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Capítulo Dois

Não sei quanto tempo fico deitada ao lado de minha mãe, derramando toda a minha dor sobre ela. Parecem horas. Dias. Esqueço-me completamente de todo o resto. Não quero me levantar e descobrir que mais alguém morreu. Não quero encontrar mais ninguém encoberto de sangue nessa casa. Isso é um pesadelo. Digo para mim mesma que vou acordar daqui a pouco. Tudo aconteceu muito rápido para ser verdade. Não pode ser.

Minha cabeça dói e estou começando a cogitar a possibilidade de fazer companhia à minha mãe em seu sono. Quando eu acordar, ela estará bem, iludo-me. Seguro a mão dela e espero que ela a aperte. Não vai acontecer e, no fundo, eu sei. Ela tem um ferimento nauseante na cabeça, mas o corpo parece intacto.

Crio esperanças novamente, mas não sinto seu aperto. Não sinto nada. Ela nem respira. Seu coração nem se manifesta. Há só um vazio. Um vazio e minhas lágrimas, que descem em enxurrada à medida que me convenço de que ela realmente se foi.

Eu devia estar aqui quando tudo aconteceu. Eu poderia ter ajudado a salvá-la. Mas me meti naquela maldita floresta, longe demais para perceber o que se passava em Kolom. Minha mãe poderia estar viva agora, caso eu não fosse tão teimosa.

Como sempre, eu não a ouvi. Agora eu nunca mais terei a oportunidade de ouvi-la.

­Ouço passos no assoalho do que sobrou da casa. Espero que tenham vindo terminar o serviço. Se a ideia era matar Kolom inteira, eu não deveria estar viva, certo? Não me movi um centímetro sequer. Eu não deixaria minha mãe. Não de novo.

— Não. — ouço alguém dizer. É apenas um sussurro.

Imediatamente reconheço a voz. Kalil. Uma parte do peso em meu coração se dissolve. Kalil está vivo. Ah!

— Não pode ser. Merda. Não! — ele solta um soluço. Kalil está chorando. Nunca o vi chorar. A surpresa me tira de meu torpor e eu me mexo, tentando vê-lo. — Alethea! — ele me chama, correndo até mim. Antes que eu consiga fazer menção de me erguer, ele me agarra pelos ombros. Estremeço quando ele me chacoalha. Seus olhos azuis estão vermelhos e arregalados, e seus cabelos escuros estão pingando de suor. Ele me examina rapidamente, buscando ferimentos.

— Estou bem. — consigo dizer, mas minha voz mal é audível.

Com um suspiro aliviado, ele me solta e se concentra em nossa mãe, que ainda está ao meu lado. Então a cor some de seu rosto e ele abre a boca, mas não diz nada. Ele a encara fixamente, incapaz de fazer qualquer coisa.

— Ela está morta. — informo, cansada daquele silêncio sepulcral. As lágrimas estão de volta antes que eu me dê conta. — Ela está morta, Kalil. — e eu estou chorando inconsolavelmente mais uma vez, atolada até o último fio de cabelo naquela verdade cruel. — É tudo culpa minha. Eu não estava aqui para salvá-la. Ela precisava de mim e eu...

— Para, Alethea. — ele volta a olhar para mim. — Não foi culpa sua. — ele vira o rosto antes que eu possa ver as lágrimas escorrem pelo seu rosto. Isso só intensifica o meu choro. Ele se levanta bruscamente. — Para de chorar.

Como ele pode me pedir uma coisa dessas?

Ignoro-o e abraço o corpo da minha mãe.

— Eu disse para você parar. — ele reforça.

— Não! — grito. — Não vou parar. Se você é homem demais para sofrer por ela, então vá embora.

Ele me encara impassível. Parece confuso e não se deixa emocionar como eu, mas posso ver a dor através de suas íris claras. Ele é idêntico a ela. Como vou olhá-lo daqui para frente agora que perdi a pessoa que mais amo no mundo, apesar de todos os infortúnios? É como ser estapeada sem descanso.

— Não podemos ficar aqui, garota. Eles vão voltar e vão terminar o serviço. Não podemos fazer mais nada por ela. — ele quase volta a chorar quando diz a última frase.

— Eles quem? Quem fez isso, Kalil? — pergunto. Já sei a resposta, mas quero ter certeza.

Ele engole em seco.

— Quem poderia ter sido? Os cobradores, obviamente. — a expressão sofrida do meu irmão se transforma em puro ódio.

