Capítulo 17 | Em Cima da Linha
Noah Tremblay
Dessa vez, eu fui dirigindo com o pensamento fixo. Não tinha mais volta. Eu ia terminar tudo com Ângela. O que ela fez foi inaceitável, uma linha que nunca deveria ter cruzado. Cheguei ao prédio, subi até o apartamento depois de passar pela portaria. Assim que abriu a porta, ela jogou aquele sorriso ensaiado e tentou me desarmar com um beijo.
— Não me avisou que vinha, amor — disse, a voz doce como sempre. — Eu podia ter me preparado melhor pra você.
Ela fechou a porta atrás de mim e já se aproximou, os olhos cheios de intenção. A mão deslizou pelo meu peito, tentando me desconcentrar.
— Você sabe que, sempre que volta de viagem, a gente resolve tudo... à nossa maneira. — Ela se inclinou e começou a beijar meu pescoço, aquele toque que antes tinha tanto poder sobre mim.
Por um momento, senti minha determinação vacilar. Mas então a raiva e o peso do motivo pelo qual eu estava ali voltaram como um choque. Segurei seus ombros e a afastei.
— O que foi aquilo, Ângela? — perguntei, a voz firme, quase cortante.
Ela franziu o cenho, com aquela expressão de falsa inocência que já não me enganava mais.
— Aquilo o quê?
— Não se faça de desentendida. Por que você postou aquilo no Instagram? Como alguém que se diz cantora gospel tem coragem de humilhar outra pessoa em público?
Ela revirou os olhos, soltando um suspiro teatral.
— Ah, não... Não acredito que você está defendendo a sua assistente.
— Hadassa. O nome dela é Hadassa — corrigi, encarando-a sem piscar. — E eu não vim aqui pra discutir. Vim pra colocar um ponto final nisso. Nós dois.
Ela ficou boquiaberta, incrédula, como se não acreditasse no que acabara de ouvir. Desviou o olhar, tentando processar minhas palavras.
— Terminar? Por causa de um story? Você tá brincando, Noah. Você sabe o quanto as pessoas amam o nosso relacionamento! Quer jogar tudo isso fora?
— Eu não vivo para o que as pessoas acham de mim, Ângela. Eu vivo pra Deus. E por mim. E o que nós temos aqui já morreu faz tempo. Você sabe disso.
— Que belo discurso... — disse ela, cruzando os braços, com aquele tom sarcástico que eu já conhecia bem.
Eu virei para ir embora, mas ela se colocou na minha frente, bloqueando a porta.
— Certo. Se é isso que você quer, Noah, ótimo. Mas você publica a nota oficial. Eu só faço um vídeo depois, explicando o que aconteceu. — O tom dela era gelado, calculado, como se estivesse falando de um negócio.
— Só um aviso — disse, com firmeza. — Não mencione Hadassa nesse vídeo. Se você tentar jogar o nome dela no meio, eu e minha equipe vamos acabar com a sua imagem.
Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa com minha firmeza, e deu um sorriso amargo.
— Nunca imaginei que te veria tão... apaixonado. Essa moça mexeu mesmo com você, não foi? Que sorte a dela... ou melhor, que inveja — zombou.
Revirei os olhos, cansado de suas manipulações.
— Até mais, Ângela.
— Espera. — Antes que eu pudesse abrir a porta, ela segurou minha mão e me puxou de volta. — Que tal uma despedida? Só nós dois. Um último momento, pra você não esquecer.
Eu parei, analisando suas intenções.
— Ângela, o que você quer? Já não temos mais nada.
— Justamente... Como não temos mais nada, podemos ter uma última vez.
Ela me olhava com aquele brilho predador nos olhos, o sorriso no canto dos lábios. Antes que eu pudesse reagir, ela se aproximou e me beijou. E, por um instante, eu cedi. Era como se meu corpo tivesse agido por reflexo, como se parte de mim quisesse aquele alívio imediato.
Quando percebi, estávamos no sofá, algumas peças de roupa espalhadas pelo chão. A respiração dela estava ofegante, as mãos me puxando para mais perto, e por um segundo eu quase... quase esqueci tudo. Mas então, como uma lâmina atravessando o nevoeiro, a realidade me atingiu.
Eu estava à beira do abismo. E se eu caísse, não seria só eu que me machucaria.
