Capítulo 23 | Contra Todas as Cláusulas
Hadassa Luz
A noite já tinha caído, mas meu coração ainda pulsava frenético, descompassado, como se estivesse tentando escapar do peito. Depois de tudo o que aconteceu na cozinha, eu simplesmente não sabia mais como respirar. O calor ainda queimava minha pele, e cada olhar de Noah era um incêndio, profundo, viciante.
Ele estava me provocando. Não com palavras, mas com aqueles olhos intensos e a forma despretensiosa – ou nem tanto – que me observava.
Noah Tremblay...
Eu repetia esse nome mentalmente, como se tentar compreendê-lo fosse me ajudar a entender o que estava acontecendo comigo. Mas não ajudava. Nem um pouco.
Ainda estava na casa de praia, sentada no sofá, fingindo assistir à TV. Mas a verdade? Eu não conseguia focar em nada. Noah estava ali, dedilhando o violão com uma facilidade irritante, como se cada nota estivesse sendo tocada diretamente na minha pele. Dylan organizava algo no MacBook, alheio ao caos interno que eu tentava controlar.
Respirei fundo. Minhas mãos tremiam. Meus pensamentos eram uma bagunça.
Noah Tremblay...
Ele tinha mesmo dito aquelas palavras para mim na cozinha?
Meu Deus. Sim, ele tinha.
E agora? Agora eu estava roendo as unhas, um hábito que até cinco minutos atrás eu não tinha.
Lisa parecia concentrada no filme, mas minha mente estava a quilômetros dali, afogada no cheiro de Noah, na lembrança da sua voz, na intensidade do seu olhar. Tudo nele era uma distração, um perigo. E eu estava perdida.
O som das risadas masculinas ecoou pela casa, cada passo deles se aproximando fazia meu corpo estremecer. Eu sabia quem estava ali. Sabia que, se olhasse para trás, encontraria aqueles olhos cravados em mim. Mas não tive coragem.
Definitivamente, eu estava desnorteada.
— Vamos pra casa? — Dylan perguntou ao se aproximar do sofá, Noah logo atrás, sua presença dominando o ambiente.
Respirei fundo antes de encará-los, e como já previa, o olhar de Noah estava fixo em mim.
Meu coração falhou uma batida.
— Vamos — Lisa respondeu, levantando-se. — O filme tava bom…
— Podemos assistir em outro momento — Dylan rebateu, o olhar transparecendo algo mais profundo quando encontrou o dela.
Lisa hesitou por um segundo antes de se aproximar.
— Você me deixa em casa?
Dylan sorriu de lado, aquele sorriso sincero.
— Claro, né? Se eu te trouxe…
Ela saiu para pegar a bolsa, e o jeito que Dylan a observava deixava claro que havia algo a mais entre eles.
Noah pigarreou ao meu lado, e meu estômago contraiu só com o som.
— Vamos? — Sua voz soou baixa, rouca. Eu assenti, sem ousar encará-lo, e me levantei sentindo as pernas fracas.
Eles fecharam a casa e apagaram as luzes. Seguimos para o carro. Dylan e Lisa foram no deles, e eu me vi sozinha com Noah.
O silêncio reinava enquanto ele dirigia, mas não era um silêncio qualquer. Noah ligou o som, e minha respiração travou ao reconhecer a melodia.
Minha música preferida dele.
Olhei pela janela, tentando me perder na paisagem, mas minha mente estava longe dali. Ouvia a voz de Noah cantando, lembrando de todas as vezes que escutei aquela música em São Paulo, imaginando como seria estar em um show dele. E agora… agora ele estava ali, ao meu lado, dirigindo calmamente pelas ruas de Balneário.
Minha visão desviou para ele. O braço apoiado na janela da Lamborghini, a mão alisando o queixo de um jeito distraído, mas absurdamente charmoso. A luz dos postes desenhava sombras no rosto dele, acentuando cada detalhe, cada traço que parecia ter sido esculpido para me desestabilizar.
Foi então que ele virou o rosto.
Nossos olhares se cruzaram.
O tempo parou.
Meu coração saltou para a garganta, e num impulso desesperado, desviei o olhar, voltando a fingir que a paisagem era mais interessante do que ele. Mas eu sabia – ele tinha percebido.
Quando estacionamos no prédio, desci do carro com o coração ainda acelerado. Algo estava diferente. Algo estava ali, pulsando entre nós como eletricidade prestes a explodir.
