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Capítulo 22 | Casa de Praia

Noah Tremblay

Algumas horas depois do almoço, enquanto tentava inutilmente tirar um cochilo, ouvi batidas insistentes na porta. Suspirei, já prevendo que meu descanso tinha acabado.

Lara surgiu com um sorriso travesso.

— O papai e a mamãe estão na sala — anunciou e saiu andando pelo corredor, sem dar mais detalhes.

Resignado, vesti uma camisa qualquer e fui até a sala. Mas ao chegar, parei no meio do caminho, surpreso com a cena diante de mim: minha mãe e Hadassa conversavam animadamente, rindo como se fossem amigas de infância, cada uma segurando uma xícara de café.

Franzi o cenho.

Hadassa sorria daquele jeito que sempre me desarmava. Quando me viu, seu sorriso mudou sutilmente, ganhando uma mistura de doçura e desafio que fazia algo revirar dentro de mim. Engraçado como ela conseguia me afetar sem esforço. Eu, que já tinha encarado plateias inteiras e resistido a tentações de todos os tipos, agora me via vulnerável diante de um simples sorriso.

Ela desviou o olhar, mexendo distraidamente na pulseira do pulso.

— Mãe, pai — cumprimentei, tentando parecer natural.

Minha mãe sorriu e veio me abraçar, eu dei um beijo em sua testa. Meu pai me analisou de cima a baixo com aquele olhar avaliador.

— Vejo que está mantendo a forma, Noah.

— Com você me arrastando pra treinar o tempo todo, não tenho escolha — respondi, e ele riu.

— Estava aqui conversando com Hadassa e descobri que temos várias coisas em comum — comentou minha mãe, enquanto eu me sentava em uma das poltronas.

Hadassa me olhou por cima da xícara, um sorriso discreto brincando em seus lábios.

— Ah, é? — arqueei a sobrancelha. — E o que exatamente vocês têm em comum?

— Descobri que Hadassa é das minhas. Ela ama jardinagem e tudo que envolve plantas e flores — revelou minha mãe, claramente satisfeita com a descoberta.

Virei o rosto para Hadassa, que sorriu como se soubesse que aquilo me pegaria desprevenido.

Certo… Agora eu sabia algo novo sobre ela. E, pior, essa era uma cláusula que não podíamos romper.

— Ah, é mesmo? Jardinagem? — inclinei-me levemente para frente. — Interessante.

— Sempre gostei de cuidar de plantas desde pequena. Tenho algumas flores e uma horta em casa — disse Hadassa, mas sua atenção continuava na minha mãe, como se estivesse se recusando a me dar esse momento.

Mas eu sabia que era pra mim.

— Noah sempre odiou mexer com terra — minha mãe comentou casualmente.

Revirei os olhos.

— Não gosta de sujar as mãos, Noah? — Hadassa perguntou com um brilho provocador nos olhos.

— Só não tenho talento pra isso — retruquei, relaxando na poltrona.

— Nem pra apreciar o que é bom — minha mãe completou. — Ele também detesta torta de limão, e descobri que Hadassa ama!

Fiz uma careta.

— Aquele negócio azedo!? — levantei as sobrancelhas. — Não sei como vocês conseguem comer aquilo.

— Bom, sua mãe trouxe uma torta de limão e está uma delícia — Hadassa disse, desafiadora. — Você devia aprender a apreciar as coisas boas.

Cruzei os braços, estudando as duas.

— Agora entendi tudo… Vocês viraram melhores amigas só pra se unirem contra mim.

Elas se entreolharam e riram.

Hadassa voltou a me encarar, ainda sorrindo.

— Ah, concordamos em outra coisa também, Noah.

Suspirei.

— Lá vem… O que foi agora?

— Que você é muito teimoso.

Passei a mão pelo queixo, fingindo indignação.

— Eu, teimoso?

— Bastante — Hadassa confirmou, divertida.

— Muito — minha mãe acrescentou, levantando-se para pegar mais torta.

Balancei a cabeça, derrotado.

Definitivamente, aquilo estava começando a ficar perigoso.

Ficamos apenas eu e Hadassa, frente a frente, nos encarando. Meu pai, distraído com o celular, estava alheio à tensão evidente entre nós.

— Não precisei de esforço para descobrir algo novo sobre você — disse Hadassa, o olhar de desafio.

Eu não desviei.

