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Capítulo 07 | Segredos, Tensão e Atração

Hadassa Luz

No dia seguinte...

Eu ainda mal acreditava que estava acompanhando Noah para realizar o exame. Ele, sempre tão confiante e no controle, parecia diferente hoje. Assim que chegamos à clínica, passei as informações dele na recepção. Era uma das clínicas recomendadas para os exames que ele precisava, e o ambiente pareceu ganhar vida com a presença de Noah. Os olhares curiosos, os sussurros, os fãs — era impossível ignorar o impacto que ele causava. Alguns funcionários e pacientes pediram fotos, e, como sempre, ele foi gentil, atendendo a todos com um sorriso que derretia corações. Enquanto isso, os dois seguranças permaneciam atentos, mas eu me sentia deslocada entre eles e Noah, quase como uma intrusa em um mundo tão distante do meu.

Depois de confirmar os dados, ele foi chamado rapidamente, e eu não consegui conter um olhar intrigado. Era o Noah, afinal, e parecia que tudo ao redor dele funcionava em outro ritmo. Quando ele pediu que eu o acompanhasse para o exame, fiquei surpresa, mas não hesitei. Durante o procedimento, percebi algo novo: havia vulnerabilidade nos olhos dele, um lado que ele raramente deixava transparecer.

Ao sairmos da clínica, voltamos ao carro. Noah estava inquieto, respirando fundo, segurando uma garrafinha de água que eu havia lhe entregado.

— Tá tudo bem? — perguntei, preocupada.

— Um pouco ansioso com o resultado — ele admitiu, a voz baixa.

— Calma, vai dar tudo certo. — Tentei confortá-lo, mas ele parecia perdido em pensamentos.

— Eu detesto fazer laringoscopia, Hadassa. Por isso pedi para você entrar. — A confissão veio acompanhada de um sorriso tímido que me pegou desprevenida.

— Não tem problema. Sou sua assistente, estou aqui para isso — respondi, tentando esconder o quanto aquele momento me afetava. Ele era tão... humano ali, tão diferente do Noah que todos conheciam.

— Lorenzo já está a caminho para avaliar os exames — ele disse, ainda tenso.

— Isso é bom. Assim, a ansiedade vai embora mais rápido — comentei, mas Noah parecia mergulhado em algo mais profundo.

— Tenho fé que não será nada grave. — Sua voz estava calma, mas seus olhos não escondiam o medo.

— Fé é o que importa. Deus nunca nos abandona. — Sorri, tentando transmitir confiança. — Você acredita nisso, não acredita?

Ele me olhou por um momento, e a intensidade do seu olhar me fez prender a respiração.

— Eu acredito, Hadassa. Mas também sei que, se for da vontade d'Ele, posso ter que enfrentar as consequências dos meus erros. E, honestamente, tenho medo. Sei que mereço. — Sua voz carregava uma dor que me fez estremecer. O que ele estaria escondendo?

— Já tentou pedir perdão a Deus por isso? Talvez o perdão alivie esse peso que você sente — arrisquei dizer, mesmo hesitando. Noah deu um pequeno sorriso, quase irônico.

— Cláusula 3 do contrato, lembra? — Ele piscou, e eu sabia que ele estava mudando de assunto. Suspirei e deixei passar, mas as palavras dele continuavam ecoando na minha mente.

Noah carregava algo que o atormentava, algo que ele não estava pronto para compartilhar. Enquanto ele se recolheu no quarto ao chegarmos na cobertura, fiquei na sala, tentando organizar sua agenda enquanto aguardava a chegada do Dr. Lorenzo. Meu coração estava inquieto, dividido entre a preocupação com ele e a curiosidade sobre o segredo que parecia pesar tanto em seus ombros.

Marta surgiu de repente na cozinha, arrancando de mim uma risada pelo susto.

— Ai, desculpe, querida! Não queria assustar — disse ela, pegando alguns potes no armário. — Mas é bom ver que você está se adaptando aqui.

Eu sorri, ainda focada no MacBook.

— Até agora está tudo indo bem, mas sei que a parte mais difícil ainda está por vir. — Suspirei. — Os shows.

