Capítulo Vinte e Cinco
Acordei com os primeiros raios de sol batendo contra meu rosto, o que me faz gani em reprovação. Sentia que não havia pregado meus olhos durante o resto da madrugada, mesmo me lembrando dos sonhos terríveis que havia tido no pouco tempo de sono que tivera
Os abro com uma leve dificuldade, sentindo eles pesarem novamente. Eu precisava dormir mais, eu não aguentaria passar o dia inteiro de pé se não dormisse por mais algumas horas, de preferência muitas horas.
Me deito sobre as folhas secas, cuidando para não acordar Chace que dormia ao meu lado. Coloco o braço direito em frente a meus olhos, mas a minha tentativa frustrante de dormir mais um pouco não funciona, pois, começo a escutar várias Coisas se levantando ao meu redor, todas começando a conversar.
Me sento, olhando para Chace que ainda dormia tranquilamente. Me perguntava como que ele era capaz de conseguir tal proeza com o sol que batia contra seu rosto e o barulho que as Coisas ainda faziam, quem sabe estivesse cansado demais para ligar para essas duas pequenas coisinhas, ou fingia que dormia apenas para não ter que lidar com o mundo real.
Me coloco de pé, querendo me alongar para me permitir ficar desperta. Sentia que a qualquer momento eu iria cair e pegar no sono novamente. Alongo primeiramente meus braços e depois as pernas, sentindo que aquilo não havia causado efeito algum em mim.
Dou de ombros, muito provavelmente acordaria quando a Floresta decidisse fazer algo.
Ando em direção a Bastiel, esse que estava escorado contra uma árvore. Seu focinho parecia incomodado com a manhã fria, enquanto sua expressão permanecia pensativa em sua face taurina.
--Bom dia...
Vejo ele voltar o rosto animalesco em minha direção. Oarecia terrivelmente cansado, como se não tivesse dormido no pouco tempo que tivemos para pregarmos os olhos.
Bom dia...
Ando mais para perto de si, me preparando ao notar que ele estava terrivelmente tenso.
--Você por acaso dormiu?
Ouso um suspiro sair de seu focinho.
Alguém tinha que permanecer acordado, ela poderia nos pegar desprevenidos. Eu não gosto de imaginar isso, você gosta?
Balanço a cabeça rapidamente em um claro sinal negativo antes eu parar o movimento olhando perplexa para a expressão cansada presente naquela face.
--Você poderia ter falado para mim, eu permaneceria acordada ao invés de você.
Ouço ele bufar.
E você conseguiria ficar acordada?
Dou de ombros, eu provavelmente não teria aguentado mais dois segundos de olhos abertos.
--Provavelmente não...
Um silêncio assustador se põe sobre nós, apenas sendo preenchido pelas conversas das outras Coisas e o barulho de passos sobre as folhas secas, até que Bastiel suspira, me fitando com seu rosto taurino.
Eu entendo que o que você fez foi para deixar que a gente saísse da Floresta e salvar Chace, mas você não tem ideia do quão tolo foi... Ela nunca iria cumprir sua palavra, ela iria nos manter aqui e matar o seu namorado de qualquer forma.
Engulo em seco, me contendo para não deixar nenhuma lágrima deslizar por meu rosto.
--Eu apenas pensei...
Pensou errado. Mas eu não te culpo, em seu lugar faria a mesma coisa se tivesse a chance de salvar meu filho... Sim, eu sei que fez o que fez mais para salvar Chace do que para nos ajudar, eu também não a culpo por isso, eu realmente a entendo...
Mordo meu lábio inferior, sentindo o gosto metálico de sangue. Me sentia completamente mal por Bastiel, porque eu não sabia qual era a dor de perder alguém, e Bastiel já havia perdido a mulher que amava e seu filho, além de várias outras Coisas na Clareira, essa última por minha culpa... A dor dele era gigante, uma dor pouco merecida.
--Eu deveria saber que ela não iria cumprir, fui totalmente tola e me arrependo, mas eu estava assustada, eu temia a ideia de ter Chace morto. --Respiro fundo, falhando em conter as lágrimas. -- Mas o que faremos agora?
Bastiel fitava um ponto específico ao longe, pensativo de uma forma que sua expressão ficasse totalmente assustadora, como se estivesse se preparando para o ataque.
Faremos o impossível. Franzo as sobrancelhas, confusão presente em minha face. Tentaremos arrancar uma mescla de sentimentos dela.
Eu duvidava que conseguíssemos tal proeza, mas não era como se houvesse outra opção. Nós tínhamos que fazer com que a Mãe Natureza encontrasse uma mescla de sentimentalismo em toda a sua benevolência.
--E como faremos esse impossível?
Eu não fui capaz de ler o olhar que ele lançou para mim.
Não faço a mínima ideia, então é bom rezar para que alguém faça.
Respiro fundo, saboreando o som do silêncio pela parte de Bastiel enquanto fitava aquele ponto específico que ele não tirava os olhos. Me perguntava se havia algo naquele lugar e, por tal, meus sentidos humanos não eram capazes de detectar.
--Eu valorizo a sua força...
E mesmo que por um curto segundo eu tivesse pensado que ele me agradeceria, eu me forço a arrancar a ideia de que isso fosse acontecer de mim, pois agora seus olhos já não estavam focados no ponto específico, pois ele andava em passos calmos para longe de mim, me deixando sozinha naquela árvore qualquer entre várias outras.
Suspiro, levando uma mão até a minha testa gelada pelo frio da manhã, a massageando levemente ao sentir que uma dor de cabeça se aproximava calmamente, o que me causa um trincar de dentes em protesto.