Seguimos para esperar o elevador. Noah enfiou as mãos nos bolsos da bermuda, esperando em silêncio. O cheiro dele ainda pairava no ar, invadindo meus sentidos, me fazendo suspirar sem controle.
A porta do elevador se abriu, e entramos. O espaço era amplo, e o grande espelho que ia do chão ao teto refletia cada detalhe da tensão que pairava entre nós.
Encostei-me no espelho, de braços cruzados, tentando ignorar a presença esmagadora de Noah. Ele, por sua vez, recostou-se na parede oposta, os braços cruzados sobre o peito, os olhos fixos em mim.
Eu sabia que ele queria dizer algo. E, quando criei coragem para encará-lo, ele sorriu de canto.
Meu corpo inteiro já se preparava para o que estava por vir.
E eu estava certa.
— Hadassa… — Sua voz grave cortou o silêncio do elevador, preenchendo o espaço como um chamado impossível de ignorar.
Respirei fundo e arqueei a sobrancelha.
— O que quer, Noah?
O sorriso dele se alargou, e antes que eu pudesse reagir, ele estendeu a mão e apertou um botão.
O elevador parou.
Junto com ele, meu coração. Meu mundo. Meu ar.
Minha respiração engasgou na garganta quando ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. O sorriso ainda estava ali, mas seus olhos… havia algo mais neles. Algo intenso.
Ele travou o maxilar.
— Vai jantar com Lorenzo?
A pergunta veio sem rodeios, de uma maneira que me pegou desprevenida.
Pisquei, franzindo o cenho.
— Por quê? Sabe que não devo informar nada sobre minha vida pessoal.
— Hadassa… — Noah soltou um suspiro lento, me analisando como se estivesse pesando cada palavra. — Lorenzo é meu primo. Eu o conheço melhor do que ninguém. Ele não consegue ficar com uma mulher só. A praia dele é se divertir.
Cruzei os braços com mais força, tentando esconder o frio na barriga que aquela proximidade causava.
— E por que isso te importa tanto? — desafiei, minha voz saindo mais baixa do que eu queria. — O fato de eu jantar com Lorenzo te faz pensar que quero algo a mais com ele?
Os olhos de Noah brilharam de um jeito que fez meu estômago revirar. Ele desviou o olhar, mordendo o lábio inferior – um pequeno movimento que capturou toda a minha atenção.
Quando me encarou novamente, havia algo mais intenso em sua expressão.
— Ele não crê em Deus, Hadassa. Ele é o completo oposto de você.
Revirei os olhos.
— Sei disso, Noah. Ele já me deixou isso bem claro. Mas, como eu disse, um jantar não significa nada.
Ele avançou um passo.
E minhas pernas fraquejaram.
— Tá, se não existisse contrato, ficaria comigo? — a pergunta dele veio direta, clara como a luz do dia, e eu travei. As palavras se embaralharam na minha garganta, e eu não soube o que dizer.
CLARO QUE SIM! O grito ecoou dentro de mim, mas não consegui transformá-lo em som.
— Noah... Eu... — desviei o olhar, procurando algo, qualquer coisa, que me ajudasse a encontrar as palavras certas. Mas não havia nada. Só ele. Sempre ele.
— Sei que somos cristãos e precisamos fazer as coisas certas — ele se aproximou mais um pouco, e eu senti o calor do seu corpo invadindo o meu espaço. — Mas você está me deixando louco, Hadassa. Eu confesso que me arrependo desse contrato que fiz, mal sabia eu que ficaria perdidamente atraído por você. — Sua voz era um murmúrio rouco, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Ele se inclinou mais perto, e minha boca se abriu levemente, surpresa, sem respostas. — Mas... Seja honesta, esse contrato vale alguma coisa pra você?
Ele se aproximou definitivamente. Seus braços cercaram meu corpo, apoiados no espelho atrás de mim, e eu me vi encurralada, não por ele, mas por aquela intensidade que parecia nos consumir. Seu olhar castanho-claro mergulhou no meu, profundo, implacável, e seus lábios... Seus lábios estavam tão perto que eu podia quase sentir o toque deles nos meus.
Pisquei algumas vezes, minhas bochechas queimando, meu coração batendo tão forte que eu temi que ele pudesse ouvir. Meu estômago se contorcia, uma mistura de nervosismo e algo novo que eu nunca tinha sentido antes.
— Responde, Hadassa... — ele insistiu, sua voz suave, mas firme, seus olhos fixos nos meus, como se pudessem ver tudo o que eu tentava esconder.