— Tenho certeza de que você vai tirar de letra — ela disse com confiança, enquanto começava a mexer em uma panela. — Ainda mais porque o Noah está pegando leve com você. Nunca o vi assim antes.

Franzi o cenho, intrigada. Fechei a tampa do MacBook e me aproximei do balcão, sentando no banco.

— Como assim? — perguntei, apoiando o queixo no punho enquanto a observava cozinhar.

— Noah é muito fechado e reservado. Ele nunca levou a assistente anterior para a casa de praia onde fica o estúdio dele. Era só a banda, ou apenas ele, quando queria ficar sozinho. Eu conheço o Noah desde pequeno. Era cozinheira da casa dos pais dele no Canadá. Trabalhei anos por lá, e depois vim para São Paulo com seus pais, mas quando Noah decidiu voltar para o Brasil, eu vim junto para Balneário. Não iria deixar meu menino passar fome.

Sorri com o carinho evidente em suas palavras.

— Então ele se dá muito bem com você.

— Ele é um rapaz muito inteligente, mas mudou muito desde que voltou para o Brasil. Está mais quieto, fechado. São poucas as pessoas que conseguem entrar no mundo dele. — Marta pausou por um momento, antes de acrescentar: — E, pra ser sincera, eu não gosto muito da namorada dele. Acho Ângela metida, uma farsa no mundo gospel.

Fiquei curiosa sobre Ângela, mas decidi não perguntar nada no momento.

— E o que quis dizer com "nunca o vi assim antes"? — perguntei, querendo entender.

Marta sorriu, como se soubesse de algo que eu não sabia.

— Ele confia em você, Hadassa. E isso é raro.

Aquelas palavras ficaram ecoando em minha mente, mas logo fui despertada pelo som do elevador. Levantei-me do banco e, quando a porta se abriu, dei de cara com Lorenzo. Ele entrou com aquele olhar penetrante e um sorriso que parecia sempre presente. Vestia uma calça bege ajustada, uma camisa branca de botões impecavelmente alinhada, e carregava uma maleta.

— Olá, Hadassa — disse ele, com um sorriso calculado.

— Bom dia, Dr. Lorenzo — respondi educadamente, enquanto o guiava até a sala.

— Pode me chamar de Lorenzo. Seremos muito próximos daqui pra frente — ele disse, com um tom calmo. — Bom dia, Martinha.

— Bom dia, querido. Estou preparando um café delicioso para servir vocês — respondeu Marta, sempre animada.

— Ainda bem que não comi nada no caminho. — Lorenzo sorriu enquanto se acomodava no sofá, claramente à vontade. Eu, por outro lado, sentei na poltrona, mantendo uma distância discreta.

— E o Noah? — ele perguntou, olhando ao redor.

Olhei para o relógio e percebi que Noah estava atrasado. Meu coração acelerou levemente. O que fazer? Chamar pessoalmente? Mandar uma mensagem?

— É... Vou chamá-lo. — Levantei-me rapidamente, mas não antes de sentir o olhar de Lorenzo fixo em mim. Aquilo me deixou desconcertada, mas foquei no que realmente importava: encontrar Noah.

Caminhei pelo corredor com as pernas trêmulas, como se a qualquer momento pudesse desabar. Meu coração batia tão alto que parecia ecoar pelas paredes. Finalmente, parei diante da porta que só podia ser a suíte master do Noah. Respirei fundo, hesitante. Será que deveria chamá-lo? Bem, se fosse errado, descobriria na prática.

Toquei duas vezes, a madeira da porta parecendo um tambor sob meus dedos.

Quando a porta cinza chumbo se abriu, eu quase engasguei com o ar. Noah surgiu, seu olhar intenso e penetrante me deixou sem chão. Ele estava abotoando o primeiro botão da camisa preta — com calma, quase como se quisesse me torturar. Seu cabelo molhado estava bagunçado, e o cheiro fresco de pós-banho invadiu meus sentidos. A bermuda branca casual que ele usava parecia uma escolha simples, mas nele, até isso parecia digno de um comercial.

“Senhor, onde fui me meter?”, pensei, quase em pânico. “Eu namoro o Mateus. Eu namoro o Mateus. Eu namoro o Mateus...” Repeti mentalmente, mas meus olhos teimosos continuavam fugindo para aquele monumento à minha frente.