--Bom dia, ontem não foi um pesadelo, foi?
Me contenho a dar um salto. Chace havia justamente aparecido atrás de mim como um fantasma. Não era coisa que se deveria fazer naquele lugar malignamente maldito.
--Chace,--Fico de frente para ele, fitando aquele rosto com um ódio fingido.-- Na próxima vez me avise antes de fazer com que eu quase tenha um infarto.
Vejo ele revirar os olhos com a expressão divertida, então sorrio pela ideia de que Chace poderia até que estar bem depois do que eu havia dito de madrugada, mas eu sabia que ele não estava, apenas guardava a sua angústia para si, temendo incomodar os outros... Ele era tão parecido comigo, mas de uma certa maneira era tão diferente.
--O que faremos?
A expressão divertida é rapidamente substituída por uma ansiosa, me enviando ondas de uma tristeza até então desconhecida.
Eu queria ver Chace sorrindo, eu queria ver Chace se divertindo, eu queria Chace Franklin bem, nunca mal. Aquele garoto em minha frente merecia o mundo, mas eu sabia que nunca poderia dar o mundo para ele. Eu sabia que eu nunca seria capaz de dar nada para Chace Franklin, não sendo Meredith Riley... Porque se eu não era capaz nem de poupá-lo da morte, como seria capaz de fazê-lo feliz?
Poupá-lo da morte e fazê-lo feliz... Um não tem a ver com o outro, mas de alguma certa maneira, para mim sempre teria... A Floresta causava esse efeito nas pessoas, ou não? Bem, ela me transformou em uma pessoa completamente diferente de quem eu era na Vila, com pensamentos diferentes, vontades novas e uma força desconhecida.
--Meredith, o que faremos?
Eu não notara que ainda não havia respondido a sua curta pergunta, eu também não sabia se usaria as mesmas palavras de Bastiel, ou se usaria as minhas próprias, mas também não fazia diferença alguma.
--Nós teremos que arrumar uma forma de arrancar, ao menos, uma mescla de sentimentos dela, fazer com que ela note que o que faz é totalmente maligno e sem sentido algum, já que não resolve os seus problemas.
--Mas isso é basicamente que impossível...
Seu rosto era uma invasão de sentimentos, todos ruins.
--Eu sei, na realidade é um milagre que ela ainda não tenha feito nada conosco ontem de madrugada... Bastiel ficou acordado por puro medo. E eu estou com a leve expressão de que esse friozinho não é normal, quem sabe seja um truque para nos congelar, ela deve estar girando o botão até chegar no zero, porque estar começando a ficar mais gelado... Por acaso chegou o inverno?
--Meredith, você sabe que o clima aqui não é muito confiável, vive mudando, é normal ficar frio do nada, aposto que de tarde logo ficará quente.
Sorrio para Chace, um sorriso forçado, pensando em dizer que a minha paranoia tinha uma leve chance de ser verdadeira, mas eu não estava com vontade de ser vista como a garota que ficou louca por culpa da Mãe Natureza. HÁ! E eu também queria dizer que poderíamos morrer antes da tarde chegar, mas isso só pioraria a situação do garoto que eu amava, então não abriria a boca tão cedo para fazer algo que pudesse o magoar.
--Okay, eu irei deixar a minha paranoia de lado...--Mentira, completa mentira.
Vejo um outro sorriso sincero em sua face, sendo seguido de seus passos para mais perto de meu corpo. Ele coloca suas mãos em minha cintura, para em seguida enrola-las ao meu redor, me puxando para perto de seu corpo, em um abraço apertado, o qual eu devolvo, enrolando minhas mãos ao redor de sua nuca e deixando com que a minha cabeça descansasse em seu ombro.
Chace cheira a pele suja de meu pescoço, deixando um beijinho aí, que faz com que cada pelinho de meu corpo se arrepie... Ele sabia fazer joguinhos.
--Eu pensei que fosse morrer de preocupação ontem.
Sorrio com a carícia de seu sussurro em minha pele, tirando a minha cabeça de seu ombro, somente para fitar os seus olhos magníficos, cheios de sentimentos ilegíveis.
--Bem, não teve muito motivo para se preocupar tanto.
Um revirar de olhos, é isso que eu recebo em troca.
--Como se eu não fosse me preocupar em perder a garota que eu amo.
E, com um sorriso bobo, eu me aproximo de seus lábios, cada centímetro, até faltar uns poucos milímetros, deixando com que escolhêssemos quem iria terminar a distância. Eu termino, sentindo a doce sensação de ter os lábios de Chace Franklin pressionado aos meus. Borboletas dançavam em meu estômago, batendo contra as paredes conforme o tempo passava.
Um pigarreio é escutado logo ao nosso lado, fazendo com que eu me separe bruscamente de Chace, quase que caindo no chão.
Isso não é hora. Clarisse tinha um sorriso doce em seus lábios. Precisamos discutir melhor sobre o que você nos disse hoje de madrugada.
A última frase perfeitamente dirigida a mim, o que me faz engolir em seco antes de voltar o meu olhar ao rosto de Chace, engolindo em seco novamente antes de seguir em passos calmos até onde todas as Coisas que ainda viviam se encontravam sentadas, esperando.
Me sento ao lado de Bastiel, Chace logo em seguida se sentando ao meu lado, sua mão procurando a minha em busca de algum conforto. A pego, sentindo em seguida uma sensação de completude.
Agora que todos estão sentados aqui. Engulo em seco ao escutar a voz de Bastiel. Vamos começar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro