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Capítulo 06 | Uma Espiadinha

Hadassa Luz

— Já que terei a honra de ter minha assistente hoje, sua primeira missão será me acompanhar na consulta com o Dr. Lorenzo — anunciou Noah, ajustando a gravata enquanto me passava uma lista interminável de tarefas, sentado casualmente no sofá. Ele, impecável em seu terno, exalava confiança. Já eu, lutava contra um MacBook que parecia falar outra língua, fingindo que sabia usá-lo perfeitamente.

— Tudo bem — murmurei, focada em terminar de editar sua agenda. — Só uma dúvida: a consulta já está marcada ou preciso entrar em contato com ele?

Noah fez uma pausa calculada, dois segundos que pareceram uma eternidade, antes de responder com um tom de quem se divertia às minhas custas:

— Você precisa ligar.

Minha garganta secou. Não era só uma ligação, era o meu primeiro teste — e com Noah me encarando. Tentei disfarçar o nervosismo.

— Agora?

— Claro, Hadassa. Ou você prefere que eu perca a consulta? — Ele sorriu de lado, com aquele olhar sarcástico que parecia perfurar minha alma.

Peguei o iPhone, sentindo um frio na barriga. Enquanto discava, os olhos de Noah estavam cravados em mim. Cada segundo parecia um ano.

— Dr. Lorenzo, bom dia. Quem gostaria? — A voz grave do outro lado me pegou desprevenida, e eu quase engasguei.

— É... Oi! Q-quer dizer, bom dia! — minha voz falhou, e o sorriso de Noah se alargou. Ele sabia o que estava fazendo.

— Quem gostaria? — repetiu o médico.

— Sou Hadassa, assistente do Noah. Liguei para marcar a consulta de hoje.

A pausa do outro lado da linha foi curta, mas suficiente para que Noah arqueasse uma sobrancelha.

— A consulta já está marcada. Houve algum problema?

Olhei para Noah, que agora exibia um sorriso travesso, claramente se divertindo com a situação. Ele tinha feito de propósito.

— Ah, desculpe, foi um engano. Tenha um bom dia.

Desliguei e lancei-lhe um olhar fulminante. Noah estava com um sorriso irritantemente perfeito.

— Sério isso? — cruzei os braços.

— Hadassa, você não deveria já saber a minha agenda? — Ele se levantou com a tranquilidade de quem sabia que tinha vencido. Eu bufei. — Você falhou na primeira missão.

— Estou começando hoje, Noah. Não pode esperar que eu saiba tudo de cor.

— Precisamente por isso, Hadassa. Estar preparada é essencial. Mas não se preocupe, ainda está no período de experiência. Ainda tem muito para me provar — disse ele, dando de ombros, antes de sair da sala, deixando um rastro de perfume e arrogância.

Afundei no sofá, frustrada.

— Eu não vou conseguir! — resmunguei, pegando o celular para ligar para Evy.

— O que tá acontecendo? Você surtou? — ela atendeu, rindo.

— É o Noah! Ele é insuportável! Me fez passar vergonha na minha primeira tarefa e ainda ficou me testando!

Evy gargalhou.

— Ele tá te testando, amiga. Homens como ele adoram isso. Quer ver se você aguenta o tranco. Mostra que você é capaz e que não vai recuar!

As palavras dela acenderam algo em mim. Me levantei, determinada.

— Ele vai ver do que sou capaz.

— Isso aí, garota! Ensina pra ele quem é a Hadassa! — incentivou Evy, enquanto eu já começava a planejar como virar o jogo.

Desliguei a ligação e fui direto para o quarto. Optei por manter o vestido preto simples, mas elegante, e deixei os cabelos soltos. Acrescentei um salto fino e discreto, o suficiente para dar um toque de confiança sem exageros. Enquanto aguardava o horário da consulta, sentei na escrivaninha e repassei cada detalhe da agenda do Noah, com uma xícara de café da cozinha ao lado. Às 14h em ponto, me levantei e caminhei rapidamente até a sala, cronometrando quase perfeitamente o momento em que o elevador abriu.

Foi quando Dr. Lorenzo entrou em cena.

