Capítulo 10 | Sombras do Passado
Noah Tremblay
Ao pousar em solo norte-americano, fui despertado pela aeromoça avisando que havíamos chegado. Abri os olhos lentamente, mas o que vi me desarmou completamente: Hadassa estava adormecida sobre meu peito, respirando suavemente, o rosto tranquilo. Nesse momento, nesse maldito momento, meu coração disparou como se tivesse sido tomado por uma corrente elétrica que misturava nervosismo e euforia.
Por um momento, fiquei paralisado, sem saber como agir. Não queria acordá-la, mas também não podia ignorar o turbilhão dentro de mim. Minha assistente. Minha profissional e competente assistente. Mas, naquele instante, ela parecia tão vulnerável, tão próxima, que tudo o que eu sabia e me orgulhava de controlar começou a se desfazer.
A confusão na minha cabeça era tanta que nem percebi que estava respirando mais rápido. Como ela conseguiu, em tão pouco tempo, bagunçar tudo o que eu tinha como certo? Quebrei a regra mais básica do meu contrato: manter tudo estritamente profissional. Regra número dois, clara como o dia. Mas ali estava eu, sentindo o cheiro suave do perfume dela e desejando passar o resto do dia ali.
Eu estava ficando louco, com certeza. Mas ela também era deslumbrante, de uma beleza natural que eu jamais havia visto. E, de alguma forma, cada traço dela parecia intensificar a minha admiração. Hadassa tinha uma graça única, mesmo estando vestida formalmente ou despretensiosamente, como no dia em que a vi de baby doll. Tudo nela era cativante. Admito: aceitei-a como assistente no primeiro encontro sem pensar muito, simplesmente porque não suportei a ideia de vê-la ir embora e nunca mais encontrar outra mulher tão bela como Hadassa. Isso foi uma loucura. É como andar pelo fogo. Eu sabia, mas não consegui evitar.
Decidi me mexer com cuidado, tentando não acordá-la. No entanto, descobri algo novo: Hadassa tinha o sono leve. Bastou um movimento mínimo para que seus olhos se abrissem, e, naquele instante, eu congelei. O que eu deveria dizer? Como explicar aquele momento sem soar como algo incoveniente? “Bom dia, Hadassa. Dormiu bem em meu peito enquanto eu, seu chefe, quebrava uma cláusula do nosso contrato?” Que absurdo!
Ela piscou devagar, ainda sonolenta, os olhos vagos tentando entender o que acontecia. Quando finalmente assimilou onde estava, vi sua expressão mudar. Seus olhos demonstravam ansiedade, e percebi que o ataque de pânico estava prestes a retornar.
Levantei-me rápido, posicionando-me de forma a acalmá-la sem invadir seu espaço.
— Ei, ei, ei... está tudo bem. Já chegamos, Hadassa — falei com suavidade. Meus olhos encontraram os dela, e, por um instante, o tempo pareceu congelar. Por quê? Não sei. Eu não deveria estar sentindo nada disso.
Ela respirou fundo, desviando o olhar.
— Podemos sair desse avião o mais rápido possível? Por favor — pediu com urgência, a voz embargada pelo nervosismo.
— Claro.
Levantei-me, pegando sua bolsa enquanto ela se recomponha. Descemos as escadas juntos, e, assim que ela pisou na pista, vi seus ombros relaxarem. Hadassa inalou profundamente, como se o peso do voo e de todas as emoções contidas finalmente tivessem ficado para trás.
E eu? Permaneci ali, observando-a, completamente perdido em pensamentos. A linha entre o profissional e o pessoal estava perigosamente borrada, e minha confusão apenas crescia.
— Ainda é noite — disse ela, olhando ao redor, a voz suave quebrando o silêncio.
— São 3 e pouco da manhã — respondi, consultando meu relógio de pulso. — Está com frio?
Hadassa cruzou os braços, e aquele gesto simples foi o suficiente para confirmar o óbvio. Tirei meu blazer e coloquei sobre seus ombros. Ela ergueu os olhos para mim, me lançando aquele olhar que me quebra.