— O que quer, Hadassa? — ele perguntou com a voz calma, mas carregada de uma intensidade que parecia me despir.

— É... O Dr. Lorenzo está na sala aguardando — gaguejei, sentindo minha voz falhar.

Ele me encarou com aquele olhar desafiador que fazia minhas pernas vacilarem.

— Você não tem meu WhatsApp, tem? — perguntou, casualmente, enquanto abotoava o último botão. Era uma pergunta simples, mas parecia me desafiar de alguma maneira.

— Não... — confessei, sentindo o calor subir pelo meu rosto.

— Cadê o seu celular? — pediu, estendendo a mão, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

Tremendo, entreguei meu celular. Ele digitou seu número com uma calma quase irritante, salvando-o como “Noah Tremblay”. Quando devolveu o aparelho, lançou-me uma piscadela com um sorriso que era uma mistura de charme e arrogância.

— Qualquer coisa que precisar, é só ligar ou mandar mensagem — disse, antes de fechar a porta com toda a casualidade do mundo.

Fiquei parada por alguns segundos, processando. Eu tinha o número do Noah Tremblay no meu celular. Era oficial. E, sinceramente, eu nem me importei com o fato de Noah praticamente bater a porta na minha cara.

Voltei para a sala, ainda perdida em pensamentos, quando Lorenzo se levantou, quebrando minha bolha de devaneios.

— Ele já vem? — perguntou.

— Está terminando de se arrumar — respondi, tentando parecer normal.

— Está gostando daqui? — continuou, sentando-se novamente.

Fui até a cozinha buscar um copo d’água, na esperança de esfriar um pouco o calor que me consumia.

— A vista é incrível — comentei, bebendo um gole enquanto minha mente insistia em oscilar entre Noah e Mateus. Um dilema moral em plena ebulição. A culpa me corroía.

— Concordo. Quando eu morava no México, não tinha uma vista assim — disse Lorenzo, casualmente.

— Você morava no México? — perguntei, intrigada, voltando para a sala.

— Brasileiro, mas cresci lá. Minha irmã e eu decidimos voltar para o Brasil. Nossos pais ainda estão no México, mas somos os rebeldes da família — explicou, sorrindo, e eu ri com a leveza dele.

— Quem é sua irmã? — perguntei, curiosa, mas antes que pudesse ouvir a resposta, Noah entrou na sala.

— Já descobriu que Lorenzo Martins é mexicano? — brincou Noah, lançando um olhar divertido para mim.

— Brasileiro crescido no México — corrigiu Lorenzo, rindo.

— Cuidado com os mexicanos, Hadassa. Eles adoram jogar charme até conquistar as pessoas — Noah alfinetou, rindo.

Lorenzo riu, mas havia um brilho em seus olhos.

— Não o escute. Ele está com ciúmes, porque ninguém resiste ao meu charme.

Eu sabia que Lorenzo estava flertando comigo, e Noah sabia disso também. Sem saber onde enfiar a cara, procurei Marta com o olhar. Ela sorriu para mim, cúmplice.

— Não assuste a moça, Noah — brincou Lorenzo, descontraído.

— Ela tem namorado, Lorenzo. Não perca seu tempo, irmão.

Meu coração deu um salto e depois outro. Eu olhei para Marta novamente, implorando por ajuda silenciosa. Ela apenas piscou para mim, divertida, enquanto eu tentava me afundar na poltrona e desaparecer.

— Meninos, vamos tomar café? Depois vocês continuam essa conversa — disse Marta, nos conduzindo até a mesa no rooftop, que oferecia uma vista espetacular do mar.

Eu hesitei em me sentar. Afinal, era apenas uma funcionária e aquele ambiente parecia mais íntimo do que profissional.

— Sente-se, querida — disse Marta com um sorriso acolhedor, mas eu continuei em pé, incerta.

— Hadassa, pode se sentar e tomar café conosco. Aqui você pode ficar à vontade, já lhe falei — disse Noah, com uma gentileza que fez meu coração acelerar, enquanto seus olhos fixavam nos meus de maneira intensa.