Ele era, sem dúvida, um homem que chamava atenção. Barba impecável, postura quase aristocrática, e uma aura de profissionalismo que beirava a perfeição. Ele segurava uma maleta elegante na mão direita, enquanto o jaleco branco estava dobrado sobre o braço esquerdo. Seus olhos pousaram em mim, avaliando-me com um leve sorriso que fazia parecer que ele sabia exatamente o impacto que causava.

— Então, você é a nova assistente do Noah? — ele disse, sua voz grave, com uma ponta de diversão, enquanto estendia a mão para me cumprimentar.

— Hadassa, prazer. — Respondi, tentando parecer profissional e indiferente.

— O prazer é todo meu. — Seus olhos ficaram fixos por um instante antes de acrescentar: — Noah está?

— Sim, claro. Irei chamá-lo.

Antes que eu pudesse procurá-lo, a voz familiar de Noah preencheu a sala.

— Não precisa chamar, já estou aqui.

Quando me virei, lá estava ele, casual e despretensiosamente deslumbrante. Bermudas pretas que realçavam suas pernas, uma camisa floral preta de botões parcialmente abertos e chinelos de couro. Simples, mas impossível de ignorar.

Ele se aproximou com aquele andar confiante, cumprimentando Lorenzo com um aperto de mão descontraído.

— E então, sem falhas nos shows, certo? — Lorenzo começou, já folheando uma pasta que havia tirado de sua maleta.

— Com muita oração, Lorenzo. Tive um momento no camarim em que pensei que não conseguiria subir ao palco, mas Deus me sustentou.

O sorriso discreto de Lorenzo reapareceu, embora seus olhos mantivessem um toque de ceticismo. Ele se acomodou em uma poltrona, organizando os papéis com uma precisão impressionante, antes de murmurar:

— Oração, hein? Interessante. Eu diria que foi mais uma questão de técnica e autocontrole.

Noah soltou uma risada baixa, mantendo sua compostura.

— Técnica é importante, não nego. Mas, quando sua voz falha e você está a segundos de entrar no palco, Lorenzo, é a fé que faz a diferença.

Lorenzo arqueou uma sobrancelha, como se ponderasse, mas decidiu não rebater. Ele tirou um pequeno aparelho da maleta, mudando de assunto:

— Vamos deixar a filosofia para depois e começar o exame.

Eu me mantive de pé, pronta para anotar qualquer recomendação, até que Lorenzo olhou para mim com um sorriso brincalhão.

— Não me diga que pretende anotar enquanto examino.

— Não, claro que não! — Respondi rapidamente, tentando ignorar o calor subindo pelo meu rosto.

Noah interveio, sua voz cheia daquele charme natural:

— Hadassa é dedicada, mas talvez seja melhor esperar até ele terminar, só para não distrair o Lorenzo.

— Agradeço — disse Lorenzo, antes de se concentrar no exame.

Enquanto o silêncio tomava conta da sala, meu olhar flutuava entre os dois. Noah, com seu jeito caloroso e espirituoso, e Lorenzo, tão disciplinado e enigmático. Dois polos completamente opostos que, de alguma forma, prendiam minha atenção de maneiras diferentes.

Depois de alguns minutos, Lorenzo terminou o exame e fez algumas anotações.

— Tudo dentro do esperado. As pregas vocais estão saudáveis, sem sinais de inflamação ou esforço excessivo. Mas — ele pausou, mirando Noah — sugiro repouso vocal mais consistente entre os shows.

— Anotado. — Noah assentiu, sereno como sempre.

Lorenzo se virou para mim.

— E, Hadassa, certifique-se de que ele siga isso. Nada de longas conversas ou ensaios cansativos nas pausas, entendido?

— Anotado! — Respondi prontamente, com um sorriso determinado.

Lorenzo fechou a maleta com precisão, levantou-se e lançou um último olhar para Noah, mas antes de ir, seus olhos recaíram em mim, avaliadores e, de certo modo, intrigados.

— A Lisa esteve aqui? — perguntou ele, ajustando o jaleco.

Noah suspirou, uma mistura de cansaço e sarcasmo.

