Capítulo 02 | Magnetismo
Hadassa Luz
Eu observava pela janela do carro, encantada com a cidade. Balneário Camboriú parecia uma verdadeira "Dubai brasileira", com seus arranha-céus reluzentes, a orla impecável e o mar azul que refletia a luz do sol. Tudo parecia um sonho, mas meu coração acelerava mais ao pensar que Noah estava tão próximo. Mesmo ele não estando aqui, a mera ideia de que poderia cruzar com ele a qualquer momento me deixava nervosa e eufórica.
A viagem até aqui tinha sido um desafio. Meu medo de avião era um obstáculo real, e eu só consegui embarcar depois de tomar um calmante que me fez dormir quase o voo inteiro. Ainda assim, os poucos momentos acordada foram terríveis, e o som das turbinas ainda ecoava na minha cabeça. Era como enfrentar um leão para conquistar um prêmio. E que prêmio: uma entrevista para trabalhar com Noah! Com tudo pago, e até um atestado providenciado pelo médico particular dele, estava claro que não havia espaço para recuar. Eu tinha que encarar.
Ao chegar em frente ao hotel, me deparei com um edifício imponente, que parecia tocar o céu. Com minha mala na mão e vestida de forma simples — shorts jeans, uma blusa de alça e o cabelo bagunçado pelo vento da cidade —, senti-me pequena diante da grandiosidade do lugar. Na recepção, fui prontamente atendida, e um funcionário levou minha bagagem até a suíte. Assim que entrei no quarto, a organização impecável e o aroma suave do ambiente me acalmaram, mas por pouco tempo.
Em cima da cama, um conjunto formal me aguardava: blazer preto, calça de alfaiataria, uma blusa branca e saltos igualmente brancos. Ao lado, uma carta cuidadosamente dobrada:
"Hadassa Luz,
Vista-se com este traje formal para a sua entrevista, que acontecerá na sala de reuniões deste hotel às 10h.
Att.: Estela Borges."
Olhei para o relógio: 9h30. Tinha apenas 30 minutos para estar pronta! Entrei no modo turbo, tomei um banho rápido, vesti a roupa e apliquei uma maquiagem básica. Soltei o cabelo, mas ao perceber que ele não estava apresentável, optei por prendê-lo em um rabo de cavalo. Ainda assim, cada passo parecia uma eternidade enquanto caminhava até a sala de reuniões. Minhas mãos suavam, minhas pernas tremiam, e meu coração parecia querer explodir.
Ao entrar na sala, fui recebida pela visão de uma grande mesa preta que contrastava com a decoração elegante do ambiente. Dois profissionais me aguardavam. Ricardo Valente, com sua presença marcante e um olhar penetrante, transmitia autoridade. Ao lado dele, uma mulher alta e de postura impecável. Ela era Estela Borges, a diretora de marketing de Noah. Ambos me analisaram da cabeça aos pés antes de me cumprimentarem.
— Seja bem-vinda, Hadassa — disse Estela, com um sorriso profissional, mas acolhedor.
— Obrigada — respondi com um sorriso tímido, tentando esconder o nervosismo.
Ricardo apontou para uma cadeira:
— Por favor, sente-se.
Minhas mãos tremiam enquanto eu obedecia, tentando me concentrar no que viria a seguir. Ricardo iniciou com um tom direto:
— O senhor Arthur, pai do Noah, nos recomendou você. Isso já é um grande diferencial. Contudo, preciso ser claro: trabalhar como assistente de Noah exige 100% de disponibilidade. Você precisará abdicar de muitas coisas e estar disposta a acompanhá-lo onde quer que ele esteja. Hoje ele está aqui, mas se amanhã ele decidir ir para o Japão, você precisa ir também, sem questionar.
— Além disso, será necessário assinar um contrato de confidencialidade e profissionalismo — completou Estela. — É uma parceria muito próxima, e precisamos garantir que tudo seja feito dentro dos padrões da equipe.
Ricardo sorriu ligeiramente antes de continuar:
— O salário inicial é de 1.500 euros, com possibilidades de aumento conforme o desempenho. Também haverá uma semana de experiência diretamente com Noah. O que acha?