Antes que eu pudesse reagir, Lorenzo se levantou com um sorriso marcante e puxou uma cadeira para mim, como se estivesse lendo meus pensamentos. Noah permaneceu em silêncio, mas seu olhar ficou mais sério, acompanhando cada movimento de Lorenzo. Marta, atenta a tudo, lançou uma expressão divertida diante do gesto exagerado de Lorenzo.

— Obrigada — murmurei, sentindo meu rosto esquentar, enquanto me acomodava.

Nos servimos com uma variedade deliciosa: pães, panquecas, torradas, frutas, ovos mexidos, sucos e geleias. Enquanto isso, Lorenzo e Noah conversavam sobre shows e as experiências do Noah. Percebi que, apesar de Lorenzo ser médico e Noah seu paciente, havia uma camaradagem entre eles que sugeria uma longa amizade.

— Hadassa, me conte, o que fazia antes de vir pra cá? — perguntou Lorenzo, enchendo seu prato com frutas e lançando-me um olhar interessado.

— Era estagiária em uma clínica — respondi, sentindo o olhar atento de Noah sobre mim. Ele arqueou uma sobrancelha, curioso.

— E você faz que curso? — Lorenzo continuou, inclinando-se ligeiramente na minha direção, como se quisesse me deixar à vontade para falar mais.

— Administração. Tenho vontade de ser empresária, mas ainda estou descobrindo meu verdadeiro talento para abrir meu próprio negócio — disse, tentando soar confiante.

Enquanto Lorenzo parecia genuinamente interessado, Noah se mantinha em silêncio, mas seus olhos mostravam que ele estava prestando atenção em cada palavra. A menção da cláusula 3 do nosso contrato não parecia sair de sua mente.

— Parabéns, Hadassa. Está no caminho certo. Ser empresário hoje em dia é o que mais faz uma pessoa crescer na vida — elogiou Lorenzo, sorrindo, e eu retribuí com um leve sorriso. Noah, no entanto, manteve-se calado, seus olhos ainda em mim.

— Noah sonhava em ser médico quando criança — soltou Lorenzo, quebrando o clima e fazendo Noah pigarrear, claramente incomodado. Eu não consegui evitar uma risada.

— Não sabia disso — disse, divertida. Noah parecia odiar que eu soubesse mais sobre ele, apesar de eu já ter aprendido várias coisas nos últimos dias e na minha caminhada como fã. — Vocês se conhecem desde criança? — perguntei, intrigada.

Lorenzo e Noah trocaram olhares antes de rirem.

— Desde sempre — respondeu Lorenzo, enquanto Noah bebia um gole de café.

— Somos primos, não sabia? — disse Noah, finalmente revelando algo que me deixou surpresa.

— Não! Não sabia — respondi, com os olhos arregalados.

— Primos carnais. Minha mãe é irmã do pai dele. E eu e Lisa somos irmãos — explicou Lorenzo, enquanto eu processava a informação.

Então era por isso que Lisa e Noah interagiam de maneira tão descontraída. Eles eram família! Eu estava completamente enganada ao imaginar algo mais entre eles.

— Caramba, fiquei surpresa — disse, ainda assimilando, e ambos sorriram.

— Bem-vinda à família — Lorenzo disse, com um sorriso sugestivo que parecia ter um duplo sentido. Noah permaneceu calado, mas o leve apertar de sua mandíbula denunciava que algo nele não estava confortável.

Terminamos o café e seguimos para o escritório de Noah. O ambiente era imponente, decorado em tons cleans, mas a tensão que pairava no ar tornava tudo pesado. Noah sentou-se na poltrona de couro, o olhar fixo nos exames que Lorenzo segurava. Apesar da aparente calma, era óbvio que ele estava impaciente e preocupado, embora tentasse esconder.

Eu me mantive encostada na mesa, em silêncio. Ainda era meu primeiro mês trabalhando com ele, e eu sabia que minha opinião, caso fosse dada, seria descartada facilmente. No entanto, era impossível ignorar a tensão daquele momento.

Lorenzo ajustou os óculos e suspirou profundamente antes de falar:

— Noah, aqui está o ponto: você pode concluir a turnê atual, mas vai precisar parar depois disso. Sem exceções.

Noah estreitou os olhos, cruzando os braços com força, como se quisesse conter a irritação.