— Não acho que vale alguma coisa, apenas um muro que você ergueu contra nós — eu disse, e ele sorriu. Aquele sorriso... Meu Deus, aquele sorriso foi como uma chama que derreteu todas as minhas defesas, todas as minhas certezas.
— Cinderela... — ele murmurou, e seus olhos desceram até meus lábios, como se estivessem traçando um caminho que ele já sabia onde terminaria. — Preciso saber uma coisa de você.
Arqueei as sobrancelhas, tensa, sentindo o nó na garganta apertar ainda mais.
— O quê?
— Fala a verdade, Luz, você é minha fã ou sempre fui apenas um desconhecido pra você?
Engoli em seco. Não havia como fugir. Não deveria mentir. Já deu. Era hora de confessar.
— Noah... É melhor se afastar — tentei desviar, mas ele não se moveu. Seus olhos permaneceram cravados nos meus, como se pudessem ver além das minhas palavras.
— Me fale a verdade e eu me afasto — ele disse, e eu desviei o olhar, sentindo o peso daquela decisão.
— Por favor, Noah...
— Uma coisa ou outra, Hadassa. Você é minha fã ou não? Diga e eu me afasto — ele insistiu, e eu respirei fundo, tentando me preparar para o que viria a seguir.
— Por que isso é importante pra você?
— Preciso saber se já me conhecia antes de tudo isso — ele revelou, e eu prendi a respiração, ponderando cada palavra.
— O que você acha que sou?
— Olhando em seus olhos, eu tenho a certeza absoluta que você é minha fã — seu olhar estava mais intenso do que nunca, seu sorriso mais atraente, e eu soltei um riso abafado, totalmente à mercê daquele momento.
— Se eu falar, você se afasta?
— Sim, me afasto — ele prometeu, e eu senti um misto de alívio e medo.
Suspirei, olhei em seus olhos, e juntei todas as forças dentro de mim. Eu não queria mais esconder.
— Sim, Noah, sempre fui sua fã, sempre admirei você, sempre sonhei em conhecer você ou em ir a um show seu, sempre quis estar tão... Perto de você — revelei, e antes que eu pudesse pensar, antes que eu pudesse respirar, ele agiu. Seus lábios colaram nos meus, e o mundo parou. Tudo ao redor desapareceu, e só restou ele.
O beijo me pegou de surpresa, mas antes que eu pudesse sequer pensar em recuar, já estava perdida nele. O calor dele tomou conta de mim, me queimando de dentro para fora. Seus lábios se moveram sobre os meus com uma mistura de firmeza e urgência, mas também com uma suavidade que me deixou sem fôlego. Era como se ele soubesse exatamente como me desestabilizar, como me levar para um lugar onde nada mais importava.
Meu coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo nos meus próprios ouvidos, um ritmo acelerado que ecoava em cada fibra do meu ser. Minhas mãos, antes tensas ao lado do corpo, subiram devagar, como se tivessem vontade própria, deslizando por seus ombros até se agarrarem na gola da sua camisa. Eu sabia que aquilo era errado. O contrato. As regras. Mas naquele momento, nada disso existia. Só existíamos nós dois.
A mão dele deslizou para a minha nuca, seus dedos se enredando nos meus cabelos, enquanto seu outro braço ainda bloqueava qualquer tentativa de fuga. Como se eu quisesse fugir… Meu corpo cedeu ao dele, rendido, entregue àquela sensação que parecia ter sido esperada por uma eternidade.
O gosto do beijo dele era exatamente como eu imaginava — viciante. O cheiro, a proximidade, o toque… Tudo em Noah me envolvia, me fazia perder qualquer senso de razão. Ele aprofundou o beijo, e um arrepio percorreu minha espinha. Sentia que aquele momento era a quebra de todas as barreiras que ele mesmo havia criado. Era como se, finalmente, ele tivesse derrubado o muro que nos separava.
Quando ele finalmente se afastou, apenas o suficiente para nossos lábios se desenlaçarem, sua respiração estava descompassada, assim como a minha. Meus olhos encontraram os dele, tão intensos e indecifráveis. Era como se ele estivesse me vendo de uma maneira completamente nova, como se eu fosse a única coisa que importava naquele momento.
Noah encostou a testa na minha, seu sorriso me desarmando por completo. Aquele sorriso que eu já conhecia tão bem, mas que agora parecia carregar um significado completamente diferente.
— Definitivamente, esse contrato já não tem mais valor… — ele sussurrou, a ponta do nariz roçando na minha pele, e eu senti um arrepio percorrer meu corpo.