Eu estava sem palavras. Viajar, ganhar em euros, ajudar meus pais e, o mais incrível, trabalhar com Noah? Meu coração quase saltou do peito.
— Eu aceito! — respondi, sentindo a empolgação tomar conta de mim.
O nervosismo continuava, mas junto com ele vinha a excitação de estar tão perto de algo tão grande.
⏳
Uma semana depois de aceitar ser assistente pessoal do Noah, cá estou eu novamente em Balneário Camboriú, hospedada no mesmo hotel da primeira vez. Mas agora era diferente: desta vez, eu sabia que finalmente conheceria Noah Tremblay. E, claro, eu não estava nem um pouco calma. Precisei de uma semana inteira de terapia para tentar aprender a enxergá-lo apenas como um ser humano comum, e não como o astro gospel de quem sou fã há anos.
Porém, o que não foi nem um pouco tranquilo foi lidar com Mateus e seu ciúme transbordante durante esse processo.
⏳ Uma semana atrás...
— Você e Noah Tremblay, juntos? — ele perguntou, tentando disfarçar a irritação. O tom indiferente não enganava ninguém.
— É trabalho, Mateus, já disse isso mil vezes! — insisti, revirando os olhos.
— Trabalho? Trabalho é o que você faz na clínica, ou o que eu faço na empresa. Ser assistente de um homem famoso, cercado por gente nariz empinado, não é trabalho de verdade. Vai ser o quê? Fazer café pra ele? — retrucou, cético.
— Continua sendo trabalho! E ele é cristão, Mateus! — rebati, já com a paciência no limite.
— Nem todo cristão é santo, Hadassa.
— Santo só Deus. E quer saber? Vai ver ele é mais cristão que você — disparei.
Ele balançou a cabeça, claramente irritado, antes de soltar:
— Tá bom, mas e a gente? Como fica? Namoro à distância? Você do outro lado do mundo com outro homem enquanto eu fico aqui? E o nosso casamento, vamos adiar? Tudo o que construímos até agora, como fica?
Respirei fundo, tentando manter a calma.
— Sim, iremos namorar à distância por um tempo, mas é temporário. Esse emprego é uma chance de me estabilizar, Mateus. Eu não vou trabalhar para o Noah para sempre, você sabe que meu sonho é abrir minha empresa. E o salário que vou ganhar agora vai nos ajudar a conquistar tudo o que planejamos: o casamento dos nossos sonhos, a casa que queremos, o carro...
Ao ouvir isso, a expressão dele mudou. Parecia que finalmente estava começando a enxergar as coisas de outro ângulo.
— Tá bom, meu amor — ele disse, se aproximando e beijando minha testa. — Mas a gente vai conseguir se ver, certo? Vou sentir muita saudade.
— Claro que sim! Podemos nos encontrar todo fim de semana, o que acha?
— E você vai estar livre nos fins de semana?
— Se não estiver, você pode viajar pra lá, e eu dou uma escapada do trabalho, combinado?
— Combinado — respondeu, mas não sem um último pedido. — Só me promete que não vai se aproximar muito dele, tá?
— Prometo, amor — garanti, olhando em seus olhos e arrancando um sorriso dele. — É trabalho, coloca isso na sua cabeça, tá?
— Tudo bem, eu confio em você.
Nos abraçamos e ele me beijou, mas eu sabia que aquilo não encerrava o assunto. Mateus era ciumento, e esse lado dele seria um desafio constante. Mas ele não podia — e nem ia — me tirar essa oportunidade. Não falo apenas do Noah, mas da mudança gigantesca que esse trabalho traria para a minha vida. Você tem noção do que é receber 1.500 euros por mês? Isso é mais do que eu ganharia em cinco estágios aqui no Brasil!
Essa não é uma questão de ganância. É sobre sonhar alto. Quero ajudar minha família, investir na minha educação, fazer uma pós-graduação e conquistar minha independência. Esse é o primeiro passo. E, por mais que o ciúme de Mateus tentasse colocar pedras no caminho, eu não deixaria nada atrapalhar essa chance.
