Capítulo 09 | Cláusula 2
Hadassa Luz
Após a reunião, voltei para o meu quarto determinada a encarar uma das tarefas mais difíceis da minha vida: arrumar as malas. Só que, como de costume, eu estava completamente perdida. Decidi começar pelos acessórios e maquiagens, mas logo percebi que estava andando em círculos. Marta já havia chamado para o almoço, mas eu preferi ficar tentando organizar a bagunça, então ela, com sua gentileza, trouxe minha comida no quarto. Nem isso ajudou a acalmar o caos ao meu redor.
Horas depois, ainda no meio da confusão, ouvi uma batida na porta. Antes que eu conseguisse responder, Lisa entrou, transbordando energia, como sempre. Usava um conjunto social impecável, saltos altos e óculos de sol no cabelo, como uma celebridade chegando no tapete vermelho.
— Meu Deus, Hadassa, isso aqui parece um campo de batalha! — exclamou, olhando para as roupas espalhadas por toda parte. — Você não colocou nem uma peça na mala?
— Totalmente perdida, Lisa — confessei, me jogando em cima da cama coberta de roupas. — Nunca viajei para fora do Brasil e, pra piorar, não faço ideia do que levar para estar à altura de uma assistente do Noah Tremblay.
— Calma, diva, estou aqui para salvar o dia. Já arrumei as malas do Noah e agora posso te ajudar com as suas — disse, largando a bolsa sobre a escrivaninha e arregaçando as mangas. — Vamos montar looks incríveis! Primeiro, algumas roupas casuais. E biquínis, claro, porque vamos pra piscina.
— Piscina? — repeti, surpresa, sentando-me.
— Claro, amiga! Final de semana em um hotel chique, tem que ter piscina! — respondeu com um tom óbvio que me fez rir.
Em questão de minutos, Lisa conseguiu organizar a bagunça, formar looks incríveis e encaixar tudo perfeitamente na mala. Era como assistir a um mágico em ação.
— Ok, Lisa, você tem um talento sobrenatural para isso. Posso te contratar sempre que precisar arrumar malas? — brinquei, impressionada.
— Aceito pagamento em elogios e café — respondeu, rindo, enquanto ajustava a alça da bolsa.
Quando a situação parecia mais tranquila, lembrei de uma dúvida que me incomodava.
— Então, Lisa, você é prima do Noah, certo?
Ela parou o que estava fazendo e arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Quem te contou?
— Ele mesmo — respondi, e Lisa revirou os olhos.
— Olha só, ele me fez prometer segredo e, no fim, vai lá e conta? Esse menino está impossível ultimamente.
— Por quê? Todo mundo anda dizendo que ele está diferente ultimamente — comentei.
— Ah, Hadassa, desde que voltou do Canadá, Noah mudou. Mas ele não toca muito no assunto.
— Então o mistério é canadense — refleti, pensativa.
— Talvez sim... Talvez, em algum momento, ele te conte tudo.
— Talvez sim, talvez não...
Lisa assentiu, mas logo mudou o assunto com um sorriso travesso.
— A propósito, Lorenzo perguntou de você.
Senti um frio no estômago imediatamente.
— Perguntou o quê?
— Só comentou sobre você. Relaxa, não entreguei nada demais. Mas vou te dizer uma coisa: ele parece interessado, amiga.
Meu coração quase pulou para fora do meu corpo. Tentei disfarçar, mas minha expressão me traiu.
— Eu falei que você tem namorado.
Suspirei, mexendo distraidamente em um colar.
— Namorado… bom, eu e Mateus estamos por um fio. Só falta a conversa final.
Contei um pouco da situação à Lisa, e ela ouviu tudo com atenção. Lisa também ofereceu um conselho sábio, parecido com o que as pessoas me aconselham ultimamente sobre o Mateus.
— Você merece alguém que valorize quem você é, Hadassa. Só cuidado com Lorenzo, ele não compartilha a sua fé. Jugo desigual, sabe como é.
— É, preciso conhecer melhor quem ele realmente é antes de pensar em qualquer coisa — respondi, pensativa.
— Vocês terão muito tempo para se conhecerem.
Ela me deu um abraço rápido antes de sair.
— Boa viagem, gata. Nos vemos lá.
— Boa viagem pra você também, Lisa — respondi, já me sentindo muito mais preparada, tanto para a viagem quanto para os desafios que estavam por vir.
Após o banho, deixei o cabelo solto, finalizei a maquiagem com leveza e escolhi os acessórios certos. Para a viagem, optei por um look que unia conforto e elegância. Vesti uma calça de alfaiataria bege, ajustada na medida certa, com elástico na cintura, combinada com uma blusa preta de algodão macio. Nos pés, loafers de couro caramelo, que eram confortáveis para o voo. Minha bolsa tote de couro preta completava o visual prático, mas sofisticado.
Antes de sair, ajoelhei-me e fiz uma oração, pedindo proteção e calma para enfrentar o longo trajeto. Fiz um check-list mental para ver se não estava esquecendo nada e saí do quarto.
Com passos firmes, desci até a sala, onde Noah me esperava sentado no sofá e mexendo no celular. Ele parecia relaxado, mas a elegância era inegável. Vestia uma calça jeans slim preta, combinada com uma camisa de linho branca desabotoada no colarinho e um blazer cinza claro que caía perfeitamente nos ombros. O toque casual vinha dos tênis de couro branco, e o relógio clássico com pulseira metálica refletia o bom gosto que ele parecia exalar sem esforço.
Ao me ver, ele tirou os olhos do celular e os fixou em mim. Seu olhar passeou sem pressa pelo meu corpo, dos pés à cabeça. Algo em sua avaliação, tão direta e sem cerimônias, fez meu coração acelerar. Senti minhas bochechas esquentarem, mas me forcei a sustentar seu olhar.
— Vamos. Deixe as malas aí que Tobias vai levar — disse ele, levantando-se com uma tranquilidade que parecia contagiante.
Enquanto caminhávamos para o elevador, Noah colocou os óculos escuros, ocultando as leves olheiras que denunciavam o cansaço. Mesmo assim, era impossível ignorar a presença marcante dele ao meu lado.
— Preparada para sair do Brasil? — perguntou, sem me encarar, com a voz baixa e rouca.
A verdade era que não. Meu histórico de crises de pânico em viagens não me deixava mentir, mas eu engoli o nervosismo e me forcei a parecer confiante.
— Com certeza, sim — respondi, tentando soar firme, mas sentindo o olhar dele me atravessar, como se soubesse que eu não estava tão certa assim.
Noah soltou um sorriso de canto, quase imperceptível, enquanto apertava o botão do elevador.
Seguimos para o carro e, em pouco tempo, estávamos no aeroporto. Assim que o vi, o jatinho particular de Noah impunha presença com seu luxo discreto, mas, em vez de admiração, tudo o que senti foi o peso do pânico. Meu coração começou a acelerar antes mesmo de subir as escadas da aeronave. Eu tentava manter a compostura, mexendo distraidamente na bolsa, até que me dei conta do esquecimento imperdoável: meus remédios para dormir tinham ficado em casa.
O golpe foi imediato, como se o ar fosse arrancado dos meus pulmões. O pânico me envolveu, com o coração disparado e o suor frio escorrendo pela nuca. Subi as escadas do avião com as pernas vacilantes e me sentei na poltrona, tentando ignorar o que vinha a seguir. Mas a ideia de enfrentar a altitude sem os remédios era esmagadora. Minha mente estava presa em pensamentos descontrolados: o avião subindo, a turbulência, o medo irracional — ou talvez não tão irracional assim — de que algo desse errado, o pensamento de que o avião poderia cair a qualquer momento e a sensação de estar completamente fora de controle.
Noah, que até então parecia distraído com o celular, notou a tensão no ar. Ele levantou o olhar e franziu a testa, percebendo meu estado. Meus olhos estavam fixos no chão, sem me atrever a olhar para a janela.
— Hadassa, você tá bem? — perguntou, com a voz firme, mas baixa, enquanto colocava o celular de lado.
Eu queria responder, mas minha garganta parecia fechada. Apenas balancei a cabeça, indicando que não, definitivamente não estava bem. Ele se aproximou, agora visivelmente preocupado, mas manteve uma certa distância, respeitando os limites que sempre mantínhamos por causa do contrato.
— O que tá acontecendo? É o voo? — Ele analisava minha expressão, confuso e atento.
— Eu... eu esqueci... meus remédios... — consegui murmurar entre respirações curtas e rápidas.
— Remédios? — Ele parecia ainda mais intrigado, a preocupação marcando suas feições. — Que remédios?
— Para dormir. Eu não consigo... — interrompi minha própria frase para tentar puxar o ar que não vinha. — Tenho medo de avião. Eu sempre... tenho crise de pânico quando viajo, e...
Os olhos de Noah se arregalaram ligeiramente, mas ele manteve a calma. Sentou-se na poltrona ao meu lado, claramente tentando decidir como ajudar.
— Respira, Hadassa. Só respira, tá? — disse ele, se inclinando levemente, ainda mantendo o tom calmo.
— Eu não consigo... — murmurei, lutando contra a sensação esmagadora de sufocamento. — Eu preciso dormir, senão...
Noah ficou visivelmente alarmado. Ele passou as mãos pelo cabelo, claramente tentando pensar rápido, mas parecia hesitante. Eu sabia que ele queria fazer algo, mas as regras entre nós o impediam.
— Hadassa, escuta, você precisa se acalmar. Olha pra mim. — Ele se inclinou ligeiramente, mas sem ultrapassar aquele limite invisível. — Você vai ficar bem, tá? Foca na minha voz.
Tentei, mas cada movimento do avião parecia um lembrete cruel de que estávamos prestes a sair do chão.
— Não... eu não consigo... — murmurei, já sentindo lágrimas escorrendo. Era mais forte do que eu.
Ele olhou ao redor, como se procurasse ajuda em um espaço vazio, e então suspirou.
— Tá bom. Tá bom. Olha, respira comigo. Inspira... expira... vai, Hadassa.
Ele começou a respirar fundo, exagerando os movimentos para que eu o acompanhasse. Mesmo tremendo, tentei imitá-lo. Sua voz era calma, firme, quase autoritária, o que me fez focar nele em vez do caos na minha cabeça. Tentei levantar a cabeça, mas abaixei novamente quando vi o cenário do avião.
— Vamos fazer assim: foca no que vamos fazer em Orlando, tá? Tem um restaurante incrível que eu quero te levar... você gosta de comida italiana? — Ele continuava falando, inventando histórias sobre o que faríamos lá.
Ainda tremendo, fui lentamente me desconectando do pânico, agarrada à voz dele como a uma âncora. Quando o avião finalmente decolou, minhas mãos ainda estavam grudadas nos braços da poltrona, e foi aí que o desastre aconteceu. Minha respiração falhou completamente e eu já não tinha forças. A visão começou a ficar embaçada, como se tudo ao meu redor estivesse perdendo o foco. Meu corpo inteiro entrou em estado de alerta, como se estivesse em perigo iminente, mas não havia para onde fugir.
De repente, o mundo ao meu redor pareceu se fechar. Meus ouvidos zumbiram, o suor escorreu pela testa, e senti como se estivesse perdendo o controle completo dos meus sentidos. Meu estômago deu um nó, e eu tive vontade de vomitar, mas o pior era o medo paralisante. Ele me consumia como uma onda gigante, sufocante, e eu só conseguia pensar: vou morrer aqui, agora. Era como se estivesse presa em uma guerra interna que eu não sabia como vencer.