Eu fechei os olhos, tentando acalmar meu coração. Mas já era tarde demais. Porque eu sabia, naquele instante, que não existia mais volta. Aquele beijo tinha mudado tudo. E, no fundo, eu sabia que não queria voltar atrás.
— Noah... — murmurei, juntando minhas forças, enquanto o peso da realidade começava a se instalar entre nós. Meu coração ainda acelerado, minhas mãos tremendo levemente. — E agora? O que será de nós? O que será do meu emprego?
Ele se afastou um passo, como se precisasse de espaço para respirar, para pensar. Sua mão correu pelo cabelo, desalinhado, e sua respiração ainda estava ofegante, como se o beijo tivesse roubado o ar de seus pulmões. Quando seus olhos se encontraram com os meus novamente, senti as borboletas irritantes no estômago. A intensidade daquele olhar era quase insuportável.
— Não se preocupe — ele disse, a voz firme, mas com uma suavidade que só eu conseguia perceber. — Não precisamos contar pra ninguém da minha equipe sobre isso, tá? E você não vai perder seu emprego. Eu que tomei a atitude, não foi culpa sua.
Suspirei, presa em seu olhar, tentando encontrar alguma racionalidade no meio daquela confusão de sentimentos. Mas era difícil. Tão difícil. Meu corpo ainda tremia com a lembrança do toque dele, do calor dos seus lábios sobre os meus.
— Como vamos conseguir lidar com isso sem afetar nossa relação profissional? — perguntei, minha voz quase um sussurro. Ele pôs as mãos na cintura, me encarando com aquela intensidade que me fazia sentir como se todos os meus sentimentos estivessem expostos.
Um sorriso pequeno surgiu em seus lábios.
— Isso não pode mais acontecer, Noah — continuei, tentando convencer mais a mim mesma do que a ele. — É errado... Temos um contrato, e sua equipe confia em mim. Se eles descobrirem, principalmente Ricardo e Estela...
— Hadassa — ele me interrompeu, a voz suave, mas firme. — Vamos fazer de tudo para que eles não descubram, tá? É só...
— Nos afastarmos, Noah — completei, minhas palavras ecoando no espaço entre nós. Ele desviou o olhar, como se a ideia fosse dolorosa demais para encarar. — Isso não pode acontecer de novo — disse, mas cada palavra parecia uma facada no meu próprio peito.
Porque não era isso que meu coração gritava. Meu coração queria mais. Muito mais. E através daquele beijo... Tive a completa certeza de que todos estavam certos. O que eu sentia por Noah não era apenas admiração como fã. Eu tinha a grande chance de me apaixonar por ele. E hoje... Vejo que todos tinham razão.
Mas também sabia como era a vida de uma pessoa famosa. Se envolve, se encanta, passa um tempo e cada um segue seu caminho. Era raro encontrar um relacionamento de um famoso que durasse tanto. E eu não queria ser apenas uma distração para Noah. Não queria ser mais uma na lista.
— Depois disso, ainda quer se afastar? — ele perguntou, a voz continha uma emoção que me fez hesitar. Ponderei por um momento, sentindo o nó na garganta apertar. Tive coragem de assentir, mesmo que cada fibra do meu ser gritasse para dizer o contrário.
— Sim, é melhor para conseguirmos focar apenas no trabalho, tá bom? — minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas o vazio que se instalou no meu peito foi imediato.
Ele ponderou, seus olhos ainda fixos em mim, como se tentasse decifrar algo que eu mesma não entendia. Então, deu um passo atrás, desbloqueando o elevador. O silêncio dominou o ambiente, pesado, opressivo. E quando as portas do elevador se abriram, senti como se uma parte de mim estivesse sendo deixada para trás.
Ao entrarmos na cobertura, o clima entre nós ainda estava totalmente tenso. Noah foi direto para a cozinha, como se precisasse de algo para ocupar as mãos, e eu o segui, sentando-me no banco do balcão.
Meu coração ainda batia acelerado, e eu mal conseguia acreditar no que havia acontecido há alguns minutos. O beijo ainda ecoava em meus lábios, o cheiro do seu perfume ainda envolvia meus sentidos, e eu me sentia presa em um turbilhão de emoções.
— Quer café? — perguntou ele, focado na cafeteira. Ele preparava a bebida com habilidade, enquanto alguns fios de cabelo caíam sobre sua testa, dando-lhe um ar descontraído.
— Aceito — respondi, observando-o mexer na máquina. Meus olhos seguiam cada movimento, tentando decifrar o que se passava em sua mente. Ele parecia calmo, mas eu sabia que, por trás daquela fachada, havia uma tempestade de sentimentos tão confusos quanto os meus.
Pelo menos, era isso que eu esperava.
Ele colocou o café na xícara e me entregou, e deu a volta do balcão, parando à minha frente. Seus olhos brilhavam, e o rosto carregava um semblante feliz, quase despreocupado.
— Por um lado... Estou satisfeito — começou, sorvendo um gole de café. A voz dele era suave, mas havia uma ponta de orgulho que não passou despercebida.
— Como? — indaguei, curiosa. Ele apoiou o braço sobre o balcão, me encarando com um olhar que parecia querer mergulhar na minha alma.
— Você confessou ser minha fã, e eu venci essa — ele ergueu a xícara, como se estivesse fazendo um brinde, e eu não pude evitar um sorriso, balançando a cabeça. — Desde quando?
— Desde que começou a fazer sucesso, sempre lhe acompanhei — respondi, dessa vez olhando diretamente em seus olhos. Era estranho admitir isso, mas ao mesmo tempo libertador. Ele era Noah Tremblay, o homem que eu admirava há anos, e agora estava ali, diante de mim, totalmente real.
— Mas... já passou pela sua cabeça que, um dia, estaria aqui, na cobertura de Noah Tremblay, depois de tê-lo beijado? — indagou, com um sorriso divertido, quase provocador. Revirei os olhos, rindo também, mas sentindo um calor subir às minhas bochechas.
— Você é muito convencido, sabia? — brinquei, e ele riu, bebendo mais um gole de café. — Mas não, nunca imaginei que seria sua assistente um dia, Noah.
Ele deixou a xícara sobre a mesa e deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. Seus olhos estavam sérios agora, e eu senti um frio na barriga.
— Vai ser mais difícil do que imaginei — ele disse, e eu franzi a testa, confusa.
— O quê?
— Esquecer isso e voltar a agir profissionalmente. Não poder mais te beijar, será um castigo pra mim, Cinderela — disse, e borboletas voavam em meu estômago. A maneira como ele me chamava de “Cinderela” fazia meu coração acelerar. — Mas é o que devemos fazer.
— Sim, tudo deve ser profissional — afirmei, mas era a mim mesma que eu deveria convencer. Ele assentiu, mas seus olhos ainda estavam cravados nos meus, como se quisesse memorizar cada detalhe do meu rosto.
— Letra por letra.
Havia algo na maneira como ele falava, como ele me olhava, que me fazia questionar se eu realmente conseguiria manter a distância que havíamos prometido.
— E sabe de uma coisa? — indaguei, meu sorriso provocador. — Você tá conversando demais pra quem precisa controlar a voz — sorri, e ele soltou uma gargalhada gostosa, mas tossiu em seguida, fazendo eu franzir a testa, preocupada.
— Acho que você tem razão. Preciso evitar falar muito pra evitar o Lorenzo no pé do meu ouvido — zombou, bebendo mais um gole do café. A menção ao Lorenzo, trouxe de volta a realidade que estávamos tentando ignorar.
— Acho que vou para o meu quarto... — proferi, sentindo que precisava de um momento sozinha para processar tudo o que havia acontecido.
Ele coçou a nuca e suspirou, me lançando um olhar quase suplicante, mas manteve o silêncio. Era como se ele quisesse dizer algo, mas sabia que não deveria.
— Boa noite, Noah — falei, descendo do banco.
— Tenha uma boa noite, Cinderela — ele disse, e eu me retirei, em passos lentos até o meu quarto. Cada passo parecia mais pesado do que o anterior, como se eu estivesse deixando algo importante para trás. Mas sabia que era o certo a fazer.
Pelo menos por enquanto.
⏳
Eu ainda sentia tudo o que havia acontecido entre nós. Aquele beijo... Parecia que meu cérebro tinha se resetado e só funcionava para relembrar aqueles segundos. Fechei a porta do quarto e me joguei na cama, deixando-me levar por uma enxurrada de pensamentos.
Noah.
O elevador.
O beijo.
Era como se minha mente tivesse espaço apenas para isso. Mas, claro, a vida real sempre encontra um jeito de nos puxar de volta. E, no caso, foi a chamada de vídeo que ecoou no meu celular.
Evy.
Respirei fundo, imaginando como ia contar aquilo para ela sem que minha melhor amiga entrasse em colapso total.