Hoje era o grande dia. Mais uma vez, estava no mesmo hotel de Balneário Camboriú, mas agora as coisas eram diferentes. Já havia pedido demissão da clínica e estava prestes a assinar o contrato que oficialmente me tornaria assistente pessoal de Noah Tremblay. Mas o que realmente me deixava com os nervos à flor da pele era o que vinha logo em seguida: eu finalmente conheceria ele.
E não como uma fã qualquer, pedindo um autógrafo ou tirando uma selfie. Eu o conheceria como sua assistente, alguém que estaria ao seu lado pelos próximos dias — e talvez meses. Só de pensar nisso, meu coração já parecia dar piruetas no peito.
Andava de um lado para o outro no quarto, tentando controlar o nervosismo e me impedir de roer as unhas. Minha cabeça estava uma confusão. O cabelo estava impecável, as unhas feitas, a maquiagem no ponto, e o conjunto formal que Estela providenciou para mim caía perfeitamente. Ainda assim, eu me sentia desarrumada. Como se algo não estivesse bom o suficiente.
Além disso, eu receberia um cartão de crédito para comprar novas roupas que estivessem à altura do cargo. Ganhei um iPhone, um iPad e um MacBook novinhos, e Estela já havia providenciado a transferência da minha faculdade para a modalidade EAD. Tudo estava mudando, e rápido. Eu moraria em Balneário Camboriú, embora ainda não soubesse exatamente onde.
Noah teria um show no fim de semana. Eu ainda não estaria oficialmente no cargo, mas o fato de que nunca mais perderia um show seu já me deixava nas nuvens. Evy, minha melhor amiga, estava surtando mais do que eu. Suas mensagens vinham sem parar: “Já conheceu o Noah?” Eu ria toda vez que lia.
Enquanto isso, minha mãe, preocupada como sempre, já havia me dado um sermão. Na cabeça dela, eu era “bonita demais, e o Noah, sendo um homem tão admirado, poderia acabar se apaixonando por mim, o que era perigoso porque éramos de mundos diferentes”. Era um pensamento tão absurdo que me fazia rir. Ele namorava uma verdadeira princesa, uma mulher de beleza inacreditável. Jamais olharia para mim com outros olhos.
Respirei fundo, ajustei o blazer uma última vez, e encarei meu reflexo no espelho da suíte. “Você consegue, Hadassa. É só trabalho.” Peguei coragem, saí do quarto e fui até o elevador, cada passo mais lento do que o anterior. Minhas mãos suavam, e o coração parecia correr uma maratona.
Quando cheguei ao andar da sala de reuniões, a ansiedade me atingiu com força total. Dois homens altos e corpulentos, vestindo ternos impecáveis e óculos escuros, estavam parados na porta. Os seguranças dele. Isso só podia significar uma coisa: Noah estava ali dentro.
Engoli em seco e cumprimentei-os com um aceno. Um deles abriu a porta e fez um gesto para eu entrar. Respirei fundo, erguendo a cabeça, e dei o passo mais difícil da minha vida.
Cada segundo em câmera lenta. Assim que entrei na sala, meus olhos o encontraram, e todo o meu esforço para manter a calma foi em vão. Lá estava ele, Noah Tremblay, sentado à cabeceira da mesa. Ele me olhou, sem o menor esforço para disfarçar, avaliando-me dos pés à cabeça.
Seu sorriso apareceu, discreto e ao mesmo tempo cheio de intenções que eu não conseguia decifrar. Usava um terno azul-marinho que parecia ter sido feito para ele. Os cabelos estavam arrumados, mas com aquele toque despojado que só tornava tudo ainda mais intrigante.
Seus olhos, profundos e penetrantes, pareciam atravessar minha alma. Eu senti meu rosto esquentar, e não era apenas pela vergonha. Havia algo na forma como ele me olhava que mexia comigo. Era magnetismo puro.
Naquele instante, eu soube que minha mãe estava certa: estar perto de Noah Tremblay seria um problema. Mas me forcei a lembrar de duas coisas:
1. Eu estava ali a trabalho.
2. Eu namorava Mateus.
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