os lábios entreabrindo levemente, como se absorvesse cada palavra minha.
Eu mal conseguia respirar.
E eu soube, naquele instante, que a provocação dele tinha voltado contra ele mesmo.
Mas ele não me beijou.
Não dessa vez.
Noah pigarreou e afastou o rosto, o maxilar travado, os olhos castanhos presos na piscina. O silêncio entre nós não era confortável agora. Ele soltou um suspiro longo, os ombros tensos, como se estivesse prestes a revelar um peso impossível de suportar. Meu estômago se revirou.
A luz prateada da lua refletia na água, e o vento cortava o ar com um sussurro frio. Meus pés submersos sentiam o choque gélido da piscina, mas todo o meu foco estava nele. Noah não piscava, o olhar fixo na superfície ondulante, os punhos cerrados sobre as coxas. Como se estivesse segurando algo prestes a explodir dentro dele.
— Preciso te contar algo. — A voz dele saiu grave, firme, mas havia uma hesitação que eu nunca tinha visto antes. Algo que me fez prender a respiração.
Eu me virei completamente para ele, apoiando as mãos no chão frio. Ele continuava encarando a piscina, como se procurasse dentro dela a coragem para seguir em frente.
— Já ouvi muitas histórias sobre mim, Hadassa. Algumas são invenções ridículas, outras chegam perto da verdade. Mas essa… essa ninguém sabe.
O tom dele era diferente. Mais profundo.
— Estou ouvindo — murmurei, e minha própria voz parecia frágil diante da tensão que se acumulava entre nós. Um nó apertava meu estômago com força.
Ele respirou fundo, passando a língua pelos lábios, como se sentisse o gosto amargo das palavras antes mesmo de dizê-las.
— Fui preso no Canadá. — As palavras caíram entre nós como uma bomba. Secas. Diretas. Explosivas.
A revelação me atingiu como um golpe no peito. Meu coração disparou, minha garganta secou. Eu pisquei, tentando assimilar. Ele não podia estar falando sério. Noah? Preso? Esse Noah?
— O quê?! — Minha voz saiu mais como um sussurro atordoado. Meus olhos se arregalaram, buscando qualquer traço de brincadeira no rosto dele, mas só encontrei uma seriedade gélida.
— Preso, Hadassa. E não foi por pouca coisa. Acusação de posse e tráfico de drogas. — Ele disse aquilo sem rodeios, sem me poupar do impacto. A expressão dele era uma mistura de raiva e algo mais… dor. Uma dor profunda e amarga.
Senti meu corpo gelar. Minhas mãos ficaram úmidas contra o chão. Minha mente gritava que aquilo não fazia sentido. Noah era um homem cristão, íntegro, um artista amado no mundo gospel. Como aquilo podia ser verdade?
Ele viu minha confusão e continuou, a voz ficando mais áspera, carregada de ressentimento.
— Foi uma armação, Hadassa. Ryan, ou melhor, Blake Zion, aquele infeliz, colocou as drogas no meu carro. Tudo planejado nos mínimos detalhes. Eu não fazia ideia. Estávamos saindo de um ensaio, tarde da noite. Eu e ele. Nos despedimos e eu entrei no meu carro, normal. Nem desconfiei. Mas, minutos depois, vi as sirenes da polícia atrás de mim. — Ele riu seco, sem humor, balançando a cabeça. — Ele já tinha feito a denúncia. Quando me pararam, já sabiam exatamente onde procurar. Abriram o porta-malas e… pronto. Estava ferrado.
Os punhos de Noah estavam tão cerrados que os nós dos dedos ficaram brancos. Sua mandíbula estava travada, como se estivesse lutando intensamente contra seus sentimentos.
— Havia tantas provas… tantas… parecia impossível escapar daquilo. — Ele respirou fundo, fechou os olhos por um instante, e então voltou a me encarar. — E eu não escapei.
Noah respirou fundo, passando as mãos pelo rosto como se quisesse apagar a raiva que pulsava dentro dele.
— Ele armou para mim porque queria me destruir. Acabar com a minha imagem, com tudo que eu construí. Esse cara cresceu na vida, mas o momento que realmente alavancou a carreira dele foi depois do nosso primeiro show juntos. Éramos amigos de infância, vizinhos no Canadá. Eu confiava nele, Hadassa. Mas quando percebeu que eu estava alcançando mais sucesso no mundo gospel internacional, ele se voltou contra mim.