E, bem, não deu muito certo. Tive que abaixar o volume do celular depois do grito que ela soltou.
— VO-CÊ BEI-JOU O NO-AH TREM-BLAY?! — Ela falou assim, sílaba por sílaba, como se estivesse processando cada palavra. — Tipo, o Noah. Aquele Noah... o Noah que você tinha de papel de parede no celular. O Noah que a gente ouvia no fone indo pro trabalho, o Noah...
— Sim, Evy — interrompi, rindo. — Ele mesmo. Noah Tremblay, o cantor.
— Meu Deus, Hadassa, eu vou desmaiar! — Ela dramatizou, e eu não pude evitar de rir. — Eu preciso ir aí agora mesmo! Isso é coisa de filme, amiga! Sério, eu tô passando mal!
Eu ri, me contorcendo na cama.
— Quem dera eu pudesse te trazer pra cá — fiz beicinho, brincando.
— Ah, Dassa, do jeito que ele tá, ele faz o que você quiser — ela disse, e eu balancei a cabeça, negando.
— Noah não é assim, ele é firme com essas coisas.
— Tão firme que rompeu o contrato inteiro só pra te beijar — ela rebateu, e eu sorri, sem saber o que dizer. — Ele tá completamente caidinho por você, e você tá aí, toda derretida, né?
Meu coração deu uma acelerada só de ouvir aquilo. Eu já tinha pensado nessa possibilidade, mas ouvir alguém dizendo em voz alta fez tudo parecer mais real — e mais assustador.
— Ah, para... Não é pra tanto.
— NÃO É PRA TANTO?! — Ela quase engasgou. — Hadassa, o cara ignorou um contrato assinado por uma equipe de advogados só pra te beijar! Isso é coisa de filme romântico, amiga! E você acha que não é pra tanto?
— Meu medo é a equipe dele descobrir e eu perder o emprego — suspirei, e ela sorriu, como se aquilo fosse a coisa mais fofa do mundo.
— Relaxa, o príncipe encantado vai te proteger — ela disse, e meu estômago deu uma revirada. — Mas, falando sério agora... O beijo dele é bom? — Ela soltou um sorriso travesso, e eu ri, sentindo o rosto queimar.
— Melhor do que eu imaginava... e viciante — admiti, cobrindo o rosto com as mãos.
Evy riu, divertida.
— É, minha amiga, te desejo boa sorte e muita oração. Depois de hoje, você vai precisar se fortalecer mais ainda em Deus pra resistir à tentação chamada Noah Tremblay.
Eu ri, meio sem graça.
— Ah, Evy, a gente já conversou sobre isso. Isso não vai se repetir.
— Não vai? — Ela levantou uma sobrancelha, desafiadora. — Não vai demorar nada pra você me ligar dizendo que aconteceu de novo, sabe por quê?
Ergui as sobrancelhas, curiosa.
— Porque ele tá se apaixonando por você, e você por ele, e esse romance só tá começando — ela disse, e eu senti um enxame de borboletas no estômago.
Passei a mão no rosto, tentando me recompor.
— Você tá exagerando. A gente combinou que isso não vai se repetir, e ponto final. Além do mais, ainda tem muita coisa que eu não sei sobre o Noah. Não posso me jogar de cabeça assim, sem pensar nas consequências.
Evy concordou, mas não sem antes soltar um suspiro dramático.
— E o jantar de amanhã? Você ainda vai? Lorenzo também é um gato, viu? Eu juro que daria uma chance pra ele.
— Seria jugo desigual, Evy, você sabe disso. Lorenzo é um amor, mas não é pra mim. E sim, vou ao jantar. Não posso deixar transparecer que aconteceu algo entre mim e o Noah — expliquei, e ela ponderou por um momento.
Conversamos mais um pouco sobre os últimos dias, rindo e relembrando cada detalhe, até que finalmente encerramos a ligação. Quando desliguei o celular, olhei para o teto, sentindo um sorriso bobo se formar no meu rosto.
Noah Tremblay...
Quem diria, né? — isso que pensei para mim mesma.
Me joguei na cama e suspirei, mas aquilo ainda não saía da minha cabeça. Sabia que os próximos dias não seriam fáceis de lidar. Ver o Noah depois de tudo isso seria o ápice do meu limite, mas também sabia que seria necessário. Estava determinada a seguir o contrato à risca e a ser totalmente profissional.
Era o único jeito de evitar que tudo desmoronasse.
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