— Obrigada, Noah — disse ela. Apenas assenti, parado na pista ao lado dela, o momento se estendendo no ar frio da madrugada.
— Bem-vinda a Orlando — comentei, quebrando o silêncio. Um sorriso suave apareceu em seus lábios, iluminando seu rosto.
— Não acredito que estou nos Estados Unidos! — exclamou, e agora o sorriso aberto era contagiante. A simplicidade dela me fazia sorrir sem nem perceber. — Sério, queria tirar tantas fotos, mas sei que não posso registrar nada — disse, fazendo um beicinho que quase me fez perder o controle.
Eu olhei ao redor, ponderando.
— Pode tirar fotos suas e do lugar. Só não pode tirar fotos minhas, certo? — falei, tentando ser prático.
Os olhos dela se arregalaram de felicidade, e, naquele instante, ela sorriu, mordiscando o lábio inferior. Era um gesto tão inconsciente, mas que teve o poder de me arrastar para a linha tênue entre "Noah, ela é sua assistente" e "Beije-a, sem pensar no amanhã".
Meu olhar, quase sem permissão, desceu para os lábios dela antes que eu me obrigasse a desviar. Meu coração acelerou, mas eu precisava me controlar. Já tinha um histórico de impulsividade, e não podia correr o risco de que uma atitude minha estragasse tudo.
Ajeitei minha postura e voltei a olhar para frente. Começamos a andar em direção ao carro que nos aguardava.
— Ainda bem que vai dar tempo de dormir mais um pouco, agora em um lugar seguro — ela comentou, soltando um suspiro de alívio.
— Sabia que o avião é o meio de transporte mais seguro que existe? — perguntei, meio distraído.
Ela revirou os olhos e bufou.
— Nem fala esse nome comigo — retrucou, arrancando uma risada minha. — Aliás, muito obrigada por tudo, Noah. E, por favor, não leve em conta minha vulnerabilidade. Eu não sou assim, só aconteceu por causa do avião...
— Hadassa — interrompi, olhando diretamente em seus olhos. — Fica tranquila. — Lancei uma piscadela, notando quando ela desviou o olhar, claramente tentando esconder o nervosismo.
Eu sabia o que estava fazendo. Sempre soube. Desde o início, quando ela começou a trabalhar comigo, estava claro o quanto eu mexia com ela. Hadassa é minha fã — fã de verdade, daquelas que vibram com cada música, que tremem ao estar perto. Eu conheço uma fã de longe. No começo, me divertia com isso, achava quase engraçado. Mas, agora, eu caí na minha própria armadilha. Não era mais só ela querendo estar perto. Eu a queria por perto também — e queria muito mais do que deveria.
Chegamos ao hotel, e assim que o carro parou na entrada, percebi o tumulto que nos aguardava. Como sempre, de alguma forma, eles sabiam. Fãs se aglomeravam na porta, gritando meu nome, pedindo fotos, autógrafos, qualquer coisa que os aproximasse de mim. Suspirei, ajustando os óculos escuros e ajeitando a camisa antes de sair.
Olhei para Hadassa. Ela segurava a bolsa com força, claramente tensa diante da situação. Era a primeira vez que ela enfrentava algo assim, e eu sabia que não seria fácil para ela.
— Acho melhor você usar seu blazer — disse ela, já começando a tirá-lo dos ombros.
— Não, pode ficar com ele — interrompi, firme. — Mas recomendo usar óculos escuros, se tiver na bolsa.
Ela assentiu, seguindo meu conselho sem questionar. Enquanto descíamos do carro acompanhados pelos seguranças, o barulho da multidão parecia dobrar. Os gritos, os flashes, tudo aumentava. Assim que meus pés tocaram o chão, senti Hadassa hesitar por um instante.
— Vai ser rápido, eu prometo — murmurei baixo para ela, que apenas assentiu, sem dizer nada.