— Mais do que já sabe? — arqueei a sobrancelha. — Tenho certeza de que sabia disso antes mesmo de minha mãe contar.

Ela corou levemente, e um sorriso puxou os cantos da minha boca.

— Claro que não sabia. Como iria saber algo tão... pessoal?

Inclinei-me um pouco, sem disfarçar a provocação.

— Ah, Hadassa, para de fingir... Sei que você é uma das minhas fãs que sabe tudo sobre mim, mas tem medo ou vergonha de admitir.

Ela desviou o olhar, mas a expressão entregava que eu tinha tocado em algum ponto sensível. Antes que pudesse retrucar, minha mãe voltou para a sala, quebrando o momento.

Hadassa se levantou, despedindo-se dela.

— Vou pro meu quarto.

— Espera — chamei, e ela se virou, hesitante.

— O quê?

— Nós vamos à casa de praia.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Vai ter algum trabalho por lá?

— Preciso ajustar algumas coisas já que vou passar um tempo sem cantar. Dylan e Lisa já chegaram.

Mostrei rapidamente a notificação no celular, confirmando a chegada deles.

Hadassa hesitou por um segundo, mas assentiu.

— Tudo bem, vou me arrumar.

Despediu-se dos meus pais e seguiu para o quarto. Eu a observei sair. Minha mãe ficou mais séria, e meu pai também voltou a me encarar, a atenção dele agora totalmente voltada para mim. Sabia que não escaparia dessa conversa.

— Já sabemos de cada detalhe sobre sua voz, Lorenzo tem mantido a gente atualizado — disse minha mãe, e eu revirei os olhos. Lorenzo. Como sempre, a fonte das notícias.

— Pedimos para que Hadassa cuide de garantir que você siga tudo direitinho para melhorar logo — meu pai completou, e eu assenti, não querendo entrar em mais discussões.

— E também, precisamos te avisar que vamos viajar hoje para resolver algumas pendências — minha mãe continuou, e eu me senti desconfortável com a direção da conversa.

— Tá... Mas vocês sempre viajam, qual é o motivo de estarem falando assim? — indaguei, franzindo o cenho.

Eles se entreolharam, e meu pai suspirou.

— Canadá. Vamos ter que ir pra lá — meu pai disse, e o peso daquela palavra me atingiu como um soco no estômago.

— Tudo bem, querendo ou não, nossa família é de lá. Não dá pra ignorar o lugar por causa dos meus erros — falei, tentando parecer mais calmo do que me sentia.

— Não vamos a passeio, filho. Vamos a trabalho — minha mãe disse, com um olhar acolhedor, e eu assenti, entendendo a seriedade da situação.

— A propósito, estávamos nos perguntando se você já contou tudo para Hadassa — meu pai disse, e eu respirei fundo, o estômago apertado.

Mais uma pessoa tocando nesse assunto. Eu estava exausto de ouvir sobre isso.

— Não, pai, ainda não vi o momento certo de contar.

— Filho, você sabe que é sua obrigação contar a ela. Ela precisa saber, é parte do que sua equipe está cuidando para não vazar para a mídia. Isso tem a ver com sua imagem, e Hadassa é sua assistente, ela precisa estar ciente do que aconteceu — meu pai disse com firmeza, e eu revirei os olhos, o peso da responsabilidade me incomodando ainda mais.

— Estamos tentando te ajudar para que nada saia do controle, filho. Eu, como relações públicas, sei que qualquer deslize pode ser uma bomba na mídia — minha mãe disse, com a voz calma, mas cheia de preocupação.

— Tá, eu vou contar, tudo bem? No momento certo, Hadassa saberá de tudo — afirmei, sem convicção, e eles se entreolharam, sabendo que aquela não era uma promessa fácil de cumprir.

Meu pai se levantou e foi até o rooftop, pegando o celular e se distanciando de nós. Minha mãe, com aquele olhar maternal, ficou em silêncio, mas eu sabia que ela queria falar algo.

Me recostei na poltrona, esperando ela se manifestar. Ela suspirou antes de finalmente falar.

— Você odeia que eu toque nesse assunto, filho, mas preciso dizer — começou, e eu já sabia o que vinha. Ergui a sobrancelha. — Você sempre teve péssimas escolhas quando se trata de mulheres, e graças a Deus você se afastou da Mackenzie, mas é hora de amadurecer, Noah, de começar a levar a vida a sério, especialmente no que diz respeito a relacionamentos — suspirei, preparando-me para uma longa conversa.