Eu já não sabia mais o que Noah estava dizendo. Suas palavras chegavam até mim como um som distante, quase inaudível. Meus olhos estavam fechados, minha cabeça parecia pesar toneladas, e o corpo inteiro dava sinais de rendição. Tudo dentro de mim dizia que eu ia desmaiar ali, no meio daquele jatinho, presa no meu próprio pânico.
Foi então que algo inesperado me trouxe de volta, como um sopro de realidade em meio ao caos. Abri os olhos devagar, piscando contra a luz suave da cabine. Meu coração ainda estava acelerado, minha respiração irregular, mas o toque da realidade começava a me alcançar, mesmo que de forma hesitante.
— Hadassa, olha pra mim — ouvi a voz de Noah, firme, mas calma, como uma âncora. Ainda assim, hesitei. Meu corpo estava ali, mas minha mente vagava, tentando processar tudo. — Hadassa — ele repetiu, e, de repente, senti o toque suave de sua mão em meu queixo, virando delicadamente meu rosto para ele. Seus olhos estavam fixos nos meus, intensos, mas cheios de calma.
— Não pare de olhar pra mim — pediu, a voz baixa, quase um sussurro, mas firme o suficiente para me manter ancorada.
Por um instante, foi como se o tempo parasse. Noah segurou minha mão, seus dedos quentes e firmes envolvendo os meus, como se quisesse transmitir segurança através do toque. Meu coração ainda corria, mas o pânico começava a dar lugar a uma estranha sensação de conforto.
— Respira fundo, Hadassa — ele instruiu, e eu obedeci, ainda que de forma hesitante. — Isso... Continua respirando.
— Eu não consigo, Noah — sussurrei, minha voz quase um fio, quebrada pelo medo. — Não vou suportar essas horas de voo até Orlando.
Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se quisesse assegurar que eu estava ouvindo cada palavra sua.
— Você vai conseguir, Hadassa — disse ele, com convicção. — Eu estou aqui com você.
Noah levantou-se e pegou uma manta que estava dobrada em uma poltrona próxima. Eu estava ali, tentando encontrar alguma paz no meu próprio corpo tenso, quando Noah se aproximou da minha poltrona. Eu o vi se agachar ao lado, o sorriso suave no rosto, como se soubesse exatamente o que fazer para me deixar mais confortável.
Com um olhar focado, ele pressionou o botão ao lado do meu assento, e a poltrona começou a reclinar lentamente. O som do mecanismo se movendo me trouxe uma sensação estranha, como se tudo ao meu redor estivesse ficando mais calmo. Eu estava tensa, mas não pude deixar de observar cada movimento dele.
Ele ajustou o apoio de braço e deu mais uma olhada para se certificar de que a poltrona estava o mais confortável possível. Não sei bem por que, mas eu senti uma leveza ao ver o cuidado que ele tinha com algo tão simples. Como se soubesse que aqueles pequenos gestos eram importantes.
Noah fez o mesmo com a poltrona ao meu lado e se aproximou de novo. Eu sentia o nervosismo correndo pelo meu corpo, mas, de alguma forma, ele parecia capaz de apagar o medo que tomava conta de mim. Ele me olhou com suavidade, e, sem dizer uma palavra, se inclinou ao meu lado.
Eu não soube o que me fez ceder, mas antes que eu pudesse reagir, ele me abraçou com uma delicadeza que eu não esperava. Seus braços me envolveram de uma forma protetora, como se tentasse me amparar contra o próprio pânico que eu enfrentava. Eu sabia o que isso significava. Sabia que aquilo estava quebrando todas as regras, cada cláusula do contrato que eu e ele tínhamos. Mas, no momento, parecia irrelevante.
Ele me cobriu com a manta que ele havia pegado, seu toque cuidadoso passando por meus ombros.