Com um esforço que pareceu físico, parei. Segurei os ombros dela e a afastei, me levantando. Meu peito subia e descia enquanto eu tentava recuperar o controle.
— O que foi? — perguntou ela, ofegante e confusa. — Você nunca me rejeitou assim, Noah.
Vesti minha camisa e respirei fundo, tentando encontrar as palavras.
— Não dá mais, Ângela. Eu estou tentando me reconciliar com Deus. E o que aconteceu aqui... isso não faz parte do que eu quero ser.
Ela riu, balançando a cabeça como se eu fosse um tolo.
— Que seja. Mas você vai se lembrar de mim. Sempre.
— Adeus, Ângela. — Abri a porta, mas dessa vez, não olhei para trás.
Assim que saí pela porta do apartamento, determinado, entrei no carro e bati a porta com força. Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos enquanto acelerava. No caminho de volta para casa, a multimídia do carro acusou uma ligação. Dylan.
— Fala, irmão — atendi, ajustando o volume.
— Cara, que bagunça é essa nas redes sociais? Você e a Hadassa tão no centro das atenções.
Revirei os olhos, parando no sinal. Os seguranças no carro atrás seguiam em minha direção.
— Boatos, como sempre. Não tem nada acontecendo entre a gente — respondi, tentando manter a voz firme.
— Não me enrola, Noah. Vai dizer que ela não mexe contigo?
Hesitei por um segundo. Minha mente viajou até a madrugada passada. O jeito que Hadassa me olhou, como se enxergasse através de mim. O perfume dela ainda parecia preso na minha memória. A forma como ela me desafia sem medo... isso me fazia perder o chão.
— Não mexe, não — menti, avançando com o carro assim que o sinal abriu.
Dylan riu do outro lado.
— Noah, você tá com dois pássaros na mão e não sabe o que fazer. Deixa um voar, irmão. Não dá pra flertar com a Hadassa e ainda estar com a Ângela.
Soltei uma risada curta.
— Primeiro: eu não estou flertando com a Hadassa. Nossa relação é profissional. Segundo: o passarinho já voou. Acabei de terminar com Ângela.
Dylan soltou um assobio.
— Melhor notícia do dia, cara. Não vou mentir, Ângela é bonita, mas ela não é pra você. Nunca foi.
— Eu sei. Mas, confesso, ela tentou me seduzir antes de sair... e quase conseguiu.
— Quase? — Dylan bufou. — Você já tá brincando demais com o pecado, Noah. Tá na hora de parar de se aproximar do mundo e quebrar de vez esse vínculo.
Assenti, mesmo sabendo que ele não podia ver. Ele estava certo.
— Meu próximo relacionamento, Dylan, eu quero fazer tudo certo. Sem desvios. Cama? Só depois do casamento.
Dylan gargalhou, sarcástico.
— Só se você encontrar uma moça realmente íntima de Deus, porque as que você arranja, meu irmão, são tudo menos santas.
Ri, mas sua provocação tinha um fundo de verdade.
— Não exagera. Eu sou só... irresistível, e elas não aguentam — brinquei. — Mas, falando sério, eu não quero mais relacionamentos por status ou mídia. Quero algo que faça sentido, que seja verdadeiro.
— Falou como quem já tem alguém em mente. — A voz dele ficou mais leve. — Como tá indo com a Hadassa? Dá pra sentir o clima entre vocês. Quando tô perto, me sinto segurando vela.
Soltei uma risada curta.
— Você só sente isso porque não tem coragem de chegar na Lisa — provoquei, e ele riu alto. — E, sobre a Hadassa... essa madrugada quase nos beijamos. Mas ela ainda estava namorando.
Dylan gritou exageradamente do outro lado.
— Primeiro, eu e Lisa somos um caso perdido. Segundo, QUASE? Você tá maluco, cara? Ela está solteira? O que tá esperando?
— Eu estava perto demais, Dylan. Se tivesse mais um segundo... Mas é complicado.
— Você tá oficialmente na zona de perigo, meu amigo. Você e Hadassa solteiros? Não tem como você se controlar.
Soltei um riso nasalado, mas a tensão era óbvia.
— Há um maldito contrato entre nós. E, além disso... o Canadá. Eu ainda não contei nada pra ela.