Os seguranças abriram caminho, e eu fui lidando com os pedidos de autógrafos e fotos, tentando ser ágil, mas ciente de que Hadassa estava desconfortável ao meu lado. Os óculos escuros escondiam seus olhos, mas a tensão era evidente na forma como ela se movia, como se quisesse desaparecer.
Enquanto assinava um caderno, um fã perguntou:
— Noah, quem é ela? Sua namorada?
Olhei de relance para Hadassa. Ela fingiu não ouvir, mas as bochechas coradas a denunciaram. Não respondi, apenas sorri de forma educada e continuei.
— Noah, aqui! Uma foto! — pediu outra fã, e eu atendi, mantendo o sorriso profissional enquanto tentava acelerar o processo.
Depois de alguns minutos, finalmente me virei para a multidão.
— Gente, agradeço muito o carinho, mas preciso entrar agora. Prometo que nos vemos em outra oportunidade.
Houve alguns resmungos, mas os seguranças rapidamente abriram espaço até a porta do hotel. Assim que entramos no saguão, Hadassa soltou um longo suspiro, visivelmente aliviada.
— Bem-vinda ao meu caos — brinquei, tentando aliviar o clima.
Ela tirou os óculos escuros e me olhou, os olhos ainda brilhando. Apesar do desconforto que sentiu lá fora, havia algo admirável na forma como ela se recompunha.
— Eu não sei como você consegue lidar com isso todos os dias — disse ela, a voz suave, mas com um toque de firmeza.
— Você acostuma. Ou, pelo menos, aprende a fingir que sim.
Por um momento, ficamos em silêncio. Não um silêncio confortável, mas um silêncio confuso, diferente.
— Você está bem? — perguntei, dando um passo mais próximo.
Ela ergueu os olhos para mim e, pela primeira vez naquela noite, sorriu de verdade.
— Estou, sim. Com você, acho que consigo lidar com isso.
As palavras dela me acertaram de cheio, mas mantive a calma, mesmo que tudo dentro de mim estivesse em tumulto. Não era só o que ela dizia; era como dizia. Era ela.
— Vamos subir? — perguntei, indicando o elevador.
— Vamos. — Ela sorriu de leve, o tipo de sorriso que ficaria gravado em minha mente por muito tempo.
⏳
Quando entrei na minha suíte, depois de um banho quente e vestindo apenas uma bermuda qualquer, minha mente parecia um campo de batalha em chamas. Cada pensamento era uma faísca, um golpe. O Canadá. Minha carreira suspensa por tempo indeterminado. A distância entre mim e Deus. E, claro, Hadassa. Tudo isso me consumia. A verdade era simples e crua: eu estava despedaçado. Fingindo estar no topo do mundo, mas afundando mais a cada dia. "Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" A pergunta de Marcos 8:36 ecoava na minha mente como um soco.
Era exatamente o que eu estava fazendo. Ganhando o mundo, colecionando aplausos, mas perdendo o que realmente importava: minha comunhão com Deus.
Afundei a cabeça no travesseiro, mas sabia que seria mais uma madrugada de insônia. Levantei, vasculhei o frigobar, e lá estava ela: minha maior tentação. Uma garrafa de uísque brilhava sob a luz fraca, como se zombasse de mim. Fiquei ali, parado, encarando aquele vidro por longos segundos. Poderia simplesmente ignorar, fechar o frigobar e tentar dormir. Ou poderia ceder. Apenas um gole, pensei. Só um.
Peguei a garrafa, sentindo o peso do meu fracasso antes mesmo de abrir a tampa. Caminhei até a cama e me sentei, tentando acalmar a mente, mas era inútil. Girei a tampa e tomei o primeiro gole. O líquido queimou a garganta, mas não o suficiente para apagar a dor. Pelo contrário, só aumentava a culpa que me consumia. Cada gole era como um tapa na cara, me lembrando do quão distante eu estava do que Deus queria para mim. Encarei a grande vidraça à minha frente e murmurei:
— Senhor, me perdoa...