— Tente descansar — ele disse, sua voz baixa e reconfortante. Eu não sabia se o pânico ia me deixar dormir, mas, com o calor do abraço dele e o gesto gentil de cobrir-me, algo dentro de mim começou a se acalmar. O toque dele foi como um alívio, como uma permissão silenciosa para me entregar ao sono.
O contrato, as regras, tudo parecia distante. Eu estava ali, entregue à sensação de segurança que ele me oferecia, ao mesmo tempo em que sabia que estávamos ultrapassando os limites que tínhamos imposto um ao outro. E, por algum motivo, naquele instante, eu não me importava.
— Sabe que eu não vou conseguir dormir, não é? — sussurrei, ainda apoiada em seu ombro.
— Apenas feche os olhos e tente esquecer que está no avião — ele disse, e eu obedeci. — Por que sente tudo isso?
— Uma vez estávamos viajando: eu e meus pais — comecei, minha voz baixa e trêmula. — Fomos de São Paulo para Porto Alegre. Foi uma viagem rápida, mas que me deixou traumatizada.
Fiz uma pausa, tentando controlar a respiração enquanto a lembrança ganhava forma.
— Era noite, e tudo começou tranquilo. Eu e meus pais sorríamos, fazíamos planos para a viagem. O avião estava cheio, mas parecia ser mais um voo comum. Lembro-me de olhar pela janela, vendo a cidade desaparecer lá embaixo, até que o avião começou a balançar. No início, era só uma leve turbulência, mas depois... piorou.
Minha voz falhou, quase se perdendo no ar, enquanto o peso da memória apertava meu peito. Noah me ouvia atentamente, sem interromper, seu braço ainda me envolvendo, criando uma bolha de segurança ao meu redor.
— Era uma noite muito escura, mais do que eu poderia imaginar — continuei, agora quase em um sussurro. — Estávamos no meio do voo quando o avião começou a tremer de forma tão violenta que parecia que tudo ia desmoronar. O barulho era ensurdecedor. As luzes se apagaram por alguns segundos, e eu senti um frio na espinha, como se algo terrível estivesse prestes a acontecer.
Fechei os olhos por um instante, tentando afastar a sensação sufocante que voltava com força.
— Lembro-me de olhar para meus pais. Meu pai tentava manter a calma, mas eu via o medo nos olhos dele, e isso me deixou ainda mais desesperada. A cabine estava cheia de passageiros apavorados, gritando, enquanto as máscaras de oxigênio caíam. Foi um caos absoluto, Noah. Um caos que parecia não ter fim.
Pausei, deixando que o silêncio preenchesse o espaço por um momento. Era como se estivesse revivendo aquele pesadelo.
— Por um instante, parecia que o avião estava fora de controle, como se estivesse se despedindo do céu para se lançar em direção ao chão. O medo da morte era tão real quanto o som do motor falhando. Senti que ia desmaiar de pânico, mas meu pai me segurou, me abraçou e disse que íamos sair daquela situação.
Respirei fundo, segurando as lágrimas que ameaçavam cair. Eu não queria mostrar mais vulnerabilidade do que já havia mostrado.
— Depois de alguns minutos que pareceram horas, o avião finalmente se estabilizou. Mas o medo... nunca foi embora. Até hoje, toda vez que entro num avião e sinto um movimento brusco, é como se aquele pesadelo voltasse com força total.
Olhei para Noah, e seu olhar encontrou o meu. Era cheio de empatia, como se ele realmente estivesse sentindo tudo o que eu havia acabado de descrever. Pela primeira vez, me senti aliviada por compartilhar esse trauma que carregava sozinha.
— Eu... Sinto muito por tudo isso, Hadassa. E me desculpe por te colocar nessa situação — disse ele, sua voz baixa e cheia de arrependimento.
Ajeitei-me na poltrona, tentando soar mais confiante.