— Contrato? Ah, Noah, contrato é só papel, cara.
— Se quebrarmos, ela não pode continuar sendo minha assistente. E ela precisa desse trabalho, Dylan. Ela tem sonhos, metas. Eu não vou atrapalhar isso.
Encarei a fila de carros à minha frente, batendo os dedos no volante.
— Velho, escuta só: se vocês ficarem juntos, pra que ela vai precisar continuar como sua assistente? — ele riu, debochado. — Você tem dinheiro suficiente pra realizar os sonhos dela dez vezes, imbecil.
— Isso se chama casamento, e o que eu tô falando é sobre beijo, Dylan. Beijo.
— Ah, Noah, se vocês se beijarem, ninguém precisa saber. Você tá complicando o que não precisa ser complicado.
— Eu gosto de fazer as coisas direito, seguindo o que foi combinado — respondi, já entrando no estacionamento do prédio.
— E sobre o Canadá? — Dylan insistiu, o tom mais sério. — Você sabe que, uma hora ou outra, ela vai descobrir. E se for por outra pessoa? Esquece Noah e Hadassa pra sempre.
Revirei os olhos enquanto estacionava o carro. Ele tinha razão, mas eu não queria admitir.
— Tá tudo sob controle, Dylan.
— Se você tá dizendo... — ele disse, com aquele tom que claramente duvidava de mim.
— Depois a gente conversa, acabei de chegar em casa.
— Beleza. Vai com calma, irmão.
A ligação caiu, mas as palavras dele continuavam ecoando. Eu sabia que nada estava realmente sob controle. E, se eu não tomasse cuidado, tudo podia escapar das minhas mãos antes mesmo que eu percebesse.
Entrei no elevador sem muita paciência e fui direto para a cobertura. Pamela, minha funcionária, apareceu no caminho para me dizer algo.
— Senhor Noah, Estela, Ricardo e Hadassa estão esperando pelo senhor no escritório.
Suspirei pesado, já imaginando que não seria algo agradável. Uma reunião inesperada nunca era bom sinal.
Assim que entrei no escritório, meus olhos, sem controle, foram direto para Hadassa. Ela sorriu ao me ver, aquele sorriso que carregava algo entre inocência e ousadia. Um sorriso que, naquele momento, dissolveu qualquer resquício de estresse que eu poderia estar sentindo. E antes que percebesse, estava sorrindo de volta.
Mas o que senti logo depois foi quase ameaçador. Havia uma linha invisível, tão tênue quanto perigosa, nos conectando. Era como se a liberdade recém-conquistada dela e a minha tornassem a situação ainda mais arriscada. Cada olhar, cada gesto dela era uma tentação velada, e eu sabia que, se desse um passo em falso, cairíamos juntos. E, honestamente, parte de mim não sabia se queria resistir ou arriscar.
— Noah — Estela se levantou assim que fechei a porta. Eu me sentei na poltrona de couro, observando os três à minha frente. — Por que terminou com Ângela em um momento como esse? Já estamos prestes a anunciar seu afastamento, e agora teremos que lidar com o término também?
Minha atenção, quase instintiva, foi para Hadassa. Ela me encarava, e eu sentia que havia algo não dito naquele olhar. Respirei fundo, buscando compor minha expressão. Como eles souberam tão rápido?
— De onde tiraram essa informação? — perguntei, franzindo o cenho.
— O que acha, Noah? — Estela rebateu, impaciente. Ricardo permaneceu sentado no sofá, com aquele olhar frio e calculista. — Ângela nos contou assim que você saiu de lá.
Revirei os olhos, recostando-me na cadeira. Claro que ela não ia perder tempo.
— Ela não perde uma — soltei um riso sarcástico. — Então, Estela, o que você sugere?
— Que vocês não terminem agora. Vocês sempre tiveram esse vai e vem. Não dava pra esperar um pouco mais?
Minha paciência já estava no limite, mas mantive o controle.
— Estela, eu não vou ficar preso em um relacionamento vazio só por causa de aparências. Isso aqui é minha vida, não uma novela pra agradar o público.
— E sabe qual é a verdade? — Ricardo interrompeu, se levantando do sofá. — Podemos anunciar seu afastamento no próximo show. O término será revelado na segunda. Dá pra organizar sem muito estardalhaço.