Meus olhos vagaram até minha Bíblia, jogada sobre a mesinha. A visão dela era um soco no estômago. Sujo. Pequeno. Miserável. Era assim que eu me sentia. Uma lágrima escapou sem aviso, rolando pelo meu rosto enquanto eu caminhava até ela. Peguei a Bíblia, ainda segurando a garrafa, e me joguei de volta na cama. Folheei as páginas, buscando desesperadamente algo que me trouxesse alívio, mas o peso da bebida na outra mão parecia maior que qualquer versículo. A batalha que eu travava era espiritual. Uma luta entre a carne e o espírito, e eu estava cedendo à carne.
"Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço." Romanos 7:19.
Meus olhos pararam ali, no neon grifado da página.
— É isso, Deus. Exatamente isso — murmurei, apontando para o texto. — Tudo que faço é o mal. Estou aqui agora, bebendo essa porcaria, te traindo. O Senhor deve sentir nojo de mim.
Joguei a cabeça para trás, fechando os olhos enquanto apertava a Bíblia contra o peito.
— Por que não apaga tudo? — sussurrei, a voz embargada. — Me faz desaparecer. Tira minha fama, meu nome. Me deixa ser só um homem qualquer. Eu não sou digno de nada disso.
Abri os olhos e voltei a folhear as páginas, até que parei em Isaías 55:6-7:
"Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem injusto os seus pensamentos; e converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele; e ao nosso Deus, porque é rico em perdoar."
As palavras pareciam gritar comigo, cortando a minha alma.
— Mas como, Senhor? Como vou deixar meus pensamentos se eles me perseguem? A bebida me persegue. O passado me persegue. Eu sou um hipócrita, um traidor, afogado no pecado!
A Bíblia caiu aberta na cama enquanto eu me levantava, o coração pulsando de raiva, vergonha e desespero. Olhei para a garrafa na mesinha, a mesma que tinha segurado minha alma cativa por tanto tempo. Com um grito sufocado, agarrei a garrafa e a joguei com toda a força no chão. O vidro explodiu em mil pedaços, o som ecoando pelo quarto, como se refletisse a tempestade dentro de mim.
Comecei a andar em direção ao banheiro, mas a dor cortante no pé me fez parar. Um caco de vidro havia se alojado na planta do meu pé. O sangue começou a escorrer, quente e implacável, mas eu não me movi. Fiquei ali, parado, sentindo a dor física se misturar ao tumulto interno.
— É isso que eu mereço, Deus — murmurei, encarando o chão coberto de estilhaços e sangue. — Nada além disso.
Minha mente era um campo de batalha. Uma guerra violenta entre quem eu era e quem eu sabia que deveria ser. Cada escolha, cada falha, deixava sua marca, e agora o sangue que manchava o chão era a prova viva disso. Mas, ao invés de parar, continuei. Cada passo ignorava a dor, cada movimento esmagava as correntes invisíveis que tentavam me prender.
Cheguei ao banheiro e encarei meu reflexo no espelho. O homem que olhava de volta para mim não era o "Noah" que todos conheciam. Não era o astro aclamado, o cantor de sucesso. Era alguém quebrado, cansado, com olhos pesados de culpa e remorso. Liguei a torneira, deixando a água correr como se pudesse lavar a tempestade na minha cabeça. Peguei um pano, limpei o corte no pé, mas sabia que o problema era mais profundo. Não era só o vidro que precisava sair. Era tudo o que ele representava: a luta contra mim mesmo.
Minhas mãos apertaram a borda da pia com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Inclinei a cabeça para frente, encarando o chão, e sussurrei para o espelho:
— Você não vai me vencer.
Não sabia exatamente para quem estava falando. O álcool? As tentações? Meu próprio reflexo? Talvez fosse para tudo isso. O importante era que, pela primeira vez em muito tempo, eu estava disposto a lutar.
Voltei para o quarto, sentindo algo diferente no silêncio que me cercava. Ainda era pesado, mas agora parecia menos sufocante. Peguei minha Bíblia de novo. Abri no Salmo 23, e, enquanto lia, senti as palavras atravessarem a barreira que eu mesmo tinha construído.