— Mas por quê? — cubro o rosto e tento encontrar uma razão cabível. Os cobradores nos cercam há décadas. Eles nos visitam de mês em mês e exigem uma parcela grande da produção de grãos e vegetais como pagamento por ocuparmos as terras deles. Sempre suspeitei de que as terras que Kolom ocupava não pertenciam coisa nenhuma a eles. Mas ninguém questiona um grupo gigantesco de homens armados.

Ouvi dizer, certa vez, que eles moram em um vilarejo enorme a duzentos quilômetros de Kolom. O solo de lá não produz nada, então eles se aproveitam do nosso. Não que Kolom seja campeã em produção ou coisa assim. A comida devia ser apenas para atender às necessidades dos dois mil e poucos habitantes. Mas, com os cobradores por perto, somos obrigados a produzir muito mais. E, no final das contas, ficamos com quase nada.

— Falamos sobre isso depois. — Kalil está de pé novamente, e suas mãos embranquecem com os punhos cerrados. A fúria em seus olhos é pouco contida.

Odeio o fato de Kalil saber coisas que não sei. E odeio mais ainda quando ele evita minhas perguntas.

— Nunca conseguiremos reerguer Kolom. — Kalil continua. — Estamos acabados, Alethea. Não temos nada. Quase ninguém sobreviveu. Precisamos fugir o quanto antes.

Olho para o corpo inerte de minha mãe. Meu coração está quebrado em mil pedaços. Eu queria parecer com ela, assim como Kalil. Queria ser bonita como ela. A única coisa que temos em comum são os cabelos escuros, mas meu rosto em nada se assemelha ao dela. Meus olhos são escuros demais, e minha pele é clara demais perto do bronzeado bonito que a cobre. Mas agora ela parece desbotada.

Não quero deixá-la. Ela não merecia isso. Ela era boa demais. Mas não posso ficar. Seja lá o que tenha causado esse inferno, eu preciso saber. Preciso fazer alguma coisa.

Beijo seus cabelos grisalhos, prendendo as lágrimas o máximo que posso, e me despeço silenciosamente dela.

— Amo você, mãe. — digo em voz alta, incapaz de segurar uma última lágrima. Se houver algum céu, tenho certeza de que ela irá para lá.

Kalil também se despede dela, novamente ocultando suas emoções. Não sei por que é tão difícil para ele chorar na minha frente. Eu não vejo nada de errado nisso.

Aconchego-a o máximo que posso, tentando dar ao corpo dela alguma dignidade.

— Vamos vingá-la. — Kalil diz antes de me puxar consigo para fora do casebre.

Do lado de fora, sinto-me dormente. Meu corpo não parece meu. Tudo aparenta estar terrivelmente errado. O fogo está se perdendo aos poucos, dando lugar apenas a um nevoeiro asfixiante e à escuridão da noite. Não há mais gritos nem choros. Kolom está silenciosa... E morta. Só então recobro a memória.

— E o nosso pai? — a preocupação transborda do meu tom de voz. Não encontrei o corpo dele na cabana. Na verdade, não procurei o bastante. Sou covarde demais para aguentar mais notícias ruins. Mas, se Kalil sobreviveu, apesar dos cortes espalhados pelos braços, talvez ele também tenha sobrevivido.

Kalil começa a caminhar pela trilha, esquivando-se dos escombros. Não consigo ver sua expressão. Ele mais parece um poste, e quase quebro o pescoço sempre que tento encará-lo.

— Não sei. — é tudo o que ele diz.

— Não sabe? — paro abruptamente. — Como não sabe? Vocês trabalham juntos!

— Eu não estava com ele, ok? — ele não se altera. Kalil é simplesmente insuportável quando age desse jeito comedido. Como ele pode ser tão frio? Fomos dizimados! Cada fibra do meu corpo está desesperada e alerta. Quero saber o que aconteceu. Não aguento mais isso. Antes que eu possa esmurrá-lo por ser tão estúpido, ele continua: — Eu saí mais cedo do serviço hoje. Mas ele não chegou a voltar sozinho para casa. A coisa toda aconteceu enquanto ele ainda estava lá.

— Então vamos para lá agora! Podemos encontrá-lo...

— Eu já fui até lá, Alethea. — ele me corta. — Quando percebi que Kolom estava sendo atacada, voltei correndo. Assim que cheguei à linha de fogo, um dos miseráveis tentou me matar a facadas. Foi difícil me livrar dele. Quando cheguei às plantações, estava tudo queimado. Não tinha ninguém lá. Então vim correndo para casa e encontrei vocês duas. — ele deu uma pausa. — Eu devia ter sido mais rápido.