— Onde quer chegar, mãe?

— Pode parecer bobagem o que vou dizer, mas... Está na hora de levar a vida como homem, de forma responsável. Você sempre me falou que sonha em ter uma família, uma mulher que te faça feliz. O tempo está passando, e você continua nessa de idas e voltas com Ângela.

— Você sabe que terminei com ela, não precisa se preocupar com isso — respondi, firme, mas minha mãe nunca se dava por vencida.

— E eu comemorei isso, não vou mentir — ela disse, sorrindo, e eu ri da sinceridade dela. — Mas eu preciso confessar algo também.

— Diga, mãe, sei que está querendo falar algo desde que me viu entrando na sala — brinquei, tentando aliviar o clima. Ela sorriu.

— Hadassa... Uma bela moça, que despertou o olhar mais sincero que já vi no meu querido Noah — disse, eu sorri sarcasticamente e me ajustei na poltrona, o coração batendo descompassado.

— Fala sério, mãe!

— Falo sério, sim — ela respondeu, séria, mas com aquele olhar acolhedor. — Eu sei que ela é sua assistente, mas quando a vi, senti algo diferente nela. Sempre orei para que Deus te mandasse uma esposa abençoada, que chegasse na sua vida para fazer a diferença. E quando olhei nos olhos de Hadassa, vi algo puro, algo além de uma simples assistente sua — declarou, e eu sorri ironicamente, mas por dentro, cada palavra dela me desestabilizava. — E quando vi as fotos de vocês nas redes sociais, mesmo sabendo que são fake news, ri sozinha, imaginando se fosse verdade, o quão grata eu estaria.

— Ah, mãe, está idealizando demais — respondi, tentando desviar.

— E seu pai concorda comigo — disse, e eu ergui as sobrancelhas.

— Então é por isso que a Lara anda falando essas coisas? Ela ouviu de vocês, né? — falei, e minha mãe meneou a cabeça.

— O que ela diz?

— Veio com conversas inteligentes demais para a idade dela. Até disse que eu quero Hadassa por perto mais do que gostaria de admitir — respondi, ela sorriu.

— Se você acha que ela foi inteligente em falar isso, então sabe que estou certa — disse, e eu me levantei imediatamente, tentando cortar o assunto de vez.

Já estava decidido. Eu tinha orado pedindo por esse afastamento, e Hadassa parecia querer se distanciar sem muito esforço. Não havia mais nada para conversar entre nós. Era simples: um cantor, uma assistente e um contrato. Nada mais.

Lara surgiu de repente na sala, pedindo um abraço de despedida. Mal tive tempo de processar, e Hadassa apareceu logo atrás. E então, veio aquele maldito frio na espinha.

Simples, mas deslumbrante. Discreta, mas capturou toda a minha atenção. Pura, mas despertou em mim algo visceral, que eu não sabia explicar.

Engoli em seco.

Cabelos soltos, caindo de um jeito que só ela conseguia deixar espetacular. Óculos na cabeça, que a deixavam ainda mais estilosa. Um... macaquinho, como as mulheres chamam, não muito curto, mas o suficiente para me fazer notar suas pernas. E foi aí que percebi. Lara, minha mãe e Hadassa me encarando.

Eu estava admirando Hadassa. Sem disfarçar. Sem controle.

Desviei o olhar rápido, tentando salvar o que já estava perdido.

— É... — cocei a nuca, tentando recuperar o controle da situação, mas as palavras simplesmente sumiram. Minha mãe sorriu de lado, disfarçando, mas eu não enganei ninguém. Pela primeira vez, estava claramente desnorteado na frente de Hadassa. — Vamos? — soltei, tentando desfocar a tensão.

Hadassa franziu o cenho.

— Já estou pronta. Quando quiser ir, podemos ir — respondeu, desviando o olhar também.

Será que ela sentiu?

— Vou só... tomar um banho e a gente sai — falei, já me afastando, mas minha mãe pigarreou.

Virei-me.

— Querido, já vamos viajar e não vai se despedir? — ela perguntou. Meu pai surgiu na sala, ainda com o celular na mão.

— Acabei de fechar uma parceria, por isso estava no telefone — disse ele, mas, sinceramente, aquilo não me importava. Não naquele momento.

— Que ótimo, pai — falei, automático. Mas assim que voltei os olhos para Hadassa, lá estava de novo. Aquele maldito nó no estômago.