— Lisa só aparece quando eu menos espero ou quando menos a quero perto.

Lorenzo soltou uma risada curta.

— Impressionante como vocês ainda não se mataram trabalhando juntos. — Ele desabotoou o jaleco com um movimento ágil, revelando uma camisa de linho que o fazia parecer mais um modelo do que um médico.

Eu mantive os olhos no bloco de anotações, tentando parecer alheia àquela interação.

— Dr. Lorenzo, posso perguntar algo? — Noah interrompeu, sua voz agora demonstrando preocupação.

— Claro, Noah. Diga. — Lorenzo respondeu, sua atenção já parcialmente voltada para os papéis em suas mãos.

— No último show, senti algumas falhas vocais inesperadas. Não foi nada grave, mas parecia que minha voz não alcançava certas notas como de costume. Isso é normal ou devo me preocupar?

Lorenzo parou por um instante, franzindo o cenho, antes de virar completamente a atenção para Noah.

— Bem, Noah, algumas flutuações podem acontecer. Estresse, cansaço, até a qualidade do ar no local pode influenciar. Mas, diga-me, algum desconforto ou dor?

Noah coçou a nuca, hesitando antes de responder.

— Um leve desconforto, às vezes. Como se minha garganta estivesse mais tensa do que o normal.

O médico inclinou-se ligeiramente, sua expressão assumindo um tom sério que contrastava com a descontração inicial.

— Não podemos ignorar isso, Noah. Pode ser algo simples, como ressecamento, ou algo que exija atenção mais detalhada. Precisamos investigar mais a fundo para descartamos qualquer problema. Quero que marque uma laringoscopia para verificarmos melhor.

— Você acha que é algo sério? — Noah perguntou.

— Ainda é cedo pra dizer — Dr. Lorenzo manteve o tom calmo, mas direto. — Os exames de hoje não mostraram nada alarmante, mas como você detalhou esse desconforto e as falhas vocais, a laringoscopia vai nos ajudar com mais clareza.

Noah assentiu, o rosto mais preocupado do que antes.

— Certo. Vou marcar o exame.

Ele olhou para mim então, sua expressão suavizando, como se minha presença fosse uma espécie de alívio.

— Hadassa, você pode cuidar disso pra mim?

Levantei os olhos, meu coração disparando com aquele olhar direto.

— Claro, Noah. Vou encontrar o melhor horário.

— Obrigado. — Ele sorriu, aquele sorriso que tinha o poder de me desarmar.

Lorenzo, que observava a interação com uma sobrancelha arqueada, finalmente fechou sua pasta.

— Enquanto isso, repouso vocal e hidratação, Noah. Nada de abusos. — Então, ele voltou-se para mim, inclinando-se ligeiramente, com um sorriso que parecia esconder um certo interesse. — Foi um prazer conhecê-la, Hadassa. Tenho certeza de que trabalharemos juntos mais vezes.

Antes que eu pudesse responder, ele piscou para mim de maneira sutil, deixando-me momentaneamente desconcertada.

Quando ele saiu, o silêncio na sala ficou claro. Noah me observou por alguns segundos, os lábios se curvando em um sorriso provocador.

— Parece que Lorenzo gostou de você.

Revirei os olhos, tentando conter o rubor que subia ao meu rosto.

— Não começa, Noah. Ele foi muito profissional.

Ele riu baixinho, mas a preocupação logo voltou aos seus olhos, o que apertou meu coração. Eu precisava garantir que ele ficasse bem, mas, ao mesmo tempo, algo me dizia que Noah iria passar por alguns apertos.

— O Dr. Lorenzo é... — titubeei. Noah ergueu uma sobrancelha, esperando que eu continuasse, já confortável no sofá. — Meio... cético, não é? — me sentei na poltrona à frente. Ele soltou um riso inesperado, relaxado.

— Ele é ateu. — Noah cruzou os braços, olhando para mim como quem avaliava minha reação.

— Sério?

— Sério. Ele acha tudo uma filosofia barata — explicou, recostando-se com a tranquilidade de quem já teve essa conversa mil vezes. — Hadassa, vou precisar de muita água. O tempo todo. Mas sou péssimo para lembrar de beber.