— Finalmente alguém sensato — falei, lançando um olhar desafiador para Estela.
— Certo, faremos assim — ela murmurou, anotando algo em seu tablet, claramente contrariada. — Noah, esse término é mesmo definitivo?
Ri de leve, com ironia.
— Sem volta — disse, direto, enquanto meus olhos mais uma vez encontravam os de Hadassa. Ela desviou rapidamente, mas não antes que eu notasse o sorriso tímido e o rubor que tingia suas bochechas.
— Certo. Para não termos surpresas, devo sugerir um teste de gravidez para Ângela? — Estela soltou, e o clima na sala mudou na hora. Um gelo passou por mim, e a expressão debochada que eu carregava sumiu na hora.
— Tá maluca? Nem pensar! — rebati, direto. Ricardo, claro, caiu na risada.
— Sério, Estela? Tá viajando? — ele provocou, cruzando os braços enquanto me olhava de canto.
Meu olhar, no entanto, foi direto para Hadassa. Ela arqueou uma sobrancelha, aquele brilho provocador nos olhos. Era o tipo de olhar que fazia meu sangue ferver e minha cabeça se perder um pouco.
— Só tô dizendo isso porque nunca se sabe, né? Vai que ela aparece com um teste positivo e diz que é do Noah... Já vi esse filme antes — Estela continuou, séria.
Eu soltei uma gargalhada alta, jogando a caneta que estava na minha mão sobre a mesa.
— Estela, você tá achando que eu sou ingênuo? Te garanto: Ângela não está grávida e nem tem chance disso acontecer — falei, confiante, me recostando na cadeira enquanto olhava para Hadassa, que tentava segurar um sorriso.
— Tudo bem, então. Se você tá tão certo disso, quem sou eu pra duvidar? — Estela deu de ombros, pegando sua bolsa no sofá. — Hadassa, preciso falar com você em particular.
Elas começaram a sair da sala, mas antes de cruzar a porta, Hadassa lançou outro daqueles olhares que pareciam brincar comigo, como se dissesse: “Vamos ver se você segura esse controle, Noah.”
E eu? Apenas inclinei a cabeça levemente, sorrindo de canto, como se aceitasse o desafio que nunca foi verbalizado. O problema era que, com ela, tudo parecia ser um desafio.
Elas saíram, e Ricardo ficou na sala, a expressão séria no rosto.
— Noah — ele começou, e eu me levantei, ajustando o relógio no pulso.
— Fala.
— Você já contou tudo pra Hadassa?
Minha testa franziu automaticamente.
— Sobre o quê?
— Canadá, Noah.
Soltei um suspiro longo, já cansado de todo mundo batendo na mesma tecla.
— Ainda não, Ricardo. E nem vou contar agora.
Ele cruzou os braços, me encarando como se estivesse tentando decifrar algo.
— Por quê? Tá com medo da reação dela? Noah, a Hadassa é sua assistente. A relação de vocês é estritamente profissional... Ou tem algo aí que você não quer me dizer? — a sobrancelha dele arqueou, e eu desviei o olhar por um segundo.
Ele soltou um riso curto, sem humor.
— Eu sabia! Desde o dia que a Hadassa entrou na sala de reuniões, eu sabia que ia dar problema. Aceitamos ela porque foi indicação direta do seu pai, mas, sendo sincero, era óbvio que uma moça jovem, bonita e esperta como ela mexeria com você. E, pelo visto, eu estava certo.
— Quem disse que ela mexe comigo? — rebati, tentando manter um tom firme, mas ele percebeu a hesitação na minha voz. — Eu só não quis contar ainda porque ela tá recente no cargo. E, Ricardo, pensa comigo: se ela não der certo no trabalho, se cometer um erro que precise de demissão, vai sair sabendo de coisas confidenciais? Isso faz sentido pra você?
Falei tentando me justificar, mas no fundo, sabia que não teria coragem de demiti-la, independente do que acontecesse.
Ricardo me olhou como quem já tinha lido todas as entrelinhas da minha fala.
— Tá bom, Noah. Vou te dar 30 dias. Se até lá você não contar pra ela, eu mesmo conto.
Ele apontou pra mim com firmeza, a voz carregada de autoridade.