— Não, Noah. Você não tem culpa de nada. Isso é algo que eu preciso enfrentar e superar — confessei, forçando-me a manter o olhar fixo no dele e a ignorar o ambiente ao meu redor. — Tenho orado sobre isso por anos. É um gigante que nunca consegui derrubar. Sinto que falho como cristã toda vez que deixo esse medo me vencer...
— Hadassa — ele me interrompeu, segurando minha mão com firmeza. — Escuta, você não está falhando como cristã. Todos nós temos gigantes que enfrentamos, e isso é normal. Deus conhece nossas fraquezas e nossos medos. Ele promete estar conosco e lutar por nós. Essa vitória interna que você alcançou agora não foi por minha causa, mas porque Deus te deu forças. Não desista de enfrentar esse gigante, porque maior é o Deus que está em você.
As palavras dele entraram como uma onda de paz, como se algo fosse despertado dentro de mim.
— Noah, eu...
Ele me interrompeu novamente, mas agora com um sorriso suave.
— Desde criança, meus pais sempre liam Josué 1:9 para mim. É um versículo que repito sempre que sinto medo: "Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar".
Suas palavras eram como flechas certeiras, atingindo diretamente meu coração. Eu não tinha mais desculpas, nem argumentos. Precisava ser forte e lembrar que Deus era maior que qualquer medo.
— Obrigada, Noah — agradeci, minha voz baixa, mas cheia de sinceridade. — Obrigada de verdade.
Ele apenas assentiu, sem dizer nada, enquanto permanecia ao meu lado, me apoiando. Por algum motivo, o som do motor do avião e os movimentos suaves agora pareciam distantes. Eu sabia que ainda enfrentaria o medo, mas naquele momento, sentia que não estava mais sozinha.
Ele me deitou novamente em seu ombro e deslizou os dedos suavemente pelo meu braço, com um toque que me despertou algo novo. O pânico que antes dominava meu corpo começou a se dissipar, dando lugar a calafrios sutis e um coração que agora batia em um ritmo acelerado, mas não de medo. Era uma mistura de conforto e uma paz inexplicável. Ali, em seu braço, me senti segura, quase como se nada mais importasse. Fechei os olhos, tentando relaxar e me entregar ao momento.
— E o contrato? Vou ser demitida depois disso? — perguntei, minha voz baixa e suave, ainda com os olhos fechados.
Ouvi uma risada abafada de Noah, próxima o suficiente para sentir a leve vibração em seu peito.
— Esquece o contrato por hoje, Hadassa. Apenas relaxe — disse ele, com um tom que trazia tranquilidade e um sorriso que eu sabia que estava lá, mesmo sem vê-lo. — E pare de achar que tudo vai te levar à demissão — acrescentou, brincando. Dessa vez, não consegui conter a risada, que escapou baixa e sincera.
— Aproveite para descansar também, porque você precisa estar pronto para o show — murmurei, abrindo os olhos e encontrando o perfil dele. Noah estava com o olhar fixo no teto do jatinho, perdido em pensamentos.
— Só vou dormir depois que você dormir — ele respondeu, virando o rosto para me encarar diretamente. Seu olhar encontrou o meu, e naquele instante senti minha respiração falhar. Havia algo em sua expressão, uma mistura de cuidado e intensidade, que fez meu estômago se encher de borboletas agitadas.
Sem saber o que dizer, voltei a deitar em seu ombro, fechando os olhos novamente. Eu podia sentir o calor dele e a forma como sua presença me desconcertava, mas, ao mesmo tempo, me acalmava. Ele percebeu meu silêncio e, talvez, o que havia por trás dele.
— Boa noite, Hadassa — disse Noah, sua voz baixa e envolvente, como um sussurro que se aconchegou em minha mente.
— Boa noite, Noah — respondi, minha voz quase um murmúrio. E assim, me permiti permanecer ali, deixando sua presença me envolver enquanto tentava me afastar do medo e me aproximar daquela nova sensação que ele despertava em mim.
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