— Não se preocupe. Eu mesma cuidarei disso — garanti, firme, tentando transmitir eficiência.

— Ótimo. Também preciso que marque a laringoscopia — ele acrescentou, quase distraído, enquanto ajeitava o relógio de pulso.

— Já vou procurar a clínica — comecei a abrir o MacBook, mas ele estendeu a mão, interrompendo meu movimento.

— Você faz isso depois. Agora, vamos sair. — Sua fala foi firme, mas descontraída.

— Sair? Para onde? — franzi o cenho, um tanto confusa enquanto me levantava.

— Para o estúdio. — Ele já caminhava em direção ao elevador, e me apressei para acompanhá-lo.

— Vai ter ensaio com a banda? — perguntei, tentando soar casual, mas ele me cortou com um olhar afiado.

— Achei que você soubesse que não tenho ensaio hoje. Está na minha agenda. — Ele disse. Suspirei, assentindo. — Só vou compor.

Entramos no elevador, e o silêncio que se seguiu parecia fazer o espaço encolher. Estar tão próxima de Noah Tremblay, o cantor gospel que eu tanto admirava, era surreal. Borboletas no estômago? Era pouco para descrever.

Quando saímos do elevador, passamos pela recepção. Alguns olhares masculinos se voltaram para mim, e, desconcertada, olhei para o meu vestido. Era discreto, elegante, nada chamativo. Noah percebeu e eu aproveitei para questionar:

— Por que tanto te olham? Você é incomum no próprio prédio que mora?

Ele riu e balançou a cabeça.

— Eles não estão olhando para mim, Hadassa. — Sua voz tinha um tom casual, mas direto.

— Então por que tanto olham? — arrisquei, ainda confusa. Ele parou, inclinando levemente a cabeça para me encarar, um meio sorriso no rosto e as mãos enfiadas nos bolsos da bermuda.

— Porque você chama atenção, Hadassa. Talvez seja isso. — E, com um suspiro, ele continuou andando, deixando-me plantada no lugar.

Isso foi um elogio?

Acelerei o passo para acompanhá-lo, minha mente girando com mil possibilidades. Ao chegarmos no balcão da recepção, o porteiro, um senhor de bigode, nos cumprimentou com um sorriso cordial.

Noah não precisou dizer nada, apenas uma sobrancelha arqueada e o senhor de bigode já sabia o que ele queria saber.

— Estão curiosos, Sr. Tremblay. Acham que a senhorita é sua namorada — comentou, num tom respeitoso. Noah pigarreou, claramente desconfortável, desviando o olhar.

Meu coração deu um salto. Namorada de Noah Tremblay? Só de ouvir isso, minhas pernas quase fraquejaram. Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto, e tive que disfarçar rapidamente. Há alguns dias, isso soaria totalmente impossível na minha cabeça: ser confundida como namorada de Noah Tremblay. Nem em outro planeta isso será possível.

— Obrigado, Rodolfo — Noah murmurou, e seguiu em frente. Acompanhei-o até o estacionamento, onde seu motorista abriu a porta para mim, enquanto dois seguranças em outro carro aguardavam para seguir o nosso.

Durante o trajeto, o clima era diferente. Noah mantinha um silêncio pensativo, mas, vez ou outra, eu sentia seu olhar deslizar na minha direção. Quando ele percebeu que eu notei, virou rapidamente o rosto para a janela, fingindo desinteresse.

Enquanto isso, foquei no MacBook e consegui marcar a laringoscopia para o dia seguinte. Mas, no fundo, minha mente não parava de reviver cada detalhe do que havia acontecido minutos antes. Ele havia me elogiado. E, mesmo que fosse de forma discreta, aquilo já era suficiente para virar meu mundo de cabeça para baixo.

— Chegamos — anunciou o motorista, abrindo a porta para mim.

