III
Utilizaria a casa funerária de seus pais como espaço. Decoraria com lápides de brinquedos, caixões de verdade espalhados pelo ambiente, balões com alguns dizeres "boa passagem", " a gente se vê no outro lado", "o lado bom da morte". Faria uma playlist peculiar com músicas escolhidas a dedo – de modo que mesclaria músicas brasileiras com chinesas, inglesas, italianas e de diversos países. Haveria também uma sala de Death movie* recheada de clássicos mórbidos, humorísticos e/ou existencialistas como "Os fantasmas se divertem", "Mazaropi e a festa no céu", "Encontro Marcado", a série "Sandman", a qual retrata a temática dos sonhos e da morte de maneiras explícitas e sutis, "Pânico", a primeira temporada de "A Sete Palmos", "O Corvo", "Waking Life", "Midnight Gospel", "Melancolia", "O anticristo" entre outros.
Outro espaço seria dedicado aos amantes da leitura. Para quem preferia um momento introspectivo, sem interações com os vivos, poderiam apreciar o som do silêncio, degustar de um bom vinho e/ou café, enquanto desfrutaria da companhia de um bom livro. "Pufes", almofadas, poltronas confortáveis e tapetes preencheriam o espaço, junto com uma estante provida de livros existenciais, filosóficos, espirituais, quadrinhos góticos. Além disso, cartazes adornariam as paredes com os dizeres: "O que a morte representa para mim?", "Como eu morro?" "Como lido com a minha morte diária e a do outro?" "Como é minha relação com os antepassados?" "O que enxergo dos meus ancestrais em mim?"
Também pensara em uma festa à fantasia, onde as pessoas se vestiriam em homenagem a alguém que morreu, seja famoso ou não, podia ser alguém que a pessoa teve que matar de modo figurativo também. A arte de morrer seria celebrada de forma sutil e também objetiva. Racional, emocional e imaginativa.
Além das fantasias, as paredes da casa seriam adornadas com imagens das pessoas homenageadas da noite, junto com outros elementos que, de alguma maneira, remetessem à ideia de partir. Quem quisesse poderia honrar também pessoas famosas que se foram ou que marcaram de alguma forma, por mais que não tivessem tido um contato físico com elas, pois, aos olhos de Joana, muitas pessoas eram inspiradoras sem saber – estranhos na rua, pessoas que frequentavam os mesmos espaços, mesmo que não fossem próximos, artistas desconhecidos, escritores independentes que lutavam para ser visibilizados e só eram reconhecidos num momento póstumo, assim como muitos músicos/as e outras pessoas da esfera artística.
Haveria também placas de epitáfio divertidas como "Gostava tanto de café que virou pó." "Se a resposta para a vida é 42, a da morte é 24." Elementos chineses como leques vermelhos também seriam espalhados, alguns soltos, outros fixos nas paredes. Na cultura chinesa, o vermelho representa felicidade, sucesso, vitalidade e boa sorte, Joana gostava de pensar que esta cor refletida em leques, geraria um sentido de vermelho em movimento, balançar, a abertura e o fechar do objeto, como um ciclo transitório. Além disso, sua avó Zao adorava leques, tecia-os, e fazia uso de vários em suas danças burlescas. O vermelho representava o sexo. A criação. O nascer-morrer. O desejo do prazer, o qual era parente do sofrer.
(...)
*Death movie
Filmes sobre a morte.
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