— Parar? Você está dizendo que eu não vou poder cantar mais?

Lorenzo manteve a postura firme, mas seu tom era calmo.

— Por um tempo, sim. Se continuar forçando sua voz sem descanso, o dano pode ser irreversível. E aí estamos falando de não cantar nunca mais, Noah.

As palavras dele pareceram atingir Noah como um soco. Ele desviou o olhar para a janela, mordendo o canto do lábio, um gesto que denunciava sua luta interna. Era uma mistura de teimosia e medo.

— Então eu ainda tenho tempo, certo? — Noah perguntou, com um tom cheio de sarcasmo. — Termino esses shows e depois fico “de molho”. É isso?

— Exatamente. Mas você precisa seguir as recomendações, ou as consequências serão graves — Lorenzo respondeu com firmeza.

Noah soltou uma risada curta e amarga antes de virar o rosto para mim. Seus olhos encontraram os meus pela primeira vez desde que entramos no escritório, e o impacto daquele olhar fez meu coração acelerar.

— E você, Hadassa? Vai se juntar ao Lorenzo pra me dar sermões agora?

Senti o rosto queimar, mas me esforcei para manter a calma. Ele tinha um jeito intimidador que tornava difícil qualquer resposta, mas eu não podia recuar.

— Meu trabalho é organizar sua agenda e garantir que tudo funcione bem, Noah. Se isso significa cuidar para que você se cuide, então é o que farei.

Por um instante, ele me encarou, como se estivesse tentando me decifrar. O silêncio entre nós parecia eletrificar o ambiente. Lorenzo, percebendo a troca de olhares, interveio:

— Hadassa está certa. Você vai precisar de alguém que te mantenha na linha.

Noah revirou os olhos, mas não contestou. O silêncio dele falava mais alto que qualquer palavra.

— E quanto aos próximos shows? — perguntei, tentando mudar o foco da conversa. — Podemos ajustar o cronograma para reduzir o impacto?

Lorenzo me lançou um olhar de aprovação.

— Essa é a melhor abordagem. Trabalhe nisso com ele, Hadassa.

Noah inclinou-se na poltrona, seus olhos me avaliando de novo. Havia um leve sorriso em seus lábios, mas algo em sua expressão mostrava que ele ainda não tinha aceitado a situação.

— Parece que a novata está assumindo as rédeas — disse ele, com um tom que misturava provocação e desafio.

— Alguém precisa, não é? — respondi, tentando soar confiante, mas minha voz saiu um pouco mais suave do que eu esperava.

Lorenzo nos observava com atenção, como se estivesse analisando algo além da conversa. Havia um desconforto crescente no ar, mas eu não sabia se era apenas pelo diagnóstico de Noah ou pela dinâmica que parecia começar a surgir entre nós.

— Noah, dê o braço a torcer. Sei que essa é uma péssima notícia para um cantor como você, mas precisamos lidar com isso antes que seja pior — Lorenzo disse, tentando aliviar o clima. — Hadassa está aqui para ajudar, e você vai precisar dela mais do que imagina.

Noah riu sem humor, balançando a cabeça.

— Se esse problema tinha que cair sobre mim, por que não podia ser depois da turnê do ano que vem? — perguntou, com irritação evidente.

— Como eu disse, você pode terminar os shows atuais, mas os próximos precisam ser cancelados. Já falei com Ricardo, ele está ajustando o cronograma — explicou Lorenzo, mantendo a calma.

— Ricardo, Ricardo... Eu preciso de uma reunião com a equipe, urgente! — Noah exclamou, levantando-se de forma abrupta. — Hadassa, marque a reunião para amanhã, por favor.

Sem esperar resposta, ele saiu do escritório, deixando-me sozinha com Lorenzo.

O médico me lançou um olhar pensativo, como se quisesse dizer algo, mas optasse por permanecer em silêncio. A tensão do momento parecia estar apenas começando, e eu tinha a sensação de que minha relação profissional com Noah estava prestes a se tornar muito mais desafiadora.

Lorenzo respirou fundo, passou a mão pelo cabelo e fechou sua maleta.