Cocei a nuca, de novo. Hadassa se despedia dos meus pais e de Lara como se já fizesse parte da família há anos. Quando chegou minha vez, abracei os três, mas Lara se grudou em mim.

— Eu quero ir com vocês — ela insistiu, emburrada.

Meus pais começaram a convencê-la de que não podia, que eu estava muito ocupado, e eu, sinceramente, nem conseguia prestar atenção na conversa.

Alguns minutos depois, eles saíram. E, então, ficou só eu e Hadassa.

Silêncio.

Sem dizer nada, fui direto para minha suíte. Assim que fechei a porta, soltei o ar que nem percebi que estava segurando.

O que tá acontecendo comigo? — murmurei para mim mesmo.

Tomei banho, fiz minha higiene, vesti uma camisa de botões preta, uma bermuda bege e tênis branco. Passei um perfume. Não porque queria impressioná-la. Apenas porque... era hábito.

Ou pelo menos era o que eu tentava acreditar.

Ao voltar para a sala, não disse nada, mas senti o olhar dela queimando sobre mim. Aquilo me fez sorrir de canto, sem me importar se Hadassa percebeu ou não. No fundo, eu sabia — ela ainda ficava nervosa perto de mim.

E mais uma vez, no elevador, ela deixou escapar. Por mais que tentasse agir naturalmente, ainda me enxergava como o “grande astro” que sempre admirou.

E eu vou fazê-la admitir isso. Logo.

— Você que vai dirigir? — ela perguntou enquanto caminhávamos até meu Aventador SVJ no estacionamento do prédio.

— Sim, os seguranças vão acompanhando — respondi, abrindo a porta para ela.

Hadassa parou e me encarou.

— Noah, sou sua assistente. Não precisa abrir a porta pra mim.

Ela sorriu e entrou no carro. Eu apenas sorri de volta, fechei a porta e fui para o meu lado.

Liguei o motor e segui pela estrada, mas não conseguia ignorar o perfume dela, que me atingia como um golpe certeiro. Coloquei os óculos escuros e me forcei a focar no caminho. Mas o silêncio entre nós era pesado. Me corroía.

Eu precisava falar.

— Por que estava irritada essa noite?

Ela virou o rosto para mim, visivelmente surpresa.

— Como assim irritada?

— A conversa que tivemos. Você disse que eu vejo isso como um jogo, mas sabe que está errada.

Ela procurou palavras, hesitante.

— E você concordou em pararmos com isso — murmurou.

Meneei a cabeça, mantendo os olhos na estrada.

— Eu concordei porque você parecia decidida, Hadassa. Mas você estava errada. Eu nunca vi isso como um jogo ou um desafio. Fiz aquele contrato para mantermos tudo profissional, mas não tive culpa se minha assistente seria você.

Finalmente olhei para ela. Hadassa corou.

— C-como assim?

Meu sorriso veio sem esforço. Ela estava nervosa, e eu gostava de vê-la assim.

No sinal vermelho, respirei fundo. Eu não era de rodeios, nunca fui de hesitar com uma mulher. Mas Hadassa me desmontava. E eu odiava isso.

E ao mesmo tempo… gostava.

— Você é diferente das outras. Qualquer outra mulher daria tudo para estar no seu lugar, convivendo comigo como você. Já praticamente implorei por um beijo seu, e você não cedeu. Me viu tão vulnerável naquela madrugada, mas se manteve firme. E mesmo sabendo que vivo rompendo o nosso contrato, você decidiu se afastar.

Ela desviou o olhar, o rubor ainda visível em seu rosto.

Voltei a encarar o sinal vermelho, o silêncio preenchendo o carro como uma tensão prestes a explodir.

— Isso é... bom ou ruim? — Hadassa perguntou, a voz levemente trêmula, quase hesitante.

Meus olhos foram para frente por um instante antes de voltarem para ela. O olhar dela encontrou o meu, intenso, curioso. Não desviei.

— Tão bom que não consigo tirar você da minha cabeça.

O rubor tomou conta do rosto dela na mesma hora. Hadassa tentou disfarçar o sorriso, mas não conseguiu. Desviou o olhar para a janela, mordendo o lábio, enquanto aquele sorriso insistia em permanecer.

Soltei um riso baixo, sem pressa, e quando o sinal abriu, arranquei o carro. O silêncio voltou, mas não era desconfortável.

