Capítulo Vinte e Quatro
O medo era imenso, mas o luto era três vezes maior.
Durante a batalha haviam mais Coisas, (Eu continuaria me referindo a eles como as Coisas até eles descobrirem do que queriam ser chamados) do que Lobisomens, mas claro que os Lobisomens eram mais fortes e, por isso, muitas mais Coisas haviam morrido.
Eu olhava para as crianças machucadas, pensando na garotinha que perguntara o porquê de eu chamá-los de as Coisas, e tentando ter uma ideia do porquê de elas também terem estado lá na clareira no momento da batalha. Claro que haviam me dito que a maioria ficara escondida, algumas saíram querendo se meter na batalha e outras foram achadas pelos Lobisomens e assim morreram... Provavelmente temiam deixar elas o mais longe possível das famílias, por medo de que a Floresta as matasse... Bem, ela tecnicamente havia matado uma grande parte.
Estávamos sentados entre as árvores, atentos a qualquer coisa que pudesse acontecer de diferente. Bastiel tentava conversar com sua avó ao longe, que se negava prontamente. Me perguntava se eu teria acreditado nas palavras dela se a mesma chegasse e me dissesse que havia feito algo ruim porque a situação ou pessoa a forçara. Bem, eu não acreditaria nem em mim mesma.
O motivo pelo qual não estávamos mais na clareira, era pelo motivo de ninguém conseguir mais olhar para os corpos ao chão, de parentes, amigos ou simplesmente colegas... Aquilo era uma dor imensa. Ninguém merecia perder tantas pessoas de uma só vez em uma luta onde todos sabíamos quem seria a campeã, mas ainda nós negávamos a aceitar os fatos.
--Quando nós chegamos lá, eu tinha certeza de que você estava morta, mas aí eu vi o seu corpo inteiro no chão, os seus lábios um pouco contorcidos e eu soube que você ainda estava viva... E que eu faria qualquer coisa para salvá-la.
Eu sabia que as palavras de Chace, que se encontrava sentado ao meu lado do chão de folhas secas abraçando os joelhos, com seus olhos levemente fechados devido ao cansaço, eram verdadeiras, já que eu conhecia Chace o suficiente para saber que ele não sabia mentir.
Abro a minha boca, querendo falar sobre os meus sentimentos igual a Chace, querendo lhe transmitir todo o medo que eu sentira na primeira vez que a Floresta conversara comigo em minha mente, querendo dizer o quanto que fiquei angustiada quando não pude ter a oportunidade de saber o que acontecia na Clareira, o quanto que fiquei extremamente mal por ver ele todo ensanguentado no chão. Mas eu a fecho, porque eu era fraca... Eu era Meredith Riley, a garota incapaz de lidar com sentimentos... Nada que saia da minha boca era completo... Ou verdadeiro o suficiente... Eu nem sabia como que havia conseguido dizer que quando nós amamos alguém nós vamos até o inferno por ela antes de vagar em direção à minha morte, a morte que não ocorrera.
Ao invés de dizer qualquer coisa, ou simplesmente acabar dizendo o que eu sentia de uma forma completamente errada, levo minha mão em direção à de Chace, a pegando e puxando em direção ao meu colo, onde eu começo a acaricia-la.
--Eu nunca fui boa com palavras, você sabe...--Digo por fim, me decidindo em meio a milhões de pensamentos.
Chace aperta a minha mão, olhando no fundo de meus olhos, fazendo com que surgisse em minha mente tudo que a Floresta havia dito sobre a Vila dos Perdidos antes de eu correr em direção à Clareira... Ela com toda a certeza não deixaria que saíssemos vivos daí depois de ter dito tudo aquilo para mim, mas também, que vida teríamos se conseguíssemos simplesmente sair? Tínhamos que cortar o mal pela raiz, tínhamos que dar um jeito de fazer com que a mãe natureza livrasse a Vila de suas garras, fazer com que ela notasse que o que fazia não iria cortar o mal dos humanos, que o que fazia não iria causar nada além de luto.
Respiro fundo, avaliando o rosto em minha frente antes de dizer palavras que cortaram a minha garganta:
--Eu preciso falar algo que ela me disse...
E quase que automaticamente, todos os rostos humanos e animalescos estavam voltados para mim, me deixando levemente apreensiva antes de eu me levantar e ficar entre todos. A fogueira agora era a única coisa que fazia algum barulho, já que eu pensava seriamente nas palavras que usaria.
Começo a falar, todos atentos em minhas palavras, em cada parte que eu pensava meticulosamente para o entendimento de cada um. O tempo não parecia tentado a passar enquanto o silêncio era preenchido com a minha voz e mais nada. Quando terminei, meus olhos decidiram voar direto para o rosto de Chace, que tinha seus olhos molhados, uma lágrima já escorria por sua bochecha.
--A Vila não passa de uma casa de bonecas...
Não me surpreendo com a fala de Chace, mesmo nunca tendo pensado que a Vila parecia justamente aquela casinha de maneira que meu pai me dera quando eu tinha cinco anos, onde tinha apenas uma pequena bonequinha de pano na banheira que vivia presa, nunca saindo daquele "paraíso" de madeira.
Para ela vocês não passam de fantoches, assim como nós.
Clarisse aponta para todas as poucas Coisas restantes.
Suspiro, me sentando, que horas eram? Parecia que ainda demoraria para o sol nascer.
Acho que seria bom se todos dormíssemos agora e tentássemos associar quando o sol nascer.
Sorrio para Bastiel, porque no exato momento que ele falara aquelas palavras, todas as Coisas que ainda me fitavam, pararam quase que automaticamente, se sentando no chão e procurando posições confortáveis para dormir.
Me sento ao lado de Chace, fitando seu rosto, esperando que ele dissesse mais alguma coisa sobre tudo aquilo.
--Eu não acredito que eu já pensei que conseguiria sair da Vila. Eu fui tão tolo, estamos condenados, nós estamos simplesmente condenados...
Tento achar as palavras certas para o momento, mas eu não acho, então troco as palavras por um abraço, deixando que suas lágrimas se derramassem pelo meu vestido destruído.
--Eu estou aqui, okay? Sei que pode parecer o fim do mundo, mas eu tenho certeza que conseguiremos dar um jeito no mal que assola a Vila. Tenho certeza que poderemos dar um jeito de fazer com que a Floresta acorde e note que o que ela está fazendo é péssimo, que note que nem todos são culpados e merecem o que ela anda fazendo...
--Acha mesmo que isso é possível?
Suspiro, me perdendo ao ouvir aquela pergunta sair dos lábios de Chace. Será que não passava de um sonho sem nexo? Será que era possível ou simplesmente coisa da minha cabeça para fazer com que eu me sentisse melhor? Eu não tinha aquelas respostas que tanto queria ter, então não tinha certeza se podia confiar em mim mesma.
--Sendo totalmente sincera.--Respiro fundo, avaliando o rosto em minha frente por uma fração de segundos.--Eu não faço a mínima ideia.
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