— Ele é teimoso, Hadassa. Mas você vai se acostumar. Só não desista de cuidar dele, porque ele vai precisar de você — disse com uma calma que contrastava com o ambiente tenso.

— Eu já percebi, e essa teimosia pode trazer o pior se ele não aceitar descansar — respondi, tentando manter o foco.

Lorenzo se aproximou, seus olhos fixos nos meus, cheios de uma intensidade que me deixou desconcertada.

— Confio que você é capaz de lidar com isso — sua voz era baixa, quase um sussurro. Senti meu coração acelerar com a proximidade inesperada. Engoli em seco, desviando o olhar para recuperar a compostura.

— Obrigada, Lorenzo. Farei o possível para ajudar o Noah.

Ele deu um leve sorriso antes de recuar. Saímos do escritório juntos e ele se despediu de Marta antes de ir embora.

— Pressinto que alguém aqui vai entrar em um triângulo amoroso — Marta brincou assim que Lorenzo saiu, e eu gargalhei sem jeito enquanto me aproximava do balcão da cozinha.

— Por que diz isso, Marta?

— Porque o Lorenzo e o Noah não tiram os olhos de você. Tá na cara, menina! — respondeu ela, enquanto descascava uma maçã com a destreza de quem sabia exatamente o que estava falando.

Franzi o cenho, sentindo um nó estranho no estômago.

— Eu tenho namorado.

— E ele é daqui?

— Mora em São Paulo. Estamos namorando à distância.

— Então avisa a ele pra cuidar muito bem de você, porque tem dois galãs disputando sua atenção, princesa — disse Marta, saindo da cozinha com uma bandeja de frutas e suco.

Fiquei ali parada, o coração batendo rápido. Estava descobrindo o dom de Marta de plantar dúvidas e desaparecer. Subi para o meu quarto tentando ignorar o burburinho de pensamentos. Tomei um banho, almocei por lá mesmo e passei a tarde organizando a agenda do Noah com a ajuda da Estela, por videochamada.

Já estava escurecendo quando recebi uma ligação inesperada de Noah.

Hadassa, venha ao meu escritório agora.

Rapidamente vesti um vestido azul-bebê de alça e calcei sandálias rasteiras. Quando entrei no escritório, senti o olhar de Noah me atravessando dos pés à cabeça, sem nenhum esforço para disfarçar. Minha pele queimou sob aquele olhar, mas antes que eu pudesse reagir, um jovem pigarreou, chamando minha atenção.

— Hadassa, sou o Felipe, agente do Noah — ele disse, estendendo a mão.

— Prazer — respondi, ainda um pouco atordoada pelo olhar de Noah.

— Vim informar que Noah tem uma viagem inesperada amanhã à noite, e, claro, você precisa acompanhá-lo — disse Felipe, entregando tudo com naturalidade.

— Amanhã? Pra onde? — perguntei, surpresa.

— Orlando. Ele tem um show na sexta-feira e precisa comparecer sem falta. A equipe e a banda vão mais cedo, provavelmente pela tarde, mas vocês dois viajarão à noite. Já está tudo providenciado. Vou enviar os detalhes por e-mail — explicou ele.

Meu estômago se revirou. Era minha primeira viagem internacional e, além disso, seria só eu e Noah.

— Obrigado, Felipe. Vejo você amanhã — Noah disse, dispensando-o.

Assim que Felipe saiu, um sorriso escapou de mim.

— Sorrindo por quê, Hadassa? — Noah perguntou, a voz baixa e cheia de curiosidade.

— Nada.

— Com certeza não é nada. Me diga.

— Primeira vez que vou sair do Brasil. Estou feliz por isso — admiti, sem conseguir conter a empolgação.

Noah sorriu de volta, aquele sorriso torto que fazia meu coração bater descompassado.

— E a primeira vez que minha assistente vai a um show meu. Impressionante — zombou, divertido.

Revirei os olhos.

— Não se preocupe, Noah. Tudo estará perfeitamente organizado — garanti, tentando soar confiante.

— No dia que você me decepcionar, pode fazer as malas e voltar pra São Paulo.

— E se eu decidir ficar em Balneário Camboriú? Tenho liberdade pra isso? — provoquei, acompanhando-o até a cozinha.