Assim que saí do carro, a brisa do mar me envolveu. O som das ondas no entardecer e a visão da aconchegante casa de praia eram mágicos. Respirei fundo, absorvendo o momento, enquanto os seguranças permaneciam no carro. Noah abriu a porta da casa e me deu passagem para entrar. O cheirinho familiar de madeira e sal me levou de volta à primeira vez que estive ali. Sorria sem perceber, até ouvir a risada baixa de Noah.

— Por que está rindo sozinha? — perguntou, ajustando o botão da camisa, com um tom divertido.

— É que tudo isso é... incrível — respondi, olhando ao redor, os olhos brilhando.

— Gosta de praia? — ele perguntou, curioso.

— Sou completamente apaixonada por praia.

Noah ergueu uma sobrancelha, parecendo intrigado.

— Deixa esse MacBook no sofá e vem comigo — disse, com um aceno de cabeça.

Fiz o que ele pediu, e ele me guiou até uma enorme porta de vidro que dava para os fundos da casa. Assim que ele a abriu, o som do mar ficou ainda mais intenso. A vista era deslumbrante: o oceano, vasto e brilhante sob o pôr do sol, parecia se estender para o infinito. O vento bagunçou meus cabelos, e eu respirei fundo, admirando a cena, até que o cheiro amadeirado do perfume de Noah me distraiu. Olhei para ele, percebendo-o mais perto do que imaginava, e ele também estava me observando. Meu coração disparou, mas rapidamente adotei uma postura profissional.

— É tudo perfeito, Noah. — Minha voz saiu mais controlada do que eu esperava.

— Se gosta tanto, por que não vai até a areia? Pode relaxar, se quiser — sugeriu, enquanto caminhava para a cozinha.

Considerei a ideia, mas decidi ficar por perto. Ele era meu chefe, afinal, e eu precisava estar "às ordens".

— Está com fome? — ele perguntou, como quem já sabia a resposta.

— Muita — confessei. — Só tomei um café ao meio-dia.

Ele parou, me lançando um olhar desaprovador.

— Por quê? Você sabe que temos cozinheiras e que a cozinha também é sua, não é? — Seu tom era gentil, mas firme.

— Ainda estou me adaptando — respondi, com um sorriso sem graça.

— Só não deixe essa "adaptação" te deixar com fome todos os dias — comentou, cortando alguns vegetais no balcão. — Posso ser um "grande astro", mas você não precisa ter vergonha de mim. Eu não mordo. — Ele sorriu, e eu ri, sentindo um Noah mais descontraído do que o habitual.

— Obrigada. — O observei enquanto ele preparava sanduíches, os movimentos precisos e surpreendentemente habilidosos. — Mas, para constar, sou sua assistente. Deveria ser eu quem está fazendo isso.

— Nessa casa, eu gosto de cozinhar — ele disse, despreocupado, ainda concentrado no que fazia.

— Certo, vou deixar você com os sanduíches, então, enquanto organizo sua agenda na areia. — Ele assentiu, e eu peguei meu MacBook antes de sair para o lado de fora.

Me acomodei em uma espreguiçadeira, deixando o MacBook no colo, enquanto colocava os fones. Escolhi algumas músicas do próprio Noah para tocar. Era surreal: eu estava ouvindo Noah Tremblay enquanto organizava a agenda dele na casa de praia dele.

Fechei os olhos por um momento, deixando o vento suave acariciar meu rosto. Naquele instante, tudo parecia perfeito demais para ser real. E, talvez, fosse mesmo.

Depois de um tempo, tomei um susto leve com Noah parado bem na minha frente, segurando um prato com sanduíches e um copo de suco. Tirei os fones, surpresa e, de alguma forma, desconcertada. Ele, meu chefe, me servindo? Era surreal.

— Não quero que passe fome no trabalho e depois diga que sou um péssimo chefe — brincou, com aquele sorriso descontraído.

Ri e peguei o prato e o copo, me sentando enquanto ele se acomodava na espreguiçadeira ao lado, de frente para mim.

— Obrigada, mas eu que deveria estar te servindo — respondi, dando a primeira mordida. Meu rosto se iluminou. Estava delicioso.

— Gostou? — ele perguntou, me observando.