A tensão entre nós era evidente. Seus olhos, distantes, pareciam perdidos em lembranças que o consumiam.
— Passei semanas na prisão enquanto meu advogado tentava entender o que tinha acontecido. Aquele lugar... — ele hesitou, a sombra da memória refletida em seu olhar — ...não era nada do que eu imaginava. Era um verdadeiro inferno. As paredes pareciam se fechar a cada dia, o tempo se arrastava como um peso morto, e tudo o que eu tinha era a certeza de que o mundo lá fora já me condenava sem saber a verdade.
Eu sentia a dor em cada palavra, mas ele não queria minha compaixão. Não naquele momento. Ele só precisava soltar aquilo.
— Meu advogado conseguiu negociar um acordo antes do julgamento. Ele usou todos os argumentos possíveis, alegando que as provas podiam ter sido forjadas, mas a polícia tinha vídeos, documentos, registros que “comprovavam” que as drogas eram minhas. Mesmo sendo mentira, era o suficiente para me enterrar de vez.
Engoli em seco.
— E o que aconteceu?
Noah riu, um som seco, sem humor.
— Para evitar um julgamento público, aceitei o acordo. Renunciei à minha cidadania canadense, paguei uma multa absurda e assinei um documento me comprometendo a nunca mais pisar no Canadá. Tudo para salvar minha carreira.
Ele balançou a cabeça, deixando escapar um suspiro cheio de ironia.
— Salvar minha carreira... Como se isso significasse alguma coisa quando você perde quem é.
Eu continuava ali, absorvendo cada palavra. Incrédula, sim, mas sem desviar o olhar. Como se tentasse juntar os pedaços de uma verdade que pesava entre nós.
— E ninguém ficou sabendo? — perguntei, ainda tentando processar tudo. Como ele manteve isso em segredo?
Noah riu, mas não havia humor ali, só amargura.
— Minha equipe cobriu tudo. Manipularam manchetes, pagaram para calar bocas, espalharam a história de que eu estava em um “retiro espiritual”. Enquanto isso, eu estava trancado, lidando com advogados, com juízes que me olhavam como se eu fosse um qualquer. E quando saí... — Ele soltou um riso seco, balançando a cabeça. — Não era mais o mesmo homem. Eu não podia voltar pra casa, Hadassa. O Canadá não era só onde eu morava, era o meu lar em todos os sentidos. E me arrancaram isso. Foi como se eu tivesse perdido uma parte de mim.
Ele passou as mãos pelo rosto, depois pelos cabelos, respirando pesado. Os olhos brilhavam de algo bruto, uma mistura de raiva e dor contida por tempo demais.
— Vim para o Brasil porque meus pais estavam aqui. Porque era o único lugar onde eu podia tentar começar de novo. Mas o passado não desaparece só porque você muda de país. Eu ainda acordo no meio da noite sentindo aquela cela ao meu redor. Ainda sinto a traição de Ryan como uma faca cravada no peito.
Sua respiração ficou mais pesada. Ele encarou um ponto fixo na piscina, como se estivesse vendo tudo de novo.
— Ryan me destruiu — sua voz veio mais baixa. — Eu confiava nele. Chamava de irmão. Dei minha confiança de bandeja e ele... Ele me apunhalou pelas costas. Me jogou naquele inferno e foi viver a droga da vida dele como se nada tivesse acontecido.
Meu coração apertou. Eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas sentia que nenhuma palavra seria suficiente. Ainda assim, me aproximei, estendendo a mão até a dele.
— Noah... Você não está sozinho. — Acariciei sua mão com os dedos, tentando passar alguma segurança. — Não foi culpa sua. Deus sabe disso.
Ele fechou os olhos por um momento, os músculos do maxilar tensionando.
— Eu sei. — A voz dele falhou por um segundo, mas logo endureceu de novo. — Mas isso não impede as insônias, a raiva, o medo. Não impede que eu acorde todas as noites querendo socar uma parede ou gritar até perder a voz de vez.
Ele abriu os olhos e me encarou. Dessa vez, não havia só dor ali. Havia algo mais profundo, mais intenso.
— Me desculpa por ter citado o nome dele, eu... Jamais imaginei isso — falei, minha voz saindo quase num sussurro.
Noah soltou um suspiro pesado, desviando o olhar por um momento, como se buscasse forças para continuar. Mas quando voltou a me encarar, seus olhos carregavam algo mais sério.