Ela apoiou o cotovelo na porta, olhando para fora, mas a cada poucos segundos, um novo sorriso surgia, como se fosse impossível conter.

Decidi ligar a multimídia e coloquei uma música. Uma canção minha.

— Já ouviu essa antes?

Hadassa virou o rosto para mim, surpresa. Ainda tímida, mas sua voz ganhou mais confiança conforme respondia. E aquele sorriso... aquele bendito sorriso.

O caminho até a casa de praia nunca pareceu tão demorado.

🏝️

Assim que Hadassa desceu do carro, percebi que ela ainda estava processando o que eu tinha falado. O jeito como evitava me olhar era quase cômico. Mas claro que eu nunca deixava essas coisas passarem. Me aproximei, observando o jeito dela tentar disfarçar a timidez.

Eu gostava disso.

— Entra — falei, dando espaço para que ela passasse pela porta.

Ela olhou ao redor assim que entrou, absorvendo cada detalhe da casa.

— Não importa quantas vezes eu venha aqui, sempre fico impressionada — comentou, admirada.

Coloquei as mãos nos bolsos da bermuda, observando-a.

— Imponente e ao mesmo tempo aconchegante, sabe?

Cocei a ponta do nariz, seguindo seu olhar pela sala.

— Você tem bom gosto.

— Por isso comprei — respondi, dando de ombros.

Hadassa sorriu, e seguimos para a cozinha. Mas, assim que entramos, a cena que nos esperava fez eu soltar uma risada baixa: Lisa encostada na bancada, com Dylan à sua frente, apoiando os braços ao redor dela.

No momento em que nos viram, Lisa se afastou num salto, e Dylan pigarreou, tentando parecer casual.

Levantei as mãos em rendição, rindo.

— Foi mal, não queria atrapalhar os pombinhos.

Hadassa riu ao meu lado.

— Muito engraçado, Noah — Lisa rebateu, já vermelha.

— Pelo menos não estavam fazendo nada demais — Hadassa disse, se divertindo.

— Tirando o fato de que a boca do Dylan tá rosa, talvez da cor do batom da Lisa, tá tudo tranquilo — provoquei, e Dylan riu, sarcástico.

Ele se aproximou, batendo de leve no meu ombro.

— Pelo menos alguém aqui tem atitude — jogou a indireta, antes de sair da cozinha.

Ergui as sobrancelhas, sem responder. Ok, essa foi direta. Bem direta.

Lisa pegou suco na geladeira e serviu quatro copos.

— Noah, você não chamou a gente aqui pra trabalhar, né?

Me encostei na bancada da cozinha e cruzei os braços.

— Preciso passar umas notas com Dylan.

Lisa estreitou os olhos.

— E eu? Na verdade, nós duas? — apontou para Hadassa e para si mesma.

— Só quis dar uma ajuda pro meu amigo e te chamei. E pelo visto, deu certo — retruquei, rindo.

Lisa pegou um pano de prato e jogou em mim.

— E eu, Noah? — Hadassa arqueou a sobrancelha.

— Você não sai de casa, achei que seria bom mudar o cenário.

Mas não era só por isso.

— Tudo bem — deu de ombros, pegando seu copo de suco.

— Então... Que tal praia? — Lisa sugeriu.

Dylan se animou na hora.

— Se falou em praia, tô dentro!

Olhei para Hadassa.

— Quer ir?

Ela sorriu daquele jeito provocador. Péssimo sinal.

— Melhor não. Ir à praia é algo pessoal, não podemos descumprir essa cláusula.

Dylan e Lisa me olharam como se eu tivesse acabado de levar um tapa na cara.

Ergui as sobrancelhas, sem resposta. Estava sendo atropelado pelo próprio contrato que redigi.

E começando a me arrepender disso.

— Podemos ir, amiga, e deixar eles aqui — Lisa sugeriu.

Mas Dylan negou com a cabeça.

— Um dia bonito desses, mar no quintal, uma bela moça à minha frente... E eu não vou aproveitar? — disse Dylan, olhando para Lisa com um sorriso fácil.

Hadassa riu ao meu lado, e Lisa se deu por vencida.

— Pode ir, Hadassa, eu fico aqui. Vou organizar umas coisas pra esse afastamento — falei, tomando um gole de suco.

Mas Dylan teve outra ideia.

— Cara, podemos fazer melhor. Eu e Lisa vamos pra praia, e vocês dois ficam aqui preparando o jantar. Cozinhar é terapia.

Cruzei os braços.