— Gostei? Ficou incrível! Ainda bem que foi você quem fez, porque está muito melhor do que qualquer coisa que eu faria — admiti, arrancando uma risada dele.

— Na próxima, você faz, combinado? — desafiou, com um sorriso provocador.

— Fechado. — Sorri de volta.

Ele se levantou, voltando para dentro da casa, enquanto eu aproveitava o lanche, ainda sorrindo como uma boba com aquele momento inesperado. Quando terminei, coloquei os fones novamente e me perdi em pensamentos, acompanhados pelas músicas dele. Era como se o tempo ali fosse mais leve, mais solto.

Já estava escurecendo, e o frio da noite começava a chegar. Decidi entrar. Não o encontrei pela sala ou cozinha, então caminhei pelo corredor. Foi quando vi a porta do estúdio entreaberta. Não resisti e dei uma espiadinha.

Noah estava sentado, violão na coxa, um papel e uma caneta na mão. Ele dedilhava e cantava baixinho, compondo, completamente alheio ao resto do mundo. Sua voz preenchia o ambiente de um jeito hipnotizante, grave e cheia de emoção. Fiquei ali, escondida, observando-o, meu coração disparado. Era impossível não sorrir. Eu estava vendo o Noah Tremblay criar algo do zero, tão íntimo e verdadeiro.

Então, o desastre aconteceu: uma notificação no meu celular rompeu o silêncio, e ele imediatamente ergueu o olhar. O flagra foi instantâneo. Meu coração afundou ao lembrar as palavras de Lisa: Noah odeia ser interrompido enquanto compõe. Desesperada, fechei a porta e corri para a sala.

— Hadassa — ouvi sua voz me chamando. Fechei os olhos, já esperando o sermão. — Hadassa!

Ele entrou na sala, e lá estava eu, sentada no sofá, tentando não parecer tão culpada.

— Perdão, Noah, sei que odeia ser interrompido — comecei, me levantando rapidamente. — Eu só fiquei... admirada em vê-lo compondo. Não resisti à tentação de espiar. — Tentei me justificar, mas ele ficou parado, me olhando com aquele olhar indecifrável, as mãos nos bolsos.

O silêncio me matava.

— Não vai dizer nada? Estou demitida? — arrisquei, arqueando as sobrancelhas.

— O que achou da música? — perguntou de repente, me pegando de surpresa.

— E-eu amei! É perfeita, Noah! — falei, sincera, mesmo sem entender onde ele queria chegar.

— É nova. — Ele virou, caminhando de volta para o corredor. — Vem, Hadassa. — Sua voz era calma, mas irresistível.

Obedeci, voltando ao estúdio. Ele fez sinal para que eu me sentasse à sua frente. Pegou o violão e começou a tocar, o som preenchendo o ambiente. Eu estava em choque. Noah Tremblay, o astro, tocando uma música inédita, exclusivamente para mim.

Ele começou a cantar. Sua voz era um misto de força e vulnerabilidade, cada palavra cheia de emoção:

Pra Ti, oh, Rei Jesus
És a minha canção
Preciso tanto recomeçar
Com um novo coração.

Preciso renunciar o meu eu
Esquecer-me do passado
Dos erros que cometi
E do pecado que me envolve.

Longe de Ti não quero estar
Dos pecados quero me afastar
Dos meus erros quero me livrar
Quero viver para Ti, me ajude a recomeçar.

Somente para Ti.

Quando ele terminou, o silêncio que se seguiu era tenso. Ele me olhou, com intensidade, como se estivesse buscando algo no meu olhar. Senti um arrepio. Não era só uma música; era uma oração, uma entrega. Havia algo acontecendo ali com ele, e seu olhar entregava isso.

— E agora, o que achou? — ele perguntou, me tirando do transe. — Essa música precisa estar pronta para o próximo ensaio.

— Simplesmente perfeita, Noah. Profunda e íntima.

Ele sorriu, satisfeito.

— Exatamente isso que quero passar: intimidade e profundidade.

— E conseguiu — respondi com sinceridade, devolvendo o sorriso.

Ele me observou por alguns segundos antes de se levantar.

— Vamos? — disse ele.

— Vamos.

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