— E eu devia estar aqui. — murmurei, desolada.

— Não seja idiota. — ele retrucou, lançando-me um olhar fulminante. — Você estaria morta.

— Eu me sinto morta.

Kalil não responde. Caminhamos em silêncio pelas ruelas até a região central de Kolom. Finalmente sinto a presença de outras pessoas. As chamas se foram, mas tudo está escurecido e danificado. Os mortos não estão mais largados e expostos. Vejo uma ou outra pessoa se apressar e entrar nos casebres que não desmoronaram.

— Estão cuidando dos feridos. — Kalil me informa.

— Por que você saiu mais cedo do serviço? — decido perguntar antes que ele entre em uma das cabanas.

Ele para, mas não responde.

— Anda logo. — ele aponta para uma cabana que perdeu a fachada. — Vamos ficar aqui até decidirmos para onde ir.

Eu entro e me deparo com leitos improvisados pelo chão chamuscado. Está quente, e a única luz no recinto vem de duas tochas. Não consigo reconhecer ninguém aqui. Todos me parecem estranhos. Pergunto-me se todas as pessoas que conheço em Kolom acabaram mortas. Quase choro, mas me contenho. Não vou chorar mais. Não adianta. Acabou.

Quando Kalil entra, ouço alguém dizer:

— Graças a Deus! — o dono da voz corre até meu irmão e o envolve com os braços. Não, a dona. Annalena é inconfundível. Mesmo no escuro reconheço seus cabelos avermelhados e rebeldes. — Eu pensei que... Pensei...

— Shh! — Kalil a abraça. — Estou bem.

Ela o beija rapidamente e se vira para mim.

— Oi, Ale. — ela sorri fraco. Odeio que me chamem de Ale. E ela sabe disso.

Apenas aceno com a cabeça.

— Somos praticamente os últimos que restaram. — ela diz, ainda agarrada a Kalil. — Se você não tivesse ido me encontrar naquela hora, provavelmente teria sido morto nas plantações.

O quê?

Olho fixamente para Kalil e ele encolhe os ombros. Não retribui o olhar.

— Então você saiu mais cedo para encontrá-la? — não escondo meu desprezo ao me referir a ela. — E deixou nosso pai lá?

— Eu não sabia que Kolom seria atacada! — ele grita comigo.

— Ei! — uma senhora reclama quando ele eleva a voz. Ela nos olha feio e volta limpar os ferimentos de um homem desacordado. Alguns dos feridos estão dormindo, ou pelo menos tentando.

— Ele não tem culpa, Ale. — Annalena lança uma carranca para mim. — Ninguém sabia. Foi um ataque surpresa. A nossa sorte é que estávamos escondidos perto do riacho quando tudo começou. Então Kalil me pediu para continuar escondida enquanto ele se aventurava em Kolom no meio do fogo e dos tiros. — ela examina os braços dele. — E vejo que ele foi ferido. — ela assume uma expressão triste e o acaricia. Ele sorri afetuosamente.

Se não vomitei minhas tripas mais cedo, acho que agora é um bom momento.

Não tenho o menor saco para Kalil e sua namorada agora. Nunca tive e nunca terei. Minha cabeça está a mil e não suporto estar parada num casebre cheio de feridos sem poder fazer nada.

Vou até a porta.

— Aonde você vai? — Kalil intercepta meu caminho.

Tenho vontade de empurrá-lo, mas sei que ele é grande demais para os meus braços mirrados obterem algum sucesso.

— Vou procurar o meu pai. — digo com convicção. — Já sou órfã de mãe. Não quero ser órfã de pai também.

— Não vou deixar você sair sozinha por aí. Se os cobradores voltarem... — ele começa, mas se interrompe. — Além disso, Gregore pediu para esperarmos por ele aqui. Ele sabe como nos tirar daqui.

Bufo alto. Gregore! O maior idiota de Kolom. Só pode ser brincadeira. Eu não ficaria triste se descobrisse que ele morreu durante o ataque.

— Não vamos a lugar algum sem o meu pai.

Ele estreita os olhos para mim.

— Para, Alethea. — ele resmunga. — Você está sendo criança. Eu procurei por ele. Eu realmente procurei. Todos os sobreviventes se encontram agora aqui e nos casebres aqui perto. Não há mais ninguém.

Minhas mãos tremem e meu coração bate com força em meu peito.

— Você encontrou o corpo dele? — minha voz sai entrecortada.

— Não. — ele desvia o olhar, novamente se esquivando de emoções.

— Então existe uma chance de ele estar vivo. Eu vou encontrá-lo.

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