— Pra que cozinhar se podemos pedir algo?

Dylan me olhou de um jeito óbvio.

Agora entendi.

— Tá, pode ser.

Hadassa franziu o cenho, mas não disse nada.

— Então vamos, meu bem — Lisa disse para Dylan, e os dois saíram.

Fiquei parado um instante, sentindo Hadassa me observar. Olhei para ela, e seu sorriso me dizia uma coisa:

Eu estava ferrado.

Hadassa foi até a pia lavar as mãos, mas eu não conseguia tirar os olhos dela. O jeito que a luz amarelada iluminava sua pele, o cabelo caindo displicente pelos ombros, cada mínimo detalhe dela parecia feito para me distrair.

Ela se virou, se aproximando de novo.

— Eles estão namorando? — perguntou, com um tom curioso.

Soltei um riso antes de responder.

— Esses dois são mais confusos que minha agenda de final de ano. Uma hora não largam um ao outro, na outra nem se falam. Mas anota aí, ainda vou ser padrinho nesse casamento.

Ela riu, pegando alguns utensílios para cozinhar.

— O que vamos preparar? — perguntou.

— Massa. Prático e rápido.

— Certo. Eu corto os temperos pro molho.

Começamos a preparar. Hadassa lavava os temperos na pia, enquanto eu colocava o macarrão para cozinhar. Mas, se errasse o ponto, era porque minha atenção estava bem longe da panela.

Ela conversava sozinha com os ingredientes, e eu achava aquilo mais engraçado do que deveria.

Cebola, você não vai me fazer chorar. Não hoje.

Tive que rir. Ela nem percebeu. Ou fingiu que não.

A cozinha era espaçosa. Não havia necessidade de esbarrões, a menos que acontecessem sem querer.

E foi exatamente o que aconteceu.

Hadassa passou por mim para pegar algo no balcão, e seu braço roçou no meu. Um toque rápido, sem intenção aparente. Mas a sensação permaneceu ali, na pele, como um choque silencioso.

Tentei ignorar.

Ela terminou de cortar as cebolas e, em vez de continuar, apenas se encostou no balcão.

Me observando.

Os olhos dela estavam cravados em mim, com um brilho desafiador, como se estivesse esperando minha reação.

— Vai ficar parada? — provoquei, um sorriso de canto se formando nos meus lábios.

— Tô só apreciando a vista.

Soltei um riso baixo, cruzando os braços.

— A vista... No caso, eu?

Hadassa sorriu, inclinando a cabeça levemente.

— Não, Noah. A praia no seu quintal.

Levantei uma sobrancelha, dando um passo mais perto.

— Engraçado... Você disse isso enquanto não tirava os olhos de mim.

Ela sustentou meu olhar, sem recuar.

— Só queria ver se você tava fazendo a massa direito.

O jeito que ela disse isso, com a voz arrastada e um sorrisinho nos lábios, me fez querer testar o quanto ela conseguiria continuar resistindo.

— Se quer ajudar, pode cortar os tomates.

Ela pegou a faca e começou a cortar, mas no segundo seguinte eu já estava franzindo o cenho.

— Hadassa... Você tá esmagando o tomate, não cortando.

Ela olhou para mim, sem um pingo de culpa.

— O princípio é o mesmo.

Me aproximei por trás, chegando perto o bastante para que ela sentisse minha presença antes mesmo de perceber. Minha mão pairou sobre a dela, sem tocar, apenas guiando no ar. Péssima ideia.

O calor do corpo dela irradiava contra mim, e a proximidade fazia o ar entre nós parecer eletrificado. Minha respiração ficou tensa, e o perfume dela se infiltrou nos meus sentidos, tornando impossível pensar com clareza.

Hadassa não se mexeu. Eu também não.

Meu olhar desceu pelo contorno suave do pescoço dela, vendo sua respiração acelerar, o peito subir e descer num ritmo que denunciava o que estava acontecendo. Se eu me inclinasse só um pouco mais…

Mas então ela virou o rosto, e nossos olhares se encontraram.

Não era só eu. Ela também estava sendo consumida por aquilo.

— Noah…

Droga.

Se eu não saísse dali agora, não ia ter volta.

Engoli seco e dei um passo para trás, rompendo a conexão.

Ela fechou os olhos por um instante, como se tentasse recuperar o controle. Eu também precisava.

— Você é péssimo em seguir regras — murmurou, sem me olhar.