— Mas desonrei a Deus depois disso. — Sua voz saiu rouca, transparecendo culpa. — Quando vim para o Brasil, eu não só carregava a raiva e as insônias... Eu as afogava. No álcool.
Senti um nó no estômago se formar com aquelas palavras.
— Eu bebia quase todos os dias, Hadassa. E não parava por aí. — Ele passou a mão pelo rosto, como se quisesse arrancar aquelas memórias da mente. — Me envolvi com Ângela Mackenzie apenas para tentar fugir. Para não encarar o que eu me tornei. Para anestesiar a dor. Para fugir dos pesadelos durante a noite. Ângela foi só um pretexto. Nunca a amei, e sei que ela nunca me amou. Nunca amei ninguém antes. Nunca me apaixonei de verdade.
Ele fez uma pausa, como se estivesse reunindo coragem para terminar.
Citar o nome de Ângela, de alguma forma, me incomodou. E lembrar que Noah era tão... envolvido com ela me fez recuar por alguns segundos.
Mas isso não podia ser mudado.
— Mas eu sabia que estava sujando o meu corpo. Me afastando de Deus. E então, no meu último show nos Estados Unidos, eu tomei uma decisão. A última garrafa. A última vez que me deixaria ser consumido por tudo isso.
Aquela confissão caiu sobre mim como uma pedra. Eu sentia o peso de suas palavras, a dor por trás delas, o desespero de alguém que se perdeu e, de alguma forma, encontrou forças para tentar se erguer.
— Pequei muito, Hadassa — sua voz quebrou no final, mas ele logo retomou o controle. — Eu tento me consertar, tento me perdoar, mas ainda sinto a mão de Deus sobre mim. Sinto que ainda falta algo, mas não consigo enxergar o quê.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo cada pedaço daquela história. Era fácil apontar erros quando se vê de fora, mas eu não queria estar do lado de fora. Eu via o homem diante de mim, quebrado, mas tentando se reerguer. E isso era o que importava.
— Se quiser se afastar... — Ele soltou um riso seco, sem qualquer humor. — Eu não vou te culpar. Sei que te decepcionei. Você tinha uma imagem minha e agora sabe da verdade.
Levantei o olhar para ele, firme, sem hesitação.
— Noah, por trás do artista mundialmente conhecido, há um homem. Um homem falho, como qualquer outro. Um homem que pecou, mas que se arrependeu. E Deus já te perdoou.
Ele piscou algumas vezes, como se tentasse absorver minhas palavras.
— Eu não estou aqui só para te ajudar. Quero estar ao seu lado, independente de qualquer coisa. E estou feliz por você ter confiado em mim o suficiente para me contar tudo isso.
Por um breve instante, algo nos olhos dele suavizou. Um sorriso rápido e pequeno surgiu em seus lábios.
— Obrigada por confiar em uma fã — brinquei, quebrando um pouco a tensão.
Dessa vez, ele riu. Um riso genuíno.
E naquele momento, percebi que, de alguma forma, ele havia encontrado um pouco de alívio.
O brilho nos olhos dele havia voltado. A sombra da dor ainda estava lá, mas agora misturada com algo além. Algo que fazia meu coração disparar.
Noah ergueu a mão lentamente, os dedos deslizando minha pele até alcançar meu queixo. O toque foi leve, mas fez meu corpo inteiro se arrepiar. Ele delineou meu rosto com os dedos, seu olhar prendendo o meu, intenso, profundo. Um sorriso suave surgiu nos lábios dele, e a forma como me olhava... Deus, qualquer mulher desmoronaria diante disso.
— Tem outra coisa que preciso confessar em meio a tudo isso. — A voz dele saiu baixa, rouca, e borboletas correram em meus estômago.
Engoli em seco, meu corpo ficando ainda mais tenso.
— O quê? — Minha voz saiu quase um sussurro, e sem querer, meus olhos traíram meus pensamentos e desceram até seus lábios perfeitamente desenhados.
Noah sorriu de canto. Então, inclinou-se levemente para perto, seu rosto a centímetros do meu, sua respiração quente acariciando minha pele.
— Eu fazia tudo aquilo para esquecer, me afundava em tudo que me fizesse sentir qualquer coisa além do vazio. Mas desde que te conheci, percebi que ainda há esperança para mim. Como se Deus estivesse me lembrando, através de você, que eu não sou apenas o meu passado.