— Certamente. Mas e o seu namorado? Não voltaria por ele?

Sua pergunta me pegou de surpresa, me lembrando de Mateus.

— Tem razão, tinha me esquecido...

— Esquecido que tem namorado? — Noah arqueou uma sobrancelha, um sorriso provocador surgindo em seu rosto enquanto ele pegava um copo d'água na geladeira.

Fiquei sem palavras, sentindo o rosto esquentar.

— Lógico que não. Esqueci que precisaria voltar por causa dele. Não me esqueceria do Mateus. Vamos nos casar.

— Aham. Espero poder cantar no seu casamento — disse ele, zombando.

Aceitei o copo d'água que ele colocou no balcão e suspirei, tentando me recompor.

— Você é bem gentil, Noah. Acho que vamos nos dar bem.

Ele sorriu, inclinando-se levemente sobre o balcão, me encarando com intensidade.

— E você é bem direta. Gosto disso.

Meu corpo estremeceu sob o peso daquele olhar. Bebi um gole de água, tentando disfarçar o efeito que ele tinha sobre mim, mas algo me dizia que Noah sabia exatamente o que estava fazendo.

O som do elevador nos interrompeu, e Noah, com uma descontração, deixou o copo sobre o balcão e foi até lá. Eu fiquei onde estava, mas o som de vozes e de um beijo abafado me fez desviar o olhar para o corredor. Logo uma mulher apareceu na sala, seu andar elegante e confiante preenchendo o espaço.

Ela era deslumbrante. Pele escura impecável, cabelos cacheados que pareciam uma obra de arte, e um vestido justo que realçava sua postura imponente. Quando me viu, seus olhos se estreitaram ligeiramente, como se estivesse avaliando minha presença ali.

Ângela Mackenzie, a namorada do Noah.

— Essa é sua assistente? — perguntou, sua voz com uma curiosidade que beirava a desconfiança.

— Isso, Hadassa, minha nova assistente — Noah respondeu casualmente, com um sorriso no rosto. Ele olhou para mim de um jeito quase divertido, como se estivesse adorando a dinâmica.

— Ela é... Linda — disse Ângela, ainda me encarando. Havia um tom de surpresa em sua voz que não escapou a ninguém.

Eu apenas sorri, e Noah estava completamente despreocupado, com uma mão na bermuda e a outra envolta na cintura dela.

— É um prazer conhecê-la pessoalmente, Ângela — disse, levantando-me e estendendo a mão.

Ela hesitou por um segundo, antes de me cumprimentar.

— Uau, você é tão... Nova para ser assistente do Noah — comentou, o olhar passando de mim para ele, como se esperasse alguma explicação.

Noah, claro, não perdeu a oportunidade de provocar.

— Bom que tem energia para viajar pelo mundo todo — disse ele, lançando-me um olhar. Eu prendi o riso, percebendo como Ângela ficou ligeiramente sem graça.

— É... Um prazer, querida — ela disse finalmente, mas seu tom estava longe de ser caloroso.

— O prazer é todo meu — respondi com calma, mantendo a compostura.

Noah, que ainda estava com o braço envolto na cintura de Ângela, não parecia nem um pouco preocupado com o desconforto dela. Pelo contrário, seus olhos permaneciam em mim, e aquele sorriso provocador ainda brincava em seus lábios.

— Vamos para o seu quarto? — Ângela sugeriu, virando-se para ele com um tom que parecia mais uma ordem do que um pedido. — Tenho muita coisa pra conversar com você, amor.

— Claro — respondeu ele com leveza. Mas antes de acompanhá-la, Noah me lançou uma piscadela rápida, do tipo que só eu poderia perceber, seguida de um sorriso que fez meu estômago revirar.

Eu ri baixinho quando eles desapareceram pelo corredor, tentando entender a loucura que estava vivendo nos últimos dias. Noah parecia gostar de brincar com os limites, e eu sabia que isso não ia facilitar minha vida.

Então, enquanto o silêncio preenchia a cozinha, peguei meu celular. Meu coração estava inquieto, e eu sabia o motivo.

Liguei para Mateus. Eu devia uma conversa a ele. E talvez, só talvez, precisasse me lembrar do porquê de estar nesse relacionamento à distância.

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