— E mais uma coisa: lembre-se do contrato de vocês. Se eu descobrir que quebraram qualquer cláusula, não importa se foi recomendação do seu pai ou não, eu mesmo vou demiti-la. Entendeu? Não quero que ninguém lhe distraia da sua carreira, Noah!
Minha paciência já estava por um fio.
— Demitir? Por quê? Por distrair a minha carreira? Ricardo, vou ficar afastado por sei lá quanto tempo, e você tá preocupado que uma pessoa vai me distrair? — questionei, o tom subindo um pouco.
Ele não se abalou.
— Afastado não significa fora de tudo. Você ainda tem compromissos, redes sociais, entrevistas... Não pode perder o foco, Noah.
Minha mandíbula travou, mas me mantive firme.
— Fica tranquilo. Quando eu estiver com alguém, essa pessoa vai ser minha motivação, não meu problema. Já basta essa droga de afastamento por tempo indeterminado.
Ricardo apenas assentiu, satisfeito o suficiente com minha resposta, e se dirigiu à porta.
— Espero que esteja certo.
Eu o acompanhei até a sala, e Estela apareceu logo em seguida.
— Estamos indo. Espero que você não corra atrás da Ângela mais uma vez, ou ela vai arrumar outra confusão pra você.
— Relaxa. Não vou mais atrás dela. Já acabou — falei, me jogando no sofá, tentando esfriar a cabeça.
Estela e Ricardo saíram, deixando a sala em silêncio. Foi aí que percebi Hadassa ainda sentada em uma poltrona no canto, pernas cruzadas, um misto de elegância e provocação que ela nem parecia perceber. Ela estava com um olhar perdido e pensativo. Não resisti. Algo nela me fazia querer abaixar todas as defesas, mesmo sabendo que era a última coisa que eu devia fazer.
— No que está pensando, Cinderela? — perguntei, e o som da minha voz pareceu tirá-la do transe. Ela vibrou ligeiramente, como se eu tivesse invadido seus pensamentos.
— Você não pode saber o que penso, Noah — respondeu, mas dessa vez com um sorriso travesso e uma piscadela que me fez arquear as sobrancelhas.
Ah, eu não ia deixar barato.
— O que Estela estava cochichando com você?
— Sobre o quanto vou precisar estar por perto de você... e cuidar de você. Disse que você é teimoso e que pode não aceitar ajuda, mas que eu vou ter que insistir de qualquer forma.
Meu sorriso se alargou. Essa era a deixa perfeita.
— Ela está errada. Sei que vou precisar de ajuda. Então, Cinderela, pode cuidar de mim — falei, minha voz carregada de intenção. Vi a forma como o rosto dela mudou, um nervosismo súbito tomando conta. — Só pra constar, quero ver como vai conseguir cuidar de mim sem me tocar.
Ela tentou disfarçar o impacto da minha provocação com um sorriso rápido, desviando o olhar.
— Se estiver com febre, vou usar o termômetro. Não preciso encostar em você pra medir sua temperatura.
— E se eu tentar me levantar e tropeçar? Não vai me segurar? — retruquei, olhando em seus olhos, vendo-a vacilar por uma fração de segundo.
Ela hesitou, mordendo o lábio por um instante.
— Noah, você está com problemas na voz, não nas pernas. Você não está doente — respondeu, revirando os olhos e rindo de leve antes de se levantar. — Agora, vou para o meu quarto. Tenho muita coisa sua pra organizar.
Eu me levantei no mesmo instante, bloqueando o caminho dela. Ficamos frente a frente, próximos o suficiente para que eu sentisse o perfume dela.
— Vou dormir a tarde inteira, Luz. Então estarei completamente indisponível para qualquer dúvida ou informação sobre shows — disse, inclinando a cabeça levemente, estudando sua reação.
Ela piscou, respirando fundo antes de responder com um tom provocativo:
— Não se preocupe, posso perguntar à sua equipe. — Ela deu um passo para o lado, tentando passar. — Bons sonhos, senhor Tremblay.
Eu me virei enquanto ela caminhava para a escada.
— Só espero não sonhar com você, Cinderela.
Ela congelou por um instante, mas continuou andando, sem olhar pra trás, embora eu tivesse certeza de que um sorriso travesso surgia em seus lábios. E eu sabia que tinha conseguido exatamente o que queria.
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