Minha respiração travou. Meu corpo inteiro ficou tenso, alerta, cada fibra do meu ser em êxtase e, ao mesmo tempo, fosse incapaz de recuar.
Ele segurou meu olhar, intenso, decidido.
— Você me faz querer, definitivamente, apagar o passado e seguir em frente. E isso nunca aconteceu, porque… eu nunca estive apaixonado antes.
A tensão no ar se tornou estonteante. Minha garganta secou, meu corpo recusando-se a se mover, como se estivesse presa ali, diante dele, sem escapatória.
APAIXONADO?
POR MIM?
Então ele avançou. Devagar. Seguro. Cada proximidade sua parecia encurtar não apenas a distância, mas também qualquer resistência que eu ainda tentasse manter.
— Você é a mulher mais linda que já vi, Cinderela. — Sua voz saiu mais baixa, rouca, quase um desafio. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos cravados em mim, perigosamente próximos. — E eu estou louco por você. Completamente.
O chão desapareceu sob meus pés.
Quando ele se aproximou ainda mais e meus instintos quase me traíram, a realidade caiu sobre mim como um choque frio. Eu recuei.
— Noah... Eu... preciso de um tempo para digerir tudo isso — soltei, minha voz mais trêmula do que eu gostaria.
Ele soltou um suspiro pesado, mas não disse nada.
— Eu sei que você enfrentou uma acusação injusta, mas... — respirei fundo, tentando organizar os pensamentos. — é muita coisa para processar de uma vez. Eu só... preciso pensar.
Por mais que entendesse a dor de Noah, era impossível absorver tudo aquilo em segundos. Não era a injustiça que me abalava — José também foi preso sem merecer — mas o caminho que Noah escolheu depois disso. Ele se deixou levar, entregou-se à bebida e ao pecado. Eu sabia que era fruto da sua revolta, mas, mesmo assim, não conseguia ignorar o peso daquela escolha.
Ele me observou por um instante e então assentiu, um sorriso sutil surgindo em seus lábios.
— Eu entendo. Te dou o tempo que precisar.
Noah foi o primeiro a se afastar, soltando um suspiro antes de se levantar. Ele estendeu a mão para mim, e quando a segurei, senti a firmeza e o calor de seus dedos envolvendo os meus. Levantei-me devagar, e foi então que notei algo em seu pulso.
Uma pulseira. Prata.
Havia um nome gravado nela.
Lara Tremblay.
Um sorriso suave surgiu em meus lábios, espantando brevemente os meus pensamentos.
— Presente da sua irmã? — perguntei, pegando meu short e vestindo-o.
Noah olhou para a pulseira e sorriu, um brilho diferente no olhar.
— Ela me deu quando voltei para o Brasil. Disse que era para eu nunca me esquecer dela.
Meu coração aqueceu com aquela confissão.
— Quando ela volta aqui?
Ele deu de ombros, ainda brincando com a pulseira.
— Provavelmente quando voltar do Canadá.
Fizemos nosso caminho para dentro de casa, a atmosfera entre nós mais leve, mas ainda havia algo que não podia ser ignorado. Quando chegamos na sala, prestes a seguir cada um para seu quarto, parei diante dele.
Havia algo que eu precisava dizer.
— Quero que saiba que sempre vou estar ao seu lado — falei, minha voz firme, minha promessa selada no olhar que prendi ao dele. — Só preciso de um tempo para digerir tudo isso.
Noah sorriu, aquele sorriso que tinha o poder de desarmar qualquer um. Com delicadeza, ele ergueu a mão e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, seus dedos tocando minha pele em um toque leve, mas que fez meu coração martelar.
— E eu sempre estarei aqui pra você, Cinderela — murmurou, antes de se inclinar e pressionar um beijo suave contra minha testa.
Meus olhos se fecharam por um breve segundo, absorvendo aquele gesto.
— Boa noite — ele disse, sua voz baixa, rouca.
— Boa noite, Noah — respondi, finalmente me afastando e descendo as escadas.
Mas enquanto descia os degraus, senti seu olhar ainda queimando sobre mim.
Ao chegar no quarto, fechei a porta atrás de mim e encostei as costas nela, soltando um suspiro profundo.
E então, um pensamento surgiu, insistente, me assombrando no silêncio da noite:
Será que realmente estou pronta para lidar com o passado do Noah?
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