Ela não estava errada.

— Mas eu não toquei em você. Por que sou péssimo? — indaguei, tentando fingir um controle que já tinha ido pro espaço.

— Mas não pode se aproximar assim. Você sabe disso.

Larguei o que estava fazendo e cruzei os braços, me encostando na geladeira.

— Cinderela, por que tá levando isso tão a sério desde ontem?

Ela suspirou e pousou a faca na tábua.

— Porque se eu não levar a sério, Noah… eu perco o meu emprego.

Franzi o cenho.

— Por quê? Eu não iria te demitir. Você sabe disso.

Ela meneou a cabeça, hesitante.

— Porque...

Dei um passo à frente. Ela recuou instintivamente, ficando presa contra o balcão.

— Porque cederia se eu chegasse mais perto, é isso?

— N-não! Ah, Noah… — Hadassa mordeu o lábio inferior e desviou o olhar. — Eu… só acho melhor fazer isso da maneira certa.

Assenti, fingindo que aquilo encerrava o assunto, e voltei ao que estava fazendo.

— Sei que quer isso tanto quanto eu.

Ela estremeceu, calada, fingindo que não ouviu. Mas eu vi. Senti.

Fui até a ilha onde ela cortava tomates e parei ao seu lado. Hadassa evitava me olhar, mas o rubor em seu rosto entregava tudo.

Deslizei a tábua para longe, forçando-a a interromper o que fazia. Seus dedos se fecharam ao redor da faca, como se se agarrasse a alguma resistência. Mas ainda assim, não olhava para mim.

— O que tá fazendo, Noah? — Sua voz não tinha firmeza.

Inclinei a cabeça, observando cada mínimo detalhe do rosto dela. Cada traço perfeitamente desenhado, cada microexpressão. Ela era de tirar o fôlego.

Sorri de lado, porque sabia exatamente o que estava acontecendo. Hadassa podia tentar se esconder atrás daquela máscara de profissionalismo, mas seu corpo a traía — o rubor, a respiração curta, a tensão nos ombros.

— Você sabe o que eu estou fazendo — murmurei, a voz baixa, rouca, só pra ela ouvir.

Ela fechou os olhos por um segundo, como se estivesse juntando forças. E quando os abriu, finalmente me encarou.

— Isso… não pode acontecer — sussurrou.

Me inclinei um pouco mais, estudando cada mínima reação.

— Então por que você não se afasta?

O silêncio entre nós era denso, cheio de tudo o que não podíamos dizer naquele momento. O contrato nos impedia de cruzar a linha, mas o desejo? O desejo ria daquelas regras. Me empurrava para ela, me fazia querer rasgar cada cláusula idiota e fingir que nunca existiram.

Ela umedeceu os lábios, e meu olhar prendeu ali, naquele gesto simples, mas que incendiava tudo dentro de mim.

Hadassa respirou fundo, apertando a faca como se aquilo pudesse ancorá-la, como se estivesse se segurando com as últimas forças.

— Porque… — sua voz falhou, e ela balançou a cabeça, desviando o olhar.

Eu via a luta interna nela, o jeito como tentava se convencer de que nada daquilo era real, que podia simplesmente ignorar.

Mas já era tarde.

Baixei um pouco a voz, me inclinando ainda mais, sem tocá-la, mas próximo o suficiente para sentir a respiração dela se descompassar. Meu maxilar travou. Eu ainda tinha controle — pouco, mas tinha.

— Vai continuar fugindo de mim até quando, Cinderela?

Ela engoliu em seco e, finalmente, soltou a faca sobre a ilha, como se desistisse de fingir que conseguia manter o foco.

— Não estou fugindo — murmurou, a voz trêmula.

— Então me encara e diz que não quer isso.

Silêncio.

E foi o bastante.

O tempo pareceu se dobrar, se arrastar, nos prender naquela bolha sufocante. Só eu e ela, respirando o mesmo ar, sentindo a mesma tensão esmagadora.

Então, Hadassa deu um passo para trás, rompendo aquilo, tentando recuperar o controle.

— Preciso terminar o jantar — disse, pegando a faca de novo, voltando a cortar os tomates.

Sorri devagar, satisfeito. Ela podia tentar fugir, se esconder atrás das regras e desculpas, mas já tinha perdido essa batalha no momento em que hesitou.

Tudo o que disse à noite… eu não iria deixar acontecer.

Não iria perdê-la tão fácil assim.

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