Respirei fundo, deixei a Bíblia de lado e me ajoelhei ao lado da cama. Por um momento, hesitei. Mas então abri minha boca e deixei tudo sair.
— Deus... eu falhei. Tantas vezes. O Senhor sabe disso melhor do que ninguém. Eu te decepcionei. Te traí. Sei que mereço a Tua ira. Mas, por favor, não me abandone. Pode tirar minha voz, minha carreira, meu sucesso. Pode me deixar sem nada, mas, por favor, não tire a Tua presença de mim. Eu não sou nada sem Ti.
A voz vacilava, mas eu continuei.
— Eu não posso mais viver assim. Eu não quero mais. Quero recomeçar, Senhor. Quero ser um homem que Te honra de verdade, não só no palco, mas no secreto. Me dá nojo pelo álcool, assim como o Senhor me deu repugnância por tudo aquilo e pelas mentiras. Limpa meu coração, meu espírito. Eu não consigo carregar esse peso sozinho. Me ajuda, Pai.
Pausa. Minha respiração estava pesada, o quarto parecia mais quieto, mas algo dentro de mim se movia. Olhei para o alto antes de continuar.
— Eu sei que não mereço, mas quero tentar de novo. Dessa vez, tudo será diferente. Quero começar meus shows com oração. Quero que minha vida seja um reflexo da Tua luz, não uma máscara. Sei que será difícil, mas, por favor, me fortaleça. Que eu possa ser fiel a Ti em cada detalhe, em cada escolha. E se o Senhor estiver preparando algo para mim, me prepare para receber.
Fechei os olhos, a garganta apertada, e finalizei:
— Amém.
Quando me levantei, o estômago revirou como se estivesse em guerra. A pressão dentro de mim era insuportável. Tropeçando no escuro, alcancei o banheiro e vomitei. Não era só físico, era algo mais profundo, algo dentro de mim clamando por alívio. Lavei o rosto, tentando recuperar o controle, mas ao erguer os olhos para o espelho, senti aquela voz inconfundível ecoar no meu coração, calma, firme e imutável:
"Limpe primeiro o seu interior, para que o exterior também seja limpo. Eu vejo o seu coração e conheço sua luta, sua hipocrisia, mas o meu propósito para você não terminou. A obra que comecei em você, Eu a completarei. Me busque, livre-se do pecado que te prende, e venha."
Aquelas palavras atravessaram minhas defesas como uma espada. Encostei as mãos na pia, encarando meu reflexo: alguém que eu nem reconhecia mais. Eu sabia o que precisava fazer. Havia decisões que não podiam ser adiadas, e também o medo de Hadassa descobrir a verdade e enxergar o pior de mim quase me paralisava. Por algum motivo, eu me importava com isso. Mesmo assim, eu não podia fugir.
Voltei ao quarto. Bebi um copo de água e peguei meu violão – meu velho refúgio. As cordas vibraram, preenchendo o silêncio tenso. Cada nota parecia arrancar pedaços da confusão dentro de mim. Cantei. Não para mim, nem para os outros, mas para Ele. As palavras vieram como um clamor, uma rendição que eu já não conseguia segurar:
"Tu és a força que eu preciso,
Que me faz caminhar sobre o mar.
Me faz andar pelo fogo,
E não me queimarei.
Me segura com braço forte,
Não morrerei.
Me coloca a salvo na rocha,
Mais alta que eu."
A melodia preenchia o quarto, mas não só isso; parecia preencher também meu vazio. Continuei, as letras nascendo como uma oração sincera:
"Me esconde dos inimigos,
Não tropeçarei.
Nas asas do Teu amor eu me esconderei.
Na Tua casa, Senhor, pra sempre habitarei."
Quando terminei, a tensão começou a dar lugar a algo que não sentia há muito tempo: paz. Não era um final, mas um começo. Uma escolha. Era hora de parar de correr, de encarar meu pecado, meu passado e meu futuro, e entregá-los nas mãos Dele.
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